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Fundamento e a necessidade do despedimento por inadaptação do funcionário

CAPÍTULO III Extinção da relação jurídica por inadaptação do funcionário e

3.9. Fundamento e a necessidade do despedimento por inadaptação do funcionário

Constitui fundamento de despedimento do trabalhador a sua inadaptação superveniente ao posto de trabalho, assim, a generalidade dos despedimentos estão previstos e consagrados na Constituição da República, desde que seja feito com justa causa, tal como expresso nos termos do n.º 4 do artigo 76.º da CRA.

Segundo aquele preceituo legal o despedimento sem justa causa é ilegal, constituindo-se a entidade empregadora no dever de justa indemnização ao trabalhador despedido, nos termos da lei.

O entendimento da Constituição remete-nos a uma reflexão de que é possível haver despedimento, desde que tenha o seu fundamento em justa causa.

Daí a Constituição da República alertar sobre a possível indemnização ao trabalhador em função dos danos que lhe são causados na sua esfera jurídica206. O despedimento por inadaptação ou simplesmente a inadequação entre nós encontra o seu fundamento nos termos da al. a) do n.º 1 do artigo 34.º do Decreto n.º 25/91 de 29 de Junho, que segundo o qual a inadequação do funcionário em relação ao trabalho ou às exigências próprias do desenvolvimento das atividades administrativas, comprovadas em processo de avaliação de desempenho.

A grande necessidade do despedimento por inadaptação surge no sentido de corrigir a má prestação laboral dos funcionários públicos e os agentes administrativos afetos à Administração Pública, uma vez que esta prossegue fins de interesse comum, o

205 Cf., Nos termos do Decreto n.º 25/91, de 29 de Junho, do Conselho de Ministros que Estabelece a

Constituição e Extinção da Relação Jurídica de Emprego na Administração Pública Angolana.

91 que não justifica ter um quadro de pessoal que compromete a satisfação das necessidades coletivas.

Destarte, é necessário que se salvaguardem os interesses de gestão, até porque o primeiro princípio fundamental do direito do trabalho é o da compensação debitória complexa das partes, tem duas facetas, sendo uma, o princípio da proteção, que tenta diminuir a desigualdade das partes na relação jurídico-laboral aproximando o trabalhador ao empregador207, sendo que os princípios que norteiam a Administração Pública é de cumprimento escrupuloso, daí que, todos estão sujeitos ao seu bom cumprimento, tal como aponta o artigo 5.º da Lei n.º 17/90 de 20 de Outubro.

Segundo esta norma, no exercício das funções públicas os funcionários e agentes da Administração do Estado estão exclusivamente ao serviço do interesse público, devendo atuar com urbanidade e respeito a lei nas suas relações com os cidadãos.

Ora, uma outra necessidade que não deixaríamos de fazer menção aqui é a de disciplinar e corrigir o comportamento dos funcionários públicos e agentes administrativos, atemorizar e instruir o funcionário e os demais funcionários ou agentes para que adiram voluntariamente e de forma consciente à disciplina da Administração Pública.

Um outro fundamento de capital importância que não deixaríamos também aqui de destacar é o previsto na pauta deontológica do serviço público que infra mencionamos aprovado pela Resolução n.º 27/94 de 26 de Agosto, segundo a qual:

i) Os trabalhadores da Administração Pública devem exercer as suas funções exclusivamente ao serviço do interesse público. Os interesses gerais sustentadores da estabilidade, convivência e tranquilidade sociais e garantes da satisfação das necessidades fundamentais da coletividade são a razão de ser última da atuação dos trabalhadores públicos;

ii) Os trabalhadores da Administração Pública devem no exercício das suas funções pugnar pelo aumento da confiança dos cidadãos nas instituições públicas bem como da eficiência e prestígio dos seus serviços. A verticalidade, a discrição, a lealdade e a transparência funcional devem caraterizar a atividade de todos quantos vinculados juridicamente à Administração Pública comprometem-se em servi-la para bem dos interesses gerais da comunidade;

207

Norberto Moisés Moma Capeça, Da ilicitude do despedimento disciplinar e as suas consequências, 1.ª edição, editora Where Angola Book Publisher, Luanda 2012, p.126.

92 iii) Os trabalhadores da Administração Pública devem assumir o mérito, o brio e a eficiência como critérios mais elevados de profissionalismo no desempenho das suas funções públicas. A qualidade dos serviços públicos em melhor servir depende, decisivamente, do aumento constante da capacidade técnica e profissional dos agentes e funcionários públicos. Assim, conclui-se que o fundamento encontrado no setor privado é totalmente diferente do setor público. A LGT (Lei Geral de Trabalho) angolana não prevê o despedimento por inadaptação, porém, prestando certa atenção ao artigo 210.º208 que consagra os fundamentos para o despedimento por razões objetivas, fundamentos esses que são os mesmos para o despedimento coletivo, nos termos do artigo 216º do diploma legal citado209. Podemos concluir que esta aqui, de uma maneira leve, consagrada aquela modalidade de extinção da relação jurídico-laboral.

Tal como acima dissemos, a LGT no âmbito do sector privado não consagra esta modalidade de extinção do vínculo jurídico-laboral e não conhecemos jurisprudência angolana sobre esta matéria, pelo que, julgamos ser tempo de começarmos a pensar nela, sendo certo que, é notório com frequência nas empresas privadas e não só trabalhadores com um índice elevado de incapacidade para desenvolver a atividade laboral, daí a urgente necessidade de pensar e produzir documentos que dão suporte a esta figura extintiva da atividade laboral.

A resolução dos conflitos verificados a nível da Administração Pública angolana passa necessariamente na elaboração de normas concretas para suprimir tais desejos na medida em que não bastam as leis supra, uma vez que estas não fundamentam ao certo quais os reais mecanismos a imprimir para mitigar uma situação de inadaptação ou simplesmente inadequação, cogitamos que o executivo angolano esta em época certa para começar a adequar as suas normas em virtude da sua realidade, tendo em conta a dinâmica que tem sido impressa no setor público ou simplesmente na Administração Pública.

Com isto, queremos chamar a razão de todos quanto parte da Administração Pública fazem, que o exercício das atividades subjacentes a figura retro mencionada

208 O artigo 210.º da LGT dispõe que, ocorrendo motivos económicos, tecnológicos ou estruturais

devidamente comprovados que impliquem reorganização ou reconversão interna, redução ou encerramento de atividades e destes factos resultar a necessidade de extinguir ou transformar de forma substancial postos de trabalho, pode o empregador promover o despedimento dos trabalhadores que ocupem esses postos.

209

Norberto Moisés Moma Capeça, Os despedimentos à luz da nova lei geral de trabalho, 1ª edição, editora Damer Gráficas S.A, Luanda 2015, p.190.

93 importa consigo responsabilidades aos seus executores, na medida em que a Administração Pública na sua essência criativa prossegue fins do interesse coletivo, o que pressupõe que todos somos chamados a afrontar com diligência as atividades que nos são adjudicadas, sendo certo que foi preocupação desta investigação encontrar soluções de aplicação imediata a nível da função pública, tendo em conta os desvios dos princípios que a conduzem.

Assim, passa a ser preocupação de todos nós encontrar meios que permitam a Administração Pública exercer o seu mais imponente papel na satisfação das necessidades coletivamente sentidas, sendo que é seu fim último que prossegue, e é uma tarefa intrínseca e subjacente a ela210.