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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.6 CENÁRIOS, HISTÓRICO E CONTEXTOS DOS PROGRAMAS DE

Apesar de crianças e adolescentes brasileiros terem seus direitos assegurados nos marcos normativos do País, a realidade mostra que muitos ainda são expostos às suas diversas formas de violação, com sua cidadania comprometida pelo silêncio e pela convivência de uma parte da sociedade, que ainda se omite (BRASIL, 2010b).

A exploração do trabalho infantil é um fenômeno social inequívoco de profunda violação de direitos, que vem se configurando com faces complexas, uma vez que representa grande diversidade em termos de incidência regional, expressão de suas formas, gênese e dos grupos sociais que atinge. Esse tipo de exploração insere-se num contexto de vulnerabilidade que tem por expressão imediata a violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Por isso, requer políticas públicas voltadas para o atendimento integral, visando garantir o pleno desenvolvimento humano (BRASIL, 2010b).

Compreende-se por política social como sendo um conjunto de programas e ações do Estado, que se manifestam na oferta de bens e serviços e transferência de renda, com o objetivo de atender as necessidades e os direitos sociais que afetam os vários componentes das condições básicas de vida da população, até mesmo aqueles que dizem respeito a pobreza e a desigualdade (BRASIL, 2011b).

Assim, a assistência social é parte integrante da seguridade social responsável por garantir alguns direitos e acessos das populações vulneráveis a uma série de serviços e as transferências, ressalta-se que no campo de prestação de serviços, ainda está em processo de consolidação, sendo a implementação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) uma tentativa de enfrentamento de seus problemas crônicos como o subfinanciamento e necessidade de maior regulação e produção estatal para que a cobertura se estenda ao campo de prestação de serviços, (BRASIL, 2011b).

Cresceram assim, no âmbito do SUAS, os gastos sociais as áreas de assistência social e de trabalho e renda, consequência direta da drástica reformulação destas políticas públicas. Ocorrendo a substituição de um modelo “assistencialista” por um modelo de direitos – com uma atuação cada vez mais abrangente sobre a população brasileira, sendo que mais

recentemente, entrou em curso nova ampliação com a criação do Bolsa Família e a implementação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) (BRASIL, 2011b)

O Programa Bolsa Família (PBF), foi criado em outubro de 2003. Destaca-se que há dez anos o PBF era regulamentado pela Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e pelo Decreto no 5.209, de 17 setembro de 2004. A constituição do programa era um marco nas políticas públicas, tendo em vista ser a primeira vez que se desenhava uma política pública nacional voltada ao enfrentamento da pobreza, visando garantir o acesso de todas as famílias pobres não apenas a uma renda complementar, mas a direitos sociais. O programa surgia como estratégia integrada de inclusão social e de desenvolvimento econômico. Um modelo de desenvolvimento com inclusão, que se assentava em um conjunto relevante de iniciativas, tais como: a política de valorização real do salário mínimo, os programas de fortalecimento da agricultura familiar, a defesa e proteção do emprego formal e a ampliação da cobertura previdenciária (BRASIL, 2013a).

O Bolsa Família tinha como objetivo contribuir para a inclusão social de milhões de famílias brasileiras premidas pela miséria, com alívio imediato de sua situação de pobreza e da fome. Além disso, também almejava estimular um melhor acompanhamento do atendimento do público-alvo pelos serviços de saúde e ajudar a superar indicadores ainda dramáticos, que marcavam as trajetórias educacionais das crianças mais pobres: altos índices de defasagem idade-série. Pretendia, assim, contribuir para a interrupção do ciclo intergeracional de reprodução da pobreza (BRASIL, 2013a).

Atualmente, o programa atende a cerca de 13,8 milhões de famílias em todo o país, o que corresponde a um quarto da população brasileira, contando com um sólido instrumento de identificação socioeconômica, o Cadastro Único. O Bolsa Família e o Cadastro Único são importantes para garantir a melhoria das condições de vida das famílias mais pobres do Brasil e constituem, portanto, iniciativas prioritárias do Plano Brasil Sem Miséria. A gestão é descentralizada, com a parceria entre o Governo Federal, estados, municípios e o Distrito Federal (BRASIL, 2013b).

Desde sua instituição, o PBF é um programa de transferência de renda, com um benefício para as famílias em extrema pobreza e outros relacionados à presença de crianças em famílias pobres. Ou seja, o programa emprega dois recortes de renda para a concessão de benefícios – atualmente, R$ 70,00 e R$ 140,00 mensais per capita. O benefício básico, para a extrema

pobreza, tem sua elegibilidade definida tão somente pela insuficiência de renda, estando desvinculado de qualquer composição familiar, como a presença de crianças ou de condicionalidades (BRASIL, 2013a).

O PBF tem seu respaldo em monitoramento das condicionalidades assumidas pela população, que dizem respeito a compromissos assumidos pelas famílias beneficiárias do programa quanto pelo poder público para ampliar o acesso a seus direitos fundamentais básicos, isto é, por um lado as famílias devem assumir os compromissos, por outro as condicionalidades responsabilizam o poder público pela oferta de serviços públicos de saúde, educação e assistência social (BRASIL, 2013b).

