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O ciclo de políticas públicas (policy cycle) é um esquema em que se pode visualizar e interpretar a concepção de uma política pública de forma organizada e sequencial. A política pública vista como um “[...] ciclo deliberativo, formado por vários estágios e constituindo um processo dinâmico e de aprendizado” é a denominação dada para o Ciclo de Política Pública (SOUZA, 2006, p. 10). Para Sechi (2010, p. 43), esse ciclo consiste em "[...] um esquema de visualização que organiza a vida de uma política pública em fases sequenciais e interdependentes", podendo ainda ser definido por estágios e ou etapas, sendo as principais as de agenda, formulação, implementação e avaliação.

O modelo dos Ciclos de Políticas Públicas (CPP), ou Ciclo Político Administrativo, é tido como uma forma simplificada e sequencial de compreender o processo de concepção das políticas públicas. Assim, elas são concebidas como um “[...] processo, composto por um conjunto de

atividades [etapas ou estágios] que visam atender às demandas e interesses da sociedade” (RODRIGUES, 2010, p. 46). Essas atividades contemplam sistemas de ações e decisões complexos e devem ser realizadas por instituições governamentais legítimas e em conformidade com a legislação vigente.

O ciclo de políticas públicas proposto por Rodrigues (2010) contempla as etapas de: preparação da decisão política, agenda setting, formulação, implementação, monitoramento e avaliação. A primeira etapa, de preparação da decisão política, é a fase em que o governo busca uma solução para enfrentar um problema para uma situação de necessidade, insatisfação ou privação. Nessa etapa, vários atores se confrontam para escolher quais problemas serão incluídos na agenda do governo.

No segundo estágio, de agenda setting, é o momento em que o problema se torna uma questão política, ou seja, passa a ser um problema público. As decisões tomadas nessa etapa vão se tornar em desenhos de políticas e/ou programas que deverão ser implementados.

Na fase de formulação, etapa 3 do ciclo de políticas públicas, as discussões giram em torno de escolher ações aceitáveis e pertinentes para lidar com o problema público. Para construir uma solução para determinado problema, Rodrigues (2010) explica que é necessário, primeiramente, realizar um diagnóstico do problema, identificar esse problema e desenvolver alternativas. Assim, para que o problema se torne uma ação de política pública, é necessário interpretar o ambiente, planejar e organizar as melhores ações, decidir quais serão os benefícios e ou serviços que deverão ser implementados e de qual local serão extraídos os recursos financeiros para sua implementação.

A fase de implementação, ou 4º estágio, contempla, segundo a mesma autora, a efetiva aplicação da política pelo Governo e, ainda, o planejamento administrativo e de recursos (humanos e materiais) que serão utilizados. O estágio 5, de monitoramento, é a etapa relacionada à avaliação pontual das ações do governo quanto à implementação da política pública escolhida. Esse monitoramento permite que sejam corrigidos os erros, buscando melhorar o desempenho das políticas. A última etapa refere-se à avaliação dos resultados da política/programa com vistas a identificar se as metas foram atingidas e orientar novas decisões de futuras ações.

Rua (2009) elenca como principais etapas sequenciais do ciclo de políticas públicas as que envolvem: a formação da agenda que engloba as atividades de definição do problema; a análise do problema; a formação de alternativas e tomada de decisão (adoção da política); a implementação que compreende o monitoramento; a avaliação; e os ajustes. A Figura 2 representa o ciclo de políticas públicas definido pela autora.

Figura 2: Ciclo de Políticas Públicas

Fonte: Ciclo de Políticas Públicas – Rua (2009, p. 36)

Rua (2009) esclarece que as etapas não são lineares, pois tanto o ponto de partida não é claramente definido, quanto as etapas podem se apresentar superpostas. Secchi (2010) adverte que, por esses motivos (não sequencialidade e interpenetração das sequências), o CPP, dificilmente, reflete a verdadeira dinâmica de uma política pública. Entretanto, a utilidade do CPP é validada pela visão simplificada de uma política pública, permitindo que os analistas consigam realizar comparações de casos heterogêneos.

As políticas públicas são meios de se materializarem os direitos previstos e garantidos em legislações. A existência dessas políticas garante aos cidadãos exercer seus direitos sociais (SOUZA, 2013), portanto compreender o ciclo de políticas públicas permite o entendimento correto das políticas públicas e auxilia na reflexão de como aperfeiçoar esse instrumento. Logo, o ciclo é um instrumento primordial para os gestores públicos (RUA, 2009).

O Programa REUNI se insere no contexto das políticas públicas do governo federal e tem cunho social e educacional, pois se relaciona tanto com a ampliação do acesso quanto com a democratização do ensino superior. Situar o programa no ciclo de políticas públicas é compreender que, a partir de uma necessidade social (vagas gratuitas de ensino superior), preparou-se uma decisão política. Essa decisão entrou para a agenda governamental que optou por desenhar o REUNI e implementá-lo. Os elaboradores, na etapa de formulação, escolheram que os caminhos seriam, entre

outros, o de expandir e reestruturar o ensino superior público nas IFES, além de priorizar os cursos noturnos para atender a demanda dos trabalhadores. Esses colaboradores optaram também por fixar os investimentos em até 20% do valor efetivamente gasto com despesas de custeio e pessoal.

A fase de implementação do Programa envolveu o período de 2008 a 2012, sendo esse o período em que as IFES se expandiram e reestruturaram seus campi, criaram novos cursos e atenderam as demais diretrizes estabelecidas no termo de pactuação do REUNI. A etapa de monitoramento envolveu tantos as IFES que aderiram ao programa quanto o Ministério da Educação (MEC). Todos os envolvidos teriam obrigação de apresentar acompanhamentos anuais, demonstrando à sociedade o que estava sendo realizado. Nessa etapa, o Governo Federal também disponibilizou uma Plataforma Integrada para Gestão das Universidades Federais (PINGIFES) que serviu de instrumento para coleta de dados e avaliação das IFES. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) também fizeram parte do acompanhamento, verificação de dados e integração de avaliações de diversas dimensões.

A última etapa do Ciclo de Políticas públicas, a de avaliação, deve ser realizada de forma contínua, buscando identificar tanto se as metas foram cumpridas quanto buscando nortear novas decisões que envolvem a educação superior brasileira. Nesse sentido, o MEC e a UFU apresentaram relatórios no final do período de implementação do Programa. Diante do exposto, este trabalho busca contribuir nessa etapa do ciclo de políticas públicas já que pretende identificar o índice de evasão de discentes dos cursos criados e/ou expandidos pelo REUNI e compará-los com os índices de cursos já existentes na Instituição. Assim, buscou-se avaliar se houve ou não a redução dos índices de evasão, conforme estava estabelecido no Inciso I, § 2º, do Decreto n. º 6.9096/07, e, ainda, fornecer dados para que a Instituição possa redimensionar o planejamento de oferta de vagas nos cursos e/ou elaborar ações que permitem reduzir a evasão