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2 A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA COM O REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO, OS

4.2. Decisões de política monetária em 2009

4.2.1 Ciclo de redução da Selic: jan-jul/2009

Em janeiro de 2009 teve início o segundo período da atuação do BCB na crise. A partir da reunião de janeiro, o BCB reduziu a Selic em 100 pontos-base (p.b.) conforme informou os parágrafos 23 e 24 da 140a Ata do Copom:

O Copom avalia que, diante dos sinais, evidenciados desde a sua última reunião, de arrefecimento do ritmo de atividade econômica, no que se refere, por exemplo, aos indicadores de produção industrial (exacerbados por um ciclo de estoques), certos dados disponíveis sobre o mercado de trabalho e as taxas de utilização da capacidade na indústria, bem como sobre confiança de empresários e consumidores, e do recuo das expectativas de inflação para horizontes relevantes, reduziram-se de forma importante os riscos de não concretização de um cenário inflacionário benigno. […].

O Comitê entende que a consolidação de condições financeiras restritivas por período mais prolongado deve exercer efeito contracionista significativo sobre a demanda e, ao longo do tempo, desempenhar pressão desinflacionária importante. Nessas circunstâncias, a maioria dos membros do Copom, tendo em vista o balanço de riscos para a atividade econômica, e, consequentemente,

para o cenário inflacionário prospectivo, bem como a ausência de evidências nítidas de repasse da depreciação cambial ocorrida, em ambiente de redução global das pressões inflacionárias, decidiu, neste momento, reduzir a taxa básica de juros em 100 p.b. (BCB, 2009a, Parágrafos 23 e 24).

As evidências encontradas na ata sustentam que o BCB tomou a decisão de reduzir a Selic devido ao reconhecimento de que a depreciação cambial não teria efeitos significativos sobre a inflação, assim como que o arrefecimento da demanda agregada iria reduzir o descompasso em relação a oferta e, conseqüentemente, implicaria em forças desinflacionarias. Dessa forma, o BCB prosseguiu o ajuste na taxa de juros até a reunião de julho de 2009, quando fixou a Selic em 8,75% a.a., conforme o gráfico 19. Portanto, observa-se que durante a crise o BCB reduziu a taxa de juros, que é seu principal instrumento de política monetária, em 5 p.p.

Gráfico 19 – Meta para taxa Selic (%) – jan/08-dez/09

Fonte: BCB (2011). Elaboração própria.

No entanto, o Copom decidiu interromper o ciclo de diminuição da taxa Selic em setembro de 2009, mantendo-a em 8,75% a.a. Conforme sugere a ata da 145ª reunião do Copom, o estímulo monetário nos meses anteriores ainda não havia sido incorporado integralmente à dinâmica da inflação. Isto porque devido a defasagem presente entre a implementação e os efeitos da política monetária, a redução dos juros entre janeiro e julho exerceria efeitos sobre a atividade econômica e, conseqüentemente, sobre os preços nos próximos meses. Contudo, a Autoridade Monetária avaliou que, naquele momento, a probabilidade de a inflação colocar em risco o cumprimento da meta era baixa, dado que o fraco dinamismo da demanda

agregada e capacidade ociosa dos fatores de produção persistiam na economia brasileira.

No que diz respeito a atividade econômica, a recessão atingiu o país no último trimestre de 2008 e prolongou-se até o primeiro trimestre de 2009, com queda do PIB de -4,2% e -2%, respectivamente, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. A partir do segundo trimestre de 2009 a economia brasileira iniciou um processo de recuperação, com crescimento do produto de 2% em relação ao primeiro trimestre. Contudo, a economia ainda estava com excesso de capacidade, à medida que no segundo e no terceiro trimestres de 2009 o PIB ficou num patamar inferior aquele observado no mesmo período de 2008. No quarto trimestre de 2009 o PIB cresceu em todas as formas de comparação, sendo possível afirmar que o país superou a pior parte crise, pelo menos do ponto de vista do PIB, conforme o gráfico 20. Contudo, mesmo com a recuperação, a taxa anualizada do produto em 2009 apresentou queda de 0,33%.

A produção industrial, um dos principais indicadores no nível de atividade, teve uma forte queda entre outubro de 2008 e fevereiro 2009, conforme visto no capítulo 2 (gráfico 5). A partir de maio de 2009 a produção da indústria de bens de capital, bens intermediários e de bens de consumo iniciam um processo gradual de recuperação. Entretanto, a produção industrial terminou o ano de 2009 em patamar inferior ao nível pré-crise. 0,8% -3,0% -2,8% -1,8% 5,0% -4,2% -2,0% 2,0% 2,5% 2,4% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 2008 4T 2009 1T 2009 2T 2009 3T 2009 4T

Mesmo trimestre do ano anterior Trimestre imediatamente anterior

Gráfico 20 – Taxa de variação (%) do PIB segundo tipo de comparação set/08-dez/09

Dessa forma, a decisão do BCB em manter a Selic na reunião de setembro de 2009 decorreu dos efeitos prováveis da política monetária sobre a inflação prospectiva. À medida que a recuperação da economia se tornou sustentável em meados de setembro, o BC temeu que o estímulo monetário do primeiro semestre resultasse na aceleração dos preços. Isto fica claro quando se observa o ritmo de redução da taxa Selic ao longo de 2009. Enquanto que nas reuniões de abril e junho o Copom reduziu a taxa de juros em 1 p.p., na reunião seguinte (julho), a reduziu em apenas 0,5 p.p. Depois, na reunião de setembro, o Copom decidiu interromper a queda da Selic ao mantê-la em 8,75% a.a. Segundo o BCB esta foi uma decisão cautelosa e preventiva em um quadro marcado pela recuperação da economia.

Pelo parágrafo 25 da ata das reuniões do Copom de julho e setembro fica claro que a mudança na estratégia da política monetária do BCB foi influenciada pela nítida recuperação da economia em um ambiente de significativo estímulo monetário. Na reunião de julho a preocupação já existia, mas não estava explícita:

O Comitê entende que decisões sobre a evolução da taxa básica de juros têm que levar em conta a magnitude do movimento total realizado desde janeiro, cujos impactos sobre diversos indicadores econômicos ficarão evidentes ao longo do tempo. (COPOM, 2009b, §25).

Já na reunião de setembro a preocupação do BCB ficou mais evidente:

O Comitê entende que decisões sobre a evolução da taxa básica de juros têm que levar em conta a magnitude do movimento total realizado de janeiro a julho, cujos impactos sobre diversos indicadores econômicos ficarão evidentes ao longo do tempo, em contexto de retomada paulatina da utilização dos fatores de produção. (COPOM, 2009c, §25, grifo nosso).

4.2.2 O BCB perdeu a oportunidade de convergir à taxa de juros para os padrões