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2. DIÁLOGO COM AS REFERÊNCIAS TEÓRICAS

2.2. Cibercultura

É de suma importância, que possamos nos dar conta de que vivemos em um momento de grandes mudanças, mudanças que se fazem notar pela avalanche de usos das tecnologias digitais, que trazem ebulição aos processos sócio-econômico-

político-culturais vigentes, e que também vão repercutir nos processos de educação de modo geral – como acabamos de ver acima, segundo as indicações da CEPAL – e aqui se instaura a preocupação e a necessidade de levarmos os professores a se prepararem para mais esse desafio, no exercício da docência. Pois, como assinala Pesce (2013), não é possível que hoje em dia, os indivíduos possam exercer plenamente a sua condição de cidadãos estando alijados dos usos dos recursos midiáticos.

Nesse trabalho, a formação continuada dos professores deve ser fundamentada na Cibercultura: ambiente cultural contemporâneo, fortemente marcado pelas tecnologias digitais, onde as relações sociais se engendram numa nova forma de comunicação e, de aproximação entre as pessoas de todo mundo. Trazendo à tona essas características podemos pensar acerca da formação do professor, para que possa ser inserido nessa realidade, reinventar-se a si mesmo, frente ao cotidiano da escola, lançando novo olhar para sua prática e, como consequência, pensar nos limites e possibilidades que se instauram na construção de uma didática apropriada a esse novo tempo. Em outras palavras, pensar quais as demandas que, hoje, se exigem dele - o professor - no trato com esse sujeito praticante da Cibercultura - seus alunos.

Tal empreendimento faz-se necessário, na medida em que, na Cibercultura, a constituição das subjetividades é perpassada pela complexa realidade universal não totalizante. Assim, segundo Lévy (1999), o universal abriga o aqui e agora da espécie, seu ponto de encontro, um aqui e agora paradoxais, sem lugar nem tempo claramente definíveis, ou seja, o universal como a presença virtual da humanidade para si mesma.

Justamente por esses motivos, aqui reside a importância da formação do professor, pois é nesse ponto que o novo deve acontecer, possibilitando aos envolvidos nesse processo a ressignificação da sua identidade profissional, de modo a garantir a dinamização de novos olhares para as práticas que convergem às necessidades do homem hodierno, privilegiando, tanto quanto se permitir, a formação mais ampla do professor e, em consonância com isso, a construção de sua autonomia frente à sua prática de ensino, frente ao exercício da docência.

O mundo em constante evolução exige a contínua necessidade de atualização, mas não de modo passivo e sim, para, empoderados pela atualização, construir uma visão crítica dos pontos fundantes no campo educacional e trabalhar

tais questões, nas práticas sociais cotidianas. A formação contextualizada e continuada do professor torna-se imprescindível nos dias atuais, ainda mais, face à mudança paradigmática em que está envolta as relações entre tecnologia e contemporaneidade. Urge empoderar-se, no universo do letramento digital, para poder assumir uma postura crítica e adotar uma utilização dos recursos tecnológicos que vão ao encontro da vivência plena da cultura digital (BONILLA, 2011) e, portanto, das muitas das práticas sociais contemporâneas.

Esse movimento condiciona nosso olhar na direção de se reinventar o cotidiano da escola, onde as práticas docentes sejam pautadas pela compreensão do ser professor nesse tempo. Isso, por si só, justifica a relevância da análise do problema da formação do professor nesse ambiente de mudanças provocadas pela Cibercultura, que tem causado impactos na sociedade e no modo como nos relacionamos com o tempo e o espaço. É aqui o início de nossa jornada, no intento de investigar como a formação continuada de professores em serviço, no interior da escola, frente às relações entre Cibercultura, educação escolar e prática pedagógica desses docentes acontecem.

Nesse ínterim podemos lançar mão de referencial teórico que auxilie a composição do escopo de análise e explicitação dessa realidade já apontada. Assim, nos é fundamental a literatura correspondente à elucidação do que seja a Cibercultura e suas implicações práticas, no que tange o condicionamento de mudanças paradigmáticas nos campos da economia, nas relações culturais e sociais, principalmente nas formas e meios de produção e socialização de saberes e conhecimento. É nesse contexto que as relações de ensino e aprendizagem configuram-se em novas bases, tornando inevitável pensarmos sobre a formação do professor.

Cabe trazermos à baila a obra de Lévy (1999) – Cibercultura – como eixo norteador desse pensamento, uma vez que, antes da popularização da internet, o espaço público de comunicação era controlado por intermédio de instituições que preconizavam uma função de triagem entre os autores e consumidores da informação. Atualmente, com a internet, muitos no mundo podem publicar um texto sem passar pelo crivo editorial de um jornal. Entretanto, essa liberdade que a internet oferece esbarra no problema da veracidade, da garantia quanto a qualidade da informação. A cada momento, novas pessoas acessam a Internet, novas máquinas se interconectam, novas informações são lançadas na rede. Quanto mais

o ciberespaço se estende, mais universal ele é. Novos modos de pensar e de conviver estão sendo elaborados no mundo das telecomunicações e da informática. E é nesse sentido que o texto Educação e Cibercultura se inscreve. O texto em referência faz parte de sua obra ― Cibercultura‖ (1999). Nessa obra, Lévy pontua as relações educacionais, comerciais e sociais do ciberespaço, na construção de uma cultura geral, segundo seu espírito otimista, marca de seus textos.

Lévy (1999), procurando fornecer subsídios para uma melhor compreensão do fenômeno em questão aponta algumas observações que se fazem necessárias acerca da Educação e Cibercultura. Suas ponderações nos encaminham a repensar a relação com o saber, com o conhecimento e sua disseminação. São aspectos essenciais dessa reflexão:

a. As competências desenvolvidas por um indivíduo no início da vida profissional serão obsoletas ao fim da mesma.

b. Por conta da dinâmica do conhecimento que não pára de crescer; trabalhar equivale a aprender sempre.

c. O ciberespaço comporta tecnologias que colaboram para a alteração de algumas funções cognitivas do ser humano; tais como: a memória (banco de dados...), a imaginação (simulações...), a percepção (sensores digitais...), os raciocínios (inteligência artificial...).

Isso posto, podemos imaginar a gama de possibilidades e de incremento nas relações humanas com o conhecimento. Decorrente dessas preocupações que Lévy indica, há necessidade de revisão e reformas dos sistemas de educação, da formação continuada do professor e ressignificação de suas práticas.

Nessa perspectiva, o uso das TDIC (Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação) torna-se fator crucial na formação do docente, se desenvolvida em uma perspectiva que refute a racionalidade instrumental subjacente às políticas públicas oriundas das recomendações dos organismos multilaterais, como vimos anteriormente, mas, ao contrário, busque empoderar a classe docente, situando a formação desse profissional da educação, em uma perspectiva autoral. E a formação continuada em serviço pode favorecer essa reflexão, bem como possibilitar mudança significativa à sua prática pedagógica. Por isso, o cotidiano da escola deve apontar para uma formação docente, em que a reflexão das relações entre o ensino e a aprendizagem e as relações entre o professor e o aluno real (forjado em meio à sua materialidade histórica) estejam presentes. Pensar em novas

práticas docentes emerge da reflexão dessas relações. Relações que apontam para a complexidade do fenômeno social tomado como objeto de estudo, nas ações de formação continuada em serviço, no interior da escola.