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Relativamente à cerâmica comum podemos aferir a sua grande quantidade, bom estado de conservação e diversidade de tipos. Sobressaem as formas fechadas, nomeadamente a talhas, que aparecem, preferencialmente, em níveis de derrubes. Das abertas ates- tamos a recorrência de tigelas e alguidares, algumas quase completas. A maior parte da cerâmica comum não é decorada, sendo mais utilizada nas formas fechadas e técnica mais usual é de cordões plásticos digitados.

Devido à recorrência de algumas formas tomámos a decisão de elaborar uma tipologia onde seriam enquadradas. Assim, as peças foram agrupadas em malgas (m), tigelas (t), coadores (c) e alguidares (a).

As malgas (quadro 1) têm como função conter alimentos sólidos ou semi – líquidos. São formas abertas, fundas, e pertencem ao serviço de mesa e cozinha.

Tipo 1-m

São vários os exemplares deste tipo (nº12 e 13) e caracterizam-se pelo bordo de aba oblíqua, corpo troncocónico, e fundo plano, com base alargada, por vezes, ligeiramente côncavo. Todos os exemplares têm pasta compacta com poucos e.n.p. e foram cozidos de forma oxidante. Como tratamento de superfície foi utilizado o polimento no interior e alisamento no exterior. Os diâmetros dos bordos situam-se entre os 210 e os 180 mm. Os fundos têm diâmetros de 70 a 80 mm.

Tipo 2-m

Este tipo de malga, do qual apenas existe um exemplar (nº14), apresenta bordo afilado recto e corpo hemisférico. Pasta compacta acastanhada; apresenta polimento no interior e alisamento no exterior. O diâmetro é de 230 mm.

Consideramos a forma, identificada como Tipo 1-m, como de longa duração, pois em Valladolid encontramos este tipo de recipientes com datações apontadas para o séc. XIII (Villanueva Zubizarreta, 1998: 226-228). Contudo, foram encontradas peças deste tipo, em contextos modernos, na Calle Roman Alvarez, nº 2 de Zamora (Martin Arija et al, 1995: 100, fig.3-3 e 4). No caso concreto de Almofala, tendo em conta o estado de con- servação e os níveis estratigráficos em que se encontraram, apontamos para cronologias de fase moderna.

A função das tigelas (quadro1), semelhante à do grupo anterior, seria conter alimentos, líquidos ou sólidos, utilizadas tanto para serviço de mesa como de cozinha. As peças aqui apresentadas, são formas abertas com perfil curvo, apresentando, em média, diâmetros entre os 145 e os 160 mm, portanto menores do que as malgas, e diferenciámos quatro tipos principais de tigelas, com algumas variantes.

Tipo 1-t

Este tipo de tigela (nº 15) apresenta bordo ligeiramente espessado no interior e perfil curvo. A pasta é compacta, alaranjada, de cozedura oxidante, com a superfície exterior alisada e interior polida. O seu diâmetro é de 152 mm.

Tipo 2-t

Os exemplares (nº16), pertencentes a este tipo, apresentam bordo esvasado, normal- mente afilado, perfil curvo e fundo plano, por vezes, ligeiramente alargado, com pasta compacta e com poucos e.n.p. e cozidos em ambiente oxidante. Como tratamento de superfície, foi utilizado o alisamento no exterior e polimento no interior. Geralmente não são formas decoradas, havendo apenas um exemplar que possui uma canelura pouco profunda no corpo. Os diâmetros do bordo, neste tipo centram-se entre os 155 e os 160 mm e os correspondentes ao fundo entre os 53 e os 80 mm.

Tipo 2a-t

Este tipo é uma variante do anterior e difere daquele, pelo facto de ter sido utilizada uma cozedura redutora. Existe um único exemplar (nº 17) com esta característica. O diâmetro do bordo é ligeiramente inferior, comparativamente ao Tipo 2-t, apresentando, este exem- plar, 146 mm.

Tipo 2b-t

Existe apenas um exemplar deste tipo (nº 18) e caracteriza-se por um bordo ligeiramente envasado, diferente dos bordos do tipo 2-t. O fundo é também distinto pois apresenta-se bem marcado. As restantes características são idênticas às descritas para as tigelas tipo 2-t.

Tipo 3-t

Apresenta (nº 19) bordo afilado, ligeiramente esvasado e uma pequena inflexão, na parte superior do corpo, apresentando uma suave carena. A pasta é compacta, com poucos e.n.p.; cozida em ambiente oxidante. Foi utilizado o alisamento na superfície exterior e polimento na interior. O diâmetro é de 150 mm.

