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certas regras; a não ser assim, a nossa imaginação empírica não teria nunca nada a fazer que fosse

conforme à sua faculdade, permanecendo oculta no íntimo do espirito como faculdade morta e desconhecida para nós próprios. (…)

A isto, porém, se chega quando se reflete que os fenómenos não são coisas em si, mas o simples jogo das nossas representações que, em último termo, resultam das determinações do sentido interno.»

140 Baltasar Gracían, A Arte da Prudência, 2ª Tiragem, Livraria Martins Fontes, São Paulo, 2001,p. 38,

XIX. «Não entrar com demasiada expectação. Ordinário desaire de tudo o que é muito celebrado antes é não chegar depois ao excesso do que foi concebido. Nunca o verdadeiro pôde alcançar o imaginado, porque fingir perfeições é fácil; difícil é consegui-las. Casa-se a imaginação com o desejo e concebe sempre muito mais do que as coisas são.»

141Cf. Bertrand. R., O Poder Uma Nova Análise Social, op. cit., Cap. I, p. 14. «Aqueles cujo amor ao

poder não é forte não terão, provavelmente, muita influência no curso dos acontecimentos. Os homens que causam as mudanças sociais são em regra homens que o desejam fortemente.»

142Cf. Maquiavel, N, O Príncipe, op. cit., IV, p. 123. 143 Idem, p. 124.

144 Idem, ibidem, 11. «Os amigos aparecem em função dos interesses.» 145 Idem, 13, p.125. «Nunca se foge a uma guerra. Adia-se.»

51 desenvolve para além da imagem146 do outro de forma específica, onde se procura maximizar

o domínio e minimizar os estragos, procurando-se, assim, um equilíbrio. Tudo depende de tudo, o que resulta numa interdependência de comportamentos lineares, determinísticos e altamente imprevisíveis. Tudo tem caraterísticas semelhantes, na sua base, contudo é todo um sistema vivo altamente complexo, dado cada um afetar o outro e o todo é afetado pelo mesmo, contribuindo, deste modo para o funcionamento do todo. E este é o seu impacto visível na associação dinâmica de sujeitos, subsequentemente é como existissem simulações de modelos calculistas para se saber qual a eficiência quanto ao modo de convencer, segundo as ideias mais eficazes, contudo, novas ideias não existem para modelar os comportamentos e dar viabilidade às expetativas, ou seja, fazê-las sentir com impacto no outro, de modo a que este possa enxergar uma nova realidade, modelando-a, em interconexão, para assim exercer o poder no seu organismo intencional em prol da sua intenção de mando. É todo um sistema interligado, numa rede global de poder, altamente complexo e instável, porque a fortuna,147

146 Cf. Peters, F. E., Termos Filosóficos Gregos, 2ª edição, trad. Beatriz Barbosa Fundação Calouste

Gulbenkian, Lisboa, 1983, p.62. O conceito de imagem também nos surge como um eidos, termo bastante enraizado na Grécia Clássica, como se se tratasse de uma aparência ou natureza constitutiva, ou seja, uma espécie de ideia. Já em Platão, no Sofista, Platon, Le Sophiste, 3ª édition, ed. rev. Ouvres Complètes, trad. Auguste Diès, Collection Des Universités de France, Société D’Edition «Les Belles Lettres, Tome VIII- 3ª Partie, Paris, 1955, 236 a – b, p.334, os intervenientes Teeteto e o Estrangeiro ao dialogarem entre eles, fazem uso deste conceito de imagem, que se subdivide em “« reflexo»” e “« aparência »”, aquilo que os gregos denominam de Eikon, isto é, imagem - reflexo. Em Platão,

República, 5ª Edição, Trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,

1987, Livro VI, 509 e – 510 a, pp.313-314, no decorrer do diálogo, um dos intervenientes afirma o seguinte: “ Chamo imagens, em primeiro lugar, às sombras; seguidamente, aos reflexos nas águas, e àquelas que se formam em todos os corpos compactos, lisos e brilhantes, e a tudo o mais que for do mesmo género, se estás a entender-me”,146 subentendendo-se, assim, que a imagem é um segmento

inferior de uma outra imagem que se pressupõe ser a verdadeira.

