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CAPÍTULO I: A Relação Jurídico-Laboral na Administração Pública

2.5. Cessação da relação jurídica de emprego por demissão

A demissão constitui hoje uma das várias causas de extinção da relação jurídica de emprego público, na medida em que qualquer uma das partes pode dar por fim o respetivo vínculo, sendo certo que é obrigação das partes proceder ou avisar previamente a contraparte sobre as razões da respetiva cessação. Normalmente a demissão é uma figura adjacente ao pessoal em comissão de serviço. Parece existir aqui uma espécie de liberdade entre os sujeitos da constituição da relação jurídica de emprego. Não obstante isso, importa ressaltar aqui que a demissão acarreta consigo consequências do foro laboral, tal como a lei as determina quando se denota a ausência do aviso prévio das partes.

Desde logo, importa salientar aqui que a demissão é uma das formas de cessação da relação jurídica de emprego público previsto e regulado no ordenamento jurídico angolano nos termos do n.º 1 do artigo 32.º do Decreto n.º 25/91 de 29 de Junho. De acordo com esta norma a relação jurídica de emprego dos funcionários e agentes cessa (…), por aplicação de medida de demissão e por desvinculação do serviço para efeitos de aposentação.

Em Portugal, a relação jurídica de emprego público estabelece-se com base no vínculo da comissão de serviço nos casos de «cargos não inseridos em careiras, designadamente cargos dirigentes» e no caso de «funções exercidas com vista à aquisição de formação específica, habilitação académica ou título profissional por trabalhador com vínculo de emprego público por tempo indeterminado112».

Relativamente à extinção da comissão de serviço, esta pode ocorrer em moldes muito menos exigentes (quer do ponto de vista da fundamentação, quer no que toca à tramitação) do que nos demais vínculos do emprego público113.

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Raquel Álves, Op. Cit., 187.

57 Ora, o sentido lógico nesta situação é que só se demite de uma relação jurídica de emprego público aquele que em virtude de uma comissão de serviço tenha constituído tal vínculo, daí que a cessação resultante desta figura não importa consigo fatores complexos, uma vez que se pode dar por termo a qualquer momento por iniciativa de uma das partes, quando operada simplesmente pela vontade de um dos sujeitos mediante aviso prévio formulado entre os 30 a 60 dias de antecedência de modos a evitar as respetivas compensações114.

Já em Portugal, tal como expresso no artigo 289.º da LTFP no seu n.º 3 - é causa específica de cessação da comissão de serviço a denúncia pelo trabalhador ou pelo empregador. De acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, “a falta de disposição legal em contrário, a comissão de serviço pode ser denunciada com a antecedência mínima de 30 dias”.

Pode a demissão operar-se também em virtude do acordo das partes, sendo certo que, as partes gozam de liberdade de expor as causas e as possíveis razões da cessação, julgamos nós que esta é a forma viável para dar termo a uma comissão de serviço. Porque se ocorrer unilateralmente por iniciativa por exemplo do empregador sem o aviso prévio para o trabalhador, pode este último atingir a sua esfera, fazendo com que se sinta culpado pelas razões que motivarão o empregador a tomar tal decisão, na verdade esta forma de fazer cessar a relação é muito delicada para o trabalhador, na medida em que este planifica a sua vida em função de um determinado ordenado mensal e ao ver cessar aquela comissão de serviço sem o respetivo aviso prévio causa-lhe transtornos de foro psicológico e social115, fazendo com que se sinta totalmente inútil e até ao ponto de duvidar das suas qualidades e capacidades.

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Cf., Nos termos dos artigos 212.º e 2019.º da LGT.

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Não devemos nos esquecer que o emprego na Administração Pública para muitos tem sido a única fonte de receitas (rendimentos) para determinados funcionários e agentes, ora o rendimento mensal é a obrigação da entidade empregadora a ceder ao trabalhador como resultado da sua contra prestação de serviço, sendo este trabalhador nomeado para que em comissão de serviço exerça as suas funções, quer elas sejam de direção ou chefia, a partir do momento este começa a planifica a vida em função do atual ordenado a auferir, muitas vezes contrai créditos para resolver uma situação determinada a contar com a liquidação do seu atual ordenado. Verificando-se a sua demissão e muitas vezes se for feito sem o respetivo aviso prévio, este pode vir em circunstâncias algumas a tirar-se a vida (suicidar-se) para evitar que de tantas obrigações que contraiu e não terá mais como as cumprir.

Embora ocorra tal facto, a entidade empregadora vê-se na obrigação de compensar ou indemnizar o trabalhador em virtude da falta do aviso prévio, mas que tal compensação não será eterna é simplesmente temporária, e se calhar não chegará para liquidar determinadas obrigações.

Destarte, tudo indica que a demissão dada por iniciativa da entidade empregadora é mais delicada possível porque atinge diretamente a esfera do trabalhador e traz-lhe inúmeras consequências que se lhe falte um pouco de cuidado e responsabilidade lhe pode levar a perca da vida.

Tal como ensina Paulo Veiga e Moura a demissão disciplinar importa a extinção da relação jurídica de emprego e a perda de todos os direitos inerentes à qualidade de funcionário ou agente, com a

58 Finalmente, a indemnização obedece a critérios para o seu alcance, para o nosso caso em particular tem de se ponderar determinados fatores para que tal se efetive, ora, não se compreenderia que a Administração Pública indemnizasse um indivíduo que, após o exercício de um cargo dirigente, regressasse ao seu lugar de origem, nas fileiras de uma qualquer entidade pública e, paralelamente e em situação similar, privilegiasse de idêntico tratamento um trabalhador sem vínculo prévio à Administração116.