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4. O EXERCÍCIO FEMININO DO CARISMA PASTORAL

4.3. Chamado e Ordenação

“Chamado” é assim denominado o imperativo ideológico filosófico que os evangélicos

dão à urgência do exercício de suas funções na igreja. Ex: “Eu fui chamado para pregar, fulano para louvar (cantar)”. Esse chamado é atribuído a Deus, não sendo possível a rejeição deste,

mas sim a responsabilização de cumprir, sob pena de não estar realizando a vontade de Deus. Fatores como conjugalidade e parentesco são fortes indícios da construção de uma vocação

feminina para o pastorado. E esta “tendência natural” para liderança e posteriormente para o pastorado pode ser visto como fruto de um aprendizado “inculcado” desde a infância para viver

a religião do modo mais intenso possível. Claro que nem todas as crianças (meninos ou

meninas) educadas com “pão e religião” se tornaram futuros líderes de igrejas (pastores, padres,

freiras, mães de santo, etc), este pode ser o “mistério” do “carisma”. Podendo ser explicado nos dois casos como uma mescla de capital cultural incorporado através da educação familiar adicionado à força do imaginário da vocação adquirido em suas trajetórias.

Percebendo nas falas das pastoras uma recorrência da categoria “chamado”,

relacionada a uma pré-disposição dada por “Deus” a essa função da qual elas são “reféns”, por

deverem obediência a esse “chamado”. Bourdieu se debruça sobre diversos assuntos em sua

trajetória intelectual, tendo sempre essas categorias da ação em mente (campo, espaço social, habitus), porque a sua preocupação é da ordem da prática social, da prática objetiva e concreta da ação social. Bourdieu, na obra “As Regras da Arte”, apresenta seus argumentos sobre os conceitos de ação social, mas que por ele foram devidamente formulados em obras anteriores. Mas este livro é importante por ser uma referência nos estudos da sociologia da cultura e sociologia da arte. Nele, o autor se debruça sobre o processo de formação do campo literário na França, a partir de 1850, ou seja, os espaços de produção cultural dos bens simbólicos naquele país (o processo de autonomização do campo literário ante o Estado e a Igreja).

Para ele, para se estudar a relação literatura e sociedade é necessário pesquisar o espaço social da obra, o campo objetivo de posições sociais que a narrativa da obra expõe e considerar o texto no mundo social em que ele é escrito. Bourdieu apresenta então a arte dentro do processo de produção e consumo, tendo o artista como agente dentro desse mundo de possíveis.

Quando um indivíduo se apaixona, ele investe naquela paixão porque está embebido pela ilusão que a paixão proporciona. É uma espécie de promessa de que vale a pena sofrer por esse amor. Então, é dessa forma, que a illusiofunciona, ela é essa “certeza” apaixonada de que

vale a pena “investir” no jogo. A illusio é a condição de funcionamento do jogo, do qual ele é produto (Bourdieu, 1996).

Cada campo (religioso, artístico, cientifico, econômico etc.), através da forma particular de regulação das práticas e das representações que impõe, oferece aos agentes uma forma legitima de realização de seus desejos, baseada em uma forma particular de illusio. (BOURDIEU, p. 259, 1996).

O fascínio artístico é semelhante ao fascínio do religioso. Nesses campos os agentes operam tendo como lógica de sentido para as ações a recusa à ordem econômica. Mesmo que a

ordem econômica seja a “graxa” que impulsiona as molas de engrenagem desses campos. No depoimento das pastoras há recorrência deste ideal, de que o que fazem é por “amor a Deus”, sem interesse algum de ganho material. A economia dos bens simbólicos se apoia no “recalque” ou “censura” ao interesse econômico. Bourdieu assinala ser esse um dos pontos chaves do

discurso que opera no campo religioso. 33

O processo de consagração de autores é semelhante ao de consagração de um religioso. A consagração está alicerçada na crença da consagração. Com o pastorado, a ordenação, a doação do título, é doador de legitimidade no campo, porque o campo diz que assim seja. A atribuição titular não está somente vinculada ao brilhantismo de suas histórias de vida, nem na

sua força laboral e conhecimento técnico adquirido. O campo “mascara” os mecanismos de

estruturação social do campo. Algumas condições objetivas são importantes na escalada à posição de pastora.

