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Ciência e não-ciência na medicina

No documento Frederico Camelo Leao.pdf (páginas 70-74)

Capítulo 4. Uma perspectiva semiótica das ciências

B. CIÊNCIAS APLICADAS OU PRÁTICAS

4. Ciência e não-ciência na medicina

Em um capítulo dedicado a discutir as demarcações de território que FRQWUDS}HPDTXLORTXHpFLHQWtÀFRRXVHMDVDEHUHVDGYLQGRVGHSHVTXLVDV dotadas de objetividade, daquilo que, apesar de reconhecido como um VDEHUFRPXPpYLVWRFRPRQmRFLHQWtÀFR6WHQJHUVSUREOHPDWL]DRVOLPLWHV ULJRURVRVGDFLrQFLD(PQRPHGDREMHWLYLGDGHFLHQWtÀFDPXLWRVGRVVDEHUHV SUiWLFRVVmRFRQVLGHUDGRVQmRFRQÀiYHLVXPDYH]TXHQmRSRVVLELOLWDPTXH seus resultados sejam submetidos a testes. No exemplo das práticas magnéticas GH0HVPHUWUD]LGRSRU6WHQJHUV  FRPRH[DPLQDUFLHQWLÀFDPHQWH os benefícios terapêuticos?

$VFXUDVDGYLQGDVSRUPHLRVGLWRVQmRFLHQWtÀFRVFRVWXPDPVHULJQRUDGDV SHODPHGLFLQDFLHQWtÀFD$ÀQDODGLVWLQomRHQWUHPHGLFLQDHFKDUODWDQLVPR VH FRQVWUyL H[DWDPHQWH QD DSOLFDomR GH PpWRGRV REMHWLYRV GH YHULÀFDomR Nesse sentido, o que importa na construção dos limites desta ciência é a GHÀQLomRGDTXLORTXHHODSHUPLWHGRTXHSURtEHHGDIRUPDTXHDXWRUL]DD PXWLODU LELG $PHGLFLQDFLHQWtÀFDQHVVHHPEDWHFRPRVSURFHGLPHQWRV GLWRVRÀFLDLVQHJDFXUDVTXHQmRWHQKDPVLGRJHUDGDVDSDUWLUGHPpWRGRV WHVWDGRV2FRQÁLWRHQWUHPHGLFLQDRÀFLDOHDVPHGLFLQDVGLWDVDOWHUQDWLYDV RXSDUDOHODVpXPDUHDOLGDGHQDSUiWLFDPpGLFD

Arriscarei aqui a hipótese de que não é tal ou qual inovação médica que conferiu à medicina ou meios de reivindicar o título de ciência, mas a maneira pela qual diagnosticou o poder do charlatão e H[SOLFRX DV UD]}HV SDUD GHVTXDOLÀFDU HVVH SRGHU $ ´PHGLFLQD FLHQWtÀFDµFRPHoDULDVHJXQGRHVVDKLSyWHVHQRPRPHQWRHPTXH RVPpGLFRV´GHVFREUHPµTXHQHPWRGDVDVFXUDVVmRHTXLYDOHQWHV O restabelecimento como tal nada prova; um simples pó de SLUOLPSLPSLP RX XQV WDQWRV ÁXLGRV PDJQpWLFRV SRGHP WHU XP HIHLWRHPERUDQmRSRVVDPVHUFRQVLGHUDGRVFDXVD LELG 

2X VHMD R TXH LUi FDUDFWHUL]DU D PHGLFLQD RÀFLDO p D XWLOL]DomR GH SURFHGLPHQWRVREMHWLYRVTXHLUmRGHÀQLUDTXLORTXHSRGHRXQmRSRGHVHU considerado causa de uma determinada cura. Em, Medecins et sorciers, Tobie Nathan e Isabelle Stengers (1995) traçam paralelos entre a medicina popular africana (com seus feitiços, magia e processos adivinhatórios) e a medicina FLHQWtÀFDRFLGHQWDO$SURSRVWDGRVDXWRUHVpTXHVHHVWXGHFRPVHULHGDGH as práticas místicas e os costumes espirituais com o objetivo de incluir no recorte terapêutico os dados culturais. Esse livro é considerado um dos marcos da etnopsiquiatria, uma prática da psiquiatria que associa elementos da antropologia e psicanálise e integra dimensões culturais no tratamento de transtornos psicológicos. Essa integração envolve mudanças na abordagem e análise dos funcionamentos psíquicos internos.

2 HPEDWH HQWUH PHGLFLQD FLHQWtÀFD H FKDUODWDQLVPR SRGH VHU YLVWR também na utilização de placebos em pesquisas objetivas. Placebo (do latim,

apresentar efeitos terapêuticos decorrentes de crença do paciente. O efeito placebo é aquele efeito que não é causado por um princípio ativo de uma substância medicamentosa. Nas pesquisas que se utilizam desse efeito, busca- se comprovar o poder da auto-sugestão no alívio de sintomas. Os placebos são WDPEpPIUHTHQWHPHQWHXWLOL]DGRVHPHQVDLRVFOtQLFRVSDUDWHVWDUDHÀFiFLD GH QRYDV VXEVWDQFLDV (P JHUDO HVVDV SHVTXLVDV FLHQWtÀFDV VmR FRPSRVWDV por dois grupos (um que irá testar o novo medicamento e um, denominado grupo controle, que irá receber um produto inerte).

