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2.2. LUGARES DO MUNICÍPIO DE CAIRU NO CONTEXTO DO CRESCIMENTO DO TURISMO

2.2.1. Morro de São Paulo: o portal de entrada

O nome da vila foi escolhido pelos portugueses devido ao fato de estar situada em uma elevação. A sua fundação se deu em 25 de janeiro, dia de São Paulo. Como foi abordado anteriormente, a história de Cairu tem início com a povoação de Morro de São Paulo que inicialmente tinha uma função militar. Os Relatórios do Plano Diretor Municipal destacam esse importante papel na defesa e a aquisição de características de “núcleo urbano militar” (CAIRU, 2004).

Posteriormente, com o aumento da população e não havendo mais a necessidade de defesa do território, Morro de São Paulo passa a exercer novas funções. No século XVII, a produção de farinha de mandioca passou a ser a principal atividade da ilha de Tinharé, com destaque para Morro de São Paulo, que passa a ter uma função agrícola e extrativista. Mais tarde, a extração de piaçava e a atividade pesqueira viriam a complementar as atividades econômicas mais importantes da localidade até o final do século XX, quando o turismo se transforma na principal fonte de divisas para o município.

Inicialmente a ocupação de Morro de São Paulo se deu na área mais elevadas, onde foram construídos o Farol e a antiga Capela de Nossa Senhora da Luz. Na parte baixa da ilha, se concentravam o porto e as atividades comerciais. Quando a localidade perdeu a sua função militar, que permaneceu forte até o final da II Guerra Mundial, e com o crescimento da população, a parte baixa da vila foi sendo ocupada por novos moradores, veranistas e pelos empresários que começaram a implantar os primeiros equipamentos turísticos e de apoio ao turismo (CAIRU, 2004). Atualmente as áreas elevadas, menos valorizadas, são ocupadas em sua maior parte por moradores nativos e as áreas mais próximas do mar são ocupadas por pousadas, hotéis e moradores

com maior poder aquisitivo, geralmente empresários provenientes dos centros hegemônicos do país e do mundo.

Considerado o portal de entrada dos turistas no município, a vila é dotada de sítios históricos e naturais que lhe conferem uma beleza ímpar, descobertos a partir da década de 1970 com a chegada dos primeiros hippies a Morro de São Paulo que abriram assim, caminho para que outras pessoas conhecessem os seus recantos considerados paradisíacos. A chegada dos turistas provocou uma valorização dos imóveis localizados no centro turístico do povoado, inicialmente pela construção de pousadas e restaurantes e depois dos imóveis residenciais, fato que desencadeou algumas questões relacionadas à ocupação sem o devido planejamento e a especulação imobiliária, tema que será tratado mais adiante.

O acesso a Morro de São Paulo pode ser realizado de três formas: direto de Salvador, por meio dos catamarãs que saem diariamente do Terminal Marítimo Turístico, e desembarcam no cais de Morro de São Paulo (Figura 2), transporte que custa R$ 75,00 por pessoa e leva aproximadamente duas horas para chegar ao destino, sendo quatro opções diárias de horário; ainda saindo de Salvador pode-se optar pelo transporte aéreo, que leva 25 minutos, com aeronaves de pequeno porte, bimotor e monomotor – regular, ou fretado, sendo 4 horários regulares diariamente com preços que variam entre R$ 225,00 e R$ 231,00 a depender da empresa contratada - que partem direto do Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães e desembarcam na pista de pouso de Morro de São Paulo (Figura 3); outra alternativa são as embarcações que saem do Terminal Marítimo de Valença – localizado no centro da cidade - ou do Terminal Marítimo de Bom Jardim – localizado próximo ao distrito de Guaibim também em Valença. No caso do Terminal Marítimo de Valença, os valores variam entre R$ 6,00 e R$ 15,00, a depender do tipo de embarcação, nas quais a viagem pode levar entre 35 minutos e 1 hora e 30 minutos variando também de acordo com o tipo de embarcação e conforme a maré, e de 15 minutos a 1 hora saindo do Terminal de Bom Jardim. Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Turismo do Estado e pela Fundação Instituto de Pesquisas

Figura 2: Cais de Morro de São Paulo Fonte: Pesquisa de Campo 2009-2010

Figura 3: Pista de Pouso de Morro de São Paulo Fonte: Pesquisa de Campo 2009-2010

Relatórios elaborados pela Petrobras com a finalidade de realizar os projetos compensatórios devido à exploração de gás natural (PETROBRAS, 2007), apresentam algumas informações relacionadas à quantidade de estabelecimentos. Na época em que foi elaborado o relatório eram 109 meios de hospedagem, sendo 102 pousadas e sete hotéis, totalizando 4.754 leitos. Num período de alta estação, em que as pousadas ficam ocupadas em sua capacidade plena, a população da localidade chega quase a dobrar. Em outro levantamento, realizado pelo Conselho de Administração Participativa (CAP), em 2008 foram catalogados 128 meios de hospedagem, desde os mais econômicos como os albergues da juventude até os resorts, 34 barracas de praia, 44 bares e restaurantes, 61 lojas, 13 empresas de prestação de serviços, 3 imobiliárias, 8 lan houses, 18 agências de turismo, 11 empresas de lazer e entretenimento e 10 mercados e mini-mercados só em Morro de São Paulo.

A localidade é a única do município onde a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia faz pesquisa de turismo receptivo. Pode-se, portanto, estabelecer um perfil do turista que visita o local a partir da pesquisa realizada em janeiro de 2009, em parceria com a FIPE:

a) a média de idade dos turistas pesquisados é de 36,6 anos, sendo que 85% deles têm entre 16 e 50 anos de idade, 68% têm nível superior

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Figura 4: Origem dos turistas brasileiros em Morro de São Paulo Fonte: FIPE, 2009

completo e 56,7% são assalariados. Isso representa um público jovem e com um bom poder aquisitivo, em geral de classe média. Segundo a pesquisa, o tempo médio de permanência é de 5,1 dias e o gasto médio individual na localidade é de R$ 690,86 e o gasto médio diário individual R$134,30. Num período de alta estação, em que, por exemplo, haja uma ocupação hoteleira de 80%, a receita total pode chegar a um valor estimado em mais R$ 510 mil por dia;

b) 95,4% têm interesse nos atrativos naturais (os outros interesses mais citados foram diversão noturna e ecoturismo). Isso é um reflexo da imagem passada pela propaganda realizada desde a década de 80, que coloca as suas praias praticamente como único atrativo turístico local. Esse fato pode ser considerado ao analisar a grande valorização das áreas mais próximas desses atrativos naturais, fato que será abordado na seção 4;

c) Em relação à origem dos turistas, a pesquisa encontrou brasileiros e estrangeiros, distribuídos conforme mostram as Figuras 4 e 5, a seguir. Entre os brasileiros, predominam os turistas da Bahia e da região Sudeste e entre os estrangeiros, a Argentina é o principal centro emissor de turistas. Vale ressaltar aqui que o maior número de argentinos pode ter ocorrido em virtude de a pesquisa ter sido realizada em janeiro quando ocorrem as férias de verão no hemisfério sul.

Figura 5: Origem dos turistas estrangeiros em Morro de São Paulo Fonte: FIPE, 2009

Figura 6: Preços médios de pousadas em Morro de São Paulo Fonte: Secretaria Municipal de Turismo de Cairu, 2009

O perfil de preços dos meios de hospedagem reflete essas características de um público mais jovem e em geral de classe média. A Figura 6, a seguir, representa os valores médios dos meios de hospedagem: