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Ciência, política e corrida armamentista no contexto da Guerra Fria.

Ciências e Guerra no Inverno Nuclear (1983-1992)

1- Ciência, política e corrida armamentista no contexto da Guerra Fria.

As consequências das explosões de uma guerra nuclear não eram uma preocupação nova no ano de 1983, momento de divulgação da pesquisa do TTAPS. A Igreja Católica se manifestava desde 1981 sobre isso por meio da Pontifícia Academia de Ciências. Nos EUA, cientistas de várias especialidades, inclusive os membros do grupo de Sagan, tinham esboçado um interesse na questão na década anterior, anos 70.

Os soviéticos se dedicavam a estudos parecidos havia pelo menos trinta anos9. Portanto,

o enunciado científico do inverno nuclear não era algo inédito. Então, o que tornou este um tema controverso ao longo de alguns anos da década de 1980?

Quando Sagan e seus colegas expõem publicamente o inverno nuclear já existiam discussões no meio científico sobre as mudanças climáticas no planeta: estudos voltados para a destruição da camada de ozônio pelos CFCs, também pesquisas que procuravam entender o funcionamento da atmosfera e trabalhos sobre a composição atmosférica de outros planetas. O possível resfriamento, com uma nova era glacial ou então o aquecimento da temperatura eram temas que já tinham sido discutidos. Questões estas já apresentadas no capítulo anterior.

Dessa forma, entendemos que havia no contexto científico dos anos 1980 a tecnologia, as teorias científicas e a metodologia de pesquisa que davam o suporte e a necessária estrutura para o desenvolvimento da pesquisa sobre o inverno nuclear. Como veremos mais adiante, quando analisamos o trabalho do TTAPS, o objeto de estudo era uma preocupação de Sagan desde 1971 e, durante toda essa década, ele e outros membros do grupo publicaram estudos que serviriam de base para o enunciado que viria em 1983.

O caminho científico, portanto, estava aberto alguns anos antes da divulgação dos resultados. Mas isto por si só não é suficiente para explicar a dimensão que o inverno nuclear ganhou entre cientistas e a sociedade dos EUA e de vários outros países; nem a forma que caracterizou o discurso científico de Sagan sobre o tema, dotado de tons políticos, que seriam a base de muitas críticas recebidas pelo TTAPS. O contexto político, portanto, nos serviria como variável para o entendimento do que aconteceu.

A pesquisa do TTAPS fez parte do contexto da Guerra Fria. De fato, toda discussão sobre o tema estava inserida no ideário deste período. Um debate que não estava centrado apenas nas consequências das explosões nucleares. Era o resultado de uma série de outras preocupações da época, tal como desarmamento, dissuasão nuclear, corrida armamentista, balanço militar, as guerras indiretas (Vietnã, Coréia), crises diplomáticas etc. Questões que movimentavam diversos segmentos das sociedades em

9 A informação sobre os estudos soviéticos consta no livro de Carl Sagan e outros (1985) sobre o inverno

nuclear. Todavia, não encontramos, nem na Science nem na Nature, artigo destes autores anteriores ao ano de 1983.

torno da disputa ideológica que guiava as ações políticas (e militares) entre os blocos antagônicos, EUA e URSS e seus aliados.

Um contexto que pode ser balizado por alguns fatores: o apelo moral pelo desarmamento, as pesquisas científicas anteriores à divulgação do enunciado, o alarmismo social, o neoliberalismo que ganhava força no governo de Ronald Reagan nos EUA e de Margareth Thatcher na Inglaterra e uma escalada armamentista que não foi controlada nem mesmo com a assinatura de tratados políticos pelas duas superpotências da época. Mas teve como ponto de inflexão principal a discussão da proposta do governo estadunidense sobre a construção de um escudo balístico no espaço, o Strategic Defense Initiative (SDI), também conhecido como projeto Star

Wars10. Um momento de tensão, que caracterizou a Guerra Fria e que teve nuances

dadas por esses outros elementos.

