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Cidade média e seus limiares: Ribeirão Preto

Foto 2 Ribeirão Preto Placa com informações sobre a remodelação do anel viário 2014.

3.4. Cidade média e seus limiares: Ribeirão Preto

A proposta desse trabalho é discutir os elementos que tornam Ribeirão Preto tão complexa, no que tange as suas funções na rede urbana. Enquanto cidade média não há dúvidas sobre a sua classificação, devido a presença das características apresentadas acima, como seu porte populacional, funções urbanas diversificadas, situação geográfica favorável, presença de uma elite empreendedora e interações espaciais complexas. Mas propomos neste trabalho uma análise do seu papel enquanto cidade média, valorizando os elementos que a complexificam.

Para Santos (2009), há, no sistema urbano, uma tendência crescente à diferenciação e complexificação. "As cidades estão cada vez mais diferentes umas das outras" (SANTOS, 2009, p. 137).

Para a compreensão de Ribeirão Preto como cidade média é necessário ressaltar dois aspectos importantes. Primeiramente, seu entendimento considerando a região em que está inserida, sendo as suas funções urbanas complexas e diversificadas reflexo da sua região, não somente de Ribeirão Preto. Seu papel regional e seu potencial de consumo, comunicação e articulação se deve também à capacidade das cidades da região de consumir.

[...] podemos caracterizar as ‘cidades médias’, afirmando que a classificação delas, pelo enfoque funcional, sempre esteve associada à definição de seus papéis regionais e ao potencial de comunicação e articulação proporcionado por suas situações geográficas, tendo o consumo um papel mais importante que a produção na estruturação dos fluxos que definem o papel intermediário dessas cidades. (SPOSITO, 2001, p. 635-636).

O outro aspecto, a fim de valorizar a sua complexidade é a ideia de limiar proposta por Batella (2013). Para o estudo sobre Teófilo Otoni (MG), Batella (2013), considerou as transformações recentes na rede urbana brasileira, sendo essas alterações nos papéis desempenhados pelos espaços urbanos não metropolitanos: as cidades médias. Assim, a proposta de limiares surge como uma estratégia analítica e como ferramenta de análise.

[...] toma-se como hipótese para a construção desta tese de doutorado a interpretação de que, diante da diversidade inerente às cidades da rede urbana brasileira, bem como do reconhecimento de grupos de cidades com diferentes portes e papéis, ainda que se considerem os processos gerais responsáveis pela produção do espaço urbano, há uma multiplicidade de relações mutantes no tempo e no espaço que consubstanciam as particularidades dos espaços urbano e regional de uma cidade. (BATELLA, 2013, p. 20).

Ao analisarmos uma cidade media é importante observar os processos e dinâmicas semelhantes, mas também os diferentes contextos regionais para compreender o que há de particular em cada caso.

Trata-se de uma proposta sutil de deslocamento da análise do que está mais próximo para o que está mais distante; do que é mais geral para o particular; do que seria homogeneizador para as diferenças. Isso porque, defende-se neste trabalho, diante do que já se produziu sobre as cidades médias, [...], que o limiar se configura como o contexto privilegiado para se problematizar contemporaneamente a noção de cidade média. Trata-se de um conceito eminentemente geográfico. (BATELLA, 2013, p. 51).

A ideia de limiar, nesse caso, difere-se da perspectiva quanto noção de limite ou fronteira. Ferraz (2012), analisa a distinção entre limite e limiar:

Se lembrarmo-nos que limite, fronteira, grenze vem do latim limitis, substantivo masculino que diz “caminho que borda um domínio”, donde limitar, limitação, delimitação; enquanto limiar, soleira, schwelle, deriva de limen, liminis. A semelhança fonética entre limie, limitis elimien, liminis fez com que nas línguas romana limitaris tenha

sido confundido com limiares. (FERRAZ17apud BATELLA, 2012, p.

53).

