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4. PESQUISA EMPÍRICA: VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E

4.2 APRESENTAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DOS DADOS DA REDE DE

4.2.3 Centro de Referência Especializado de Assistência Social

O Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS – é uma unidade pública que integra o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, insere-se como política pública de Proteção Social Especial de Média Complexidade257 e tem como objetivo a oferta de apoio e orientação aos indivíduos com direitos violados, por ocorrência de “negligência e abandono, ameaça e maus-tratos, violações físicas e psíquicas e discriminações sociais e infringência aos direitos humanos sociais”, direcionando o foco das ações para a família, na perspectiva de potencializar e fortalecer sua função protetiva258.

Portanto, atende crianças, adolescentes, mulheres, pessoas idosas, pessoas com deficiência, e suas famílias, que se encontram em situação de ameaça e/ou violação de direitos por motivo de abandono, violência física, psicológica ou sexual, exploração sexual comercial, situação de rua e vivência de trabalho infantil.

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No CT I, II foi entrevista a Conselheira Severina, no dia 16 de abril de 2009, na sede do órgão. No CT III, IV foi entrevistado o Conselheiro Marcelo Alves da Silva, no dia 27 de março de 2009, na sede do órgão . No CT V, VI foi entrevistada a Conselheira Cecília Oliveira da Silva, no dia 9 de fevereiro de 2009. No CT VII foi entrevistado o Conselheiro Valdomiro Pontes Jardim, no dia 07 de janeiro de 2009, na sede do órgão.

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Os serviços de proteção especial estão divididos em proteção de média e alta complexidade; esta ocorre quando os indivíduos romperam seus vínculos familiares e comunitários, necessitando ir a um abrigo, e aquela se configura quando os indivíduos ainda não perderam tais vínculos.

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CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Cartilha: De que lado você está? Maceió: CREAS, 2008.

O cofinanciamento federal para esses serviços se dá por meio de transferência de recursos do Fundo Nacional para os Fundos Municipais de Assistência Social, no Piso Fixo de Média Complexidade (conforme Portaria Nº440/2005 - Art. 3º).

O CREAS oferece acompanhamento técnico especializado desenvolvido por uma equipe multiprofissional. Em Maceió, o CREAS possui cinco psicólogos, quatro assistentes sociais, quatro educadores e um advogado, além de uma coordenadora geral e uma coordenadora específica de combate à exploração sexual.

Silvaneide Paulo de Omena e Cínthia Braga Mota, assistentes sociais do CREAS, em entrevista concedida no dia 19/03/2009, na sede do órgão, informaram que a fragilidade da rede de proteção e a mudança constante de coordenação, pois são cargos políticos, entravam o combate à violência sexual. Em contrapartida, consideram que o amparo legal, delimitado pelo Sistema de Garantias e Direitos, do Estatuto da Criança e do Adolescente, ajuda na batalha contra esse tipo de violência.

Pelo órgão, foram repassados os dados sobre os atendimentos de 2006 a 2008. É relevante esclarecer que antes havia, no município de Maceió, o programa Sentinela, específico para o atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Contudo, a partir do ano de 2007, esse foi extinto, repassando ao CREAS suas funções.

O CREAS divide seus atendimentos em cinco tipos de violência: física, psicológica, abuso sexual, exploração sexual e negligência.

Somente os dados sobre violência sexual foram sistematizados, isto é, sobre abuso e exploração sexual. Foram atendidos 187 casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes e 99 casos de exploração sexual, no período de 2006 a 2008.

A tabela seguinte delimita o perfil das crianças e adolescentes abusadas sexualmente:

Tabela 2: Atendimentos de Abuso Sexual no CREAS/Maceió FAIXA ETÁRIA 2006 2007 2008 TOTAL

0 a 6 11 13 3 27 7 a 14 48 55 22 125 15 a 18 14 16 5 35 TOTAL DE CASOS 73 84 30 187 SEXO 2006 2007 2008 TOTAL Feminino 60 70 25 155 Masculino 13 14 5 32 TOTAL DE CASOS 73 84 30 187 AGRESSOR 2006 2007 2008 TOTAL Avô 6 7 0 13 Irmão 2 2 0 4 Padrasto 8 12 8 28 Pai 3 6 4 13 Tio 0 3 2 5 Outros Familiares 3 2 2 7 Outros* 28 27 15 70 TOTAL DE CASOS 50 59 31 140 (*)Desconhecido, vizinho, namorado, colega.

