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1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS E QUADRO ATUAL

PLANTA DO SIXTO V PARA ROMA, 1585-

1.1.1 Cidades Modernas

O Movimento Moderno trabalhou com os grandes centros urbanos (metrópoles), propondo mudanças nas grandes cidades marcadas pela forte industrialização. O movimento surge da necessidade de rever a arquitetura e o urbanismo no meio das mudanças urbanas (período da era industrial).

O ponto de partida é a crítica ao Estado e à Ordem Social, devido às péssimas condições de moradia e à inadequação à nova era, criando novas formas de morar e de organização da cidade. O movimento defendia a ideia de que era por meio da arquitetura e do urbanismo que se obtinha um instrumento para transformar a sociedade, em uma perspectiva de reforma dos problemas existentes, especialmente em questões estruturais.

O movimento caracterizou-se pela padronização de projetos, viabilização de construção em série (pré-fabricação) e produção coerente com o momento da industrialização. Nesse momento, foi abordada, com uma grande ênfase, a questão da moradia no âmbito da unidade habitacional, vizinhança e em escala. Também as questões legislativas passaram a ser objeto de verificação.

A partir do final do Século XIX, surgiu o modelo das cidades jardins, para se resolver os problemas britânicos, propondo a criação pequenas cidades afastadas da metrópole. A proposta foi exposta inicialmente em 1898, por Ebenezer Howard, em seu livro Tomorrow. Nas áreas urbanas, Howard estava preocupado com a crescente proeminência dos bairros superpovoados e condições de vida insalubres.

Howard (1996) propôs uma relação entre o campo e a cidade, por meio de um plano de organização social. Era um esquema teórico de uma cidade autônoma, cooperativista, delimitada por faixas agrícolas, moradia e trabalho. O conjunto dessas cidades jardins formava as cidades sociais (fig. 14). Um esquema de colonização doméstica, com uma rede de pequenas cidades afastadas da metrópole, mas interligadas por um cinturão verde. As cidades possuíam predominância de áreas livres verdes, urbanismo inglês e baixa densidade.

Figura 14 – Desenho conceito da Cidade Jardim proposta por Ebenezer Howard

Fonte: Howard (1996).

O plano de Howard era um arranjo ordenado das terras por meio da utilização de técnicas de zoneamento (fig. 15). Atividades de serviços e edifícios públicos (como a prefeitura, teatro, biblioteca pública, museu e a área hospitalar) estavam localizados em um centro da cidade, bem definido, que agia como o ponto focal da comunidade. Ao redor do centro da cidade, existia uma série de bairros residenciais planejados, cada qual com suas próprias escolas, parques infantis,

jardins e igrejas. Ao redor da urbe, localizavam-se as fábricas e caminhos de ferro, garantindo a separação dos usos incompatíveis.

Em torno da cidade jardim havia um cinturão verde com cerca de 4.000 acres de tamanho. Dentro desta área, Howard propôs o desenvolvimento de equipamentos, tais como fazendas, hospitais, casas de saúde e escolas agrícolas. O cinturão verde também atuava como um limite de crescimento para a cidade jardim, eliminando o risco de expansão urbana indesejada (fig. 16).

Figura 15 – Diagrama da Cidades Jardim

Fonte: Howard (1996), adaptado por Renato Sabóia.

Figura 16 – Seção da Cidade Jardim

Raymond Unwin e Barry Parker materializaram as ideias de Howard, projetando Letchworth, primeira cidade jardim criada na Inglaterra (em 1904) e

Hampstead (em 1905).

Unwin publicou o livro Town planning in practic, em 1909. A obra é um manual de urbanismo, em que propõe soluções, formas e sugestões de métodos de desenho da cidade. Trata, igualmente, da individualidade da forma urbana por meio da adaptação do traçado do terreno, da beleza do traçado regular e irregular, escolha do centro da cidade, praças fechadas, relação do centro principal com os centros secundários, hierarquização de vias, zoneamento, relação da cidade com a praça e estação rodoviária e ajardinamento (UNWIN, 1984). Esse modelo inglês de urbanismo espalhou-se para o mundo inteiro, inclusive para as cidades de São Paulo e Maringá.

