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Neste tópico, discute-se a relação entre as FAD, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Assim, vê-se que o avanço nuclear norte-coreano é um grande fator de impulso para o aprimoramento das FAD e, em certas dimensões, o discurso japonês de ver a China como ameaça e como incentivo para os investimentos em defesa é adotado também em relação à Coreia do Norte, pois ambos os países são criticamente ressaltados no Livro Branco Japonês (WHITE PAPER, 2012: 2). Especialistas chineses em Japão expressam que a Coreia do Norte é um argumento utilizado pelos japoneses para instigar o seu rearmamento e o aumento de seu poderio, bem como fazem com a própria China (HICKEY e LU, 2007: 107). Com base nessas ideias iniciais, almeja-se pensar a relação entre Japão e Coreia do Norte, qual a repercussão que este último país tem para a atuação das FAD e como ele analisa as estratégias de defesa japonesas, incluindo as FAD.

É ilustrativo frisar que a relação Japão - Coreia do Norte é bastante conflituosa e decorre do sentimento antijaponês desenvolvido pelos norte-coreanos como legado da presença colonial japonesa (HUGHES, 1999: 52). Assim, ao longo da história, as tentativas do Japão e da Coreia do Norte de desenvolverem laços bilaterais tiveram curta duração (HUGHES, 1999: 55).

Dessa forma, se o período da Guerra Fria foi problemático para o Japão, no que diz respeito às questões de segurança ligadas com a Coreia do Norte, o pós - Guerra Fria trouxe consigo dilemas ainda maiores, tendo em vista a proliferação nuclear norte-coreana e o desenvolvimento de mísseis balísticos (HUGHES, 1999: 56). Como declina Akaha (2006:23), o evento do onze de setembro foi um fator intensificador da sensação de ameaça por parte do

Japão frente ao Estado norte-coreano, tendo em vista a manutenção da produção de armas de destruição em massa por este último país e as consequentes preocupações japonesas com o terrorismo.

Nesse aspecto, as movimentações na Península Coreana influenciam claramente a política de segurança japonesa e a atuação das FAD (HUGHES, 1999:52), especialmente, quando se nota que o militarismo é tido como o elemento essencial do governo norte- coreano e as forças armadas do país constituem o cerne do regime, sendo uma das maiores do mundo em termos de pessoal (SCOBELL e SANFORD, 2007: 1). Esse quadro é considerado um desafio constante para o Japão, no sentido de analisar formas de uso de seu poderio econômico para propósitos de segurança, pensando a estabilidade da região (HUGHES, 1999: 47, 52).

Por outro lado, deflagra-se que o governo norte-coreano tem utilizado o Japão como fonte vital de legitimação do regime e do comando exercido no país, ao serem ressaltadas as denúncias das expansivas atitudes coloniais japonesas (PARK, 2006: 45). Apresenta-se também outro aspecto fundamental da centralidade do Japão na política externa norte- coreana, que é a desconfiança da Coreia do Norte em torno da possibilidade de ressurgimento do Japão como um poder regional dominante, tornando-se ameaça à segurança do país (PARK, 2006: 46). Esse receio norte-coreano é reforçado pela presença dos EUA no Japão, pelo acordo de segurança entre os dois países (PARK, 2006: 46) e, pode-se ainda acrescentar, pela progressiva atuação das FAD no ambiente internacional.

Logo, depreende-se que a relação entre Japão e Coreia do Norte configura-se em um jogo de mão dupla no uso da figura do outro como argumento de fortalecimento de si mesmo, conquanto o grande foco de preocupação norte-coreano seja realmente os EUA. Ademais, a relação com a Coreia do Sul e com os demais países da região asiática marca uma estratégia japonesa de contenção da Coreia do Norte, enquanto os norte-coreanos utilizam-se da diplomacia nuclear e do poder de barganha com ela relacionado, para guiar sua política externa (PARK, 2006: 38,40; HUGHES, 1999: 17).

Quanto à Coreia do Sul, é válido frisar que este país e o Japão tinham uma relação de competição e cooperação extremamente forte antes do avanço imperialista japonês sobre a região sul-coreana (OKONOGI, 2010: 3); no entanto, apesar das problemáticas históricas com o Japão, decorrentes da colonização japonesa sobre a região, percebe-se uma aproximação entre os dois países, ao longo do tempo, possibilitada pela presença dos EUA na região asiática, pelos interesses econômicos, pelo avanço do capitalismo no Estado sul-coreano, pelo interesse de inserção internacional da Coreia do Sul e do Japão e pela presença chinesa na

Península Coreana (OLIVEIRA, 2002: 133-134, 138, 154). O reatamento diplomático entre Coreia do Sul e Japão deu-se em 1965, bastante influenciado pela cooperação econômica entre os dois países e, desde então, a interação permanece (VISENTINI, 2012:222).

Nesses termos, a relação japonesa com a Coreia do Sul mostra-se estratégica no sentido de controle da Coreia do Norte, que é um interesse mútuo japonês e sul-coreano. Sendo assim, pode-se dizer que a Coreia do Sul, considerando os fatores históricos, receia o avanço das FAD; mas, ao mesmo tempo, os sul-coreanos aproximam-se dessas forças por meio de exercícios militares conjuntos e de interesses compartilhados em termos de segurança na região, especialmente no que tange à Coreia do Norte (VISENTINI, 2012: 230 e 233; KLINGNER, 2012:2).

Portanto, depreende-se que a Península Coreana é uma região fundamental para serem observados os interesses estratégicos do Japão, por meio do uso das FAD, e também para serem notados os receios derivados de fatores históricos do avanço dessas forças. Por conseguinte, observa-se a interação e a cooperação entre Coreia do Sul, Japão e EUA na contenção da Coreia do Norte e o relevante papel das FAD na defesa do Japão contra essa ameaça.