As condicionalidades do programa abrangem a educação, a saúde e a assistência social. Na educação elas dizem respeito a: matricular as crianças e adolescentes de 6 a 15 anos em estabelecimento regular de ensino; garantir a frequência escolar de no mínimo 85% da carga horária mensal do ano letivo, informando sempre à escola em casos de impossibilidade do comparecimento do aluno à aula e apresentando a devida justificativa; e informar de imediato ao setor responsável pelo PBF no município, sempre que ocorrer mudança de escola e de série dos dependentes de 6 a 15 anos, para que seja viabilizado e garantido o efetivo acompanhamento da frequência escolar. Na área da saúde para gestantes e nutrizes: inscrever-se no pré-natal e comparecer às consultas na unidade de saúde mais próxima da residência, portando o cartão da gestante, de acordo com o calendário mínimo do Ministério da Saúde; participar das atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre aleitamento materno e promoção da alimentação saudável. Para os responsáveis pelas

crianças menores de 7 anos: levar a criança às unidades de saúde ou aos locais de vacinação

e manter atualizado o calendário de imunização, conforme diretrizes do Ministério da Saúde; levar a criança às unidades de saúde, portanto o cartão de saúde da criança, para a realização do acompanhamento do estado nutricional e do desenvolvimento e outras ações, conforme calendário mínimo do Ministério da Saúde. Na assistência social, as condicionalidades dizem respeito à participação nos programas socioassistenciais (BRASIL, 2013b).

Cabe ressaltar que o descumprimento das condicionalidades pode levar ao bloqueio do benefício. A partir da Portaria nº666, de 28 de dezembro de 2005, ocorreu a integração do PETI com o Programa Bolsa Família, a qual não se pautou na extinção, mas na integração, dos dois programas, mantendo suas especificidades. A integração concretiza a garantia de

como objetivos Brasil (2010b): racionalização e aprimoramento dos processos de gestão do Programa Bolsa Família e do PETI, ampliação da cobertura do atendimento das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil e extensão das ações dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e/ou adolescentes do Programa Bolsa Família em situação de trabalho infantil.

O PETI compõe o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e tem três eixos básicos: (a) transferência direta de renda a famílias com crianças ou adolescentes em situação de trabalho, (b) serviços de convivência e fortalecimento de vínculos (SCFV) para crianças/adolescentes até 16 anos e (c) acompanhamento familiar através do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) (BRASIL, 2013a).

O Programa reconhece a criança e adolescente como sujeito de direito, protege-os contra as formas de exploração do trabalho e contribui para seu desenvolvimento integral. Com isso, o PETI oportuniza o acesso à escola formal, saúde, alimentação, esporte, lazer, cultura, bem como a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2013a)

O enfrentamento ao trabalho infantil, coordenado pelo PETI é potencializado nos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que integra a Proteção Social Básica (Resolução CNAS Nº 01/2013) o trabalho social com as famílias, por meio dos serviços continuados do PAIF e Centros de Referência de Assistência Social.

O trabalho continuado com as famílias também deve ocorrer através do PAEFI/CREAS (Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos), ofertados nos Centros de Referência Especializada da Assistência Social (CREAS).

Outro eixo do PETI é a transferência de renda, que deve garantir, sobretudo no Cadastro Único e inclusão da família no programa Bolsa Família, a realização e busca ativa das crianças e adolescentes em situação de trabalho pelo Serviço Especializado de Abordagem Social (ofertado pelos CREAS e Centro Pop), e pelas equipes volantes (vinculadas ao CRAS) (BRASIL, 2013a).

O desafio de combater o trabalho infantil é composto de ações cuja implementação é compartilhada entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, a Subsecretaria de Direitos Humanos, o Fundo

Nacional de Assistência Social FNAS e o Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT (BRASIL, 2013a).

 Redesenhando o PETI: mudanças de cenário

A secretaria nacional de assistência demonstra que no momento o PETI está passando por mudanças que buscam modernizar as estratégias de enfrentamento, qualificando as ações da assistência social e potencializando a intersetorialidade. Congregar esforços dos entes federados, das diversas políticas, órgãos de defesa de direitos, sociedade civil e organismos internacionais será fundamental para o enfrentamento, pelo Brasil, deste cenário do trabalho infantil (BRASIL, 2013).

Para melhor compreensão desse processo de mudança, intensificou-se em abril de 2013, com a resolução nº 08 que dispõe sobre ações estratégicas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI no âmbito do Sistema Único da Assistência Social – SUAS, ocorreram modificações na configuração do Programa que foram respaldadas no CENSO 2010 do IBGE, no qual possibilitou atualizar o cenário do trabalho infantil permitindo a elaboração de um diagnóstico mais preciso da realidade dos territórios e de atividades predominantes.

