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Em maio de 1991, o Governo Federal, sob a presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), lançou um projeto de educação com o apoio de Leonel Brizola, inspirado na experiência dos CIEP para todo o Brasil, mas com características ainda mais assistencialistas, denominado Projeto Minha Gente. Segundo Sobrinho; Parente (1995, p. 6):

O Projeto Minha Gente, com o objetivo de desenvolver ações integradas de educação, saúde, assistência e promoção social e dinamizar as políticas sociais básicas de atendimento à criança e ao adolescente. Com estas ações, o governo federal se propôs a reduzir os efeitos negativos da pobreza sobre as crianças e adolescentes que habitam as periferias dos maiores aglomerados urbanos do país.

O Projeto teve as seguintes características:

[...] atendimento social integrado em um mesmo local. Atendimento em tempo integral; envolvimento comunitário; desenvolvimento de programas de proteção à criança e à família; gestão descentralizada; e, como característica principal, a implantação de unidades físicas – O Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente – CIAC, o qual previa o atendimento em creche, pré-escola e ensino de primeiro grau; saúde e cuidados básicos; convivência comunitária e desportiva (SOBRINHO; PARENTE, 1995, p. 6).

Itamar Franco (1992-1994), ao substituir Collor de Mello, deposto da presidência por crime de responsabilidade dois anos depois de eleito, deu prioridade à educação e a proteção à criança e ao adolescente. Neste contexto, e como parte de suas políticas sociais, deu continuidade ao projeto, criando o Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente

— Pronaica, nas estruturas agora denominadas CAIC – Centros de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente.

O Pronaica absorveu toda a estrutura organizacional, patrimonial, orçamentária e financeira do Projeto Minha Gente, com uma proposta semelhante, mas com uma pedagogia própria. Desloca-se da perspectiva de atendimento para atenção integral, flexibilizando o lugar de atendimento, que a partir de então pôde ser dado independente do espaço físico a ser utilizado – em instalações especialmente construídas ou adaptadas.

O primeiro CIAC foi inaugurado em novembro de 1991, na Vila Paranoá – Região Administrativa do Distrito Federal. O projeto arquitetônico, em forma de pirâmide, com aproximadamente 4 mil metros quadrados, foi projetado para atender até mil crianças, incluindo no mesmo espaço a educação escolar, além de atenção à saúde, à cultura, ao esporte, proteção especial à criança, educação para o trabalho e o desenvolvimento comunitário(GADOTTI, 2009). A ideia foi oferecer às crianças e adolescentes situados na faixa etária de zero a 17 anos atenção integral, em tempo integral, e não apenas atividades escolares como aborda um documento do MEC publicado em 1993:

[...] Os centros de atenção integral à criança e ao adolescente foram concebidos para oferecer todos os cuidados requeridos pelo público infantil e juvenil e suas famílias. Mais que unidades físicas, constituem o local em que se exercita uma proposta pedagógica abrangente, que articula ações de saúde, higiene, alimentação, cultura e lazer, entre outras, às atividades especificamente escolares, com o fim de educar e também proteger, amparar e preparar a clientela para o convívio social (BRASIL, 1993, p. 9).

O Programa se justificou pela situação social auferida em 1990 através de Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD/IBGE), que demonstrou uma situação crítica em relação a esta faixa etária no Brasil. Segundo a pesquisa, o país contava com 25% de crianças e adolescentes de zero a 17 anos na faixa de indigência, sendo que um terço deste contingente encontrava- se na área rural do Nordeste brasileiro, em situação de extrema pobreza (BRASIL, 2011).

O Pronaica teve como base legal a Constituição Federal aprovada em 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 1990, os quais

estabeleceram a proteção desta faixa etária. Assim reza a CF de1988, no caput do Artigo 227:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

E determina ações com relação à saúde, no parágrafo 1º: “O estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente [...]”.

O Estatuto da Criança e do Adolescente reafirma o disposto na Constituição:

[...] dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público, que a ela devem assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária [...]

Baseado nestes pressupostos legais, o Programa se propôs a garantir a intersetorialidade e a participação comunitária, entendendo a atenção integral como:

Corresponsabilidade do Estado, da sociedade e da família e consubstanciada na integração de ações e serviços voltados para o atendimento das necessidades de desenvolvimento integral da criança nos aspectos físico, psíquico, intelectual e de socialização (MEC/ SEPESPE, 1994,apud SOBRINHO;PARENTE,1995, p.7).

No mesmo momento político, o Brasil participa de conferências internacionais sobre educação (1990, na Tailândia e, em 1993, em Nova Délhi), assumindo compromissos, juntamente com outros países, de buscar meios comuns de solucionar seus graves problemas educacionais, de forma geral, e da infância e adolescência em particular (HINGEL, 2002, p.72).

Na atualidade, há muitos CAIC espalhados pelo Brasil, em funcionamento. Segundo Murílio Hingel, que foi Ministro de Educação e Secretário de Estado de Educação de Minas Gerais (2002), várias experiências têm obtido bons resultados do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, do Paraná a Pernambuco e, especialmente, em Minas Gerais (HINGEL, 2002, p.82). No Distrito Federal, atualmente, há 13 CAIC em funcionamento, sendo 11 com Educação Integral.

Apesar de as políticas concebidas e colocadas em prática na época não terem tido continuidade no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Educação e Desporto concluiu em 1996 a construção de 450 unidades educacionais que foram iniciadas em 1991 em diversas regiões do país.