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Luiz Eduardo Ferreira da Silva – UFPB/UFPA Dulce Amélia de Brito Neves – UFPB

Resumo

Pesquisa concluída que visou compreender o caráter de cientificidade da Arquivologia sob a luz da Ciência da Informação, de modo que essa problematização tenha um papel fundamental no contexto arquivístico. Desse modo, partimos da seguinte hipótese: Em Arquivologia, a lógica do agir instrumental obstrui o caráter do campo como ciência quando, na verdade, desdobra-se mais como técnica. Buscou-se através dos indícios interpretativos, encontrar as pistas para as incertezas epistemológicas em que a Arquivologia está circunscrita, sobretudo, no contexto teórico-metodológico. Logo, através dessa ação indiciária medimos as possibilidades de uma Arquivologia – técnica ou de uma Arquivologia – Ciência. Observa-se que a Arquivologia não pode fugir da técnica como procedimento, no entanto a “cientificação da técnica” se tornou a própria ideologia da Arquivologia, o sentido primeiro e último sobre o qual a razão de ser constitui-se como base. Os resultados indiciários e interpretativos demonstram que se a Arquivologia reduz-se a um conjunto de técnicas, trata-se de um “produto” e não de uma ciência que via de regra, produz verdades e implementa verdades criando produtos. Por conseguinte, conclui-se que esse estudo permitiu perceber que uma ação reflexiva no contexto da pesquisa em Arquivologia, poderá fazer com que a Arquivologia se distancie do modelo funcional/pragmático que a marcou no processo de historicização.

Palavras-chave: Arquivologia - Ciência. Arquivologia - Técnica. Saber arquivístico. Agir

funcional. Ciência da Informação.

Abstract

The research aims at understanding the scientificity character of Archival Science in light of Information Science so as this problematization may have an outstanding role in the archival context. In this way, the following hypothesis was taken into account: In the Archival Science, the logic of instrumental action hinders the field character as science when, in fact, it is unfolded as a technique. In this perspective, by means of the evidential method and the critical hermeneutics, we searched through interpretative evidence to find clues for the epistemological uncertainness in which the Archival Science is circumscribed, especially, in the theoretical and methodological context. Therefore, through this evidential action, the possibilities of an Archival Science – technique or of an Archival Science - Science were measured. In effect, it was observed that the Archival Science can not ignore the technique as procedure, but one major concern is related to the “scientification of the technique” which became the Archival Science ideology; the first sense and the last one about which the reason of being is constituted as basis. Thereby, the evidential and interpretative results demonstrate that if the Archival Science is reduced to a set of techniques, it refers to a “product” and not to a science that, usually, produces truths and implements them by creating products. Consequently, it can be concluded that this study enabled to perceive that a reflective action

in the context of Archival Science research can make the Archival Science to distance from the functional/pragmatic model that registered it in the historicization process.

Keywords: Archival Science - Science. Archival Science – Technique. Archival knowledge.

Functional action. Information science.

1 INTRODUÇÃO

A pesquisa buscou cultivar o pensamento crítico, fazendo uma tessitura construtiva e contributiva que poderá provavelmente remodelar e arranjar a maneira de se pensar a Arquivologia. Nesse sentido, entendemos que o campo arquivístico ainda esbarra em configurações conflituosas, principalmente relacionadas às terminologias, revelando na maioria das vezes em inconsistências conceituais. Esse antagonismo pode ser identificado na nomenclatura do campo como Arquivologia, Arquivística e Arquivonomia. Salientamos ser de fundamental importância para Arquivologia discutir suas peculiaridades em função do avanço da área, que nos últimos tempos cresce consideravelmente em todo o país.

Similarmente, não menos complexo, uma ala muito consistente da Arquivologia ainda tenta associá-la à pós-modernidade, no entanto, a pós-modernidade se constituiu muito mais naquilo que ela não é, ou naquilo que a modernidade não conseguiu ser.

Essa nuance paradigmática da Arquivologia surge a reboque da transformação tecnológica que assolou a humanidade no final do século XX e início do século XXI, porém, é necessário compreender que interligar a Arquivologia ao rol da pós-modernidade pode ser algo emblemático e perigoso, além de não garantir o status científico.