É na relação entre o sistema de disposições, produzido na totalidade ou em parte pela estrutura e o funcionamento do campo, e o sistema das potencialidades objetivas oferecidas pelo campo que se definem em cada caso o sistema das satisfações (realmente) desejáveis e se engendram as estratégias razoáveis exigidas pela lógica imanente do jogo (que podem estar acompanhadas ou não de uma representação explícita do jogo) (BOURDIEU, p. 259, 1996).

Como visto no início do protestantismo, os papéis (como agentes religiosos) dados as mulheres eram: ser esposa de pastor e/ou ser missionária. Agora, com a atual emergência de mulheres pastoras, podemos afirmar que se pode “fazer” uma pastora pela recorrência dos casos citados neste trabalho, das seguintes formas: Primeiro: case com um pastor; Segundo: faça teologia e insista até conseguir; Terceiro: rompa com tudo e com todos e funde uma denominação própria. Do primeiro exemplo temos os exemplos de Raabe, Noemi, Febe, Rute e Raquel; do segundo temos a Rebeca e Ester; e em terceiro temos a pastora pioneira e mãe de pastores, Ana, além de Sara, Noa e Joquebede.

Afora a ironia, o que quero dizer é que ser ou não pastora, como visto, não depende somente da vontade individual de uma mulher, há um conjunto de fatores que a faz ter acesso ao título e conseguir permanecer no cargo. Segundo elas mesmas, não é tarefa fácil “sobreviver

ao chamado”, pois a primeira pastora batista não sobreviveu a ele:

Porque nessa questão eu fui a segunda pastora do Brasil, a primeira foi a Silvia e ela não sobreviveu ao ministério. Lá em São Paulo ela foi muito perseguida. A Silvia foi em 1999 e eu fui em 2000. Hoje ela é professora lá do Seminário de Belford Roxo no Rio de Janeiro e eu graças a Deus sobrevivi. São Paulo [a Ordem] tem verdadeira ojeriza a mulheres pastoras [...] Olha a S. lá em São Paulo a igreja dela foi punida,

33“Esse universo relativamente autônomo dá lugar a uma economia às avessas, fundada, em sua lógica especifica, na natureza mesma dos bens simbólicos, realidades de dupla face, mercadorias e significações, cujo valor propriamente simbólico e o valor mercantil permanecem relativamente independentes” (BOURDIEU, p. 162, 1996).

teve que sair da associação, teve que sair da convenção estadual. Ela só não foi punida na Nacional. Eles queriam tirar ela até da convenção nacional, mas eles não conseguiram. Só que ela não sobreviveu ao ministério pastoral (Pastora Ester- 18/11/2012)

A pastora Joquebede também irá reafirmar a dificuldade em “sobreviver” ao chamado: Todo dia a gente passa pelo preconceito, principalmente outros ministérios, que diz não, não existe, querem provar por a mais b na Palavra que não existe pastora. É como eu sempre digo: se fosse a vontade da gente, a gente não estaria aqui, mas chamado, é chamado (Pastora Joquebede- 23/04/2012)

O título vem da ordenação ou consagração; e exercer o cargo é função. Uma pastora pode ter o título e não ter cargo pastoral em igreja nenhuma, como é o caso de Noa. Ou pode realizar a função de um pastor, sem nunca ter sido consagrada e/ou ordenada pastora, como foi Ana, até 1985. A diferença entre ordenação e consagração é a seguinte: Ordenação é um

processo pela qual passa o “aspirante a pastor” até chegar a consagração. Esse processo varia

de denominação para denominação. Consagração é o evento de dar o título de pastor a alguém.

É o ritual onde se premia o “aspirante a pastor” com o título por ter passado por todos os testes

(ou não, como veremos abaixo).

Primeiro, ser casada com um pastor facilita muito o processo como já foi mostrado. O

respaldo de um “homem de Deus” do lado que a defenda (marido) pode ser substituído por outro “homem de Deus” que faça esse papel de mediador entre a vontade dela e quem tiver

poder para consagrá-la (no caso, uma ordem de pastores ou conselho de pastores). A pastora Ester exemplifica bem esse exemplo, pois quando ela explica os fatores que a fizeram

“sobreviver” ao chamado em comparação a primeira pastora batista, ela cita alguns, que são: Foi por causa de diversos fatores. Um dos fatores é que o pastor que me antecedeu, e que estava cuidando de mim era o reitor do seminário, ele é inglês, então ele tem uma visão muito aberta e generosa. Porque ele me colocou como auxiliar e depois ele foi meu auxiliar. E ele diz em todo canto que eu sou a pastora dele. Um homem catedrático, hoje ele é aposentado, e voltou pra Inglaterra. Eu acho que isso deu um impulso, porque ele preparou um terreno propicio pa ra o que acabou me acontecendo. Segundo, eu fui formada no seminário que ele era reitor. Então houve um vento favorável, e outra ele como reitor tinha muita influência na Ordem dos pastores. Porque enquanto eu estava com 33 pastores no Concilio, tinham 30 pastores lá fora querendo impedir o Concilio. Teve muita oposição, muita oposição. O meu concilio foi o último evento onde estava todo mundo unido, antes da divisão. Mas a divisão foi motivada por outros interesses. Outro fator é que eu sempre fui batista, eu me converti em 1982 e para 2000 são 18 anos. Então eu sempre fui batista e eu sempre fui respeitada. Meu primeiro trabalho foi As Mensageiras do Reino. São meninas de 09 a 16 anos, e foi meu primeiro ministério. E meu primeiro trabalho aqui eu também fui pastora de adolescentes. Então o fato de eu sou respeitada e eu sempre trabalhei no mundo batista, então eu já cheguei lá de certa forma endossada, pelo seminário, pela minha outra igreja e pela minha igreja atual. E reconhecido trabalho de sucesso (Pastora Ester- 18/11/2012)

O caso citado acima é um relato de um agenciamento masculino para a

congregacionais) possuem critérios mais racionalizados para ordenar pastores. Então, para o candidato ou candidata não basta ter o reconhecimento de uma congregação de fiéis, mas tem que passar pelos testes exigidos por esses conselhos. Em maior ou menor grau há obstáculos institucionais a serem superados.

Na igreja batista da pastora Ester, funciona assim:

A igreja batista é autônoma no seu governo e na sua administração. Então ela tem um governo democrático e congregacional. O povo é quem toma as decisões. Então as decisões são tomadas em plenário. Aqui de três em três meses a gente tem uma reunião dessas para decidir e para prestar contas. E foi numa reunião dessas que a liderança me convidou não só para ficar à frente, mas depois para fazer todos os ofícios de uma pastora. Dali a um ano e meio, em 2000, eu fui levada ao Concílio da Ordem dos pastores batistas daqui. Na época não havia duas convenções, nós temos duas convenções hoje, mas em 2000 só existia uma convenção. Hoje é a Convenção Batista Cearense e a CBUC. E aí eu fui examinada durante duas horas por 33 pastores. E eu fui aprovada com nota máxima. Eu fui aprovada em julho de 2000, mas a minha consagração final é que foi dia 04 de agosto de 2000. (Pastora Ester - 18/11/2012)

Este padrão é semelhante à forma de ordenar que acontece na igreja presbiteriana independente, da pastora Rebeca.

Diferente das históricas, as denominações neopentecostais e pentecostais independentes funcionam a gosto do freguês, mas não qualquer freguês, mas essencialmente ao gosto do presidente fundador da denominação, podendo ou não haver necessidade da consulta do conselho. Não há regras claras quanto a isso, pelo menos nos casos vistos aqui. Vale consultar o estatuto da igreja quando estas possuem um. Mas é preciso que se diga que não somente superar os obstáculos institucionais, mas criar e/ou estreitar vínculos afetivos com os indivíduos que fazem parte desses conselhos, também facilitam o processo. Mesmo sabendo disso, a pastora Ester usou de “estratégia” para “provar” (para si e para os outros – fiéis de sua igreja e desafetos) que era capaz de superar os obstáculos propostos pela sua denominação para a concessão do título:

Eu nunca imaginei que um dia eu ia me tornar pastora. Sempre imaginei que eu seria no máximo uma missionária, uma auxiliar, uma vice-presidente, está entendendo? Mas pastora mesmo eu nunca imaginei. Porque não havia esse espaço entre nós. Então se havia uma possibilidade de ter uma porta aberta e que eu fui para o concilio, porque eu usei da seguinte estratégia: Algumas pessoas diziam assim “Betinha, não vá para o encontro de pastores não, porque tem muito pastor lá, depois você marca um concilio na sua igreja que só vai cinco ou seis, e você convida só os seus

amigos”. E eu respondia: “Não, eu não quero isso não. Essas coisas não são assim não. Eu não quero favoritismo não”. E eu disse assim para minha igreja: “Minha

igreja eu vou para o concilio e se eu for reprovada, não tem nenhum problema, eu

volto para a porta da igreja”. Eu já trabalhei em todas as funções, eu só nunca toquei

violão porque eu não sei. Na igreja eu já trabalhei de cozinheira, conselheira, professora, faxineira, sabe? Se eu for reprovada no concilio, o concilio vai ser um sinal. Se eu for reprovada, a gente traz outro pastor e eu volto para a porta. Porque eu tenho a maior alegria de trabalhar na porta, na r ecepção, recebendo gente. Mas se eu for aprovada, nós vamos para a consagração e eu fui aprovada com nota máxima. Olha depois do meu concilio que foi em julho, ia ser o aniversário da igreja

(em agosto) e um dos pastores que estavam no meu concilio ia pregar no aniversário da igreja e ele era contra, mas ele estava lá. Ele disse que ficou no meu concilio avaliando a situação, e ele ficou tão encantado por eu ter ido bem ao concilio que ele abraçou a causa. E ele resolveu me aceitar. Tem pastores que eram contra o meu concilio, olha agora em maio [de 2013] eu faço 15 anos de pastorado, então diante do campo, como essa igreja tem crescido e tem realizado um grande trabalho. Porque além dessa, nós estamos fundando a quarta [igreja] no meu ministério. Com 14 anos nós estamos organizando a quarta igreja. (Pastora Ester - 18/11/2012)

Porém, para a pastora Raabe, ser esposa do pastor presidente foi um fato que pesou na hora de sua consagração. Segundo a mesma, foi indicação de um diácono da igreja que levou a ideia de sua consagração ao Conselho de sua igreja (igreja fundada pela pastora Ana), mas para seu esposo, foi ele que indicou o nome da esposa. Os dois relatos seguem a seguir:

Então com a necessidade da igreja, nós começamos a ordenar algumas pessoas, que já serviam nas filiais e tivemos que consagrar como pastor. Tínhamos igrejas filiais e tivemos que consagrar os pastores das filiais e as esposas. Na época foram consagradas minha mulher, a R.[esposa de pastor de congregação] e a E. [esposa de pastor de congregação] . Eu quis [a ordenação da pastora Raabe] . Na época eu que indiquei o nome para ela ser consagrada. E levou um tempo, levou um bom tempo, bem uns dez anos para ela ser consagrada. (Pastor Naum- 13/03/2013)

Então a igreja foi crescendo e ele ficou muito sobrecarregado de trabalho, então houve uma indicação, até foi o diácono S. que indicou o meu nome para ser pastora da igreja. Algumas pessoas eram a favor, outras eram contra. A pastora Ana não era muito a favor dessa ideia. Mas o conselho da igreja decidiu e houve realmente uma consagração, porque eles viam, e isso foi da cabeça deles, eu nunca tive essa expectativa “ah eu quero ser pastora!”. O meu trabalho era missionário, era evangelizar, ganhar almas para a igreja e fazer meu trabalho de igreja que eu aprendi a fazer lá no seminário, trabalhar com as crianças, ensinar a Bíblia, essas coisas... E aquilo ali me satisfazia (Pastora Raabe – 22/08/2011)

O mais importante aqui é relatar que ser esposa do presidente da denominação facilita ainda mais (com a pastora Raquel foi de forma semelhante) a consagração de uma mulher ao cargo pastoral. Já sendo filho ou filha de pastores, então é garantido que o título já estará à sua espera.

Não sei por que motivo, Deus quis isso. Realmente Deus falou muito forte, com muita clareza. A mulher não me conhecia, nunca tinha me visto na vida, me envergonhando, dizendo tudo isso que eu falava de forma assim tremenda que eu comecei a mudar o que eu falava e a vontade dele era sobre a minha vida. E daquele dia em diante eu passei a não comentar mais nada. E comecei a dizer “Senhor, que a tua vontade se realize na minha vida”. E foi chegando o tempo, chegando a hora, até que em um mover de Deus, todas as pessoas da igreja ouviram. E o pastor [marido dela] entendeu também que era o que Deus estava querendo. De tanto estar nas orações e ouvir o que Deus falava e da necessidade da igreja de ter uma mulher na igreja que tivesse uma unção pastoral aonde as pessoas veriam com mais respeito. Não é necessário isso, mas infelizmente a inda existe isso no meio do povo de Deus. E assim foi feito, eu sou uma pastora auxiliar no ministério feminino na igreja, eu não estou à frente do pastoreamento. Eu auxilio o pastor Enoque [seu marido] e o pastor Davi [seu genro], os dois pastores da igreja [Davi é genro da pastora, marido de sua filha mais nova]. Eu auxilio na parte feminina de acompanhamento e aconselhamento. Ministro e prego nos eventos femininos e quando estão viajando eu também prego. Além de mim, tem a pastora Rael, que é pastora de jovens da igreja. [Rael é a filha caçula e casada com Davi]. E tem sido benção. (Pastora Raquel – 19/04/2012)