Os resultados desse Censo (2010) possibilitaram a construção do perfil das crianças e adolescentes em condição de trabalho, revelaram ainda que ocorreu uma expressiva diminuição do trabalho infantil no Nordeste, embora se tenha verificado uma ampliação no Norte e Centro-Oeste e elevada concentração nas regiões Sul e Sudeste. Observa-se também um aumento do trabalho infantil nas regiões metropolitanas.

Constatou-se pelo referido censo que o Brasil chega ao “núcleo duro” do trabalho infantil isto é onde a incidência encontra-se em atividades produtivas desenvolvidas em empreendimentos informais, familiares, em territórios urbanos e rurais. Tais atividades são desenvolvidas em locais fora do alcance dos órgãos de fiscalização, exigindo a construção de novas estratégias e de ações intersetoriais no processo de erradicação do trabalho infantil (BRASIL, 2013a). Assim, o redesenho do PETI foi pactuado pela resolução de Nº 05 (12 de abril de 2013). As mudanças no programa foram organizadas a partir do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao adolescente Trabalhador e da Carta de Constituição de Estratégias em Defesa da Proteção Integral dos Direitos da Criança e do

erradicação do trabalho infantil a partir de ações estruturantes do SUAS, bem como, da necessidade de compor com as demais Políticas Públicas para realizar ações intersetoriais ante aos desafios da nova dimensão da incidência de trabalho infantil no Brasil, apresentada pelo diagnóstico já descrito (BRASIL, 2013a).

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e alguns indicadores socioeconômicos no Brasil em 2010, destacando os programas de transferência de renda e de combate ao trabalho infantil.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e os recursos do programa Bolsa Família e do Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI).

b) Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e indicadores de desenvolvimento humano e qualidade de vida;

c) Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e indicadores de educação, renda e pobreza; e

d) Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e indicadores de desigualdade de renda.

4. MÉTODO

4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA

Trata-se de uma pesquisa quantitativa, cujo desenho de estudo é o ecológico, no qual as variáveis expressam propriedades de grupos. Neste estudo, os níveis de análise são os municípios brasileiros e a variável dependente é a taxa de trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos, no período de 2010.

Os estudos ecológicos são frequentemente realizados combinando-se bases de dados referentes a grandes populações. Nesta perspectiva, procuram avaliar como os contextos sociais e ambientais podem afetar a saúde de grupos populacionais (MEDRONHO et al., 2009). Assim, uma área ecológica pode estar sintetizando um enorme conjunto de variáveis e processos em um alto grau de complexidade, aproximando este tipo de estudo à realidade social concreta (BARRETO; ALMEIDA FILHO, 2011).

Quanto à posição do observador, trata-se de um estudo agregado de base territorial e observacional. Em relação ao seu papel, trata-se de um estudo passivo, com mínimas interferências nos objetos concretos estudados, uma vez que foram utilizados dados secundários. Finalmente, no que diz respeito à temporalidade do estudo, trata-se de uma pesquisa transversal.

O estudo foi realizado com dados secundários agregados, com os municípios brasileiros. Entretanto, não foram utilizados os 5565 municípios que compõem o território, mas 161 regiões que foram definidas a partir de critérios socioeconômicos pelo IBGE e denominadas Regiões de Articulação Urbana (IBGE, 2013). Este procedimento foi necessário devido à existência de municípios de pequeno porte, onde poucos casos poderiam tornar a taxa artificialmente alta ou artificialmente baixa.

Segundo o IBGE (2013), a Divisão Urbano-Regional constitui uma contribuição à análise da dinâmica territorial brasileira, fornecendo uma visão regional do Brasil a partir dos fluxos articulados á rede urbana. A identificação e delimitação dos novos desenhos regionais são designados de Regiões de Articulação Urbana e encontram-se associadas à compreensão das transformações socioespaciais que ocorrem no país e também à maneira como se apreende essas transformações. Assim, todas as regiões identificadas são formadas a partir de uma

cidade que comanda a sua região, estabelecendo relacionamentos entre agentes e empresas nos respectivos territórios.

Abaixo segue uma figura que ilustra a divisão socioeconômica por áreas de articulação urbana.

Boa Vista

Manaus

Rio Branco Porto Velho

Cuiabá Belém Parin ns Santarém Macapá São Luís Imperatriz Fortaleza Natal João Pessoa Recife Quixadá Maceió Aracaju Salvador Vitória da Conquista Feira de Santana Gov. Valadares Rio de Janeiro São Paulo Santos Florianópolis Caxias do Sul Porto Alegre Pelotas Santa Cruz do Sul Cascavel Araraquara Campo Grande Brasília Palmas Rondonópolis Belo Horizonte Alfenas

Figura 1. Divisão socioeconômica baseada em áreas de articulação urbana. Linhas em cinza

indicam as 161 Regiões Intermediárias de Articulação Urbana e as linhas em preto referem-se aos limites das 14 Regiões Ampliadas de Articulação Urbana. Fonte: IBGE, 2013.

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