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4. Biomassa para combustão em Portugal

4.2 Centrais a biomassa em Portugal

Nos últimos anos os produtores de biomassa e os promotores de projetos de centrais a biomassa têm demonstrado interesse em levar por diante um conjunto de projetos que permitiram a Portugal, já em 2014, ter uma potência instalada próxima de 453,2MW, entre centrais dedicadas e centrais de cogeração a biomassa (website [8]).

De facto, em 2006 foram definidos concursos de atribuição de potência para geração de energia elétrica com base em biomassa, estipulando-se que até 2020 a potência instalada seria de 250MW. Nessa altura foram abertos 15 concursos para atribuição de 100MW de potência, somados a outros 150MW licenciados fora dos concursos. Entretanto o valor dos 250MW previstos para 2020 foi largamente ultrapassado, no conjunto das várias centrais. Atualmente estima-se que em 2020 a capacidade instalada seja de 796MW, devido à entrada em funcionamento de 12 novas centrais que foram já adjudicadas (Roberto, 2013).

Em 2011 foi publicado o Decreto-Lei nº5/2011 que estabeleceu medidas destinadas a promover a produção e o aproveitamento da biomassa em centrais dedicadas. A principal medida que este Decreto-Lei estabelece é a aplicação de um incentivo económico aos promotores de centrais de biomassa, correspondente a um aumento do coeficiente de remuneração “Z” (de 8,2 para 9,6) para a produção de energia para o Sistema Elétrico de Serviço Público (SEP). A Tabela 6 apresenta os valores do coeficiente de remuneração “Z” para as diferentes FER.

Tabela 6 – Coeficientes de remuneração “Z” para as FER. (Decreto-Lei nº 35/2013) Coeficientes “Z” para remuneração de FER

Centrais eólicas 4,6

Centrais hídricas até 10MW 4,5

Centrais hídricas entre 10-30MW 4,5 (subtraindo 0,075 por cada MW adicionado até ao limite superior)

Instalações fotovoltaicas até 5kW 52

Instalações fotovoltaicas entre 5-35kW 35

Instalações solares termoelétricas 29,3

Centrais de energia das ondas Entre 4,6 e 28,4 (fixado pela tutela caso-a-caso) Centrais de biomassa florestal residual 8,2 ou 9,6 após correção do DL nº5/2011

Para beneficiarem desta remuneração os promotores têm que se comprometer a cumprir um conjunto de medidas estabelecidas pelo Artigo 2º do mesmo Decreto-Lei:

 A obrigatoriedade de organizar e manter um sistema de registos de dados que permita identificar as fontes de aprovisionamento e consumos da central, identificando o tipo e características de biomassa consumida.

 A obrigatoriedade de apresentar um plano de ação a 10 anos visando a sustentabilidade a prazo do aprovisionamento das centrais. Esta situação deve ser discutida e desenvolvida em estreita articulação com as organizações de produtores florestais e autarquias locais.

 A obrigatoriedade de coordenar a programação de períodos de manutenção destas centrais com o operador da rede de transporte.

 Os projetos devem estar concluídos e em exploração até ao dia 31 de Dezembro de 2014.

Na Tabela 7 estão registadas as diferentes centrais que consomem biomassa em Portugal.

Tabela 7 - Centrais a biomassa em Portugal (website [9]).

Nome Distrito/Região Autónoma Potência Instalada [MW] Ano de entrada em funcionamento