Tipo 4-t

Caracterizado por um bordo boleado, perfil curvo, e corpo carenado. Pasta compacta ala- ranjada. É polido no interior e, no exterior, somente na parte superior ao ressalto, com ali- samento sob aquele. Apareceu um único exemplar deste tipo (nº 192), e o seu diâmetro, de 120 mm, é ligeiramente inferior comparativamente aos anteriores.

Encontramos em Castelo da Lúa, Rianxo, Coruña, uma peça definida como cuenco, com forma e tratamentos de superfície idênticos aos do Tipo 2-t, todavia com diâmetro superior, com cronologia a partir do séc. XV (Cesar Vila e Bonilla Rodríguez, 2003: 321, fig.12-49).

Foram identificados dois coadores, cuja função seria coar líquidos, e colocamos a hipó- tese de terem sido utilizados no fabrico do queijo.

Tipo 1-c

Coador (nº21) de fundo com canelura concêntrica, com 75 mm de diâmetro; paredes esvasadas e bordo espessado no interior, com 150 mm de diâmetro. As superfícies apresentam apenas um alisamento e a pasta é compacta com poucos e.n.p.; foi cozido de forma oxidante. Os furos de escoamento de líquidos encontram-se somente na parte inferior da peça.

Tipo 2-c

As características desse coador não diferem muito das descritas no anterior tipo. Trata-se de um fragmento muito pequeno, mas podemos observar que fundo é semelhante e com diâmetro muito aproximado, isto é, 80 mm. O tipo de tratamento de superfície é idêntico mas menos cuidadoso. A diferença principal entre estes dois tipos reside na cozedura utilizada, neste caso redutora, que lhe confere uma cor acinzentada/escura à pasta. Por último, surgem os alguidares, recipiente com várias funções distintas, como amassar pão, lavar roupa ou servir durante a matança dos animais. A diversidade e abundância de exemplares permitiram uma classificação de seis diferentes formas neste tipo de peças. Tipo 1-a

Existe apenas um exemplar deste tipo (nº22) e caracteriza-se por um bordo introvertido, afilado e anguloso, com corpo troncocónico. A pasta é compacta, com poucos e.n.p. Esta peça foi cozida em ambiente redutor com arrefecimento oxidante. No exterior, a super- fície foi alisada e no interior polida. O seu diâmetro é de 218 mm.

Tipo 2-a

Este alguidar (nº 23) apresenta um bordo introvertido, biselado no interior e ligeiramente espessado no exterior e corpo troncocónico. A pasta é compacta e foi cozido de forma oxidante. No início do corpo tem uma canelura e a face exterior é alisada e a interior é polida. A medida do diâmetro do bordo é de 420 mm.

Tipo 3-a

Alguidar (nº 24) de bordo introvertido, espessado no exterior, com ressalto no início do corpo. A pasta é compacta e foi cozido em ambiente redutor com arrefecimento oxidante. Com alisamento no exterior e polimento no interior. O diâmetro é de 380 mm.

Existem dois exemplares deste tipo na zona sul da Torre de Almofala, provenientes da mesma sala e estrato.

Tipo 4-a

Caracteriza-se por um bordo introvertido, boleado ou biselado, com espessamento, corpo troncocónico e fundo plano. Num dos casos, o alguidar (nº 25) apresenta caneluras no início do corpo. As cozeduras são em ambiente oxidante. Os tratamentos de superfícies são o polimento, no interior, e alisamento, no exterior. Os diâmetros dos bordos estão entre 260 e 420 mm, o que parece demonstrar a existência de peças com a mesma forma, mas de tamanhos diferentes, estando, possivelmente, em conformidade com a utilidade que lhe era atribuída.

Tipo 4a-a

Este tipo (nº 26) é uma variante do anterior, apresentando as mesmas características. No entanto, difere do tipo 4-a pois possui decoração, isto é, linhas incisas cruzadas no bordo e corpo da peça. Tem um diâmetro de 510 mm.

Tipo 5-a

Apresenta bordo introvertido, boleado e corpo troncocónico. Tem uma canelura larga no bordo. A pasta é compacta e cozedura oxidante. Os tratamentos de superfície são iguais aos utilizados nos tipos anteriores, isto é, o alisamento no exterior e polimento no interior. Tipo 6-a

Este tipo de alguidar (nº28) revela um bordo ligeiramente introvertido, boleado, com espessamento exterior. A cozedura é oxidante e a pasta é compacta com poucos e.n.p. O interior é polido e o exterior é alisado.

