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Questões comentadas pelo professor

13. CESPE - Aud Est (TCM-BA)/TCM-BA/Controle Externo/2018

Ainda existem pessoas para as quais a greve é um “escândalo”: isto é, não só um erro, uma desordem ou um delito, mas também um crime moral, uma ação intolerável que perturba a própria natureza. “Inadmissível”,

“escandalosa”, “revoltante”, dizem alguns leitores do Figaro, comentando uma greve recente. Para dizer a verdade, trata-se de uma linguagem do tempo da Restauração, que exprime a sua mentalidade profunda. É a época em que a burguesia, que assumira o poder havia pouco tempo, executa uma espécie de junção entre a moral e a natureza, oferecendo a uma a garantia da outra. Temendo-se a naturalização da moral, moraliza-se a natureza; finge-se confundir a ordem política e a ordem natural, e decreta-se imoral tudo o que conteste as

leis estruturais da sociedade que se quer defender. Para os prefeitos de Carlos X, assim como para os leitores do Figaro de hoje, a greve constitui, em primeiro lugar, um desafio às prescrições da razão moralizada: “fazer greve é zombar de todos nós”, isto é, mais do que infringir uma legalidade cívica, é infringir uma legalidade

“natural”, atentar contra o bom senso, misto de moral e lógica, fundamento filosófico da sociedade burguesa.

Nesse caso, o escândalo provém de uma ausência de lógica: a greve é escandalosa porque incomoda precisamente aqueles a quem ela não diz respeito. É a razão que sofre e se revolta: a causalidade direta, mecânica, essa causalidade é perturbada; o efeito se dispersa incompreensivelmente longe da causa, escapa-lhe, o que é intolerável e chocante. Ao contrário do que se poderia pensar sobre os sonhos da burguesia, essa classe tem uma concepção tirânica, infinitamente suscetível, da causalidade: o fundamento da moral que professa não é de modo algum mágico, mas, sim, racional. Simplesmente, trata-se de uma racionalidade linear, estreita, fundada, por assim dizer, numa correspondência numérica entre as causas e os efeitos. O que falta a essa racionalidade é, evidentemente, a ideia das funções complexas, a imaginação de um desdobramento longínquo dos determinismos, de uma solidariedade entre os acontecimentos, que a tradição materialista sistematizou sob o nome de totalidade.

Roland Barthes. O usuário da greve. In: R. Barthes. Mitologias. Tradução de Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007, p. 135-6 (com adaptações).

Sem prejuízo para a correção gramatical e para as informações veiculadas no texto, poderia ser suprimida a vírgula empregada imediatamente após

a) ‘revoltante’.

b) “Carlos X”.

c) “sim”.

d) “fundada”.

e) “acontecimentos”.

RESOLUÇÃO

ALTERNATIVA A: Os adjetivos “Inadmissível”, “escandalosa” e “revoltante” exercem função sintática de predicativos. Pela regra de pontuação, o predicativo deslocado é separado por vírgula, quando o verbo da frase não é de ligação. Nesse caso, deve-se manter a vírgula após o último adjetivo da enumeração.

ALTERNATIVA B: O termo “Para os prefeitos de Carlos X, assim como para os eleitores do Fígaro de hoje” é o que chamamos de dativo de opinião. A identificação desse elemento é bem simples e se dá por meio da reescrita “Na opinião dos prefeitos de Carlos X, assim como para os eleitores do Fígaro de hoje”.

Pois bem, o dativo de opinião, no que se refere à pontuação, tem comportamento similar aos adjuntos adverbais. Assim, como o dativo se encontra deslocado e é de grande extensão – mais de 2 palavras -, deve-se empregar a virgula após “hoje” de forma obrigatória.

Observe, no entanto, que, dentro do dativo, há dois elementos coordenados entre si pela locução conjuntiva aditiva “assim como”. Lembremo-nos de que a vírgula não é empregada antes das aditivas E e NEM, com algumas ressalvas. Diante de outros conectores aditivos, é possível omitir a vírgula sem prejuízo sintático.

Dessa forma, a vírgula após “Carlos X” pode ser omitida, mas a vírgula depois de “hoje” não.

ALTERNATIVA C: Como se trata de um adjunto adverbial deslocado, formado de apenas uma palavra, o advérbio “sim” poderia vir sem vírgulas ou entre vírgulas. Não há outra forma de pontuar o trecho. É preciso observar que o conectivo “mas”, que opõe termos, tem vinculação com o termo “racional”, que vem depois da conjunção adversativa, por isso não se admite a retirada da vírgula somente após o “sim”.

ALTERNATIVA D: Como há um termo intercalado (por assim dizer) após “fundada”, não estaria correta a retirada da vírgula depois do termo em destaque na alternativa, visto que a expressão intercalada deve vir obrigatoriamente entre vírgulas.

ALTERNATIVA E: A vírgula após “acontecimentos” é obrigatória, porque há uma oração adjetiva explicativa finalizando o período. Sem a vírgula, a oração adjetiva passa a ser restritiva, e o pressuposto muda.

Resposta: B

14.

CESPE - AJ STJ/STJ/Judiciária/"Sem Especialidade"/2018 Texto CB1A1BBB

O conceito de direitos humanos assenta em um bem conhecido conjunto de pressupostos, todos eles tipicamente ocidentais: existe uma natureza humana universal que pode ser conhecida racionalmente; a natureza humana é essencialmente diferente e superior à restante realidade; o indivíduo possui uma dignidade absoluta e irredutível que tem de ser defendida da sociedade ou do Estado; a autonomia do indivíduo exige que a sociedade esteja organizada de forma não hierárquica, como soma de indivíduos livres. Uma vez que todos esses pressupostos são claramente ocidentais e facilmente distinguíveis de outras concepções de dignidade humana em outras culturas, teremos de perguntar por que motivo a questão da universalidade dos direitos humanos se tornou tão acesamente debatida.

Boaventura de Sousa Santos. Por uma concepção multicultural dos direitos humanos. Internet:

<www.dhnet.org.br> (com adaptações).

Acerca do texto CB1A1BBB e de seus aspectos linguísticos, julgue o item que se segue.

Os dois pontos empregados logo após “ocidentais” introduzem uma explicação sobre o porquê de os pressupostos serem considerados tipicamente ocidentais.

( ) CERTO ( ) ERRADO RESOLUÇÃO

Os dois pontos empregados logo após “ocidentais” não introduzem uma explicação sobre o porquê de os pressupostos serem considerados tipicamente ocidentais. Trata-se de uma enumeração. O trecho “conjunto de pressupostos” já direciona a leitura para o rol de enumerações que vem após os dois pontos.

Resposta: ERRADO

15.

CESPE - Ana Port I (EMAP)/EMAP/Administrativa/2018

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