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Capítulo VI Apresentação das conclusões, das considerações finais e das proposições para investigações futuras.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6 CENTRALIDADE DA FORMA CONSTRUÍDA

Os estudos relativos à configuração espacial urbana demonstram haver relações estruturais entre as matrizes Forma Construída e Tecido Urbano, para além daquelas meramente geométricas descritas pela densidade. As medidas de centralidade, ao capturar as relações estruturais e prover formas mais elaboradas de diferenciação espacial, permitem supor que a ‘saturação’ do espaço público, aqui, até então, tomada como uma relação simples entre área construída e área de territorial, possa ser entendida como uma distribuição relativa (e desigual) de forma construída sobre o território urbanizado. Isso introduz uma visão completamente nova na análise, permitindo supor que a saturação tem mais a ver com a concentração de formas construídas em determinadas regiões da cidade do que com as quantidades totais de espaço urbanizado e edificações, visando à identificação da emergência de valores críticos na densificação da forma construída.

Deste modo, enquanto, com as medidas de Densidade da Forma Construída estaríamos mensurando a densidade urbana, com as medidas de Centralidade da Forma Construída, propostas neste trabalho, estaríamos medindo a intensidade

urbana, caracterizada por ser uma medida de tensionamento espacial gerado por elementos de polarização e posições relativas interconectadas.

Para Batty e Torrens (2001) a teoria da complexidade tem conseguido demonstrar comportamentos até então considerados inexplicáveis, porque considera que estes processos existem em um nível micro e originam fenômenos em um nível macro, diferentemente da visão tradicional que tentava explica-los no nível macro. Análise de centralidade faz exatamente isso, ao assumir uma rede de posições intraurbanas micro, interligadas e carregadas de conteúdo polarizador; a tensão resultante envolve o sistema de localizações como um todo, mas depende de cada unidade.

Para continuar a análise deste processo de densificação propõe-se o uso de um segundo indicador, este baseado na medida topológica de centralidade.

Para Krafta (2009), a medida de centralidade é:

[...] capaz de mensurar a ‘quantidade relativa de cidade depositada em cada entidade espacial’ ao identificar a diferenciação espacial correspondente à intensidade de atividades urbanas (residenciais, comerciais, ...), bem como dos fluxos de veículos e pedestres nos diversos espaços do sistema de espaços públicos [...].

Isto fica mais explicito quando Faria (2010) apresenta as medidas baseadas no conceito de centralidade, dizendo que:

[...] a ideia de centralidade está fundamentada no fato de que as interações entre vértices não adjacentes obrigatoriamente dependem da mediação realizada por outros vértices e que, de alguma forma, estes últimos se beneficiam das relações indiretas e/ou têm acrescida a sua relevância para o funcionamento da rede. Assim, nesta classe de medidas, o valor do vértice é definido pelo seu papel intermediário entre as inter-relações que ocorrem entre os elementos adjacentes.

CRUCITTI, P.; LATORA, V.; PORTA, S. (2006) empregam a medida de centralidade em áreas urbanas e tem constatado que a análise do padrão distributivo dos valores de centralidade dos espaços públicos do sistema revela aspectos do próprio sistema. Em representações por unidades morfológicas máximas constataram um padrão distributivo exponencial, em traçados mais irregulares tendendo a uma lei de potência e, com arestas valoradas em termos de distancias geométricas, o padrão de distribuição é exponencial para traçados irregulares ou orgânicos e Gaussiano para

traçados em grelha. Em determinadas situações o padrão distributivo foi capaz de registrar as ruas estruturantes do sistema.

Com isso, acredita-se que a aplicação da medida de centralidade da forma construída possa auxiliar na identificação, por meio da análise distributiva dos valores de centralidade nos diversos espaços públicos, da emergência de valores críticos na forma construída. Especula-se que valores mais altos e muito díspares, evidenciando uma distribuição do tipo lei de potência, poderiam ser indicativos de espaços públicos cuja forma construída adjacente atingiu o seu ponto crítico. Assim, a distribuição dos valores de centralidade em forma de lei de potência indicaria que o sistema se encontra em um estado crítico, caracterizado pela existência de porções de forma construída com densidade crítica.

Especula-se ainda, que a evolução dos histogramas de frequência da centralidade em vários tempos possa revelar mais aspectos da dinâmica do sistema.

E quando estes histogramas, mostrando os tempos em que o sistema se encontra em estado crítico, forem comparados com os períodos de expansão do tecido urbano (as avalanches) poderemos verificar a existência ou não de alguma relação temporal entre os processos de densificação e de expansão, aparentemente dissociados. A existência de algum tipo de relação entre eles poderia indicar o atingimento do ponto crítico.

As medidas de centralidade utilizadas são fundamentadas na medida topológica de Centralidade proposta por Krafta (1994), a partir do relacionamento entre a medida Forma Construída Parcial (com dados agregados por faces de quadra adjacentes a cada espaço público) e as conectividades dos subespaços públicos (desagregados por trechos entre interseções das vias), bem como da sua posterior agregação ao sistema como um todo. O Modelo de Centralidade de Krafta (1994) utiliza a seguinte expressão:

tij=aiaj tij(k)= aiaj p C(k)= ∑ tij (k) n i.j i<j (2)

onde tij é a tensão entre duas unidades i e j de espaços públicos, ai e aj são as

quantidades de formas construídas respectivamente em i e j, computadas como seus respectivos atributos, tij(k) é a parcela de tensão entre i e j atribuída a k, sendo k uma

número de unidade de espaço público pertencentes a esse ou esses caminhos mínimos. Finalmente, C(k) é a centralidade de k dada após o cômputo de todos os pares possíveis do sistema.

A Centralidade da Forma Construída, por sua vez, é agregada temporalmente por meses e anos e espacialmente ao mínimo (a cada conjunto de lotes adjacentes as porções de espaço público) de onde selecionaremos o espaço público de máxima centralidade (constituindo a Medida de Centralidade Máxima) e no outro extremo, ao máximo (total do Tecido Urbano da cidade) na constituição da Medida de Centralidade Média.

Assim, mostramos como as medidas de Densidade e Centralidade permitem expressar, respectivamente, a distribuição da densidade e da intensidade da Forma Construída no Tecido Urbano, as quais possibilitariam, quando comparadas aos parcelamentos do solo, identificar os Pontos Críticos na relação entre as matrizes da Forma Construída e do Tecido Urbano.

Apresentados e analisados os conceitos de sistema complexos e metabolismo urbano, as teorias de criticalidade auto-organizada e de alometria urbana e as medidas morfológicas e topológicas hábeis para a descrição e mensuração da distribuição da densidade e da intensidade da Forma Construída no Tecido Urbano, passamos a expor o fenômeno do crescimento urbano, os processos envolvidos e a sua dinâmica.