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4. Análise e Discussão dos Resultados

4.2 Rede de colaboração científica entre pesquisadores do campo de organismos

4.2.1 Análise da evolução da rede no período de 2003 a 2012

4.2.1.2 Centralidade dos autores

Nos estudos de campos científicos os pesquisadores podem ser compreendidos como agentes já que apresentam a capacidade de influenciar o campo de alguma forma, seja por meio do desenvolvimento de práticas de pesquisa, seja pela proposição de temáticas ou mesmo estabelecendo canais de interlocução de temas de interesse. Dessa forma, um agente pode causar algum efeito na construção do conhecimento, compreendido como legítimo por seus pares (Rossoni, 2006). Esta capacidade pode ser potencializada em razão da atuação do pesquisador como orientador em programas de pós-graduação, membro e coordenador de associações de pesquisadores, membro de conselhos editoriais de periódicos, avaliador de artigos, representante de órgãos oficiais (Rossoni, 2006; Martins, 2009). Todavia, o foco de análise deste estudo está na capacidade de os autores se posicionarem na estrutura de relações

e não sobre a sua posição no campo da pesquisa. Nesse sentido, buscou-se compreender o indicador de centralidade dos pesquisadores no campo de OGM, no Brasil, em razão da quantidade de laços diretos estabelecidos por um pesquisador (centralidade de grau), bem como pela capacidade de promover a colaboração entre outros pesquisadores e de facilitar o trânsito de ideias e de informações na rede (centralidade de intermediação). A Tabela 22 apresenta os autores com maior centralidade de grau no período de 2003 a 2012.

Tabela 22:

Autores com maior centralidade de grau e a eficiência de seus laços (2003/2012)

Pesquisador Organização Centralidade de Grau Eficiência dos Laços Aragão, F. J. L. CENARGEN 59 84,17 Vianna, G. R. CENARGEN 48 68,47 Grossi-de-Sá, M. F. CENARGEN 45 64,19 Rech, E. L. CENARGEN 40 57,06 Vieira, L. G. E. IAPAR 36 51,36

Bespalhok Filho, J. C. IAPAR 32 45,65

Ulian, E. C. CTC 31 44,22

Mendes, B. M. J. USP 30 42,8

Mourão Filho, F. A. A. USP 30 42,8

Romano, E. CENARGEN 29 41,37 Pereira, L. F. P. IAPAR 26 37,09 Arruda, P. UNICAMP 24 34,24 Arisi, A. C. M. UFSC 23 32,81 Silva-Filho, M. C. USP 23 32,81 Chabregas, S. M. USP 22 31,38 Cunha, N. B. CENARGEN 22 31,38 Di Ciero, L. USP 22 31,38 Fontes, E. M. G. CENARGEN 22 31,38

Fonte: resultados da pesquisa.

Na análise deste indicador destaca-se que os pesquisadores com maior quantidade de laços diretos no campo de organismos transgênicos pertencem à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN), resultado esperado, já que este centro de pesquisa é

considerado referência na condução dos estudos da biotecnologia agropecuária no país, além de ter sido a segunda instituição que mais participou de estudos, conforme citado anteriormente. Por outro lado, chama a atenção que, apesar de a Universidade de São Paulo (USP) ter sido a instituição que mais participou de artigos científicos do campo, apenas três de seus pesquisadores aparecem como autores mais centrais no período total da rede. Outro aspecto importante refere-se à participação dos centros de PD&I e de universidades brasileiras, pois era esperado que pesquisadores vinculados às universidades figurassem entre os autores mais centrais, considerando a participação dominante destas organizações no campo. Este fato pode ser explicado em parte pela atuação dos pesquisadores de centros de pesquisa como professores em universidades, em especial, nas atividades de orientação de dissertações de mestrado e teses de doutorado nos programas de pós-graduação.