Fonte: Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS

Conforme examinado, 82,9% das vítimas são do sexo feminino, enquanto 17,1% são do sexo masculino. A faixa etária previamente determinada pelo CREAS259 indica que 66,9% dos menores violados se encontram com idade entre 7 a 14 anos, 18,7%, na faixa de 15 a 18 anos e 14,4% entre 0 a 6 anos.

Do total de 140 agressores260, 70, ou seja, 50% dos abusadores, são familiares da vítima. Os padrastos ocupam o primeiro lugar, com 40% dos registros na seara familiar. Atente-se que, pelas estatísticas do CREAS, os demais autores de crimes, 70 especificamente, encontram-se denominados como “outros”, englobando não só desconhecidos, como também conhecidos das vítimas: vizinho, namorado ou colega.

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Essa faixa etária apresentada pelo CREAS dificulta a identificação entre crianças e adolescentes, consoante o critério do Estatuto da Criança e do Adolescente.

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Percebe-se que o registro inferior de abusadores comparado ao número total de casos de atendimento pode ser explicado pela ausência dessa informação na hora dos atendimentos, bem como pela possibilidade de um único abusador violentar mais de uma criança ou adolescente.

O Conselho Tutelar é o principal órgão de encaminhamento ao CREAS. Foram 123 conduções no período de 2006 a 2008, representando 65,7% dos casos atendidos.

O CREAS também registrou, em seus relatórios, o quantitativo de crianças e adolescentes por renda familiar. A análise de 168 famílias no período de 2006 a 2008 constatou que somente 3 (três) crianças e/ou adolescentes vivem em uma família com renda acima de 3 (três) salários mínimos, correspondendo ao número ínfimo de 1,8% dos casos. Já 17,8% dos menores de 18 anos, exatos 30 menores, convivem com 1 (um) a 3 (três) salários mínimos e, a grande maioria, 135 meninos e meninas, que representam 80,4%, estão inseridos em uma família com renda mensal de 0 (zero) a 1 (um) salário mínimo.

Observe-se ainda que, do ano de 2006 a 2007, houve uma aumento de 15,1% dos casos, já o comparativo de 2007 a 2008 demonstra uma diminuição de 64,3% dos atendimentos de abuso sexual.

Em relação à exploração sexual, a tabela abaixo expõe os seus principais dados:

Tabela 3: Atendimentos de Exploração Sexual no CREAS/Maceió FAIXA ETÁRIA 2006 2007 2008 TOTAL

0 a 6 0 0 0 0 7 a 14 26 26 3 55 15 a 18 22 21 1 44 TOTAL DE CASOS 48 47 4 99 SEXO 2006 2007 2008 TOTAL Feminino 47 46 4 97 Masculino 1 1 0 2 TOTAL DE CASOS 48 47 4 99 AGRESSOR 2006 2007 2008 TOTAL Avô 0 0 0 0 Irmão 0 0 0 0 Padrasto 11 12 0 23 Pai 0 0 0 0 Tio 0 0 0 0 Outros Familiares 0 0 0 0 Outros* 54 41 4 99 TOTAL DE CASOS 65 53 4 122

*Desconhecido, vizinho, namorado, colega.

No caso da exploração sexual, a proporção de crianças e adolescentes do sexo feminino alcança 98% dos atendimentos, em oposição aos 2% do sexo masculino. Como nos registros de abuso sexual, a faixa etária de 7 a 14 anos consagra o maior número de casos, 55,6%, seguida da faixa de 15 a 18 anos, 44,4% dos atendimentos. Nota-se que não há, no período designado, qualquer quantitativo de exploração sexual de crianças com idades entre 0 a 6 anos.

Os atendimentos de exploração sexual no CREAS diminuíram substancialmente; comparando os números de 2007 com 2008, verifica-se uma redução considerável de 91,5%.

No caso dos agressores, diferentemente do abuso sexual, não há grande incidência dos familiares das vítimas como autores dos crimes. Apenas o padrasto entra na lista de familiar- agressor, as demais ocorrências, 81,1%, das 122 registradas261, foram ocasionadas por outras pessoas, desvinculadas da convivência familiar.

Ressalte-se que embora a mãe e a madrasta estivessem listadas nos relatórios fornecidos pelo CREAS como possíveis agressoras, tanto de abuso sexual quanto de exploração sexual, não foram identificados casos praticados por elas.

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