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1. COMPREENDENDO A DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E DA

1.3 VISÃO LEGISLATIVA

1.3.2 Cenário Legislativo Internacional

O primeiro documento a tratar do tema foi a Convenção Europeia de Direitos Humanos em seu art. 6º, § 1º, aplicável aos processos de qualquer natureza, e no art. 5º, § 3º, aplicável ao processo penal e à prisões cautelares.

“Toda pessoa tem o direito a a que sua causa seja ouvida com justiça, publicamente e dentro de um prazo razoável (...) (Apud, LOPES JR e BADARÓ, 2009, p.30)

Toda pessoa presa ou detida nas condições previstas no parágrafo 1º, c, do presente artigo, deve ser trazida prontamente perante um juiz ou um outro magistrado autorizado pela lei a exercer função judiciária, e tem o direito de ser julgado em um prazo razoável ou de ser posto em liberdade durante a instrução. O desencarceramente pode ser subordinado a uma garantia que assegure o comparecimento da pessoa à audiência” (Apud, LOPES JR e BADARÓ, 2009, p. 31)

Posteriormente, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 1966 adota de forma genérica em seu art. 14, nº 3, c e de forma específica, ambos ao processo penal e à prisão, em seu art. 9º, nº 1, respetivamente.

Art. 14. (...)

3. Qualquer pessoa acusada de uma infracção penal terá direito, em plena igualdade, pelo menos às seguintes garantias:

a) A ser prontamente informada, numa língua que ela compreenda, de modo detalhado, acerca da natureza e dos motivos da acusação apresentada contra ela;

b) A dispor do tempo e das facilidades necessárias para a preparação da defesa e a comunicar com um advogado da sua escolha;

c) A ser julgada sem demora excessiva; Art. 9.

(...)

3. Todo o indivíduo preso ou detido sob acusação de uma infracção penal será prontamente conduzido perante um juiz ou uma outra autoridade habilitada pela lei a exercer funções judiciárias e deverá ser julgado num prazo razoável ou libertado. A detenção prisional de pessoas aguardando julgamento não deve ser regra geral, mas a sua libertação pode ser subordinada a garantir que assegurem a presença do interessado no julgamento em qualquer outra fase do processo e, se for caso disso, para

Por sua vez a Carta Africana de Direitos Humanos de 1981 (Carta de Banjul) determina:

“Art. 7

1. Toda Pessoa tem o direito a que sua causa seja apreciada. Esse direito compreende:

a) O direito de recorrer aos tribunais nacionais competentes contra qualquer ato que viole os direitos fundamentais que lhe são reconhecidose garantidos pelas convenções, leis regulamentos e costumes em vigorL

b) o direito de presunção de inocência até que a sua culpabilidade seja reconhecida por um tribunal competente:

(...)

d) O direito de ser julgado em um prazo razoável por um tribunal imparcial”

Em se tratando de tratados internacionais, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969, ou Pacto de São José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil em 1992, estabelece em seu art. 8.1 o direito à duração do processo de maneira geral a qualquer espécie de processo, e no art. 7.5 de maneira específica ao processo penal, assim dispondo respectivamente.

“Toda pessoa tem direito a ser ouvida com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente (...) (Apud, LOPES JR e BADARÓ, 2009, p.40)

Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo” (Apud, LOPES JR e BADARÓ, 2009, p.40)

No plano interno dos países, visualiza-se disposições semelhantes que asseguram o tempo razoável do processo e dão especial enfoque à prisão processual. Constata-se a previsão na Constituição dos Estados Unidos da América, em sua VI emenda, na Constituição Portuguesa de 1976, com a reforma de 1982 em seu art. 32, na Constituição espanhola de 1978 no art. 24, nº 2, na Carta Canadense dos Direitos e Liberdades de 1982, em seu art. 11, b e até mesmo na Constituição Japonesa, art. 37 (LOPES JR e BADARÓ, 2009. p. 43).

Todas essas previsões tratam de uma maneira abrangente o direito a uma duração razoável do processo, não estabelecendo limites legais. No entanto, em diversos países já há regramento específico limitando o tempo do processo e principalmente o tempo da prisão provisória. A Constituição mexicana prevê em seu art. 20, VIII prazo máximo do processo penal que varia entre 4 (quatro) meses a 1 (um) ano (LOPES JR e BADARÓ, 2009, p. 44), mas não estabelece uma consequência para sua violação. Os digestos mais importantes ficam com os países que estabelecem duração limite das

prisões provisórias, o que enseja em regra uma automatica liberação do preso ou uma audiência com o mesmo. Assim estabelece o Código de Processo Italiano de 1988 em seu art. 303 que adota um sistema complexo levando em conta a gravidade do delito e dos procedimentos, mas que nos crimes mais graves prevê prazo máximo de 1 ano e 6 meses para prisão processual, com o desencarceramento automático ao final do termo Mesmo sistema é adotado na Alemanha, que tem duração máxima da prisão em 6 meses podendo ser prorrogado em casos excepcionais, no Código de Processo Penal português que estabelece prazos máximos de prisão provisória de acordo com cada fase, 6 meses para acusação, 10 meses até decisão instrutória, 18 meses para condenação em 1º instância e 2 anos para o trânsito em julgado (LOPES JR e BADARÓ, 2009. p. 96-98).

Na América, podemos notar na Argentina, em que o Código de Processo Penal da Província de Buenos Aires, art. 141, prevê duração máxima do processo de 2 anos, no Chile, em que o Código de Processo Penal no art. 152 determina prazo máximo da prisão cautelar tendo por base a metade da pena prevista em caso de condenação e por fim o Código de Processo Penal Paraguaio, no art. 136, que estabelece prazo máximo de 4 anos para a duração do processo, sob pena de extinção do feito. (LOPES JR e BADARÓ, 2009, p. 98). Também possuem previsões máximas de tempo para as prisões cautelares o Equador, com 180 dias, o Peru em 270 dias para casos não complexos, a Costa Rica, em 360 dias, e a Bolívia, em 540 dias. Paraguai e Venezuela limitam as suas cautelares nas penas mínimas aplicadas aos seuscrimes. A preocupação dos países latinoamericanos com a limitação temporal das prisões processuais se dá pelo contexto parecido do sistema penal e carcerário com o Brasil. Os presos provisórios, de acordo com dados de 2010, chegam a 30,8% na Colômbia e, de acordo com dados de 2009, a 71, 2% no Paraguaios presos nesses países (IPEA, 2015. p. 62).

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