1.1 - Um cenário moral

O apelo moral teve origens na Igreja Católica. Em 1981, a instituição religiosa, por meio de sua Pontifícia Academia de Ciências (portanto, a discussão se manteve no âmbito científico) mostrou sua preocupação com a escalada armamentista. O documento “Statament of the Consequences of the Use of Nuclear Weapons” foi direcionado aos problemas imediatos a serem enfrentados pelos seres humanos após uma explosão nuclear. Seus autores tiveram como preocupação maior os efeitos disso sobre a saúde humana e a insuficiência do sistema médico, que contribuiria para aumentar o número de mortos e feridos.

Na sequência de um ataque nuclear as condições de sobrevivência serão tão severas que a única esperança da humanidade é a prevenção de qualquer forma de guerra nuclear. A ampla disseminação e aceitação desta informação tornaria evidente que as armas nucleares não podem ser utilizadas totalmente nos esforços de guerra e que seus números possam ser reduzidos progressivamente, de forma equilibrada (PONTIFICIAE ACADEMIAE SCIENTIARVM, 1981, p. 6)11.

10 Referente à trilogia de filmes de ficção científica dirigida por George Lucas, que foi uma sensação na

época devido aos efeitos especiais.

11“The conditions of life following a nuclear attack would be so severe that the only hope for humanity is

prevention of any form of nuclear war. Universal dissemination and acceptance of this knowledge would make it apparent that nuclear weapons must not be used at all in warfare and that their number should be progressively reduced in a balanced way”.

A igreja, um ano depois, em 1982, publicou a “Declaration On Prevention

Nuclear War”, documento que foi lido para o Papa João Paulo II durante uma

assembleia com os presidentes de Academias de Ciências de vários países. O teor do texto se assemelha ao anterior: o objetivo era mostrar que a escalada armamentista, e com ela o aumento das armas nucleares, representava um perigo real para a humanidade (PONTIFICIAE ACADEMIAE SCIENTIARVM, 1982). Afirmava ainda que a ciência não teria condições de auxiliar na defesa das pessoas atingidas pelas explosões nucleares.

A ciência não pode oferecer ao mundo uma defesa real contra as consequências da guerra nuclear. Não existe probabilidade de serem feitas defesas suficientemente efetivas para proteger as cidades, mesmo porque apenas uma bomba nuclear causaria uma destruição em massa. Não existe probabilidade de que a maior parte da população possa ser protegida contra um grande ataque nuclear ou que se possa prevenir a devastação das bases culturais, econômicas e industriais da sociedade. A quebra da organização social e a magnitude das mortes serão de tal grandeza que nenhum sistema de saúde conseguirá lidar com mais que uma mínima fração das vítimas (PONTIFICIAE ACADEMIAE SCIENTIARVM, 1982, p. 13)12.

O tom era alarmista. As defesas não eram suficientes, haveria a destruição da civilização, de todas as bases da sociedade e, tal como o argumento do documento de 1981, o sistema médico não teria condições de atender todas as vítimas. O restante do texto trazia uma série de apelos, de ordem moral, para que os governantes refletissem sobre as consequências da corrida armamentista e pedia que procurassem outras formas de convívio (PONTIFICIAE ACADEMIAE SCIENTIARVM, 1982).

Dois anos depois, no ano de 1984, a Igreja Católica voltou a lançar um manifesto. Com o título “Nuclear Winter: a Warning”, podemos considerar que era uma consequência da divulgação feita pelo TTAPS durante 1983 do tema. O texto, inclusive, foi assinado por Carl Sagan, que participou de sua elaboração. Em apenas duas páginas, apresentam uma síntese da discussão principal do grupo de Sagan, carregado, no entanto, de um conteúdo moral, comum aos manifestos católicos que vimos acima. Seus autores afirmaram que o “Inverno nuclear implica um vasto aumento no sofrimento

12“Science can offer the world no real defense against the consequences of nuclear war. There is no

prospect of making defenses sufficiently effective to protect cities since even a single penetrating nuclear weapon can cause massive destruction. There is no prospect that the mass of the population could be protected against a major nuclear attack or that devastation of the cultural, economic and industrial base of society could be prevented. The breakdown of social organization, and the magnitude of casualties, will be so large that no medical system can be expected to cope with more than a minute fraction of the victims”.

humano, incluindo as nações que não estariam diretamente envolvidas na guerra [...].

ressaltando também nesse pequeno manifesto que “A guerra nuclear poderá trazer em

sua esteira uma destruição da vida sem precedentes em qualquer época da existência dos seres humanos sobre a Terra e poderá colocar em perigo o futuro da humanidade.

