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Sertãozinho Localização relativa à Ribeirão Preto 2015.

Quanto à sua evolução populacional (Tabela 3), diferentemente de Ribeirão Preto, sua população total em 2014 era de 115.419 habitantes, aproximadamente, 523.000 habitantes a menos que Ribeirão Preto. Entretanto, se compararmos o total da população de 1980 com a de 2014, houve um aumento, aproximado, de 20 mil habitantes a cada 10 anos. Acompanhado de uma redução significativa da população rural.

Tabela 3 - Sertãozinho. Evolução da população. 1980 a 2014.

1980 1990 2000 2010 2014 População Urbana 45.130 70.053 90.373 108.636 114.530 População Rural 6.073 5.339 4.126 1.300 889 População Total 51.203 75.392 94.499 109.936 115.419 Fonte: SEADE, 2014.

A partir dos anos de 1970, Sertãozinho apresentou um boom industrial, com forte crescimento da produção das usinas de açúcar e álcool e do setor de máquinas para a agroindústria ligadas ao setor sucroalcooleiro (SELLINGARDI-SAMPAIO, 2009). Esse município é composto por um polo industrial com características únicas que lhe proporcionam a capacidade de produzir desde equipamentos específicos até usinas inteiras. As origens desse complexo agroindustrial são intrínsecas às intervenções públicas, nesse caso, a principal foi o Proálcool.

A primeira ação pública de incentivo veio da Câmara Municipal de Sertãozinho, em 1900, na qual aprovaram uma “lei de incentivo fiscal à implantação da agroindústria canavieira nas terras do Município” (Hasse, 1986, p. 36).

Segundo Hasse (1986, p.36), “em 17 de novembro de 1900, a Câmara Municipal de Sertãozinho aprovou uma lei de incentivo fiscal à implantação da agroindústria canavieira nas terras do Município. O projeto fora apresentado em agosto pelo vereador Aprígio de Araujo, que exercia o cargo de intendente (prefeito)”.

Considerando que este município presta-se admiravelmente à cultura da cana;

Considerando que os lavradores, amedrontados pela baixa do café, empregaram suas atividades no cultivo da cana e se encontram em sérias dificuldades, devido ao barateamento do aguardente;

Considerando que a cana preserva-se da geada mais facilmente do que o café

Considerando que seria possível utilizar toda a cana que se possa formar no município construindo um Engenho Central, etc.,

Proponho:

x – que se isente de impostos, pelo prazo de 20 anos, a pessoa ou companhia que montar um Engenho Central, que tenha as proporções de utilizar toda a cana do município na fabricação de açúcar, álcool e aguardente.

x – como medida de urgência imediata e auxiliadora, fica revogado o imposto sobre exportação de aguardente constante da lei n°14 Tab. E. (HASSE, 1986, p.36).

Essa foi a primeira intervenção do governo, em escala municipal, no incentivo a atividade açucareira. Ao longo dos anos ocorreriam novas e mais preponderantes intervenções. Concomitantemente a esse processo, o café perdia prestígio, devido as suas intensas crises, ocasionando na ampliação das plantações de cana-de-

açúcar e de usinas para a fabricação de açúcar. A implantação dessas usinas se faz importante para a compreensão do complexo agroindustrial.

Dessa forma, a cana se tornou uma alternativa econômica capaz de alavancar diversos empreendimentos açucareiros. Símbolo desse processo são as inúmeras usinas que se instalaram em Sertãozinho. Segundo Hasse (1986)

Mesmo antes de superar a cafeicultura em área plantada em Sertãozinho – o que aconteceria em 1944 -, a cana deu origem a três novas usinas no município: Albertina (1916), Barbacena (1922) e Santa Elisa (1936). Após a segunda guerra mundial, foram montadas as usinas São Francisco (1945), Santo Antonio (1946) e São Geraldo (1947), que se mantêm em operação até hoje. No mesmo período do pós-guerra, foram montadas as usinas Sant’ Anna (família Verri) e Santa Lúcia (família Sverzut), absorvidas mais tarde, respectivamente, pelas usinas Santo Antonio e Santa Elisa (HASSE, 1986, p.37).

