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Sabemos que o Sol é a fonte primária de energia da Terra e con- tribui com 99,998% de toda a energia do planeta. Isso já ficou claro na relação do balanço energético Sol-Terra apresentado até então. Aqui, o que nos chama atenção são os ciclos de manchas solares. As manchas solares ocorrem geralmente em um período de onze anos e constituem regiões mais frias e mais escuras que a fotosfera circunvizinha do Sol. Essas manchas geralmente emitem cerca de 25% menos energia que a fotosfera circunvizinha propriamente dita, porque apresentam um intenso campo magnético impedindo

que a radiação seja facilmente emitida. Porém, associadas a essas manchas aparecem as fáculas, que, por sua vez, são regiões mais brilhantes e ocupam área maior que as manchas solares, fazendo com que elas emitam 15% mais energia que a média da fotosfera, o que acaba compensando a deficiência provocada pelas manchas e, muitas vezes, supera esse decréscimo, alcançando um pico má- ximo de irradiação aproximadamente a cada onze anos (Echer et al., 2003).

Também a incidência de raios cósmicos galácticos na Terra é observada ser anticorrelacionada ao ciclo das manchas solares, pois durante períodos de máximo solar, o campo magnético na helios- fera tem uma estrutura mais complexa, e blinda melhor o Sistema Solar interno [Kivelson; Russel, 1995]. Variações com o ciclo solar na alta atmosfera da Terra (ionosfera) e na camada de ozônio terres- tre são bem conhecidas. Possíveis efeitos do ciclo solar no clima da Terra têm sido estudados e embora esse assunto ainda seja contro- verso, há várias evidências indicando uma variação de 11 anos em vários parâmetros climáticos. (Hoyt; Schatten, 1997 apud Echer et al., 2003).

Para Piers Corbyn (2009), há uma forte relação entre a variação de temperatura e a atividade solar, apontando, ainda, que os even- tos climáticos extremos possuem uma enorme relação com os ciclos solares e os períodos de máximos solares. Segundo o pesquisador, o pequeno período glacial do Holoceno (1350 a 1860) apresentou quase nenhuma mancha solar visível, um período de inatividade solar que ficou conhecido como o “Mínimo de Maunder”. Essa re- lação entre ciclos solares e temperatura também foi estabelecida por Friis-Christensen e Lassem (1991) em artigo publicado na revista Science. Nota-se que, estabelecendo uma comparação praticamente similar àquela estabelecida pelo IPCC entre temperatura e carbono para os períodos de intensa atividade solar e as altas temperatu- ras, conseguem-se resultados impressionantes, conforme ilustra a Figura 15.

Figura 15 − Correlação entre temperatura e eventos solares ao longo dos anos

Fonte: Friis-Christensen; Lassen, 1991

Analisando o gráfico podemos notar uma relação que extrapola os limites dos períodos de manchas solares caracterizados por ape- nas onze anos. Há uma relação em um período extenso, o que torna o estabelecimento dos parâmetros mais confiáveis.

Um período que fica sem explicação nos relatórios do IPCC é aquele que compreende os anos de 1940 a 1970. Nesse período, houve um leve resfriamento da Terra, e muito se falava em uma nova glaciação. Porém, trata-se de um período em que as emissões de CO2 eram intensas, principalmente na Europa, que vivia um pós-guerra e um período de reconstrução. Como explicar então altos índices de emissão de GEE com um decréscimo das tempera- turas? Se analisarmos pela relação estabelecida entre intensidade da atividade solar e variação da temperatura, fica fácil explicar. Note pelo gráfico que a temperatura e a atividade solar alcançam um pico por volta de 1940, e logo depois tem início uma variação positiva decrescente tanto da atividade solar quanto da temperatura.

Para Corbyn (2009):

A principal periodicidade dos efeitos da atividade solar – a maior periodicidade observada nos dados de temperatura mundial – é um ciclo de 22 anos (impulsionado pela conectividade magnética sol-

-terra). Assim, por metade do tempo, o ciclo de 11 anos de atividades de partículas, machas e radiação solar irá acompanhar o movimento da temperatura e, a outra metade do tempo irá mover-se contrária a ela. Isso é bem conhecido pelos cientistas do sol e do clima. Tudo o que os pseudo cientistas tem feito é essencialmente escolher inter- valos de tempo em que ambos os períodos movem-se em direções opostas e ignorados correlações em intervalos de tempo mais longos. Mas, para alguns cientistas, esse período de onze anos não ex- plica as alterações climáticas, uma vez que a variação da radiação de alta energia e das partículas associadas às explosões solares tem influência significativa na alta atmosfera, mas pouco influi no ba- lanço de energia da Terra e, portanto pouca influência exerce sob o clima. A variação de energia entre os picos mínimos e máximos dos ciclos de onze anos seria de 1,5 W/m2, o que produziria uma alteração de 0,1 ºC na temperatura. Os sistemas naturais não teriam tempo para responder a esse curto período, principalmente os ocea- nos (Onça, 2011, p.108).

Mesmo assim, ainda aparecem posições científicas fortes que afirmam que essa relação é, sim, de grande importância. Lamb (1995) aponta que em 1915 e 1964, anos em que as temperaturas mostraram-se mais altas, a duração média do “ciclo” de manchas solares foi de 10,2 anos, com um número considerável de manchas, o que se verificou em outros períodos quentes, como no final do Império Romano e na alta Idade Média. O mínimo de Spörer, com duração aproximada de doze anos, e o mínimo de Maunder são ve- rificado nos mesmos períodos de clima mais frio, aproximadamente na Pequena Era Glacial na Europa (ibidem, p.108).

Ried (1987) apresenta uma relação entre as tendências dos nú- meros de manchas solares e a temperatura do oceano (Figura 16). Contrariando o que já foi dito, para ele, quanto maior o número de manchas solares, maiores as temperaturas de superfície dos oceanos. Essa afirmação reforça a ideia de que o sistema climático da Terra é algo extremamente complexo e interativo, e nada se explica por um elemento de forma isolada, mas na interação de vários elementos.

Figura 16 − Relação entre TSM e número de manchas solares

Fonte: Baptista, 2009