Unwin, por meio das cidades jardins, criou o desenvolvimento por núcleos satélites (descongestão). Esse sistema criou uma descongestão das áreas metropolitanas de alta densidade em uma perspectiva de criar centros menores (descentralização). Isso gerou um crescimento regional mais equilibrado com núcleos, cinturões verdes (preservação do território agrícola), centros coletivos e de lazer.

Já Patrick Abercrombie liderava as ideias das cidades jardins fora do sentido utópico. Ele propôs um esquema metropolitano de forma gradiente (concentração de densidade), por meio de um sistema de anéis: 1° Anel interior; 2° Anel subúrbio (reorganização); 3° Anel pulmão de equipamentos e lazer, e; 4° Anel com cinturão verde (ABERCROMBIE, 1943). Assim, trabalhou a relação do campo e das cidades satélites, com um sistema de organização da metrópole proposta.

Para organizar esse sistema metropolitano, Abercrombie propôs estratégias que serviriam de instrumentos de intervenção, sendo elas: 1. Bloquear as indústrias no centro (anel central); 2. Descentralizar as estruturas produtivas e as moradias nos anéis mais extremos; 3. Um controle público mais rigoroso sobre o uso do solo, e; 4. Potencializar as atividades portuárias.

Nos Estados Unidos, a transição para o planejamento moderno de habitação obteve maior espaço depois da Primeira Guerra Mundial. Após esse momento, iniciaram-se as construções norteadas pelas tradições americanas. Os planejadores

passaram a olhar principalmente para a Inglaterra e para os seus modelos urbanísticos: volta do velho hábito colonial. (STEIN, 1950).

Grande parte da filosofia e do conhecimento, na construção de habitação e de cidades, tiveram suas raízes nas experiências inglesas e no urbanismo racional. Em grande medida, os arquitetos modernos continuaram o trabalho iniciado por Ebenezer Howard e Raymond Unwin.

Em 1927, na exposição para o Deutscher Werkbund, foi construído um bairro na cidade de Stuttgart (Alemanha), Die Wohnung, onde se procurou mostrar a nova maneira de morar, de uma habitação em que se consideravam as necessidades modernas da população. Essa foi a primeira exposição de arquitetura do meio urbano, coordenada pelo arquiteto Mies van der Rohe.

A fundação do CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna), no ano de 1928, foi considerada o princípio da fase acadêmica da arquitetura moderna, em que se debateu sobre vários temas relacionados à questão da arquitetura e urbanismo. Os arquitetos modernos apresentavam a pretensão de unificar e assegurar um ponto de vista sobre as concepções fundamentais da arquitetura e as obrigações profissionais (LE CORBUSIER, 2000). Os CIAMs tinham como objetivos formular o programa contemporâneo da arquitetura, promover as ideias, publicar a arquitetura moderna no meio técnico, econômico e social e resolver os problemas arquitetônicos do momento (MINDLIN, 2000).

O primeiro encontro do CIAM aconteceu em junho de 1928, realizado em La Sarraz, Suíça. O encontro foi a fundação dos CIAMs. Nesse momento, o urbanismo encontrava-se no temário ao lado da questão da racionalização da construção. Averiguou-se, também, a relação da arquitetura com a ordem econômica, existindo, até mesmo, uma ideia radical sobre a política do solo com a abolição da propriedade privada, mas que, posteriormente, evoluiu para um controle da especulação.

Em 1929, aconteceu o CIAM II, em Frankfurt (Alemanha), tratando da unidade mínima de habitação. Nesse encontro, a discussão da relação da moradia e da cidade adquiriu uma maior complexidade; ocorreu a formação da relação entre a arquitetura e o urbanismo; a defesa da ideia de que a moradia não era somente a unidade habitacional, mas sim uma somatória de equipamentos como áreas de esportes, creches, refeitórios, lavanderias de uso coletivo, organizações das

cozinhas, etc., em que tudo isso seria incorporado na concepção de habitação, e; começou-se a discutir a questão da verticalização e do adensamento (como forma de organizar o espaço urbano – solo livre e altas densidades com equipamentos).

