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2.2. LUGARES DO MUNICÍPIO DE CAIRU NO CONTEXTO DO CRESCIMENTO DO TURISMO

2.2.3 A cidade de Cairu

Sede administrativa do município, a cidade de Cairu foi ocupada seguindo o mesmo padrão das duas localidades abordadas anteriormente: em uma área elevada estava a sede do poder e a ocupação civil e na parte baixa, se concentravam o comércio e o porto.

A cidade se localiza entre ilhas de Tinharé e Boipeba e o continente, o que faz com que, apesar de ilha, a localidade não esteja em área litorânea, situação que nesse caso, não favoreceu a intensificação do turismo, apesar do grande acervo histórico lá existente. Seu nome primitivo era Aracajuru que significa “Casa do Sol” (BAHIA, 2001).

O acesso a Cairu pode ser realizado por via terrestre, de carro ou de ônibus, por meio de uma linha que sai diariamente do Terminal de Bom Despacho, na Ilha de Itaparica, e também por meio de embarcações que saem do terminal de Valença e de Graciosa, no município de Taperoá, e desembarcam no Cais de Cairu (Figura 11). De Graciosa o transporte é feito por lanchas pequenas com capacidade entre cinco e sete passageiros, saindo a qualquer momento desde que haja no mínimo quatro pessoas para embarcar ou por meio de fretamento. A passagem individual custa R$ 4,00 e o trajeto dura em média 10 minutos. É possível embarcar nas mesmas lanchas que fazem o trajeto de Valença até Boipeba, sendo que para Cairu, a passagem custa R$ 25,00.

Figura 11: Cais de Cairu

Fonte: Pesquisa de Campo, 2010

Figura 12: Convento de Santo Antônio de Cairu

Fonte: Pesquisa de Campo, 2010

Figura 13: Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário em dia de apresentação da Fanfarra Municipal

Fonte: Pesquisa de Campo, 2010

A atividade turística na localidade, só se desenvolve a partir dos passeios de volta à Ilha, organizados pelas agências de Morro de São Paulo. Os passeios chegam no final da tarde. Os turistas permanecem em torno de 40 minutos a 1 hora, fazendo o percurso do centro histórico que consiste em uma rua que liga o cais ao Convento de Santo Antônio (Figura 12), principal atrativo turístico da cidade que foi construído no Século XVII e atualmente está sendo restaurado com recursos da Petrobras. A reforma do convento também será financiada pelo PAC das cidades históricas do Governo Federal, assim como a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário (Figura 13). Por ter sido uma das primeiras cidades fundadas no Brasil, Cairu conta com um conjunto arquitetônico em estilo colonial (Figura 14), que possui função residencial, comercial e administrativa. Em alguns casos, as casas necessitam de reparos devido à sua estrutura comprometida (Figura 15).

Figura 14: Centro de Cairu em dia de saída dos caretas Fonte: Pesquisa de Campo, 2010

Figura 15: Solar no centro de Cairu Fonte: Pesquisa de Campo, 2010 Atualmente a localidade dispõe de 2 pousadas, num total de 89 leitos e 2 restaurantes que servem aos visitantes que geralmente vão à localidade a trabalho, em geral para a prefeitura. A única forma de pagamento é em dinheiro ou em cheque e as diárias, no caso das pousadas, variam entre R$ 30,00 e R$ 60,00.

Uma característica da população é a grande dependência da prefeitura, especialmente pelo fato de praticamente não existirem atividades econômicas no setor de serviços ou da indústria. A população local vive basicamente da pesca e da extração da piaçava.

Em estudo sobre o município, França (2008, p.101) entrevistou alunos do ensino médio do Colégio Cândido Meireles, situado na cidade, e comprovou que esses jovens veem o município mais como área pesqueira do que turística. Ao pedir que eles citassem a atividade econômica mais importante para o município 47% responderam que é a pesca, seguida do turismo e cultura com 27%, da extração de piaçava com 13%, da extração de dendê com 10% e do comércio com 3%. Percebe-se aqui, que o turismo ainda não está inserido no cotidiano das pessoas desta localidade, visto que na cidade de Cairu, ele só ocorre na forma de visitação à Igreja e Convento de Santo Antônio de Cairu. Isso confirma também um fato perceptível em todas as localidades visitadas: a de que o sentimento de pertencer está limitado à localidade onde vivem. O fato de ser um arquipélago dificulta a circulação das pessoas pelo município, o que

impede a criação de vínculos com outras localidades. Por isso, ao serem questionados sobre o turismo em Cairu, 100% dos entrevistados que vivem na cidade de Cairu responderam que lá não há turismo.

A mesma pesquisa mostrou um interesse desses jovens em trabalhar em atividades relacionadas ao turismo. 86% dos entrevistados responderam que tem interesse em trabalhar com a atividade, apesar de eles não considerarem Cairu uma cidade turística. O tempo de viagem e o custo do transporte torna inviável que os moradores da cidade de Cairu procurem emprego em Morro de São Paulo ou em Boipeba. O transporte entre Morro de São Paulo e Cairu, por exemplo, é realizado as terças e quintas, saindo de Morro às 06h30 e chegando em Cairu às 09h e retornando às 12h30, ao custo de R$ 8,00 o trecho. O fato de só existir esse transporte duas vezes por semana, inviabiliza qualquer tentativa de alguém que more em Cairu e queira trabalhar em Morro de São Paulo. Outra forma seria fretando uma lancha, ou então indo por Valença. No caso da viagem por Valença, o trajeto pelos meios mais baratos, ou seja, os barcos mais lentos, custa em torno de R$ 10,00 por trecho e o trajeto duraria aproximadamente três horas. Em entrevista realizada com o Superintendente de Administração de Morro de São Paulo (ENTREVISTA 3, 2009), já se cogita a possibilidade de uma estrada que ligue Morro de São Paulo até um ponto mais próximo da ilha de Cairu, de onde seria realizado o transporte fluvial.

2.3. DO LOCAL AO GLOBAL: CONTEXTUALIZANDO AS REDES QUE LIGAM