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Para projetar e simular o clima futuro, o IPCC criou alguns ce- nários de emissões. Esses cenários representam uma simulação do possível desenvolvimento futuro das emissões de substâncias que têm um efeito radiativo potencial (gases de efeito estufa, principal- mente o CO2, e aerossóis), baseados em uma combinação coerente e internamente consistente de hipóteses sobre forçantes controla-

doras, como demografia, desenvolvimento socioeconômico e mu- dança na tecnologia, assim como suas interações. Tanto no TAR quanto no AR4 estão apresentados e classificados esses cenários (SRES) de acordo com algumas projeções e classificados como A1, A2, B1, B2, porém com alguns avanços para esse último relatório, como se vê no Quadro 1.

Quadro 1 − Classificação dos cenários climáticos do Relatório Especial sobre Ce- nários de Emissões do IPCC (Rece)

O que podemos tirar desses resultados é que, mesmo com a es- tabilização das emissões nos padrões dos anos 2000, o clima aque- ceria a uma proporção de aproximadamente 0,1 ºC por década até 2100. Mas para uma faixa de emissão dos cenários do Rece, esse padrão sobe para 0,2 ºC por década. Desde os primeiros relatórios, esse aquecimento era estimado na faixa de 0,15 ºC a 0,3 ºC para o período de 1990 a 2005, e, segundo os resultados apresentados, essa faixa confirmou-se em 0,2 ºC, o que deu mais confiança às proje- ções de curto prazo feitas pelos modelos.

A nova avaliação das faixas prováveis agora baseia-se em um número maior de modelos do clima, de crescente complexidade e realismo, bem como em novas informações acerca da natureza dos processos de realimentação do ciclo do carbono e das restrições sobre a resposta do clima a partir de observações. A melhor esti- mativa para o cenário baixo (B1) é de 1,8 ºC (a faixa provável é de 1,1 ºC a 2,9 ºC), e a melhor estimativa para o cenário alto (A1FI) é de 4 ºC (a faixa provável é de 2,4 ºC a 6,4 ºC), de acordo com a Figura 6. Embora essas projeções sejam amplamente condizentes com a faixa mencionada no TAR (de 1,4 ºC a 5,8 ºC), elas não são diretamente comparáveis. O quarto relatório de avaliação é mais avançado, uma vez que fornece melhores estimativas e uma faixa de probabilidade avaliada para cada um dos cenários marcadores.

Se as emissões de GEE e aerossóis de origem antrópico conti- nuarem na mesma proporção dos padrões atuais ou acima deles, isso acarretará um aquecimento adicional nos padrões de tempera- tura no século XXI, muito provavelmente maior do que o observa- do durante o século XX. Um aquecimento dessa proporção tende a reduzir o sequestro de carbono natural do sistema climático, uma vez que a resposta dos oceanos é muito lenta a essa tendência de remoção, o que faz com que a concentração da fração de emissões antrópicas tenda a aumentar. Esse aumento na concentração acar- retaria, por exemplo, para o cenário A2 do Rece, um aquecimento adicional de cerca de 1 ºC em 2100. Nos gráficos da Figura 7 estão apresentadas às projeções de emissões futuras de acordo com cada cenário do Rece para melhor compreensão da gravidade do proble- ma apontado pelo relatório do IPCC.

Figura 6 − Médias multimodelos e intervalos avaliados para o aquecimento superficial

Fonte: IPCC, 2007

Figura 7 − Emissões antropogênicas (CO2, N20, CH4, S20) para os quatro cená- rios ilustrativos SRES (A1, A2, B1, B2)

Sendo assim, as conclusões são objetivas. O aquecimento proje- tado revela padrão geográfico independente dos cenários, mostran- do que será maior sobre o continente, e na maior parte das latitudes altas do norte, e menor sobre o oceano e partes do Oceano Atlân- tico. Há projeções para redução da cobertura de neve, além de um derretimento geral de grande parte das regiões de permafrost (solo e subsolo permanentemente congelados).

No que se refere ao gelo marinho, a projeção aponta para uma re- dução na mesma proporção tanto no Ártico quanto na Antártica para todos os cenários do Rece, podendo, para alguns cenários, desapare- cer em alguns períodos do verão. Há, no relatório, a assertiva de que é muito provável que os extremos de calor e ondas de calor sejam cada vez mais frequentes, assim como os eventos de forte precipitação.

Com o aumento das temperaturas dos oceanos e principalmente do Atlântico Norte, os modelos indicam ser muito provável que os futuros ciclones tropicais sejam cada vez mais frequentes, com precipitação e ventos cada vez mais intensos, desconsiderando a possibilidade de alguns modelos que apontaram para a não relação entre aquecimento e intensidade dos furacões.