Em 1929, o alemão Hans Schmidt trabalhou a questão da legislação, não simplesmente como uma técnica racional para organizar espaços, mas um instrumento de controle e de garantia de direito que envolve o Estado, o usuário e o profissional. Hans foi além das questões técnicas, discutindo aspectos econômicos e sociais, gerando uma mudança da relação do Estado e das pessoas envolvidas nesse processo. Para isso, apontou: 1. Que existem dois níveis de legislação: o urbanístico e o da construção. O da construção é o nível que garante a habitalidade (segurança, insolação, aeração, etc). O urbanístico é o que vai ter de pensar na convivência dos grupos, nos limites dos indivíduos entre si e em relação à comunidade; 2. A necessidade de a legislação ser flexível (desenvolvimento técnico, cultural e social); 3. O papel do Estado garantindo a qualidade do produto (ele é obrigado a proteger os compradores da moradia). A qualidade da moradia envolve as questões ligadas à economia (métodos construtivos e novas formas de moradia). Nesse processo, deveriam ser evolvidas as entidades profissionais (arquitetos e engenheiros passam a participar dos processos de leis, aplicação e outros). O que Hans propõe é um sistema legal. Assim, vai muito além do que está na Carta de Atenas.

Em 1930, promoveu-se o CIAM III, na cidade de Bruxelas (Bélgica), abordando o desenvolvimento racional do lote. Nesse encontro, aconteceu uma discussão da verticalização e métodos construtivos para as tipologias habitacionais.

Em 1933, ocorreu o CIAM IV, na cidade de Atenas (Grécia), em que se discorreu sobre a cidade funcional. Equipes de vários países levaram planos de seus países para serem discutidos (17 grupos e 33 planos), garantindo um aprendizado coletivo. Nesse encontro, discutiram-se componentes, tais como: o formato de legenda de mapas, o saber experimental e a discussão de representação.

Nesse mesmo congresso ocorreu a Publicação da Carta de Atenas. Essa foi um manifesto urbanístico, formado por representantes nacionais de um grupo de arquitetos. A carta retratava a “Cidade Funcional”, pregava a separação das áreas residenciais, de lazer e de trabalho, propondo, no lugar do caráter e da densidade

das cidades tradicionais, uma cidade-jardim, na qual os edifícios se localizariam em áreas verdes pouco densas.

No mesmo contexto, a carta apresentou o estado “crítico” das cidades: uma população densa em seu núcleo, habitadas em cortiços; falta de moradia e grande especulação imobiliária e financeira; redução das áreas verdes e falta de higiene nos centro urbanos. Desta forma, o IV Congresso de CIAM definiu que devem existir três matérias primas fundamentais para o urbanismo, sendo elas o sol, a vegetação e o espaço, e outros fatores como: requisitos de higiene; a falta de legislação para o urbanismo gerando bairros densos com localização em zonas menos favorecidas; a falta de arejamento das residências; a construção de habitações sem sancionamento pelo zoneamento; as construções em vias de comunicação, prejudiciais às habitações; o alinhamento das habitações, que só garantia insolação a uma parcela mínima da população; a arbitrariedade da distribuição das construções de uso coletivo; a distância das escolas das moradias e das vias de circulação; a construção dos subúrbios sem planos de habitação e sem ligação com as cidades; a incorporação de subúrbios ao domínio administrativo, que ocorreu tardiamente e não trouxe efeitos, e; a falta de infraestrutura e de condições de vida, como habitação dos subúrbios (CORBUSIER, 2000).

O arquiteto Le Corbusier8 (um dos criadores dos CIAM) produziu muitos trabalhos na linha do movimento moderno. Ele trabalhava com as tipologias dos edifícios verticais e densos e solo livre nos centros. Fazia crítica ao subúrbio e às cidades jardins: dizia que os subúrbios eram a desarticulação do fenômeno urbano (dispersão/borra das grandes cidades); que as cidades satélites só haviam sido inventadas para ajustar os subúrbios e que os subúrbios e as cidades jardins exigiam estradas, vias férreas, vigilância e estrutura, sendo que tudo isso demandava muito capital para seu seguimento, e, por fim; que as estruturas existentes não estavam preparadas para essa concentração de população que ocorria nas cidades.

8

Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido pelo pseudónimo de Le Corbusier, (La Chaux-de- Fonds, 6 de Outubro de 1887 — Roquebrune-Cap-Martin, 27 de Agosto de 1965) foi um arquiteto, urbanista e pintor francês de origem suíça. É considerado juntamente com Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto, Mies van der Rohe e Oscar Niemeyer, um dos mais importantes arquitectos do século XX.

