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5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

5.1 Colaboradores da pesquisa

A escolha dos participantes é um ponto central, pois foram escolhidas pessoas que vivenciaram e vivenciam a prática da Perícia psicológica em nosso Estado. Optamos por denominar os participantes da pesquisa como colaboradores, pois conforme Amatuzzi (2003), a pesquisa fenomenológica não lida com sujeitos que forneçam informações, mas colaboradores que, juntos, tratam do assunto. Partimos do pressuposto metodológico de que o colaborador é quem melhor sabe de sua experiência, ao passo que o pesquisador se propõe a aprender com quem já vivenciou ou vivencia a experiência sobre a qual ele quer aprimorar seus conhecimentos.

Os colaboradores da pesquisa foram divididos, didaticamente, em dois grupos: sendo um relativo aos profissionais pioneiros no processo de delineamento do sistema de atendimento a crianças vítimas de violências sexual e implementação do CPTCA e outro com os profissionais da Psicologia que atuaram com a prática da perícia psicológica com crianças vítimas de violência sexual no Estado do Maranhão, após instalação do CPTCA.

A escolha do primeiro grupo se justifica para tentar atender um dos objetivos específicos dessa pesquisa, o de compreender o percurso de inserção do psicólogo na perícia psicológica em casos de crianças vítimas de violência sexual na década de 90. Desse modo, buscamos pessoas que pudessem testemunhar sobre essa experiência pioneira no Estado. Mediante informações contidas nos livros e cartilhas que tratavam sobre o delineamento da política de enfrentamento à violência sexual no Estado do Maranhão foram identificados três participantes: uma assistente social, um promotor e uma psicóloga, que vivenciaram as discussões sobre a implantação dos serviços de atendimento a vítimas de violência sexual no Estado e a criação do serviço de perícia psicológica.

No entanto, apesar de esforços constantes junto às instituições, só conseguimos encontrar um dos participantes previstos para realizar entrevistas, o profissional da psicologia que participou do processo de implementação do CPTCA. Esse profissional foi denominado por nós de Colaborador Complementar, uma vez que em seu relato identificamos mais elementos importantes para fundamentar o contexto de surgimento do CPTCA, menos sobre a prática da perícia psicológica.

O segundo grupo foi formado por profissionais da Psicologia que atuavam diretamente na Perícia Psicológica com crianças vítimas de violência sexual no Estado no período de 2004 a 2014. Para escolha desses entrevistados foi enviado ofício (Anexo), ao diretor do CPTCA, solicitando informações sobre o quadro de funcionários presentes nesse período. Fomos informados que desde 2004 passaram pelo CPTCA um total de 12 profissionais da Psicologia. Pontuamos que, como nossa pesquisa é qualitativa e tem ênfase na análise da narrativa dos colaboradores, não necessitamos entrevistar todos os psicólogos lotados no CPTCA, e sim apenas um grupo deles, onde utilizamos como critérios de inclusão, psicólogos que atuaram por mais de dois anos no referido órgão pericial até 2014, totalizando quatro (04) profissionais da área.

O quadro 1 ilustra o quantitativo de profissionais que atuaram no CPTCA, desde sua inauguração em 2004 até o ano de 2014, demonstrando o tempo de atuação no órgão.

Quadro 1 – Psicólogos que atuaram no CPTCA

PROFISSIONAL ATUAÇÃO NO TEMPO DE CPTCA

SITUAÇÃO NO ÓRGÃO

PSICÓLOGO 1 2004- em atividade Transferida da Secretaria de Educação do Estado do Maranhão – Licenciada 2013-2015

PSICÓLOGO 2 2004-2006 Transferida da Secretaria de Educação do Estado do Maranhão – Não compõe o quadro do CPTCA na atualidade

PSICÓLOGO 3 2004-2006 Transferida da Secretaria de Educação do Estado do Maranhão – Não compõe o quadro do CPTCA na atualidade

PSICÓLOGO 4 2007-2014 Profissional Contratada pela Secretaria de Segurança Pública Não compõe o quadro do CPTCA na atualidade

PSICÓLOGO 5 2006-2007 Profissional Contratada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão – Não compõe o quadro do CPTCA na atualidade

PSICÓLOGO 6 2007-2008 Profissional Contratada pela Secretaria de Segurança Pública Não compõe o quadro do CPTCA na atualidade

PSICÓLOGO 7 2008- em atividade Profissional Contratada pela Secretaria de Segurança Pública Lotada no CPTCA no Cargo de Encarregada da Perícia Médica – e Psicológica

PSICÓLOGO 8 2010- em atividade Profissional Concursado como Perito Criminal e com formação em Psicologia – Lotado no CPTCA

PSICÓLOGO 9 2010- em atividade Profissional contratada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão – Lotada no CPTCA

PSICÓLOGO 10 Em atividade Profissional Contratada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão – Lotada no CPTCA

PSICÓLOGO 11 Em atividade Profissional Contratada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão – Lotada no CPTCA