A implantação dessas usinas se faz importante para a compreensão da do complexo agroindustrial encontrada hoje na região. Segundo Miceli (1984)

Essas usinas representavam mercado seguro para serviços de assistência técnica, retificação e mesmo fabricação de peças para substituir as importadas. E se já era longo o período de espera pelo fornecimento em períodos normais, durante a Segunda Guerra Mundial as dificuldades impunham séria ameaça à produção das usinas (MICELI, 1984, p. 51).

Notadamente, formaram-se inúmeras oficinas para a manutenção das usinas e outras que fabricavam instrumentos agrícolas, carros de tração animal e componente para engenhos de pinga e usinas de açúcar.

Nesse momento é importante frisarmos que o diferencial dessa região é que pela distância de São Paulo e o isolamento diante das cidades que ofereciam a manutenção dos equipamentos, era necessário que nas fazendas se fabricassem e consertassem os equipamentos e ferramentas.

A dificuldade de acesso às empresas que ofereciam a manutenção dos equipamentos, localizados, principalmente, na capital, levou a fundação da Oficina Zanini, em 1950, que viria a ser a força motriz para a formação do complexo agroindustrial (MICELI, 1984).

A partir disso, o cenário de Sertãozinho começa a se configurar com base na função e manutenção das usinas e dos engenhos. Conseguiu se manter desenvolvendo condições para agregar-se à nova expansão industrial que ocorreria a partir da industrialização pesada.

No que tange a melhoria da infraestrutura logística, a partir de 1933, com a transformação da antiga Diretoria de Estradas de Rodagem no Departamento de Estradas de Rodagem – DER, intensificaram-se os investimentos. Como explica Negri (1996):

A partir de então, a construção e reconstrução de rodovias são pensadas visando ao atendimento do crescimento populacional e do crescimento industrial do estado, mediante a elaboração de planos específicos, como o Plano Rodoviário do Estado (1993) ou o Plano de Viação Rodoviária do Estado de São Paulo (1936). Em 1942, o DER elabora novo Plano Rodoviário, que contou com financiamento do governo federal, garantido pela Cota-Parte Estadual do Imposto Único sobre Combustíveis e Lubrificantes. Em 1946 é constituído o Fundo Rodoviário Federal, lastreado pelo mesmo imposto federal, que permitiu executar o importante Plano Rodoviário do Estado do período 1947/1951. (NEGRI, 1996, p.79).

Em 1931, são criadas a Comissão de Estudos sobre o Álcool Motor – CEAM, com objetivo de incentivar a produção de álcool anidro para misturar à gasolina e, consequentemente, diminuir a importação de derivados do petróleo e a CPDA – Comissão de Defesa da Produção de Açúcar que ficou a cargo de fazer o levantamento de estatísticos visando o equilíbrio do mercado. Entretanto, essas ações não se concretizaram pela falta de infraestrutura tecnológica para a sua implantação.

Porém, em 1933 foi criado o Instituto do Açúcar e Álcool – IAA, segundo Szmrecsányi (1979), com as funções de assegurar o equilíbrio do mercado interno entre as safras anuais de cana e o consumo de açúcar, mediante a aplicação obrigatória de matéria prima, a determinar o fabrico do álcool; fomentar a fabricação do álcool anidro, mediante a instalação de destilarias centrais nos pontos mais aconselháveis, ou auxiliando as cooperativas e sindicatos de usineiros que para tal fim se organizarem, ou os usineiros individualmente, a instalar destilarias ou melhorar suas instalações atuais; estimular a fabricação do álcool anidro durante todo ano, mediante a utilização de quaisquer outras matérias-primas (além da cana),

de acordo com as condições econômicas de cada região (SZMRECSÁNYi, 1979, p. 180).