(PONTIFICIAE ACADEMIAE SCIENTIARVM, 1984, p. 25)13. A perspectiva de um

futuro catastrófico para a humanidade saía, assim, das páginas bíblicas através de uma hipótese científica endossada pelo Vaticano.

1.2 - Um cenário científico

A Igreja Católica mostrou a sua preocupação nos anos 1980 com o desarmamento e as consequências de uma guerra. No meio científico dos EUA, estes elementos faziam parte dos estudos sobre problemas climáticos e dos efeitos das armas nucleares imediatamente após as explosões. Alarmismo e desarmamento não entraram no discurso científico do grupo de Sagan como uma novidade, ao contrário, encontramos esses indícios em publicações de momentos anteriores.

No ano de 1975 foi publicada a pesquisa desenvolvida pela National Research

Council (NRC) sob o título “Long Term World-Wide Effects of Multiple Nuclear- Weapon Detonations”, que analisou os possíveis efeitos imediatos causados por

explosões nucleares (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1975). Também nos anos 1970 temos vários trabalhos de membros do TTAPS que versavam sobre as consequências das erupções vulcânicas na atmosfera, que traziam como hipótese a possibilidade de provocarem a emissão de uma grande quantidade de poeira na atmosfera e, como consequência, haveriam distúrbios climáticos consideráveis (um tema que também se encaixava na discussão sobre a camada de ozônio e o resfriamento global).

Consideramos que os artigos dos anos 1970, de autoria dos cientistas que formariam depois o TTAPS foram significativos para a composição dos enunciados sobre o inverno nuclear. C. Sagan e J. Pollack e O. B. Toon, junto a outros três cientistas, Betty Baldwin, Audrey Summers e Warren Van Camp, publicaram em 1976 um artigo na Nature intitulado “Stratospheric Aerosols and Climatic Change”, no qual

13“Nuclear winter implies a vast increase in human suffering, including nations not directly involved in

the war […].” e “Nuclear war could thus carry in its wake a destruction of life unparalleled at any time during the tenure of humans on Earth, and might therefore imperil the future of humanity.”

abordaram a presença de aerossóis na atmosfera, lançados tanto por vulcões, quanto pelos aviões supersônicos, procurando compreender o papel destes para o clima do futuro (BALDWIN et al., 1976)14.

Em 1977, Sagan publicou, também na Nature, seu estudo para as consequências da redução do efeito estufa em Marte e na Terra, no artigo “Reducing Greenhouses and

the Temperature History of Earth and Mars”. Depois, em 1979, na Science, Sagan,

Toon e Pollack assinam um artigo “Anthropogenic Albedo Changes and the Earth´s

Climate”, em que mostraram a análise feita sobre os efeitos que as alterações provocadas pelo ser humano no albedo terrestre teriam no clima. No mesmo ano de 1979, Pollack e Toon escrevem outro texto “Are Solar Spectral Variations a Drive for

Climatic Change?”, pela Nature, assinado também por William J. Borucki, físico do Ames Research Center, em que discutem as variações no espectro solar como um

mecanismo que poderia provocar uma mudança climática.

Esses artigos e relatórios publicados pelo TTAPS não apareceram na leitura que Sagan fez do desenvolvimento da pesquisa, nem na historiografia que tratou do tema inverno nuclear. Sagan talvez tenha entendido, segundo nossa interpretação, que os estudos da década de 1970 comporiam uma etapa inicial da elaboração da hipótese científica do TTAPS sobre o inverno nuclear. Uma exclusão que provavelmente os autores que escreveram sobre o tema tempos depois aceitaram, retirando esses trabalhos do escopo de análise.