PSICÓLOGO 12 Em atividade Profissional Contratada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão – Lotada no órgão Fonte: Moara de Oliveira Gamba

De acordo com o quadro, percebemos que atualmente o CPTCA conta com sete (07) profissionais da Psicologia em atividade, excetuando-se um deles que se encontra de licença, resultando em seis (06) profissionais da Psicologia em plena atuação. Todos os profissionais são psicólogos contratados pelo Estado e consequentemente exercem a função de peritos nomeados, com exceção de um profissional que realizou, no ano de 2006, concurso público para perito criminal por ter habilitação em Biologia. No ano de 2010, ao ser nomeado, por estar concluindo a formação em Psicologia foi lotado no CPTCA. Outro ponto a se destacar é que um dos profissionais atua acumulando dois cargos, o Encarregado da Perícia Médica e Psicológica do CPTCA e o de perito.

Em conformidade com a metodologia proposta e como o critério de inclusão dos colaboradores nessa pesquisa, qual seja o de profissionais da Psicologia que atuam ou atuaram no CPTCA por mais de dois anos consecutivos, chegamos aos seguintes colaboradores da pesquisa, ordenados no quadro 2, de acordo com o maior tempo de contratação no referido órgão.

Quadro 2 – Colaboradores da pesquisa

PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA

TEMPO DE ATUAÇÃO NO

CPTCA

SITUAÇÃO ATUAL NO CPTCA

COLABORADOR 1 11 anos Licenciada

COLABORADOR 2 07 anos Encarregada da Perícia Médica e Psicológica – CPTCA

COLABORADOR 3 07 anos Não atua mais no órgão desde junho/201429

COLABORADOR 4 04 anos Perito Criminal em atuação no CPTCA

COLABORADOR 5 04 anos Profissional contratada em atuação no CPTCA Fonte: Moara de Oliveira Gamba

Em decorrência do Colaborador 2 ser a pesquisadora deste trabalho, a mesma foi excluída do quadro de entrevistados, restando apenas os Colaboradores 1, 3,4 e 5, totalizando quatro (04) entrevistas coletadas nos meses de novembro a dezembro de 2014. Destacamos que dois (1 e 3) dos quatro colaboradores atuam há mais de cinco anos no órgão. Os locais de realização da pesquisa foram diversos, duas das entrevistas foram realizadas no Centro de Perícias Técnicas para Criança e o Adolescente e as outras duas em localidades de acordo com a disponibilidade dos colaboradores.

29 O Colaborador 3, embora tenha sido desligado do órgão em 2014, foi entrevistado por ainda estar vinculado ao órgão e dentro do recorte escolhido por essa pesquisa (atuação por mais de dois anos entre os anos de 2004 e 2014).

Ressaltamos que no decorrer desta pesquisa optamos pela preservação da identidade dos participantes em cumprimento às exigências do Artigo 16, letra c do Código de Ética Profissional do Psicólogo, onde afirma que na realização de estudos o psicólogo, ou estudante auxiliado por psicólogo, “garantirá o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo interesse manifesto destes;” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005, p. 14)30. Entendemos o anonimato como um instrumento essencial para

a garantia de uma fala o mais próximo possível da liberdade de expressão, sem o receio de represálias por qualquer parte.

Portanto, a preocupação com a avaliação dos riscos envolvidos pela divulgação dos resultados, exigência clara do já mencionado Código de Ética Profissional do Psicólogo, se reforça com a necessidade de manutenção do anonimato dos entrevistados a fim de que não venham a ocorrer consequências desagradáveis aos envolvidos na pesquisa em outras formas de divulgação do estudo.

Vale lembrar que a pesquisadora responsável pela presente pesquisa exerce o cargo de Encarregada da Perícia Psicológica dentro do órgão. Consideramos que tal fato pudesse gerar um mal estar entre os entrevistados, visto que os mesmos estavam discursando sobre o seu ambiente de trabalho e o da entrevistadora. No entanto, não percebemos nenhum mal estar por parte dos colaboradores no decorrer das entrevistas por esse motivo. Porém alguns pontuaram certo desconforto em decorrência de falar sobre um tema que já era conhecido da pesquisadora. Na ocasião, tentamos criar um ambiente favorável e consideramos que esse constrangimento inicial não impactou negativamente na coleta de dados. Conforme já relatamos, optamos pelo uso do método fenomenológico para análise dos dados narrativos a partir de Giorgi (2008). A escolha de um método de inspiração fenomenológica parece o mais adequado quando se pretende investigar e conhecer a experiência do outro, uma vez que o ato de o sujeito contar a sua experiência não se restringe somente a dar a conhecer os fatos e acontecimentos da sua vida. Mas significa, além de tudo, uma forma de existir com-o-outro.

30 Pontuamos que mantivemos o anonimato dos colaboradores, porém mantivemos o nome do órgão onde atuavam, visto que a Direção do CPTCA em ofício autorizou a utilização do nome do órgão da presente pesquisa.