O limiar "envolve movimento, passagens, transbordamentos e transgressões". Não limita territórios, ao contrário, permite "a transição entre duas condições diferentes e/ou muitas das vezes opostas" (BATELLA, 2013, p. 54). Assim, o limiar não significa separação, mas aproximação.

Designa uma zona intermediária à qual a filosofia ocidental opõe tanta resistência, assim como o chamado senso comum também, pois, na maioria das vezes, preferem-se as oposições demarcadas e claras (masculino/feminino, público/privado, sagrado/profano etc.), mesmo que se tente, mais tarde, dialetizar tais dicotomias. (GAGNEBIN18apud BATELLA, 2013, p. 54).

Batella (2013), ressalta que a utilização de limiar para análise das cidades médias revela a própria complexidade presente no processo de urbanização.

Por fim, o limiar é revelador da própria complexidade da urbanização. Ele supera a dimensão taxonômica e permite captar os híbridos, as mudanças e as mutações. Sua essência está nas tensões produzidas pelas articulações de escalas temporais e espaciais imprescindíveis para a compreensão das cidades médias contemporâneas. (BATELLA, 2013, p. 56).

No estudo sobre Teófilo Otoni, a proposta de limiar surgiu pelo questionamento se esta seria uma cidade média. Considerando que, por mais que tenha destaque quanto capital Regional, não apresentou uma dinâmica ascendente, a sua área de influência diminuiu ao longo dos anos, em função do desenvolvimento de outros polos próximos (BATELLA, 2013).

Em Teófilo Otoni, a predominância de relações marcadas por proximidades e contiguidades evidencia que a compreensão dessa cidades como média passa, sobremaneira, pela interpretação das relações entre cidade e região. É neste contexto que se indica outra perspectiva para se pensar o limiar, pois a cidade é “capturada” pela sua região, uma vez que não há sinergia que dinamize relações de complementaridade nesta escala.

O predomínio de setores antigos relacionados à lapidação e à comercialização de pedras preciosas, bem como as particularidades dessa atividade (informalidade, pouco emprego de tecnologia,

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FERRAZ, F. G. Da ação ao comportamento: o espaço público daoikonomia. Anais do Seminário

URBA A produção da cidade e a captura do público: que perspectiva. Salvador, UFBA, 2012.

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GAGNEBIN, M. F. Método é desvio – uma experiência de limiar. In: OTTE, G.; SEDLMAYER, S.; CORNELSEN, E. (org.) Limiares e passagens em Walter Benjamin. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, pp.12-26.

incertezas e instabilidades promovidas pela dependência do mercado externo etc.), não favorece que relações econômicas outras se generalizem, o que limita o rebatimento sobre outros setores da própria cidade. Tem-se, assim, uma contradição, uma vez que o setor das pedras preciosas é o principal articulador das verticalidades envolvendo Teófilo Otoni, mas também é decorrente e intensifica a primazia de suas horizontalidades. (BATELLA, 2013, p. 211).

Dessa forma, concluiu-se que Teófilo Otoni é uma importante cidade média do estado de Minas Gerais e a sua particularidade está pelo que não possui, assim foi caracterizada como "limiar inferior".

Considerando as especificidades das cidades médias, foco desta análise, dentre essas particularidades considera-se a noção de limiar, precipuamente, o que se entende por limiar inferior. Trata-se de uma interpretação dos papéis de uma cidade na divisão territorial do trabalho em um dado contexto espaço-temporal como resultado da diversidade de agentes atuando em múltiplas escalas (BATELLA, 2013, p. 20).

Diante do exposto, propomos a análise dos resultados, nos capítulos subsequentes, desse trabalho sob o viés de que Ribeirão Preto é uma cidade média de limiar superior, analisaremos os elementos que a tornam tão complexa, o principal, a sua representação quando "Capital do Agronegócio". Entretanto, antes contextualizaremos seu papel na rede urbana, através do estudo da Região de Influência das Cidades (REGIC), contrapondo à proposta de criação da "Região Metropolitana de Ribeirão Preto".