Então, nos casos pesquisados atestamos que existe realmente um consenso sobre a

“herança familiar” do chamado entre os pentecostais independentes. O pastorado é um

empreendimento familiar, cujos os membros da família reproduzem na igreja o que é vivido no ambiente doméstico. Assim, o marido da pastora Raabe afirma ser mais difícil para o pastor

quando a sua esposa “não coopera com o trabalho dele”:

Eu acho assim muito importante que a esposa participe porque ele passa a ter o apoio, ele passa a ter ajuda e o entendimento das coisas. Porque às vezes tem pastores que a esposa não coopera, não se envolve, para ele deve ser muito difícil. Porque quando a minha mulher não se envolve, para mim fica difícil. Até porque eu trabalho dentro de uma área e ela trabalha dentro de outra. Ela é um trator para fazer as coisas já não sou esse trator, né? Então a gente se completa. Eu vejo assim, eu posso planejar e fazer todas essas coisas e ela é uma executiva, ela bota a coisa para a frente, ela vai, ela mobiliza. E isso para mim é muito bom e leva a gente para o sucesso. E às vezes eu vejo pastores com dificuldades porque a esposa não se envolve, termina que outras pessoas da igreja acabam se envolvendo. E às vezes tem casos de pastores se envolvendo com alguém da igreja , porque a esposa não está do lado. Ela não está envolvida, acaba uma secretária envolvida ou outra pessoa. Ou pastora ou ajudadora, dentro do ministério dele. A esposa junto o sinergismo é maior. E quando a esposa entra, os filhos entram também, então é a família. Termina sendo uma família sacerdotal. (Pastor Naum – 13/03/2013)

O pastorado, sendo um empreendimento familiar, ele também faz herdeiros, pois tanto a pastora (mãe de pastores), Ana, quanto sua filha Noemi e também a pastora Raquel já possuem sucessores pastores:

Temos um casal de filhos. Tem a A., que hoje é casada, tenho 1 neto e esperando um outro já há quatro meses. Ela também tem um ministério lá. Ela casou com um rapaz que é ministro de louvor, que é americano. Eles estão empenhados na igreja lá. E eles estão sendo preparados para serem pastores. E tem o L. que também teve o chamado, né? E ele está (sic) morando em Natal, está (sic) ajudando ali a igreja que a gente tem lá em Natal. (Pastora Noemi- 08/05/2012)

Eu sou uma pastora auxiliar no ministério feminino na igreja, eu não estou à frente do pastoreamento. Eu auxilio o pastor E. e o pastor D., os dois pastores da igreja [E. é seu marido e D. é genro da pastora, marido de sua filha mais nova]. Eu auxilio na parte feminina de acompanhamento e aconselhamento. Ministro e prego nos eventos femininos e quando estão viajando eu também prego. Além de mim, tem a pastora R., que é pastora de jovens da igreja. [R. é a filha caçula e casada com Diego] . E tem sido benção. (Pastora Raquel – 19/04/2012)

O que encontramos, portanto, no campo, foi a referência sempre forte aos laços familiares ou à ascendência familiar “sacerdotal”. Existe um impasse aqui entre a eficiência simbólica de uma formação Teológica e o poder de uma herança familiar. E o modo de

avaliação do “chamado” de outras mulheres também passa pelo crivo da conjugalidade. A gente [ela e o marido] acha assim que como pa ra a pessoa exercer o pastorado:

primeiro a gente vê o trabalho delas. Então não é a pessoa chegar e dizer: “Ah eu acho que eu quero ser pastor”. A gente vê primeiro o chamado de Deus na vida

dela. E depois a gente dá o título. Pode até chegar aqui com o título de pastor, mas primeiro a gente vai ver se tudo que tem na Bíblia sobre a pessoa: bom testemunho,