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É relevante compreender, nesse momento, de que maneira a China impacta na atuação internacional das FAD e como estas forças são vistas pela China historicamente e na atualidade, pensando o reflexo da ampliação da participação das FAD no sistema internacional sobre a segurança nacional japonesa.

A relação entre Japão e China possui antecedentes históricos de conflitos decorrentes, dentre outras coisas, do poderio militar japonês e de seus interesses expansionistas, como ilustram a Guerra sino-japonesa ocorrida entre 1894-1895 e a guerra de 1937 entre os dois países, refletindo os incidentes da Manchúria. Esses pontos demonstram uma nítida construção cultural por parte de ambos os países de desconfianças e rivalidades (TOYOO, 2010: 39).

Dessa maneira, em conformidade com um dos pilares da estratégia de segurança japonesa para a China, que é a dissuasão, percebe-se a importância das FAD na manutenção do status quo da região, caso ações militares mais expansivas sejam desenvolvidas pelos chineses. Logo, não há como negar o papel que a China possui na dinâmica de segurança japonesa e que o seu crescimento tem influência regional e global (JIMBO et al., 2011: 7-9).

O quadro expansivo da China em termos militares e econômicos, tornando-se em 2010 a segunda maior economia do mundo, foi fundamental para a coesão e ratificação das políticas de segurança japonesas em termos diplomáticos, pensando a relação Japão-EUA e o engajamento global do Japão. Além disso, as ampliações das tensões no Mar do Leste da China7, nesse mesmo período, permitem ainda mais ao Japão acentuar as preocupações de segurança (JIMBO et al., 2011:14).

Por outro lado, Lande (2013: 32) pontua que as missões das forças japonesas continuam defensivas e que, apesar de alguns equipamentos militares japoneses poderem contribuir em operações ofensivas, a estrutura de força total japonesa é predominantemente defensiva. Esse ponto e o fato de o Japão manter o orçamento de defesa em 1% do PIB estabelecem a confiança no Japão, muito embora a China proteste algumas questões, como a tecnologia de defesa antimíssil denominada de Aegis-based system (LANDE, 2013: 17,20).

Os analistas chineses ainda questionam o interesse japonês de angariar poder e se tornar um país normal, utilizando-se da diplomacia onusiana (YANG apud LI, 2008: 102;

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As tensões no Mar do Leste da China envolvem as disputas por ilhas que Japão e China alegam posse, as denominadas ilhas Senkaku – para os japoneses - ou Diaoyu – para os chineses (JIMBO et al., 2011, p. 14). A região é rica em petróleo, gás e peixes, compreendendo-se sua importância para ambos os países.

ZHANG apud LI, 2008: 103), o que acarreta o aprimoramento do uso das FAD. Assim, a expansão das FAD tem sido vista, pelos chineses, como o alargamento das atividades militares japonesas (ZHANG apud LI, 2008; HU apud LI, 2008: 105), apesar de existir uma preocupação constante japonesa de mostrar o caráter defensivo de suas forças. Nesses termos, as missões antiterroristas das FAD e o papel expansivo propagado pelos delineamentos do Programa de Defesa Nacional de 2004 – NDPO- representam aspectos de inquietações chinesas em torno das intenções estratégicas futuras do Japão (HU apud LI, 2008: 105).

No entanto, a partir de 2006, com mudanças políticas internas no Japão, houve uma tentativa de aproximação das relações com a China, buscando promover a reconciliação entre os dois países (LI, 2008: 122-123). Isso ocorre porque há o reconhecimento por parte do Japão do papel da China no cenário regional e mundial e, frente a isso, da importância de desenvolver seu poder nacional com objetivo de promover o balanceamento do poderio chinês (TOYOO, 2010: 40).

Desse modo, a estratégia de segurança do Japão frente à China, atualmente, parece coadunar-se com as ideias contidas no relatório da Fundação do Japão, ou seja, é uma mistura de integração, por meio da cooperação entre os dois países, balanceamento, realizado por intermédio da aproximação com os demais integrantes da região e dissuasão, quando se faz necessário (JIMBO et al., 2011: 35). Os conflitos com a Coreia do Norte no ano de 2013, em virtude de ameaças nucleares e discursos agressivos do referido país, demonstram, de certa forma, uma ampliação da integração entre Japão e China, pensando a proteção da região; embora as animosidades entre ambos os países não tenham findado e nem estejam perto de ocorrer, principalmente, quando se pensa que o fim da Guerra Fria provocou o término do forte interesse cooperativo em termos estratégicos entre Japão, China e EUA na contenção do poder soviético, ampliando as tensões entre os respectivos países (PYLE, 2007a: 331).

Portanto, o quadro de rivalidade existente entre China e Japão revela o jogo de cada país no sentido de mostrar o outro como ameaça e alcançar os interesses estatais de crescimento e projeção de poder (LI, 2008: 119). Esse ponto interliga-se também com os valores discursivos promovidos por esses Estados na busca pelo crescimento militar, baseando-se na necessidade de desenvolvimento (CHINA’S WHITE PAPER apud CHEN e FEFFER, 2009: 50), como é o caso da China, ou no discurso de segurança humana, característico do Japão, que se pretende aprofundar no próximo capítulo. Sendo assim, o receio em torno das forças militares de ambos os países é uma constante na relação entre eles, reflexo de uma desconfiança histórica.

Dessa forma, vê-se que a China enxerga as FAD de maneira atenta, problematizando a influência dessas forças sobre a segurança nacional japonesa em termos de ampliação de poder; pois, muito embora essas forças estejam teoricamente voltadas para defesa, possuem avanços tecnológicos relevantes que devem ser vistos de maneira alarmante, pensando o possível rearmamento do Japão e sua modernização militar (HICKEY e LU, 2007). Ademais, é válido destacar que a China não apenas se preocupa com o possível rearmamento japonês, mas também com questões que estão conectadas com ele, como, avanços políticos, problemáticas culturais, conflitos territoriais e as nuances da Constituição Japonesa (HICKEY e LU, 2007: 108-109).