Para nós, as pesquisas que os membros do TTAPS desenvolveram naqueles anos serviram como base de informações para a montagem dos cenários do inverno nuclear na década seguinte, ao estabelecerem algumas premissas teóricas, um conjunto de equações e dados a serem utilizados no enunciado de 1983. Os pesquisadores adquiriram experiência no trato com modelos computacionais e na reflexão sobre o comportamento atmosférico quando alterado por eventos adversos aos ciclos considerados naturais.

No entanto, Sagan fez referência a duas outras pesquisas, uma de 1980 e a outra de 1982. Ambas publicadas por cientistas que não faziam parte do seu grupo, mas que, segundo, ele foram fundamentais para a construção da hipótese científica, inclusive compreendidas pela historiografia como balizas significativas para o TTAPS na

14 As cientistas Betty Baldwin, programadora de computador, e Audrey Summers eram funcionárias do

formulação de sua teoria15. A primeira era a teoria na qual um asteroide seria o

responsável pela extinção dos dinossauros; a segunda, um trabalho sobre o impacto na atmosfera das explosões nucleares.

Em 1980, o físico Louis Alvarez, junto a seu filho o geólogo Walter Alvarez e mais os especialistas em energia e meio ambiente Frank Asaro e Helen Michel, todos da

University of California/Berkeley, publicaram na Science de junho “Extraterrestrial Cause for the Cretaceous-Tertiary Extinction”. No artigo, apresentaram a hipótese de

que um asteroide de grandes proporções se chocou com o planeta por volta de 65 milhões de anos atrás. A poeira gerada com o impacto sobre a superfície foi suficiente para causar um distúrbio na atmosfera que teria bloqueado os raios solares; com isto impediu a fotossíntese, causou uma deterioração climática e extinguiu os dinossauros e grande parte da vida no planeta.

Em resumo, nossa hipótese sugere que um asteroide acertou a terra, formando, no impacto, uma cratera, alguma quantidade de poeira foi injetada na estratosfera e se espalhou pelo planeta. Essa poeira impediu de forma efetiva que a luz solar alcançasse a superfície por um período de muitos anos até que a poeira baixasse ao chão. A perda de luz solar inibiu a fotossíntese e como resultado muitas das cadeias alimentares sucumbiram ocasionando as extinções […]. (ALVAREZ et al., 1980, p. 1105)16.

Um cenário catastrófico que teria ocorrido milhões de anos atrás. A teoria da extinção dos dinossauros contribuiria para a pesquisa do TTAPS, pois o quadro que construíram para o período pós-explosões nucleares era praticamente o mesmo que este citado acima. Não trazia somente uma situação apocalíptica que faria parte da história geológica do planeta, também entendemos que mostrava para os cientistas da equipe que um evento de tais dimensões seria suficiente para provocar uma alteração profunda nos mecanismos climáticos terrestres.

15 Isto mostra também que a historiografia, em sua maioria autores estadunidenses, seguiu a lógica que

Carl Sagan deu à construção do enunciado científico. Adotaram como referenciais apenas o contexto científico imediatamente anterior à divulgação dos resultados do TTAPS e ignoraram grande parte da produção científica da década anterior.

16“In brief, our hypothesis suggests that an asteroid struck the earth, formed an impact crater, and some

of the dust-sized material ejected from the crater reached the stratosphere and was spread around the globe. This dust effectively prevented sunlight from reaching the surface for a period of several years, until the dust settled to earth. Loss of sunlight suppressed photosynthesis, and as a result most food chains collapsed and the extinctions resulted […].”

Os chamados “Doomsday Scenarios”17 estavam presentes no contexto científico

da época. No ano de 1982, a revista sueca Ambio publicou um número especial sobre o que aconteceria após a guerra nuclear – “Nuclear War: The Aftermath”. Trazia na capa e no início de cada artigo uma fotografia de destruição ou de detonação de bombas atômicas. As imagens eram impactantes, criavam um efeito no leitor de forma a relacionar a informação dos textos com uma visualização da catástrofe que ocorreria.

Na edição, vários autores apresentaram suas pesquisas sobre o impacto das bombas nucleares e trouxeram a questão sob os vários aspectos possíveis. Assim, temos análises sobre o pós-ataque nuclear e os oceanos, a água potável, a agricultura, as epidemias, a questão médica, a economia e outros temas.

