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1. DESENHO DA PESQUISA

1.2. Questão de Partida/Problematização

1.2.2. Conceito de Cidadania

1.2.2.1. Cidadania Ambiental

A cidadania ambiental é um acto prático do quotidiano das pessoas, que as vinculam aos recursos naturais e ao desenvolvimento sustentado do planeta. O ser humano faz parte do ambiente e por isso interfere com as suas acções na dinâmica ambiental e, às vezes fá-lo de um modo totalmente negativo, sem a devida preocupação com os outros seres vivos que com ele partilham o mesmo espaço.

Como cidadãos, todos nós temos uma importante responsabilidade ambiental, por isso as pessoas têm direitos e deveres a cumprir para com o ambiente, só desta forma poderão em conjunto com os demais cidadãos de outros países lutar pela defesa da vida com qualidade e bem-estar geral.

O exercício da cidadania ambiental é um instrumento de consolidação democrática quando se tornou num movimento social com espaço importante na política e veículo promotor de discussão das causas e consequências dos fenómenos e desastres ambientais que ocorrem um pouco por todo o planeta, de forma a alertar e prevenir a opinião pública pelos riscos implícitos nesses acontecimentos provocados pelo desequilíbrio ambiental e reflectir sobre novas soluções para o futuro.

Assim, pode-se dizer que a globalização das questões ambientais tem as suas raízes no impacto provocado pelas catástrofes ecológicas, e nas ameaças à desertificação, destruição da camada de ozono, poluição, etc. Os movimentos ambientalistas e os partidos verdes surgiram na década de 80 e defendiam uma nova postura no

relacionamento sociedade-natureza, que tem feito eco das preocupações das populações e que marcaram a sua mundialização, com consequência directa na melhoria da qualidade ambiental.

A cidadania ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e que promova a justiça social em harmonia com a natureza. Com a cidadania ambiental, os direitos que outrora estavam apenas centrados no homem são alargados aos não-humanos e passam a garantir a integridade do “património comum da humanidade”, reconhecendo juridicamente o princípio de responsabilidade para com as gerações futuras (Santos, 2005a).

Hoje, fala-se em cidadania ambiental como ponto de partida da análise devido à necessidade de enfatizar a dimensão ambiental nas relações sociais que contemplam as inter-relações entre o meio natural e o social.

Como se sabe, a cidadania ambiental surgiu recentemente na teoria política e concentra- se nos papéis que os cidadãos têm que desempenhar na vida democrática e na promoção da sustentabilidade. Os indivíduos cientes das suas responsabilidades participam como cidadãos activos, dispostos a cumprir os direitos ambientais que lhes são reconhecidos, e sempre que democraticamente solicitados estão aptos para participarem na tomada de decisões públicas que lhes dizem respeito.

Mas, a cidadania ambiental desempenha outros papéis que visam promover o desenvolvimento sustentável através da prática individual e colectiva. Transmite a ideia de que cada um de nós é parte integrante de um ecossistema maior e que o futuro da humanidade depende de cada um de nós, da decisão de abraçarmos o desafio de agir de forma responsável e positivamente em defesa do meio ambiente. A cidadania ambiental também significa fazer escolhas e mudanças a favor do ambiente, na prática é ser-se cidadãos ambientais durante todo o dia, a cada dia.

Especificamente em questões de ambiente, torna-se fundamental reconhecer que o envolvimento e consciencialização dos cidadãos são um factor determinante para o empenho ambiental; e, antes disso, reconhecer que a rapidez das mudanças ambientais em curso exige que o cidadão esteja informado de modo a participar activamente nas transformações a efectuar (Smith, 2000).

A cidadania ambiental é versátil e desenvolve estratégias de informação e de comunicação, acções que possibilitem a disseminação e troca de informações, permitindo ao cidadão comum acesso aos canais e aos meios considerados mais adequados, levando em consideração as exigências da sociedade actual.

Outro aspecto que se coloca é o das fontes de informação ambiental. Vários estudos têm demonstrado que, face ao défice de cultura ambiental da população portuguesa e às dificuldades no acesso a outras fontes, os meios de comunicação social desempenham um papel crucial relativamente a esta matéria, tanto pela forma abrangente como ocupam o espaço público, como pela forte dependência mediática da própria informação ambiental (Schmidt, 2003: 69).