147 Cf. Maquiavel, N, O Príncipe, op. cit. Em Maquiavel, a virtude, a prudência, o acaso e a fortuna,

compartilham, orientando as ações e os acontecimentos da vida humana, o tempo que é e o que há-de vir no sucedâneo biológico político. Porque, cap. VI, 1, 5, «deve um homem prudente meter sempre por vias batidas por grandes homens e imitar aqueles que foram os mais excelentes, a fim de que, senão chegar à sua virtude, dela exalem ao menos algum odor.» E adquirir, pela via virtuosa, o «principado com dificuldade, mas com facilidade o detêm; e as dificuldades que eles têm a adquirir o principado nascem, em parte das novas ordens e modos que são forçados a introduzir para fundar o seu estado e a sua segurança.» Todavia há aqueles que «não conhecem da fortuna senão a ocasião.» Ou seja, a fortuna e a ocasião são um meio de adquirir o poder com pouca fadiga, mas para o manter será muito cansativo, dado as dificuldades surgirem a partir do momento em que se está no poder. Segundo Maquiavel, cap. VII, a vontade e a fortuna são duas coisas muito volúveis e instáveis. É preciso muita virtude para «o que a fortuna lhe pôs no regaço.» Mas, cap. VIII, «não se pode chamar virtude assassinar os cidadãos, trair os amigos, ser sem palavra, sem piedade, sem religião: modos destes podem fazer adquirir império, mas não glória.» Subsequentemente, a crueldade implica a ausência de fortuna e de virtude. Associada à

fortuna, cap. IX, 1, encontra-se a astúcia como meio de ascender ao poder, e, neste sentido, cap. X, 3,

o «líder deve ser prudente e corajoso.» Para além desta qualidade, o Príncipe, cap. XV, 1, deve ser prudente para que «saiba fugir à má fama dos vícios que lhe tirariam o estado e guardar-se daqueles que não lho tira. (…) E também não se preocupe de incorrer na má fama daqueles vícios sem os quais dificilmente pode salvar o estado.» Assumir uma prudência liberal, cap. XVI, 1, é o mais conveniente, ou seja, «não se preocupar com o nome de mesquinho, pois com o tempo será, com a sua parcimónia, as suas receitas lhe bastam, pode defender-se de quem lhe faz guerra e pode fazer empresas sem sobrecarregar as populações.»

A fortuna, em Maquiavel, cap. XX, 5, para além da prudência, é ativa, ou seja, «quando quer fazer grande um príncipe, faz com que lhe nasçam inimigos e com estes façam empresas contra ele, a fim de que tenha motivo para as superar e de, por essa escada que os seus inimigos lhe estendem, trepar mais alto.» E aqui é preciso ser prudente, cap. XXI, 7, «consiste em saber conhecer a qualidade dos inconvenientes e tomar o menos ruim por bom,» e ser «amante das virtudes». Contudo, cap. XXV,

52 altamente sensível e instável, pode alterar, com pequenos acasos, o rumo, como um furacão de veleidade intencional de poder.

Contudo, há quem esteja convicto de que todas as características presentes no mundo complexo do poder se podem dominar, como, por exemplo, o comportamento caótico, os fenómenos de emergência que podem romper com o sistema dinâmico e da trajetória das intenções, esquecendo-se a possibilidade de que existem informações que escapam a todos, convencidos de que o menor erro estratégico, ou a menor distorção na visão do comportamento na sua globalidade, pode levar rapidamente todo o empreendimento intencional à derrota. Porque o sistema interno do poder, para além de dinâmico, é também discreto na sua rede e pode assumir comportamentos estranhos ao olhar, ou seja, a imprevisibilidade é também seu ingrediente, por exemplo, um sistema formado por três sujeitos, Eu, Tu, e o Ele, constituem um sistema dinâmico discreto que não tem a solução correta quanto ao efeito de se obter a certeza sobre cada um. O que significa que os seus comportamentos, por mais estudados que sejam, podem ser, no tempo, imprevisíveis. Contudo, há quem acredite que podem ser estáveis, isto é, dado o perigo que a conquista do poder exige, o outro não sairá, de repente, “pulando” do seu lugar, nem muito menos escapará para fora do seu círculo intencional sem ter uma possível certeza de que o alcançará, apesar do seu impulso intencional, aparentemente estável, conetado e convivendo numa rede em que o grau de complexidade, inclusive, poder ser suscetível de um comportamento caótico. É como se existisse uma simbiose entre uma ordem que pode perder o seu domínio, a seguir a um suposto caos, e a introdução de um outro, sendo disso exemplo, os comportamentos estranhos148 e toda a dinâmica determinística e discreta.

Ora, aquele que não assumisse o poder, após o caos, segundo valores diferentes o que lhe aconteceria?