Cogeração Amorim Aveiro 1,1 2004

Cogeração Caima Santarém 9 2001

Cogeração Celbi Coimbra 70 1987

Cogeração Celtejo Castelo Branco 30 1992

Cogeração da Figueira da Foz (Lavos) Coimbra 95 2004

Cogeração de Cacia Aveiro 35,1 2005

Cogeração de Setúbal Setúbal 53,9 2004

Cogeração EUROPA&C Energia Viana Viana do Castelo 38,8 2002

Cogeração SIAF Viseu 4 1996

Costa Ibérica Viseu 0,3 2011

Termoeléctrica Centroliva Castelo Branco 6 1998

Termoeléctrica da Figueira da Foz Coimbra 34,3 2009

Termoeléctrica da PALSER Castelo Branco 3 2010

Termoeléctrica de Belmonte Viseu 2 2010

Termoeléctrica de Constância Santarém 13,7 2009

Termoeléctrica de Mortágua Viseu 9 1999

Termoeléctrica de Ródão Castelo Branco 13 2007

Termoeléctrica de Cacia Aveiro 12,5 2009

Termoeléctrica de Setúbal Setúbal 12,5 2009

Termoeléctrica Terras de Sta. Maria Aveiro 10 2008

A estas centrais a biomassa corresponde um determinado consumo anual de biomassa. O Centro de Biomassa para a Energia (Roberto, 2013) estimou esse consumo e prevê uma evolução rápida até 2020 (cf. Tabela 8).

Tabela 8 – Consumo de biomassa em vários sectores (Adaptado de Roberto, 2013).

Sectores de consumo 2008 (ton/ano) 2012 (ton/ano) 2020 (ton/ano)

Centrais dedicadas 115 000 1 208 000 3 055 000

Centrais de cogeração e outras

unidades industriais 801 000 831 000 851 000

Produção de Pellets Não avaliado 700 000 1 000 000

Apesar deste forte crescimento, a utilização da biomassa em Portugal tem pela frente uma série de desafios, nomeadamente no que diz respeito à preservação e gestão dos recursos florestais e à dinamização deste setor. Em primeiro lugar está o facto de, em Portugal, o território estar extremamente dividido em pequenas propriedades, sendo o tamanho médio de uma propriedade florestal de 7,5 hectares e existindo em 2001 mais de 409 mil proprietários privados (Pereira, 2001). Por outro lado, uma pequeníssima percentagem destas propriedades é na verdade gerida, encontrando- se ao abandono, gerando uma rentabilidade muito baixa ou nula. Para além disso, a crise que o país atravessa tem tornado ainda mais difícil motivar o proprietário para a limpeza e gestão concertada da sua propriedade.

Para evitar que os consumos energéticos de biomassa em Portugal se tornem a médio prazo insustentáveis, o CBE (Roberto, 2013) propõe um conjunto de medidas que devem ser seguidas para garantir a sustentabilidade dos recursos bioenergéticos:

 Promover uma gestão mais eficaz da floresta (aumento da produtividade).  Aumento da área florestal.

 Promover a certificação florestal.

 Agilização de instrumentos de apoio ao sector.

 Fomentar a implementação de culturas energéticas florestais.

Nos últimos anos deram-se já alguns passos neste sentido, procurando valorizar as biomassas de origem nacional. O país integrou projetos como o BiomaSUD (FEDER, 2013) cujo principal objetivo era implementar um sistema de rastreabilidade dos recursos bioenergéticos e a criação de um selo de qualidade que atestasse a sustentabilidade e encorajasse a eficiência dos processos a montante do consumo, referentes ao mercado da região SUDOE (Espanha, Sul de França e Portugal). O selo de qualidade BiomaSUD tem requisitos de qualidade baseados na análise a biomassas típicas desta região e também critérios mínimos de sustentabilidade que devem ser aplicáveis em toda a cadeia de valor, aplicando-se essencialmente a biocombustíveis sólidos para uso não-industrial em pequenas e médias caldeiras e estufas ou em grandes instalações (e.g aquecimentos coletivos em cidade).

Atualmente decorrem ainda outros projetos, dos quais interessa destacar o BiomAshTech (FCT), do qual é dependente esta dissertação, e cujo principal objetivo é a caracterização de biomassas e resíduos biogénicos de origem nacional, nomeadamente no que diz respeito aos problemas operacionais relacionados com a produção de cinzas problemáticas, que serão discutidos em pormenor nos capítulos que se seguem.