Dada a sua influência, parece ser hoje indiscutível o papel dos meios de comunicação social na transmissão de informação de cariz ambiental para a população, com a particularidade dos meios de comunicação tradicionais continuarem a ser no nosso país a principal fonte de informação ambiental a que os cidadãos recorrem (Nave et al., 2004: 241). A televisão em particular, porque não se limita a divulgar factos e opiniões, apresenta também imagens e, sobretudo, constrói uma narrativa com uma enorme influência cultural (Smith, 2000).

Quanto aos novos media, a Internet e as redes de comunicações digitais estão a alterar o processo comunicacional no mundo de hoje e, no caso específico da informação ambiental, a transformar o modo como as sociedades lidam com os problemas ambientais, ao colocarem à distância de um clique informação ambiental relevante e a promover a participação dos cidadãos (Scharl, 2004).

Não é fácil definir cidadania ambiental, porquanto esta disciplina é estruturada numa base interdisciplinar que integra uma perspectiva pluridimensional de conhecimentos no relevante campo de estudo das ciências ambientais, que traduzem um conjunto de relações sistémicas convergentes, capaz de garantir um diálogo específico que permitam a compreensão do meio ambiente numa interacção plena com outras áreas do conhecimento dessa complexa realidade multidisciplinar na tentativa de harmonizar a elaboração de uma síntese que defina o conceito.

Por conseguinte, a cidadania ambiental é um tema presente no dia-a-dia das pessoas que liga os indivíduos às diferentes facetas do relacionamento com a natureza como por

exemplo: o dever de a respeitar, o dever de solidariedade, ajuda mútua e de vizinhança, o dever de poupar os recursos naturais, e outros, e é com certeza um dos assuntos mais relevantes da actualidade pois abrange as características civis, política e sócio- ambientais que integram acções e comportamentos relacionados com o ambiente e, com a exigência de novas condições de vida que aumentem a dignidade humana.

Contudo, não é um processo fácil devido à degradação permanente do meio ambiente pela inconsciência e desresponsabilização da população mundial que decorre da desinformação e que agora a todos obrigam a uma maior reflexão sobre os desafios e as ameaças que a humanidade enfrenta no sentido de mudar as formas de pensar e agir numa perspectiva contemporânea para salvaguardar o meio ambiente e resolver os crescentes e complexos problemas ambientais que vão surgindo. Reverter essa situação é sobretudo um trabalho educativo e essencialmente político no que toca ao desenvolvimento económico que não comprometam o ambiente e, que implica a tomada de consciência do papel que cada cidadão desempenha em prol de uma presença mais equilibrada do ser humano na Terra.

A cidadania ambiental é assim uma dimensão da cidadania política, um modo consciente de agir e um exercício de práticas compatíveis que exigem uma determinada condutas em relação ao ambiente, tendo como preocupação preservar e assegurar a sobrevivência de todas as espécies, mantendo saudável o equilíbrio ambiental e desta forma evitar a detioração ambiental do planeta e da sociedade, visando um desenvolvimento sustentável como prioridade emergente da sociedade actual que se quer informada e instruída, elementos determinantes para a generalização das atitudes e práticas de cidadania ambiental, e essenciais na criação duma consciência colectiva, global e na conservação dos recursos naturais.

Este conjunto de condições fazem com que a cidadania ambiental seja exercitada sempre que se promovam mecanismos e instrumentos efectivos de participação activa que permitam aos seres humanos actuar de modo construtivo na defesa da diversidade da natureza viva, do património natural e cultural do planeta, contribuindo assim para a redução da crise ambiental e diminuir o flagelo do aquecimento global.

Para que a Cidadania Ambiental se realize, é necessário que ela tenha por base uma prática democrática assente nos princípios da justiça, da educação e da solidariedade, de

constituindo desse modo um desafio para as autoridades locais que gerem a melhoria da qualidade de vida e de bem-estar das populações.

Bell e McGillivray, definiram a cidadania ambiental como a noção de que os indivíduos devem assumir a responsabilidade pela sua própria interacção com o ambiente (L. Environment).

A construção de cidadania ambiental requer mudanças culturais, científicas e sociais no pensamento vigente em ruptura com uma larga tradição de indiferença cidadã (Santos, 2005a). Um exemplo prático dessa ruptura começa pela adopção de um estilo de vida que ajuda a proteger o meio ambiente.