Observamos algumas semelhanças formais entre o Tipo 3-a com a peça nº 52 da Rua de Nenhures (Palmela) (Fernandes e Carvalho, 1997, 290 e 291, fig.13), descrita como indeterminada, embora apresente uma maior introversão do bordo. As características em termos de pasta, tratamento e cor das superfícies são coincidentes, mas o diâmetro da peça de Almofala é maior.

Conseguimos atestar algumas proximidades formais entre o Tipo 6-a com um exemplar de Albaícin, Granada (Rodríguez Aguilera, 2000, 153) embora esta peça tenha o interior vidrado, com cronologia do séc. XVII.

O estudo dos materiais e criação desta tabela tipológica, privilegiando as formas mais co- muns no conjunto ceramológico em análise, permitiu-nos verificar falta de paralelos para aqueles, o que nos incita a aventar a hipótese de existir na Torre de Almofala, durante o período moderno, uma olaria. Esta questão apenas será resolvida com análises às pastas e aos barreiros da região.

Registam-se, com alguma frequência, os potes grandes e talhas, cuja funcionalidade é a conservação de alimentos sólidos ou líquidos, sendo, por vezes, vidrados no interior para melhor impermeabilização; contudo, as peças de Almofala que se integram nesta cate- goria são de cerâmica não vidrada.

Assim, o nº 29 corresponde a um pote grande, de bordo extrovertido, corpo ovóide e fundo plano, com duas asas (uma delas totalmente restaurada). É uma peça decorada com dois cordões plásticos digitados, um no início do colo e outro na zona inferior da va- silha. O interior do pote foi apenas alisado e o exterior foi polido do bordo até ao primeiro cordão, sendo alisado abaixo daquele.

Esta peça é a conjugação de duas partes, ou seja, o oleiro trabalhou o barro fazendo, separadamente, o fundo e a parte superior do pote. O cordão plástico inferior foi colo- cado, não só para decoração, mas para ocultar a ligação das duas partes. Ao fazermos o restauro da peça constatámos que as extremidades das duas partes estavam preparadas para a junção, ou seja, foram feitas de forma a encaixarem uma na outra, colocando-se o cordão por cima. Observando o desenho, comparamos que a zona inferior do recipiente tem uma espessura bastante menor relativamente à parte do ombro e pança.

Quanto às talhas, apresentamos dois exemplares bastante interessantes. Assim, o nº 30 é uma talha, de bordo ligeiramente extrovertido e corpo ovóide ornamentada com cordões digitados. O colo é decorado com digitações oblíquas, feitas com as pontas dos dedos. É um exemplo de uma técnica algumas vezes utilizada pelos oleiros que consistia em ornamentar os cordões com os vários dedos, resultando cada cordão com digitações de tamanhos diferentes de acordo com o dedo utilizado. Podemos verificar através do de- senho que as dedadas dos cordões não têm o mesmo tamanho nem configuração, pois foram utilizados os diferentes dedos.

Tal como na actualidade, na olaria tradicional, a colocação de cordões nos recipientes não tinha apenas uma função decorativa mas também de reforço das peças (Garcia Alén, 1983, 88). Verificamos que os cordões desta talha foram colocados na parte com menos espessa da peça, o que nos aponta para um fortalecimento do recipiente.

Nas escavações junto à Catedral de Zamora foi encontrada parte de uma talha apresen- tando esta técnica decorativa, em contextos estratigráficos datáveis entre os séc. XIV e XVI (Martín Arija e Larrén Izquierdo, 1991, 267-fig.4-3). Podemos, ainda, referir que em Bisalhães (Silva et al, 2003, 71-73), com datação do séc. XVIII, encontramos talhas orna- mentadas com cordões digitados, fabricadas em louça preta, tal como em Arouca (Silva, 2004, 394).

Por último, a talha identificada com o nº 31 corresponde a uma talha de corpo ovóide adornada com cordões simples, decoração não muito comum no conjunto da cerâmica aqui em estudo, tendo na parte inferior da pança um orifício para vazar líquidos. As talhas com orifícios serviam normalmente para vinho ou água onde se podia acrescentar uma torneira de metal ou madeira. Podiam, igualmente, servir para azeite, embora neste caso não parece ter sido o líquido contido pois não detectámos qualquer vestígio de gordura quer durante a fase da lavagem como do restauro da peça.

Reconhecemos semelhanças formais com fragmentos de talhas exumados em Tomar, em estratos com cronologias entre o final do séc. XV e inícios do séc. XVI; identificado com o nº 4, um fragmento de bojo com “faixas largas ou molduras salientes” e o nº 6 correspondendo a um fragmento de bojo com uma “boca saliente e perfurada” (Ponte e Miranda, 2003, 493, 494- est. I). São-lhe atribuídas funções na produção do vinho ou vinagre.