Com a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, em 1952, e em 1954 com a organização da Petrobrás, marcariam os primeiros anos de “industrialização pesada”. O BNDE tornar-se-ia o principal agente de financiamento de inúmeras indústrias, meio de financiamento para a ampliação da Zanini, uma das principais oficinas naquele período.

Com a abertura do mercado norte-americano para importação de açúcar brasileiro, o Instituto do Açúcar e Álcool definiu uma política expansionista, ampliando a capacidade produtiva do parque industrial e da lavoura, beneficiando sobremaneira São Paulo. Em 1968, com a criação do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar e o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira, subsidiaram condições para a melhoria de pesquisas e aproveitamento da capacidade instalada.

O Programa Nacional do Álcool (Próalcool) foi implantado em 1974, devido a um contexto de crise energética. As elevações do preço do petróleo, de U$ 2,5/barril em 1973 para U$ 10,5/barril em 1974 e, em 1981, para U$34,4/barril. (COPERSUCAR, 1989).

Com a dependência do setor de transporte de quase 98% dos derivados de petróleo que eram importados, o Proálcool vem com a função de diminuir a vulnerabilidade externa, mas também a

- elevação do preço interno da gasolina, a fim de inibir seu consumo; - elevação das exportações de bens de serviços para compensar os maiores gastos com petróleo;

- adoção de política externa priorizando relações com países produtores de petróleo, para garantir o suprimento deste produto e ampliar o mercado para as exportações brasileiras;

- elevação da produção nacional de petróleo; - produção de álcool para substituir a gasolina;

- redução das disparidades regionais e individuais de renda; - crescimento da renda interna e

- expansão da produção nacional de bens de capital. (COPERSUCAR, 1989, p. 4-5).

Dentro desse contexto ainda encontrávamos a agroindústria canavieira ociosa, apesar de o discurso ser baseado nas questões da crise energética com os

choques do petróleo. Porém, a criação do Proálcool impactaria positivamente a indústria do interior do estado de São Paulo em pelo menos dois aspectos, segundo Negri (1996) o primeiro, porque a indústria brasileira produtora de equipamentos para o parque sucroalcooleiro tinha condições de atender a toda a demanda nacional sem precisar recorrer às importações e, mais do que isso, localiza-se no interior de São Paulo, mais precisamente, nas regiões açucareiras de Piracicaba e Ribeirão Preto; e o segundo porque a dinâmica agricultura paulista respondeu mais prontamente que os demais estados ao Programa Nacional do Álcool (NEGRI, 1996, p. 187).

O Proálcool concedia crédito aos projetos para financiar investimentos na lavoura canavieira e na ampliação/construção de usinas e destilarias, entre outras vantagens. E teve duas fases distintas, segundo Bordo (2006):

[...] no período de 1975/1979, destinou-se à produção do álcool anidro que era misturado à gasolina e, na fase de 1980/1985, o governo incentivou a produção do álcool hidratado, utilizado como combustível em substituição à gasolina (BORDO, 2006, p. 59).

Esse programa teve uma grande importância para a economia paulista, pois incrementaram as indústrias mecânicas e metalúrgicas produtoras de peças, máquinas e equipamentos. Em Sertãozinho, com o lucro alcançado, no final da década de 1970, a Zanini foi reconhecida como uma das 100 maiores empresas brasileiras com vendas superiores a US$ 100 milhões anuais. (MICELI, 1984).

Sendo assim, através do aquecimento do mercado fomentado pelo Proálcool, houve um aumento da importância industrial de Sertãozinho, não só pela confirmação da importância da Zanini, como pela formação de novas empresas para suprir as encomendas que eram feitas.

Vale ressaltar que, na elaboração do Proálcool, grupos de usineiros e fabricantes de equipamentos industriais como Zanini (Sertãozinho) e a Dedini “Codistil” (Piracicaba) auxiliaram o governo na organização dessa nova alternativa (RAMOS, 2009). E também que desde a década de 1930, já encontramos uma legislação que estabelecia um percentual de 5% de álcool a ser adicionado à gasolina.