Desse modo, não podemos negar que a inserção da Arquivologia nos programas de pós-graduações em Ciência da Informação trouxe para área uma enorme contribuição, “a associação com a Ciência da Informação parece ser uma característica da evolução da área arquivística”. (FONSECA, 2005, p. 101).

Nesse sentido, esses sinais e emblemas aguçaram nosso olhar no sentido de compreendermos o caráter epistemológico da Arquivologia no universo de sua pretensa cientificidade com a contribuição da Ciência da Informação. Especificamente objetivou-se: a) Discutir os “chamados paradigmas” da Arquivologia enquanto ciência;

b) Verificar o processo evolutivo da disciplina com suas características gerais;

c) Averiguar as mediações relativas aos aspectos contingentes do processo pelo qual se empreende a atividade científica enquanto tal.

Sendo assim, a Ciência da Informação e a Arquivologia irão estabelecer relações de natureza aproximativas, não no sentido de “dependência” uma com a outra, mas, no aspecto informativo e social, “é a informação registrada e, diferentemente de outro tipo de

informação, é mantida como estoques informacionais em razão de sua utilidade ou missão e que passa a ter uma existência institucional e, portanto, social”. (SMIT; BARRETO, 2002, p. 21). Logo, a Ciência da Informação tem essa potencialidade aproximativa, de dialogar com outros campos do conhecimento, de fomentar dentro desses campos meios que possibilitem uma reestruturação conceitual e metodológica em seu interior:

A Ciência da Informação desempenha uma característica extraordinária nas questões que envolvem os fluxos e os processos informacionais. Na concepção teórico-metodológica, a Ciência da Informação oferece e orienta uma análise e um compromisso que permeia diversas áreas da produção do saber e uma delas é a da Arquivologia com a vertente informação. Logo, entre ambas existe um nicho relacional que é auferido por esse canal informacional.

A Arquivologia trouxe para a Ciência da Informação não apenas um rico acúmulo de técnicas, conceitos e visões sobre os documentos arquivísticos, mas também ideias sobre a organicidade e o ciclo de vida dos documentos, sobre patrimônio e memória, sobre a historicidade dos registros do conhecimento humano para todas as disciplinas científicas pertencentes ao campo das ciências humanas e sociais afinal, a historicidade é uma marca distintiva de todos os fenômenos humanos, portanto, dimensão incontornável de todas as ciências sociais e não apenas da História (ARAÚJO, 2011, p. 10).

Com efeito, notamos a congruência entre a Ciência da Informação e a Arquivologia através do viés informacional, assim, a Ciência da Informação atua de forma umbilical na produção do saber de áreas que trabalham com a organização, o acesso e o uso da informação como a Arquivologia.

Dentre os perfis teóricos de investigação da pesquisa qualitativa utilizamos o método indiciário e a abordagem (hermenêutica) como base interpretativa dessa pesquisa, onde essa ação reflexiva se tornou fundamental para contextualizarmos os sinais do fenômeno com um olhar compreensivo e crítico. A hermenêutica busca equacionar o sentido condescendente e elucidativo dos fenômenos através das interpretações e provocações existentes em determinados contextos.

Ainda nesse estudo, lançamos mão além dos indícios, mitos e emblemas, da abordagem compreensiva, como a hermenêutica crítica para compreendermos os indícios da possível cientificidade na Arquivologia, sendo preponderante a compreensão da influência das ciências empírico-analíticas1, ou seja, aquela do agir funcional instrumental (técnica), e as histórico- hermenêuticas para averiguar a complexidade histórica do ato interpretativo, porque a partir

1

As ciências empírico-analíticas exploram a realidade na medida em que esta se manifesta no raio da atividade instrumental; enunciados nomológicos acerca desse domínio do objeto estão assim presos, de acordo com seu sentido imanente, a um determinado contexto de aplicação; eles apreendem a realidade em vista de uma disponibilidade técnica que, em condições específicas, é sempre e em toda parte possível (HABERMAS, 1987, p. 216-217).

dessa análise construímos um arcabouço mais sólido de concordância ou não com essa afirmação de uma cientificidade na Arquivologia.

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