No prefácio à edição americana do livro Le coeur et la raison de Chertok e Stengers (1992), os autores explicam os motivos pelos quais, na tradução, o livro recebeu outro título. No original francês, coração e razão são termos que se associam ao conceito de Blaise Pascal (1623-1662), no século XVII, para UD]mRHHPRomR2DXWRUGDIDPRVDIUDVH´2FRUDomRWHPUD]}HVTXHDSUySULD UD]mRGHVFRQKHFHµIRLXPLPSRUWDQWHGHIHQVRUGRHVStULWRFLHQWtÀFRPara Pascal, razão e emoção são duas maneiras diferentes de abordar a realidade, GRLVFDPLQKRVGLYHUVRVGHFRQKHFLPHQWR´5HDVRQFDQGHPRQVWUDWHZKDWLW knows; what the heart feels does not require demonstration — and blessed are those, says Pascal, to whom God has given religion through the sentiments RIWKHKHDUWµ &KHUWRNH6WHQJHUVYLL 

$LQGDQRSUHIiFLRRVDXWRUHVHQIDWL]DPDGLIHUHQoDHQWUHDVH[SUHVV}HV´R FRUDomRHVXDVUD]}HVµIUDVHGH3DVFDOH´FRUDomRHUD]mRµWtWXORHVFROKLGR para o livro. Enquanto Pascal aponta o desenvolvimento do conhecimento via HPRomRQDVHJXQGDH[LVWHLPSOtFLWRXPVLJQLÀFDGRGHTXHpSRVVtYHOVHXWLOL]DU da razão para investigar o domínio do emocional. Assim, o objeto do livro é apresentado como os múltiplos esforços que têm sido realizados no sentido de decifrar racionalmente as razões do coração. Freud é apontado como aquele que teve que se confrontar com a questão de como construir uma ciência em XPGRPtQLRDSDUHQWHPHQWHGHÀQLGRSHORLUUDFLRQDO$UD]mRSVLFDQDOtWLFDHP VXDVGXDVIDFHVWHRULDHSUiWLFDpHVVHFRQWUXFWRFLHQWtÀFR LELGL[ 

animal à medida que não respeitavam os ideais da ciência moderna, foram rejeitados pela comunidade médica, muito embora produzissem efeitos de FXUD2PHVPHULVPRSRUH[HPSORVHEDVHDYDHPQRo}HVFRPRLQÁXrQFLD HVXEMHWLYLGDGHYLQGDVGD5HQDVFHQoD .R\Up 6HJXQGRRVDXWRUHVD rejeição ao magnetismo animal não se deu devido a um problema metodológico, mas sim pela incompatibilidade intrínseca de sua epistemologia com o projeto moderno de ciência, fundamentada em conceitos como explicação, predição, FRQWUROHHLVRPRUÀVPR &KHUWRN 6WHQJHUV 

Um exemplo de pesquisa no campo das ciências que abre espaço para a interdisciplinaridade, Bruno Latour (2000), em Ciência em Ação, nos apresenta a possibilidade de um campo que associa ciência, tecnologia e sociedade.

:DONHU3HUF\HPSignposts in a strange land, nos fala que a semiótica de Peirce SRGHVHUYLUFRPRXPFRQFHLWRIUXWtIHURHDRPHVPRWHPSRXQLÀFDGRUQDV GLYHUVDVDERUGDJHQVGD SVLTXHTXHH[LVWHP GHVGH)UHXG 3HUF\  Com base em Peirce, Percy vê a ciência como a busca de conhecimento com REMHWLYR GH UHYHODU YHUGDGHV GHPRQVWUiYHLV 3HLUFH    (P RXWUR momento, The Fateful Rift: The San Andreas Fault in the Modern Mind, Percy DÀUPD D LPSRUWkQFLD GD UHLQWHJUDomR HQWUH FLrQFLD DUWH H UHOLJLmR DWUDYpV de sua base epistemológica comum na natureza do ser, revelada através do estudo da linguagem (Percy, 1990).

Assim, isso nos incita a desvelar os interstícios das relações entre saúde, espiritualidade e religiosidade em seus ciclos e ritornelos. 0D[3ODQFNFHUWD YH]DÀUPRX

%RWK5HOLJLRQDQGVFLHQFHUHTXLUHDEHOLHILQ*RG)RUEHOLHYHUV God is in the beginning, and for physicists He is at the end of all considerations… To the former He is the foundation, to the latter, WKHFURZQRIWKHHGLÀFHRIHYHU\JHQHUDOL]HGZRUOGYLHZ 3ODQFN  

5. A noção de ciência em Peirce como estratégia para

No documento Frederico Camelo Leao.pdf (páginas 70-74)