As indústrias que se implantaram no período de “industrialização pesada” exigiram uma modernização do processo produtivo e da produção agrícola. Ambas foram estimuladas pela política de incentivos fiscais e creditícios às exportações. Junto ao desenvolvimento das agroindústrias, cresceram e se modernizaram os serviços de transportes, de comunicações e a intermediação financeira, a partir da:

[...] constituição de um sistema nacional de crédito rural, na consolidação dos complexos agroindustriais e de um departamento produtor de equipamentos e implementos para a agricultura, bem como no fortalecimento de um sistema nacional de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que culminaria com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). (NEGRI, 1996 p. 112).

Em Sertãozinho, instalaram-se, ampliaram-se ou adaptaram-se os estabelecimentos industriais que visam ao fornecimento de peças e acessórios para esses novos segmentos industriais, em sua maioria, fundadas por funcionários da Zanini.

Em 1974, com a criação do Programa Nacional do Álcool impactaria positivamente a indústria do interior do estado de São Paulo em pelo menos dois aspectos, segundo Negri (1996) o primeiro, porque a indústria brasileira produtora de equipamentos para o parque sucro- alcooleiro tinha condições de atender a toda a demanda nacional sem precisar recorrer às importações e, mais do que isso, localiza-se no interior de São Paulo, mais precisamente, nas regiões açucareiras de Piracicaba e Ribeirão Preto; e o segundo porque a dinâmica agricultura paulista respondeu mais prontamente que os demais estados ao Programa Nacional do Álcool (NEGRI, 1996, p. 187).

Com base nessa breve análise sobre o desenvolvimento industrial de Sertãozinho, podemos dizer que nessa região já havia uma dinâmica expressiva muito antes da década de 1970. Como analisa Elias (2003):

A região de Ribeirão Preto foi, no quadro brasileiro, uma das primeiras a ser largamente exposta à modernização inerente ao período em curso. Mas, antes mesmo [...], a região já merecia destaque pelo seu dinamismo econômico, propiciando, principalmente, pela produção cafeeira. No final do século XIX, firmava-se como a principal produtora de café do Estado e, desde então, passou a desenvolver uma série de outras atividades econômicas, permitindo o nascimento e desenvolvimento de algumas cidades que cresceram para responder às necessidades das relações de produção exigidas por essa cultura e pela exportação (ELIAS, 2003, p. 54).

Essa região se destacou pela capacidade de resposta quanto a necessidade de se adaptar as inovações que se fizeram necessárias para a ampliação do mercado. O resultado dessa resposta reflete na ocorrência de feiras associadas à produção agropecuária moderna. Essas feiras não se restringem a Sertãozinho e Ribeirão Preto, segundo Elias (2003)

Todas as principais cidades da região têm a sua feira agrícola agroindustrial anual. Durante o ano de 1994, por exemplo, aconteceram pelo menos quarenta feiras e exposições agropecuárias, de março a dezembro. Tais eventos são organizados de maneira que atraiam grande número de visitantes, uma vez que, como componente das atividades programadas, além dos negócios, há uma parte importante voltada à diversão, com a apresentação de movimentados shows musicais e a existência de área dedicada à alimentação (ELIAS, 2003, p. 200).

Em Sertãozinho ocorre, anualmente, a Fenasucro & Agrocana que é uma feira internacional de tecnologia sucroalcooleira. Na edição de 2014, contou com 550 expositores, mais de 33 mil visitantes e um volume de negócios estimado em R$ 2,2 bilhões. Por ser especializada no setor sucroalcooleiro, não apresenta a mesma relevância que a Agrishow que ocorre em Ribeirão Preto.

Um dos elementos que justifica a representação de Ribeirão Preto quanto "Cidade Referência do Turismo de Negócios e Eventos", é a realização de uma das feiras mais importantes do setor (Foto 3), a Agrishow, trata-se de uma feira de tecnologia agrícola.

Foto 3 - Ribeirão Preto. Cidade Referência do Turismo de Negócios e