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CAPÍTULO 4: METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

5.1. Análise dos Dados

5.2.2. Repórteres do Correio Braziliense

5.2.2.2. Registro das Respostas

√ A pauta moral e o Caso Finatec

Rafael Veleda: O jornal não poderia ter outra motivação (que não fosse a moral)

Lúcio Vaz: Como foi o Correio Braziliense que levantou a bola com todas as denúncias e foi, digamos, responsável por tudo o que aconteceu entre os estudantes, no meu ponto de vista, o jornal não tinha como cobrir de outra maneira, do ponto de vista moral.Se ele- o Correio- cobrisse de outra maneira, iria ser uma quebra muito forte no comportamento do jornal. A impressão que eu tinha era que as pessoas da cidade disseram: - Ufa! Alguém fez alguma coisa para acabar com aquela porcaria- as irregularidades.

√ Relação com as fontes

Érica Montenegro: A Secretaria de Comunicação da UnB nos ligava para saber como a matéria estava sendo feita. Para exercer pressão.

Rafael Veleda: Era tensa (a relação). O coordenador da Secom, Rodrigo Caetano. sempre chamava a gente para discutir a matéria. Nós nos dispúnhamos porque precisávamos dele. Era preciso manter uma relação cordial com ele. Nós tínhamos que defender a empresa.

Lúcio Vaz: O papel do assessor de imprensa num momento de crise é fazer pressão. O jornal nesses momentos de crise pode ser definido como um campo de batalha. Um campo a ser conquistado. Como num cabo de guerra mesmo. Quem conquistar o maior espaço, ganha.

√ A posição do jornal e o papel do repórter

Rafael Veleda: O que significa ser um repórter equilibrado? É procurar uma certa isenção. Você sabe que não é um trabalho técnico. É uma coisa que a gente busca ( a imparcialidade). Tanto que a gente acaba privilegiando um dos lados. A cobertura- do Correio Braziliense- era mais positiva para o lado dos alunos, mas eles não ficavam mais contentes por causa disso.

Lúcio Vaz: E não existe imparcialidade. A atividade de jornalista, principalmente a de repórter é a seguinte: talvez seja uma das poucas atividades em que você depende muito mais do seu conhecimento, mais dos seus valores, muito mais do seu subjetivo do que em outras profissões. Não sei se é a que mais depende disso, ou a única que depende disso.

Eu sei que quando o jornal manda você para a rua, por mais que ele tenha a sua própria linha política, o que ele quer é que você, como repórter, perceba as coisas com os seus olhos. Depois você vai passar por filtros do jornal. Muitas vezes nem é você que passa esses filtros, são os editores.

Todas as matérias são super editadas. Se o editor não gosta ele muda mesmo. O editor tem toda autoridade para mexer na sua matéria o tanto que ele quiser. O que eu reparava no Correio Braziliense é que dificilmente a edição chegava ao ponto, pelo menos nas minhas matérias, de mudar meu ponto de vista sobre o assunto. Às vezes, muda um aspecto político, como a opção do Correio pelo uso do termo ocupação. Comigo nunca aconteceu de um editor chegar e dizer que o que eu vi nunca aconteceu.

√ Os interesses dos atores

Rafael Veleda: Havia uma tensão entre os interesses. Havia a pauta dos estudantes, que era política, e a pauta moral. Esse é o jogo. Nosso papel é ouvir os dois lados. Nós sentíamos muita falta do ‘pessoal’ da reitoria falar. Nós falávamos com eles todos os dias, mas não tínhamos informação. Se a Universidade de Brasília estivesse mais aberta, talvez não tivesse pendido tanto para o lado dos estudantes

√ A cobertura

Rafael Veleda: Não houve nada de diferente, tínhamos as fontes centrais (DCE, Fábio Felix, Catarina etc). Se a pauta não fosse o Timothy não haveria cobertura midiática. O Timothy era o símbolo do mal. O trabalho da Secom foi muito ruim.Tornaram a UnB fraca.

Lúcio Vaz: Procurei fazer a cobertura pelo o que estava acontecendo. As fontes eram usadas para desvendar o que estava ocorrendo. A história era uma narrativa com início, meio e fim. Quando o Timothy sai, ansiamos por um fim. O motivo era quente e sensibilizou a sociedade de um modo geral. O Timothy conseguiu a façanha de produzir símbolos nacionais como a lixeira e o apartamento.

5.2.2.3. Apontamentos

• Os repórteres forneceram uma visão da linha editorial que o Correio Braziliense adotou durante o Caso Finatec ao afirmarem que para o veículo, as denúncias se tratavam de uma pauta moral, e que por essa razão, não haveria como não reportar as informações fornecidas pelos promotores Ricardo Antônio de Souza e Gladaniel Palmeira durante a coletiva de imprensa realizada no dia 23 de janeiro de 2008. O Correio tinha que atuar como “quarto poder”.

• Os jornalistas também revelam que as relações com as fontes, embora fossem múltiplas, eram diferenciadas, visto que cada uma tinha um objetivo quando se dirigiam – ou não- ao jornal. Os estudantes sempre estavam dispostos a falar. A reitoria não. A Secretaria de Comunicação os pressionava.

• Os repórteres Rafael Veleda e Lúcio Vaz deixam claro que embora almejada, a imparcialidade no jornalismo é quase impossível de ser praticada em sua plenitude. A própria atividade jornalística pressuporia o contrário, já que é baseada na visão subjetiva dos jornalistas. Afirmam que embora tentem equilibrar as versões de todos os lados, um sempre acaba sendo privilegiado. Mas destacam que muitas vezes as visões/matérias são filtradas, no sentido de se adequarem ao que o jornal quer, tanto pessoalmente como pelo editor.

• Os jornalistas sabiam que as informações prestadas pelos promotores venderiam jornal. Segundo Veleda, “havia todos os ingredientes para um escândalo”. O jornal e os jornalistas sabiam que Timothy era o personagem principal do escândalo e que seu comportamento com a imprensa, ou seja, seu silêncio- concedeu apenas uma entrevista coletiva e falou com exclusividade ao Jornal Nacional- foi decisivo para o desenvolvimento desse acontecimento.