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1. DESENHO DA PESQUISA

1.2. Questão de Partida/Problematização

1.2.3. Educação para a cidadania

"O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele." Immanuel Kant

A educação é um bem que é da responsabilidade individual, mas que diz respeito a todos, já que se trata da formação das pessoas. Tem um papel e um valor estratégico fundamental que exige da escola uma atitude consequente. Educação é muito mais que um processo de ensinar e aprender (aprendizagem factual e conceptual), acontece que "educar é uma ciência e uma arte; uma arte porque não tem regras fixas, ou seja, cada caso é diferente, cada circunstância é única" (Educacional).

Mas, a educação para a cidadania é um processo ao longo da vida, que surge do diálogo e da reflexão sobre as experiências da vida e, é indissociável do processo de formação pessoal e social. A educação para a cidadania é diferenciada e resulta das preocupações sentidas pelos indivíduos, mas, não deve resumir-se apenas a uma soma de direitos ou deveres - à democracia - visa também desenvolver o conhecimento, a compreensão, as capacidades (têm que ser aprendidas), as atitudes, os valores e a participação activa que ajudam a resolver problemas relevantes da comunidade e da sociedade (Reis, João, 2002).

Embora a educação e cidadania pareçam ser a mesma coisa, são na verdade conceitos verdadeiramente distintos. No entanto, como são termos que se complementam devem permanecer ligados pois são processos indissociáveis na formação pessoal e social dos indivíduos e com uma dimensão preponderante na realização pessoal do ser humano.

Pelo seu carácter intencional, a educação e a cidadania têm implicações fortes no desenvolvimento e na construção da sociedade e contribuem significativamente para dignificar a consciência cívica, o sentido de responsabilidade e o espírito crítico das pessoas.

Estes dois instrumentos, conjuntamente com a igualdade e a liberdade constituem os direitos que definem os cidadãos e que os harmonizam democraticamente de modo a que possam interrelacionar (viver juntos) e progressivamente descobrir a melhor forma de agir uns com os outros nas diversas circunstâncias da vida. Segundo (Delors, 1996) "a educação para a cidadania constitui um conjunto complexo que abraça, ao mesmo tempo, a adesão a valores, a aquisição de conhecimentos e a aprendizagem de práticas na vida pública. Não pode, pois, ser considerada como neutra do ponto de vista ideológico".

A cidadania depende cada vez mais da educação, uma vez que esta tem como função transmitir conhecimentos e saberes, atitudes, valores e normas sociais que ajudam a criar hábitos que humanizam os indivíduos perante a realidade da vida, tornando-os cidadãos da sociedade e do mundo, com a noção/visão clara de que as acções individuais de cada um podem afetar não apenas a eles próprios, mas a vida de todas as comunidades, mesmo aquelas consideradas afastadas do ponto em que se encontram. Mas, para que tal aconteça é preciso muito empenho e dedicação para mudar hábitos antigos, velhos paradigmas que já não se coadunam com o perfil da geração actual que já nascem integrados num mundo globalizado e capazes de lidar com as novas tecnologias digitais, desenvolvendo soluções inovadoras e sustentáveis para responder aos grandes desafios sociais e ambientais impostos pela sociedade moderna.

A cidadania acompanha as mudanças na sociedade e utiliza nas suas manifestações temas actuais, reais que traduzem a preocupação, o compromisso com a formação e a educação integral do ser humano, proporcionando-lhe uma inserção responsável, condições necessárias para que os indivíduos aprendam a desenvolvem competências que promovam os saberes e que os mobilizam para o importante papel da construção e transformação da sociedade, adaptando-a às novas necessidades perante um mundo em constante mudança. Como diz (Delors, 1996: 60) “a educação não pode contentar-se em reunir as pessoas, fazendo-as aderir a valores comuns forjados no passado. Deve […] dar a cada um, ao longo de toda a vida, a capacidade de participar, activamente, num

projecto de sociedade”. Deste modo, a educação para a cidadania tem como preocupação educar para os costumes, atitudes, posturas e relações com os outros, com Deus e o mundo (Mogarro e Martins, 2008; Damião, 2005; Ross, 2004, 2008).

A Educação para a Cidadania9 (EpC) tem a finalidade de contribuir para ajudar os cidadãos a tornarem-se cidadãos activos, informados e responsáveis. Uma das funções da EpC é a de ajudar os estabelecimentos de ensino, as escolas e universidades a produzir alunos motivados e responsáveis, capazes de relacionarem positivamente entre si, com os funcionários e com a comunidade que os envolve. Assim, a EpC está associada à responsabilidade social e moral, à participação na comunidade e à literacia política.

É exactamente nesse ponto, porque a literacia exige, que o sistema educativo é chamado a participar não isoladamente, mas numa parceria com outras instituições que urge recuperar. Concordamos com (Ludovice, Paixão, 2000:11) “a educação para a cidadania constitui uma garantia da democracia e só pode realizar-se em contextos experienciais democráticos. Diz respeito a todas as instituições de socialização, de formação e de expressão da vida pública mas, naturalmente, cabe aos sistemas educativos desenvolverem, nas crianças e nos jovens, os saberes e as práticas duma cidadania activa”.

Esse “rótulo”, que entrou no vocabulário português recentemente, para uns tem “uma transparência inquestionável, até invejável, para outros acaba por ser mais um termo” (Pinto, 2002:96).

O termo literacia tem várias definições possíveis, mas detenhamo-nos nas suas várias definições que, embora diferentes, têm sempre um denominador comum.

Em suma, literacia não é uma “capacidade única, […] nem um número infinito de capacidades” (Irwin apud Benavente, 1996:7) e define-se como “a capacidade de leitura, escrita e cálculo, com base em diversos materiais escritos (textos, documentos,

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A Educação para a Cidadania visa o desenvolvimento de competências, nas crianças e nos jovens, para o exercício dos seus direitos e responsabilidades, para o respeito da diversidade social e para o desempenho de um papel activo na vida democrática da escola, da comunidade e da sociedade em geral, tendo como referência os valores dos Direitos Humanos (DGIDC.min-edu.pt).

gráficos), de uso corrente na vida quotidiana (social, profissional e pessoal) e centra-se no uso de competências e não na sua obtenção” (Benavente, 1996:4). Pode ainda definir-se como “uso de informação impressa e escrita que permita funcionar em sociedade, atingir objectivos pessoais, bem como desenvolver e potenciar os conhecimentos próprios” (Kirsch, 1993).

A educação para a cidadania abrange todas as áreas de educação. Vai, desde a educação informal em casa ou através de associações juvenis a tipos mais formais fornecidos pelas escolas, universidades e locais de trabalho.

A política educativa obedece a um Enquadramento legislativo que são orientações de política educativa facilitadoras do desenvolvimento da educação para a cidadania:

 Lei de Bases do Sistema Educativo

 Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar

 Princípios Orientadores do Currículo do Ensino Básico e Secundário

Algumas das informações sobre a Lei de Bases do Sistema Educativo, constantes na (Lei nº 49/2005 de 30 de Agosto) são:

 “O sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social, contribuindo para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho.” (artigo 2º, parágrafo 4º);  “A educação promove o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista,

respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva”. (artigo 2º, parágrafo 5º);

 Princípio organizativo do Sistema Educativo “Contribuir para a realização do educando, através do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter e da cidadania, preparando-o para uma reflexão consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhe um equilibrado desenvolvimento físico.” (alínea b), artigo 3º), (DGIDC).