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Cenário político-econômico a partir da década de 1990

No documento 2013DiegoBechi (páginas 30-32)

2. O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR DURANTE O PROCESSO DE

2.2 A educação superior no cenário internacional

2.2.1 Cenário político-econômico a partir da década de 1990

As políticas implantadas após a crise do Estado de bem-estar social Europeu5 proporcionaram profundas transformações no âmbito da educação superior. Isso se deve a divergência existente entre o modelo intervencionista Keynesiano e as premissas de reconstrução econômica difundidas pelos governos neoliberais. Na acepção de Keynes, o investimento público nos diferentes setores sociais – incluindo a educação, a saúde, a seguridade social, o salário e a moradia – constitui o ponto fulcral do crescimento econômico, social e cultural do estado. Em razão disso, “o Estado deveria assumir uma posição de destaque no planejamento do desenvolvimento econômico e investir recursos em atividades estratégicas que, no final do ciclo econômico, resultassem em melhor qualidade de vida para a população e sustentassem uma situação de pleno emprego” (AMARAL, 2003, p. 41). As orientações keynesianas foram implantadas efetivamente em muitos países desenvolvidos após a II Guerra Mundial, dando concretude ao que se chamou de Estado de bem-estar social ou “Welfare State”. Porém, em meados da década de 1970, com a implantação de novas e mais flexíveis formas de produção, impulsionadas pela dinâmica da inovação tecnológica, o sistema econômico-político Keynesiano entrou em crise. O Estado, em sua configuração atual, mostrava-se incapaz de dar conta das inúmeras demandas sociais e das transformações da vida político-econômica, associadas ao processo de reestruturação da economia em escala planetária. Isso porque, “a nova economia global é mais fluida e flexível, com redes de poder múltiplo e mecanismo de tomada de decisões que se assemelham mais a uma teia de aranha

5 Na America Latina nunca se implantou um Estado de bem-estar social nos moldes da social democracia

européia. Apesar disso, é importante destacar que, ao longo das décadas de 1970 e 1980, foram adotadas no Brasil várias políticas públicas com o objetivo de satisfazer as necessidades básicas da população desprotegida, incluindo: a Constituição Federal de 1988, os mecanismos de seguro-desemprego, o PIS/PASEP, dentre outros. A crise do Estado intervencionista no Brasil chegou antes que o Estado de Bem Estar pudesse ser, de fato, implantado em sua plenitude. Os mesmos fenômenos políticos, econômicos e culturais que desmantelaram o Estado de bem-estar Social atingiram com a mesma intensidade a Administração Pública Burocrática, no Brasil.

que a uma pirâmide de poder estática que caracterizava a organização do sistema capitalista tradicional” (TORRES, 2000, p. 120).

A degradação do estado intervencionista, ocasionada pela nova dinâmica econômica imposta pelo sistema capitalista global, se intensificou devido à grande crise financeira internacional dos anos 80. O círculo virtuoso do pós-guerra, caracterizado pelo estável crescimento dos anos 60 e 70, foi interrompido pela crise fiscal, marcada por estagnação econômica, redução do poder de intervenção do Estado e aceleração inflacionária. Em resumo, dois fatores favoreceram a dissolução do Welfare State: a globalização da economia e a crescente dificuldade dos Estados em continuar financiando o gasto público. No entanto, é importante ressaltar que os mesmos fenômenos que impulsionaram a crise do Estado de bem- estar social na Europa, atingiram de forma drástica o sistema político e econômico dos países latino-americanos. Com isso, surgiu a necessidade de redefinir o papel do Estado a fim de tornar a administração pública mais eficiente e apta a lidar com menos recursos financeiros. Isso porque, em função das “mudanças sociais, tecnológicas, econômicas, políticas e culturais, a forma atual de atuação do Estado não era capaz de processar as demandas sempre crescentes dos cidadãos” (ARAÚJO; PINHEIRO, 2010, p. 650). De acordo com a abordagem de Washington, a crise da América Latina esteve relacionada à impossibilidade e incapacidade do Estado de atender às crescentes demandas dos diversos setores da economia. Isso se deve, de modo especial, ao excessivo crescimento do setor estatal e à incapacidade de controlar o déficit público.

Portanto, as mudanças na lógica da ação pública do estado estiveram fundamentadas na teoria do estado neoliberal. As premissas da reestruturação econômica, predominante no capitalismo avançado, foram elaboradas e negociadas pelo Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e BID - os três principais braços do neoliberalismo internacional. A concepção política e econômica, difundida pelos organismos multilaterais de financiamento, se opôs às políticas distributivas do Estado de bem-estar social. Os programas e as políticas recomendadas pelo Banco Mundial pressionaram a reformulação do padrão de gestão do desenvolvimento do capitalismo, presente na concepção de estado intervencionista keynesiano, que havia dominado as políticas macroeconômicas desde o pós-guerra. Para o modelo economicamente neoliberal, o intervencionismo estatal e os grandes programas sociais são os responsáveis pelas mazelas do mundo contemporâneo (desemprego, hiperinflação, estagnação econômico, aumento do déficit público, entre outros). As limitações impostas pela crise às políticas do Welfare State possibilitaram ao neoliberalismo apresentar-

se como possibilidade única para “a retomada do desenvolvimento econômico, implementando reformas estruturais na sociedade, através do redirecionamento das atribuições do Estado como regulador da economia, cujas implicações mais severas significaram a redução ou desmonte das políticas de proteção social” (DOURADO, 1999, p. 120).

As políticas de estabilização e ajuste estrutural, disseminadas sem espaço aparente para soluções alternativas, propuseram uma série de recomendações de política pública, sumarizadas no Consenso de Washington: equilíbrio orçamentário via redução dos gastos públicos, abertura comercial (redução das tarifas para importação); desvalorização da moeda para promover exportação; privatização das empresas e dos serviços públicos; liberalização financeira (eliminação de barreiras ao capital estrangeiro), entre outras (SGUISSARDI, 2009, 110). Por meio dessas medidas, esperava-se que os investimentos privados substituíssem de forma gradual os investimentos públicos. Isso porque os defensores do neoliberalismo acreditam que o melhor estado é o estado mínimo. Nesse contexto de mudanças, a privatização exerceu um papel central nos moldes neoliberais por promover a redução do déficit fiscal e dos gastos públicos. As reformas instituídas na América Latina, inclusive no Brasil, foram gerenciadas na direção da mercantilização do serviço público, por entender que os mercados são mais versáteis e ágeis que as estruturas burocráticas do Estado e por responder mais rapidamente às mudanças sociais e tecnológicas.

No documento 2013DiegoBechi (páginas 30-32)