Corbusier definiu as bases do urbanismo moderno em quatro postulados: 1. Descongestionar o centro das cidades para fazer frente às exigências do transito; 2. Aumentar a densidade do centro das cidades para realizar o contato exigido pelos negócios; 3. Aumentar os meios de circulação, modificando completamente a concepção atual das ruas, que se acha sem efeito, ante o fenômeno novo dos meios de transporte modernos, metros, carros, bondes; 4. Aumentar as superfícies arborizadas (CORBUSIER, 2000).

Corbusier, no CIAM II, já apresentava uma primeira versão do plano Ville

Contemporanie para 3 milhões de habitantes (1923) e do Plano Voisin para Paris

(1925). No plano Ville Contemporanie (figura 17), o arquiteto dispôs as edificações sobre uma estrutura geométrica. A forma correspondia à sua máxima utilização, garantida por uma visão funcional do objeto arquitetônico. A cidade adotava as mesmas funções estabelecidas na Carta de Atenas.

O Plano de Voisin Paris compreendeu a criação de dois novos elementos essenciais: uma cidade de negócios e uma cidade residência. (conforme figura 18).

Figura 17 – Malha retangular da Cidade Contemporânea

Fonte: Quintanilha (2008).

Corbusier propunha o descongestionamento do centro, melhorando a circulação, os espaços verdes, entre outros. Ele ainda formulou a ideia de um desenvolvimento regional linear ao longo dos eixos de transportes (trem, rodovias, ao longo do campo e indústria).

Figura 18 – Plano de Voisin 1925

Fonte: Boesiger e Girsberger (1971)

Os congressos CIAMs ocorreram até o décimo encontro, sendo eles: CIAM

V, em 1937 (Paris, França), abordando o tema da moradia e recreação; CIAM VI, em

1947 (Bridgwater, Inglaterra), reafirmando os objetivos dos CIAMs; CIAM VII, em 1949 (Bérgamo, Itália), tratando sobre a cultura arquitetônica; CIAM VIII, em 1951 (Hoddesdon, Inglaterra), abordado o tema do Coração da cidade; CIAM IX, em 1953 (Aix-en-Provence, França), publicando a Carta da habitação; e o CIAM X, em 1956 (Dubrovnik, Iugoslávia), garantindo o surgimento do Team X.

Na década de 1920, Ernst May assumiu o departamento de urbanismo de Frankfurt. Com isso, ele elaborou e implantou um plano com medidas para impulsionar a construção de moradias sociais. Deste modo, aconteceu a construção em massa de habitação social. Também propôs um trabalho na área mais central, projetos na escala de bairro (resolver a questão da habitação mínima) e criou uma cooperativa que produzia os elementos pré-fabricados. Sendo assim, Ernst associou a questão de habitação ao plano diretor, totalização da escala da cidade e o processo de construção da habitação. Com isso, ou o poder público adquiria as terras ou financiaria por meio de associações de sindicados (juros baixos), montando um sistema de aquisição de moradias.

No início do século XX, as cidades se deparam com conflitos ocasionados pelo congestionamento (aumento populacional nos setores habitacionais) e pela invasão dos automóveis. Nesse panorama, em 1920, Clarence Perry introduziu um conceito Unidade de Vizinhança (neightborhood unit). Em um estudo preliminar, em 1926, e em um relatório publicado pela Comissão do Plano Regional de Nova York e seus arredores, em 1929, Perry enunciou sua Teoria Bairro (figura 19 - ilustra um

esboço publicado por Perry indicando as relações entre os componentes residenciais de um bairro e os usos que poderiam ser facilmente percorridos a pé).

Figura 19 – Diagrama unidade de vizinhança de Clarence Perry

Fonte: Perry (1929).

Dentro da teoria de Unidade de Vizinhança, Perry definiu seis princípios básicos:

1. "Tamanho: Uma unidade de vizinhança deve prover habitações para aquela população a qual a escola elementar é comumente requerida, sua área depende da densidade populacional;

2. Limites: A unidade de vizinhança deve ser limitada por todos os lados

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