Ainda segundo Sagan, para o TTAPS, um dos textos publicados foi significativo e serviu de base para algumas conclusões que eles tiveram sobre o inverno nuclear: o artigo assinado por Paulo J. Crutzen, cientista que já mencionamos no capítulo anterior, e por John W. Birks, bioquímico da Colorado University. Neste estudo intitulado “The

Atmosphere after a Nuclear War: Twilight at Noon”, eles analisaram a situação da

atmosfera pouco tempo depois das explosões nucleares, uma espécie de prelúdio daquilo que o TTAPS iria discutir com maior profundidade no ano seguinte. Apesar de lidarem com o imediato das explosões e o grupo de Sagan com os efeitos a longo prazo, as bases de dados e a discussão foram basicamente as mesmas (CRUTZEN e BIRKS, 1982). Para nossa reflexão aqui, é interessante notar como retratam, em sua hipótese para o pós-guerra, um cenário catastrófico, embora de menor impacto em comparação ao que foi produzido nos trabalhos do TTAPS.

A imagem da capa do artigo de Crutzen e Birks (1982) trouxe uma fotografia tirada no momento da explosão de uma bomba atômica, com a tradicional representação da detonação, uma nuvem em formato de um cogumelo gigante. Além disso, tem uma fotografia no meio do texto que mostra o incêndio em refinarias de petróleo (vide anexos). O artigo, com mais de dez páginas, incluía a análise de vários cenários; o elemento de discussão, que serviu ao TTAPS em sua pesquisa, era a alta probabilidade de incêndios de grande porte em vários ambientes. Para Crutzen e Birks (p. 115):

Na discussão das condições da atmosfera após um ataque nuclear, nós apontamos especialmente para os efeitos dos muitos incêndios que serão

17 Teorias ou hipóteses de autoria de cientistas, na qual apresentavam uma possibilidade de catástrofe

iminente para o planeta, seja pela falta de alimentos, em teses neomalthusianas, ou então a partir de catástrofes naturais, como terremotos, meteoros, mudanças climáticas etc.

iniciados por milhares de explosões nucleares nas cidades, florestas, plantações e campos de gás e petróleo […]18.

Os incêndios resultantes das explosões seriam um efeito que aumentaria consideravelmente a quantidade de fumaça e poeira que atingiria a atmosfera e, assim, ampliava os efeitos das explosões. Em suas conclusões, Crutzen e Birks trabalharam com a probabilidade de uma modificação nas propriedades físicas da atmosfera. Algo que levaria à extinção da agricultura do Hemisfério Norte. Criava-se uma situação em que seria difícil a existência dos sobreviventes aos ataques por um longo período, devido à fome e às doenças (CRUTZEN e BIRKS, 1982). Resultado semelhante que o TTAPS teve em sua pesquisa.

Podemos observar a partir do contexto científico que analisamos acima, que o enunciado científico do grupo de Sagan estava praticamente pronto a partir da junção de diversos trabalhos publicados. Os estudos sobre as erupções vulcânicas, os incêndios provocados pelas explosões e um cenário de extinção da vida sobre o planeta trazem os ingredientes principais que encontramos na hipótese do inverno nuclear desenvolvido pelo TTAPS, mas, que ainda assim podemos considerar como inédito, por levar ao extremo os cenários catastróficos que estavam presentes em outros autores e estudos.

1.3 - Um cenário de guerra

Todavia, somente esta exposição do quadro científico da época não é suficiente para explicar o que tornou o inverno nuclear um tema tão controverso. Entendemos que o contexto histórico em que o TTAPS apresentou sua teoria mostrava um quadro de manifestações políticas e sociais sobre uma das temáticas que causavam preocupação em grande parte dos países: a possibilidade real de uma guerra nuclear.

Medo da explosão de bombas atômicas, de suas consequências, do que aconteceria depois. Um contexto de apreensão causada pelo aumento das ogivas atômicas e proliferação de usinas nucleares em diversas partes do mundo. Uma situação que gerava um quadro de ansiedade em algumas sociedades, principalmente a estadunidense e parte da europeia, que vivenciavam o clima da Guerra Fria e com ela

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