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4 PERÍCIA PSICOLÓGICA E VIOLÊNCIA INFANTIL NO MARANHÃO

4.1 Anos 90: uma década histórica para a Perícia Psicológica no Maranhão

4.1.2 Centro de Perícias Técnicas para Criança e Adolescente

De acordo com Silva (2005), o CPTCA foi pensado no intuito de ser o órgão que iria reordenar os instrumentos de perícia com a especialização da perícia médica e a incorporação das perícias psicológica e social, podendo oferecer ao operador do Direito, elementos mais consubstanciados a respeito da materialidade do crime.

O objetivo principal do referido órgão seria o de realizar perícias criminais nas áreas da Medicina Legal, Psicologia e Serviço Social em crianças e adolescentes, supostamente vítimas de violências (físicas, psicológicas, sexuais e negligência), através de atendimentos especializados na apuração e responsabilização de crimes, garantindo a proteção das vítimas (CARDOSO, 2009).

Nunes (2005) considera que ampliar outros saberes no campo da perícia, com a inclusão do olhar psicólogo e do assistente social, expressa o caráter de exemplaridade do CPTCA. A ampliação do arcabouço pericial dos operadores do Direito teriam mais elementos com consistências para julgar os casos de violência contra crianças e adolescentes.

Como já mencionado, o órgão foi criado inicialmente com o nome de Centro de Perícias Oficiais (CPO) pelo Decreto nº 20.532/04:

Considerando o que dispõe a Lei 8.069/90, de 13 de julho de 1990, que em seu art. 4º, estabelece prioridade absoluta à criança e ao adolescente;

Considerando a complexidade da produção da prova pericial nos delitos que configuram violência, e em particular de abuso sexual contra crianças e adolescentes, uma vez que alguns não deixam marcas físicas de violência;

Considerando a necessidade de produção de provas periciais relacionadas aos aspectos psicológicos da violência;

Considerando, ainda, a necessidade de criação de um órgão especializado em perícias para casos de violência contra crianças e adolescentes (BRASIL, 2004, não paginado).

O referido decreto cria o CPO com a seguinte estrutura:

Art. 2º- O Centro de Perícias Oficiais tem a seguinte estrutura organizacional:

I - Diretoria;

II - Seção de Perícia Médico-Legal; III - Seção de Perícia Psicológica; IV - Seção de Perícia Social; V - Seção de Apoio Administrativo.

Art. 3º- Compete à Diretoria:

I - coordenar as atividades do Centro de Perícias; II - representar politicamente o Centro de Perícias;

III - desempenhar outras atividades inerentes à função (Art. 2º - Decreto) (BRASIL, 2004, não paginado).

Nunes (2005) ressalta que a discussão e estruturação desses serviços oferecidos pelo CPTCA aconteceram concomitantemente à discussão da criação da DPCA, visto que é um órgão complementar à investigação policial na produção de provas delituosas contra crianças e adolescentes, em caráter especializado:

A princípio, esta parceria processou-se de forma bastante difícil devido à falta de clareza, por parte, de alguns órgãos da importância do CPO. Por esta razão, além da demora na liberação dos profissionais que lá atuariam os gestores não concordavam em liberar seus servidores, gerando uma lacuna, principalmente no quadro de psicólogos (NUNES, 2005, p. 43).

O processo de instalação e funcionamento do CPO, segundo Nunes (2005) necessitou do amadurecimento e do estudo dos primeiros profissionais que foram lotados no órgão, criando seus procedimentos operacionais e relacionando as práticas da psicologia e do serviço social à prática da perícia criminal. Consideramos um desafio pelo pioneirismo do trabalho, pois nada similar foi encontrado em outra parte do Brasil. Embora muitas experiências tenham sido executadas e estudadas em outros Estados, em nenhumas delas havia a Perícia Psicológica e Social associadas à Segurança Pública.

Cardoso (2009) pontua que o trabalho do CPO teve início no mês de outubro de 2004, quando quatro assistentes sociais e três psicólogas foram remanejadas de outros órgãos do Estado para o Centro, pois não existia no organograma do Estado o cargo de perito criminal com habilitação específica em Psicologia e Serviço Social. Nunes (2005) acrescenta que efetivamente o CPO passou a funcionar em 18 de outubro de 2004, apenas com os setores de Perícia Psicológica e Perícia Social, visto que o Estado não possuía um quadro de profissionais suficientes da área médico-legal que pudessem ser lotados no CPO.

No início de 2005 o Diretor do Instituto Médico Legal (IML) e o presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, à época, viabilizaram junto à Secretaria de Saúde um convênio no qual foram contratados dois médicos para este setor; o

IML disponibilizou também uma médica perita. Desde sua criação, havia no CPTCA o setor de perícia médico-legal, porém neste início o Centro não tinha diretoria e o então diretor do IML era quem administrava a perícia médico-legal Nesta época, a perícia médica não funcionava associada às outras perícias sendo considerada uma extensão do IML (CARDOSO, 2009).

As profissionais das perícias Psicológica e Social, lotadas no CPO participaram, em 2004, de uma Capacitação para a Avaliação da Ocorrência de Abuso Sexual em Crianças e Adolescentes promovida pelo Centro de Defesa Padre Marcos Passerini e realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA), (CARDOSO, 2009). No final do ano de 2005 a equipe de psicólogas e assistentes sociais realizou uma pós-graduação semipresencial em Violência Doméstica pela Universidade de São Paulo (USP), através de uma parceria entre o Centro de Defesa Padre Marcos Passerini e a Secretaria de Segurança Pública.