Aponta-se, também, que as tempestades extratropicais sigam cada vez mais para os polos, como consequência das mudanças nos padrões dos ventos e da precipitação, seguindo os padrões de tendências atuais observadas há quase meio século. Desde o TAR, os avanços nas tendências de precipitação têm melhorado nas modelagens climáticas, e a tendência observada é a de que muito provavelmente haverá um aumento da quantidade de chuvas nas altas latitudes, enquanto há tendências de diminuição nas regiões subtropicais. Para o Cenário A1, por exemplo, é provável que essa redução alcance o índice de cerca de 20%.

Outra mudança observada tem relação com a Circulação Oceâ- nica Meridional (COM) do Oceano Atlântico, que, segundo os modelos, tem muita probabilidade de ficar cada vez mais lenta no século XXI, variando de 0% a 50% para o Cenário A1B do Rece. O relatório afirma, ainda, que é muito provável que a COM passe por transformações abruptas durante o século XXI, mesmo com as

incertezas geradas pelas simulações de longo prazo. Mesmo assim, as temperaturas do Oceano Atlântico têm grande tendência de aquecimento, oriundo da intensificação das emissões de GEE.

Ainda segundo o relatório, “o aquecimento antrópico e a ele- vação do nível do mar continuariam durante séculos em razão das escalas de tempo associadas aos processos climáticos e realimenta- ções, mesmo que as concentrações de gases de efeito estufa se esta- bilizassem”. Projetar em longo prazo o processo de realimentação é algo extremamente complexo, o que aumenta o nível de incerteza dessa questão. Mas o que se espera é que o acoplamento clima-ciclo do carbono acrescente CO2 na atmosfera à medida que o sistema climático se aqueça. Segundo o IPCC (2007, p.23):

Com base na compreensão atual da realimentação entre o clima e o ciclo do carbono, os estudos com modelos sugerem que, para se estabilizar em 450 ppm de dióxido de carbono, seria necessário que as emissões cumulativas de dióxido de carbono ao longo do século XXI fossem reduzidas de uma média de aproximadamente 670 [630 a 710] Gt C (2460 [2310 a 2600] Gt CO2) para aproxi- madamente 490 [375 a 600] Gt C (1800 [1370 a 2200] Gt CO2). De forma similar, para se estabilizar em 1000 ppm, esse processo de realimentação poderia necessitar que as emissões cumulativas fossem reduzidas de uma média do modelo de aproximadamente 1415 [1340 a 1490] Gt C (5190 [4910 a 5460] Gt CO2) para cerca de 1100 [980 a 1250] Gt C (4030 [3590 a 4580] Gt CO2).

A elevação dos níveis dos oceanos é outro ponto interessante de ressaltar. O relatório constata que, a partir da aplicação de uma hie- rarquia de modelos simples como os Earth System Model of Inter- mediate Complexity (EMCI) e um grande número de AOGCMs, para os cenários do Rece, essa elevação varia entre 0,18 metro, para o Cenário B1, e 0,59 metro, para o Cenário A1F, em que as tem- peraturas atingiriam cerca de 4 ºC acima das médias atuais. Essa projeção foi feita para os períodos de 2020 a 2029 e de 2090 a 2099, conforme resultados apresentados na Figura 8.

ENTRE A CIÊNCIA, A MÍDIA E A SALA DE AULA

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Porém, projeções apontam que a contração do manto de gelo da Groenlândia continue a contribuir para a elevação do nível dos oceanos após 2100. Isso aconteceria porque a velocidade da retração do manto de gelo não consegue ser suprido pelo aumento da pre- cipitação, com isso o balanço de massa da superfície passaria a ser negativo, com uma estabilização da temperatura acima de 1,9 ºC. Se essa mudança persistisse, o manto de gelo da Groenlândia seria pra- ticamente zero, e as temperaturas, bastante elevadas. Essa mudança acarretaria um aumento do nível dos oceanos em até 7 metros, algo muito semelhante, segundo estudos paleoclimáticos, a um período de 125 mil anos atrás, quando os oceanos estavam de 4 a 6 metros mais elevados que agora.

O relatório é finalizado com a afirmação de que todas as emis- sões antrópicas de CO2, tanto passadas quanto futuras, continuarão a influenciar o aumento do nível dos oceanos e o aquecimento das temperaturas globais por mais de um milênio em razão das escalas de tempo necessárias para a estabilização desse gás na atmosfera. Na figura seguinte há uma distribuição espacial dos efeitos citados, de acordo com o quarto relatório do IPCC (ibidem).