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Chefe da Secom/UnB, Rodrigo Caetano

CAPÍTULO 4: METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

5.1. Análise dos Dados

5.2.3. Chefe da Secom/UnB, Rodrigo Caetano

Consideramos interessante reproduzir trechos da entrevista do ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (Secom/UnB), Rodrigo Caetano, por ter sido ele o responsável pela divulgação de informações em defesa da Universidade de Brasília (UnB) e do reitor Timothy Mulholland.

A entrevista, semi-informal, foi realizada no dia 01 de abril de 2009, no prédio da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília.Foi Rodrigo que escolheu o local da conversa, marcada para às 20 horas.Rodrigo Caetano se dispôs a responder todas as perguntas feitas pelo grupo. Disse que a Secom sempre realizou um trabalho pró-ativo, mas que no Caso Finatec adotou uma postura mais reativa, porque apenas após a divulgação das informações pelos promotores, durante coletiva de imprensa, foram procurados pelo repórter do Correio Braziliense, Renato Alves.

Durante toda a entrevista, Caetano fez questão de dizer que houve um “caráter político” em relação a revelação das denúncias e da condução do caso. Ele destacou que embora trabalhasse da forma mais isenta possível, “a assessoria de comunicação sempre será considerada o ponto de vista oficial”. Rodrigo Caetano fez questão de mostrar que não pode trabalhar da forma como gostaria, já que muitas vezes, segundo ele, o reitor tomava decisões sem consultar a assessoria. Também se mostrou receoso em relação aos espaços destinados a Secom, que na maioria das vezes não foram preenchidos por falta de manifestação do órgão.

A seguir, listamos as perguntas que nos guiaram durante a entrevista e, logo depois, apresentamos as respostas obtidas e os comentários.

5.2.3.1. Perguntas

•Quantos profissionais da Secom/UnB trabalharam exclusivamente no gerenciamento da crise e atendimento à imprensa?

•Em que momento vocês perceberam que seria necessário contratar mais profissionais para gerenciar a crise?

•Após contratar esses profissionais, como o trabalho foi dividido dentro da Secom/UnB?

•Ao avaliar as notas publicadas ao longo da crise, notamos que em um mesmo dia a Secom publicou até seis notas em resposta ao que era veiculado na mídia, sem esperar que os assuntos se consolidassem, muitas vezes voltando atrás no que havia sido dito. Esse volume de respostas não configuraria certo “descontrole” ou uma necessidade de demonstrar que a Secom estava tentado dominar as informações?

•Durante a crise, a Secom enquadrou os assuntos referentes a crise em editorias “Caso Finatec”, “Invasão da Reitoria” “Transição”. Quem definiu que os assuntos deveriam ser tratados desta forma? Por que fazer essa diferenciação.

•O Jornal Nacional é o telejornal de maior audiência do país, razão óbvia para que a Secom o escolhesse para a primeira entrevista do reitor. Essa entrevista foi negociada – a pedido do telejornal ou oferecida pela SeCom? Como você avalia o resultado da exclusiva?

•Como estava divida a estrutura da Secom/UnB antes da crise? Houve alguma modificação após o início da crise? Qual?

•De que modo a Secom/UnB se posicionava diante das repercussões da imprensa? Esperava para ver o que era veiculado na mídia ou já dispunha de material para tentar pautar a mídia?

•Quem eram os responsáveis pela produção e redação dos comunicados? Havia um limite para divulgação diária ou era de acordo com a demanda?

• Como vocês avaliam a participação da gerencia de crise na atuação da Secom/UnB? Acreditam que contribuiu positivamente?

• Você acreditam que a exposição e posicionamento da Secom/UnB teria sido outro sem a gerência de crise? Qual?

5.2.3.2.Registro das Respostas

√ Estratégias da Secom

Ficávamos atentos às informações pertinentes. Toda a demanda que chegava até nós era respondida. Nossa estratégia era não deixar o jornalista ávido por informações. No início, nós tínhamos acesso direto ao reitor. Cada caminho era escolhido de acordo com a comunicação. O noticiário estaria fazio se não tivesse havido a invasão. Quando os jornais não publicavam a versão da UnB eu ligava questionando.

A Secom foi pró-ativa até o limite em que ela pode ser pró-ativa. Nós desaconselhamos o reitor a dar entrevista ao Jornal Nacional porque a defesa que ele queria fazer era frágil- de defender uma linha estética para o apartamento. Sabíamos que ia acontecer o pior. Nós preparamos o reitor para a entrevista, mas não adiantou. Realizamos uma coletiva depois da matéria do Jornal Nacional. Esse caso tinha todos os ingredientes de um escândalo nacional.

Nós oferecíamos pautas neutras, tentávamos emplacar outros assuntos. Passávamos pautas em off, fazíamos o relacionamento com os jornalistas. Estávamos de plantão 24 horas por dia, mas não tínhamos fontes na reitoria.Nós tentávamos agir dentro do possível. Usávamos o site para tentar dar uma versão. Os acessos foram gigantescos. Nós recebemos apoio espontâneo do Hélio Doyle para gerenciar a crise.

√ O Correio Braziliense

Nós nos preocupávamos com a mídia, principalmente com o Correio Braziliense, porque era quem pautava a imprensa. Nós chegamos a levar o reitor pessoalmente na redação do Correio Braziliense. O Correio e o Jornal Nacional lideraram a cobertura.

√ Visibilidade

A Comunicação não resolve problema de gestão. É apenas um braço que dá visibilidade. Acho que a imprensa estava do lado dos estudantes. A Secom se posicionava bem menos que os estudantes e o Ministério Público. E no pouco que aparecia, tinha algumas distorções. Não sei se a gente tinha o que falar, e o que a gente tinha não sabia se era suficiente para ocupar os jornais.

√ Secom e MPDFT

Não houve relação nenhuma com o Ministério Público. A construção do discurso era do Ministério Público. É a primeira versão a sair no Correio Braziliense. Eles tinham um papel decisivo. Tinha tudo na mão com antecedência.

5.2.3.3. Apontamentos

• Rodrigo Caetano faz questão de evidenciar que não tinha autonomia para realizar o trabalho que julgava que deveria ter sido feito para administrar a crise pela qual a Universidade de Brasília (UnB) passou por conta das denuncias envolvendo o reitor Timothy Mulholland. Isso fica claro pelo modo como ele explica a ausência de defesa do reitor/reitoria nas matérias do Correio Braziliense. “Não sei se a gente tinha o que falar, e o que a gente tinha não sabia se era suficiente para ocupar os jornais”.

• Ao declarar que se tratava de um problema de gestão, não de comunicação, o chefe da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília durante a crise da instituição mostrou que tinha percepção de que administração do escândalo era quase impossível com o reitor à frente do cargo. De acordo com ele, o afastamento foi o primeiro pedido, de uma série, feito por ele e recusado pelo reitor.

• O assessor afirma que houve motivação política nas denúncias e que o Correio Braziliense privilegiou as informações prestadas pelos promotores do Ministério Público do Distrito Federal

e Territórios, pelo fato de eles serem fontes primárias e oficiais. No entanto, ele desqualificou o trabalho da Secom pelo mesmo motivo, por ser oficial.