A respeito dos laços estabelecidos pelos autores mais centrais, observa-se que há grande quantidade de relacionamentos diretos, sendo que apenas os cinco pesquisadores mais centrais apresentam uma eficiência dos laços maior que 50%. A eficiência do laço ocorre quando uma relação existe apenas de forma direta e não há intermediações de outros laços. Portanto, os pesquisadores mais centrais estabelecem um maior número de relacionamentos e os pesquisadores com os quais se relacionam apresentam laços apenas com este autor central (Martins, 2009). A Figura 18 apresenta a rede em torno dos cinco autores com maior centralidade de grau, identificados na Tabela 22. Os nós destacados em cinza chumbo referem-se aos autores mais centrais e o seu tamanho indica a centralidade de grau (quanto maior o tamanho do nó, maior é a centralidade de grau).

Figura 18. Rede Ego dos autores com maior centralidade de grau (2003/2012) Fonte: resultados da pesquisa.

Nota. A037 (Aragão, F. J. L.); A043 (Arisi, A. C. M.); A047 (Arruda, P.); A079 (Bespalhok Filho, J. C.); A163 (Chabregas, S. M.); A192 (Cunha, N. B.); A203 (Di Ciero, L.); A262 (Fontes, E. M. G.); A301 (Grossi-de-Sá, M. F.); A415 (Mendes, B. M. J.); A444 (Mourão Filho, F. A. A.); A506 (Pereira, L. F. P.); A536 (Rech, E. L.); A554 (Romano, E.); A604 (Silva-Filho, M. C.); A660 (Ulian, E. C.); A670 (Vianna, G. R.); A675 (Vieira, L. G. E.).

O segundo tipo de centralidade analisado foi a de intermediação, compreendida como a capacidade de um ator em conectar vários outros que não apresentam laços diretos (Wasserman & Faust, 1994). A intermediação pode ser um indicador de poder, pois indica quais pesquisadores controlam o fluxo de informação entre os diferentes autores da rede. A Tabela 23 descreve os pesquisadores com maior capacidade de intermediação no campo de organismos transgênicos no Brasil.

Tabela 23:

Autores com maior centralidade de intermediação no período (2003/2012)

Pesquisador Organização Centralidade de Intermediação Faria, J. C. CNPAF 14.391 Dusi, A. N. CNPH 9.737 Aragão, F. J. L. CENARGEN 8.862 Vieira, L. G. E. IAPAR 7.282 Vianna, G. R. CENARGEN 7.148 Grossi-de-Sá, M. F. CENARGEN 7.064

Bespalhok Filho, J. C. IAPAR 6.175

Romano, E. CENARGEN 5.122 Rumjanek, N. G. CNPAB 4.859 Xavier, G. R. CNPAB 4.859 Arisi, A. C. M. UFSC 4.607 Fontes, E. M. G. CENARGEN 3.219 Ulian, E. C. CTC 2.939 Tagliari, C. UFSC 2.509 Torres, A. C. CNPH 2.367 Oliveira, E. M. M. CTAA 2.357 Sant'Anna, E. S. UFSC 2.207 Capalbo, D. M. F. CNPMA 2.143

Fonte: resultados da pesquisa.

É interessante observar que entre os 18 pesquisadores que apresentam os maiores índices de intermediação, 50% do total também detêm altos índices de centralidade de grau, permitindo que estes pesquisadores tenham um posicionamento estratégico na rede, já que têm não somente a capacidade de facilitar o fluxo de informações como também de conectar pesquisadores de outros grupos por meio dos seus diferentes laços diretos. Por outro lado, pesquisadores que não apresentam uma centralidade de grau expressiva aparecem com uma alta capacidade de intermediar relações na rede. Ressaltam-se os casos dos pesquisadores Faria, J. C e Dusi, A. N. que detêm os dois maiores índices de centralidade de intermediação, mas ocupam, respectivamente, a 35ª e a 154ª posição no que se refere à centralidade de grau,

podendo-se concluir que estes autores têm um posicionamento central na rede que lhes permite intermediar diversas relações, embora não estabeleçam muitos laços diretos. Sobre o vínculo institucional observa-se o predomínio dos centros de PD&I nas relações de intermediação entre os pesquisadores da rede, sendo que apenas uma universidade brasileira está representada entre os pesquisadores com maior grau de intermediação. Esta análise corrobora a conclusão do papel relevante atribuído aos pesquisadores vinculados aos centros de PD&I em conectar os diferentes autores da rede, bem como facilitar a difusão do conhecimento gerado no campo de OGM no país.