Em 20 de julho de 2006 através da publicação do Decreto nº 22.296 (revogando o Decreto nº 20.523 de 2004) o CPO teve seu nome modificado para Centro de Perícias Técnicas para Crianças e Adolescentes. A estrutura organizacional passou a ter os setores de Perícias médica, psicológica e social que foram substituídos por apenas dois setores específicos com suas devidas chefias: o de serviço de Perícia Médica e Psicológica e o de serviço de Perícia Social. No mesmo decreto foi criado o cargo de direção do CPTCA.

Apesar dos avanços legais referentes à instalação e funcionamento dos setores do CPTCA, Cardoso (2009, p. 23) afirma que:

Este início foi muito difícil principalmente para a equipe de psicólogas e assistentes sociais, pois havia uma escassez de recursos materiais, de equipamentos e uma crescente demanda de casos. A falta de apoio e as dificuldades enfrentadas levaram a uma desmotivação da equipe e à saída de algumas profissionais, o que agravou ainda mais a crise. [...] Em julho do mesmo ano foi aprovada a criação dos cargos de direção do Centro (decreto nº 22.296, publicado em 24 de julho de 2006), mas somente em outubro foram empossadas a chefe e as supervisoras do CPTCA.

A criação dos cargos de chefia e supervisão das perícias médica, psicológica e social tinha o intuito de melhorar a gestão do órgão, além de possuir um canal direto de comunicação com a Secretaria de Segurança Pública, o que parece ter sido alcançado segundo Cardoso (2009, p. 25) ao afirmar que:

Após a posse da nova diretoria buscou-se melhorar as condições de trabalho da equipe através de aquisição de materiais e equipamentos, reorganização de procedimentos e arquivos, disponibilização de carro e motorista para serviços administrativos e realização de visitas domiciliares. Assim, no mês de janeiro de 2007 a equipe atualizou todos os atendimentos da perícia psicológica e social.

Em 5 janeiro de 2007, com o Decreto nº. 22.925, dispondo sobre a estrutura organizacional da Polícia Civil do Estado do Maranhão, o CPTCA passou a fazer parte da Superintendência de Polícia Técnico-Científica e da Polícia Civil, firmando sua identidade como órgão pericial. Dessa forma foi possível fazer um intercâmbio com os outros institutos periciais do Estado, o que contribuiu com o crescimento e divulgação do referido órgão.

Cardoso (2009) aponta que em relação à perícia médica os esforços empreendidos foram no sentido de digitar e entregar os laudos pendentes às autoridades policiais. Em janeiro de 2007, com o fim do contrato com a Secretaria de Saúde os atendimentos médicos cessaram, retornando apenas em outubro do mesmo ano, sob a responsabilidade do CPTCA, através de contrato com a Fundação Josué Montello27, fato que ajudou a retomar os

atendimentos.

Mas há dificuldade em manter os profissionais ativos no CPTCA, bem como aumentar o quadro que permanece nos dias atuais. No entanto tem sido feito um projeto de alteração do Estatuto do Policial Civil, o qual contemplará a inclusão das habilitações de psicologia e serviço social no referido cargo. A mesma alteração está sendo contemplada no plano de cargos, carreiras e remuneração da Polícia Civil, aprovado na Assembleia Legislativa em 15 de março de 2009, aguardando sanção governamental.

A questão dos profissionais lotados no CPTCA não serem peritos criminais concursados nos remete a uma inquietação acerca da legalidade das perícias psicológica e social. Cardoso (2009, p. 84) pontua:

É certo que o perito oficial concursado, que faz da perícia uma carreira, tem mais possibilidades de dedicar-se ao estudo e à pesquisa necessários ao ofício e, assim, melhor auxiliar os operadores do Direito, especialmente o juiz, em seu trabalho. Porém, o perito é um especialista, e por isso consideramos que o cargo, apesar de importante, até para dar o merecido valor às profissionais que aqui trabalham, não é o essencial em um trabalho pericial. O essencial é a produção material dos peritos, através do trabalho ético, técnico e responsável visível nos nossos Laudos.

A partir de 2009, Cardoso (2009) afirma que o CPTCA utiliza, no setor da perícia psicológica e social, um termo de compromisso, onde o Delegado de Polícia Civil, juntamente com o escrivão de polícia e os técnicos do CPTCA (psicólogos e assistentes-sociais nomeados para cada caso) assinam, responsabilizando-se pela perícia solicitada. Tal procedimento visa minimizar a falta de profissionais concursados e apesar de não ser o ideal, garante a legalidade do laudo.

Na atualidade o trabalho do CPTCA mantém seu objetivo de auxiliar na investigação policial com a produção de provas periciais oferecendo um atendimento com

qualidade, eficiência e rapidez e que evite a revitimização da criança e/ou do adolescente. É composto por uma equipe multidisciplinar (médicos, psicólogos e assistentes sociais) especializada no atendimento à vítima e à família, elaborando e encaminhando um laudo técnico para servir como prova em inquérito policial ou processo judicial (CARDOSO, 2009).