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5 O JORNAL RECOPILADOR SERGIPANO

5.5 Circulação e periodicidade

Analisar o jornal através do tempo é outro elemento significativo que agrega valor à pesquisa sobre materialidade. Informações sobre o período de circulação e sua periodicidade indicam a eficiência (ou não) das técnicas e procedimentos utilizados durante o processo de produção e venda de jornais. Tratando-se de um periódico antigo, a aplicação de determinados critérios aponta como a tipografia se organizava diante de um cenário instável. Sobre isso, Berto (2008) associa a periodicidade como sendo um evidente resultado daquelas estratégias editoriais que são aplicadas para conseguir fazer com que os periódicos circulem. Sua avaliação demonstra de que maneira o nível de estabilidade, conquistada ou não, reflete no meio editorial, seu amadurecimento e as distinções feitas visando melhorar a apresentação, material e conteúdos e aumentar o espaço de circulação.

Tendo iniciado suas atividades no ano de 1832, não é possível definir com exatidão a data do seu surgimento, pois o primeiro número perdeu-se no tempo. Oliveira (2018) resgatou, através de suas pesquisas, as prováveis datas em que o primeiro jornal chega às mãos dos sergipanos. Contestando diversos autores, ele escreve que:

[...] em seu Catálogo, Armindo Guaraná, concluiu que ele teria surgido no dia 7 de setembro 1832. Já Acrísio Torres, em História da Imprensa em Sergipe-volume I, afirma que ele surgiu quatro dias antes, em 3 de

setembro. Mas isso não procede. Primeiro porque esse foi um dia de sexta- feira, e o outro, uma segunda, ambos diferindo dos dias de circulação do jornal; segundo porque uma referência contida no jornal carioca Astréa, de 30 junho de 1832, mostra que ele já existia meses antes da data apresentada pelos dois historiadores. Além do mais, descobrimos outro periódico, a Aurora Fluminense, que dá a boa nova de seu surgimento, ao dizer: “Vimos um novo jornal. É o Recopilador Sergipano na província desse nome”. Esse anúncio de importância capital para a história da imprensa sergipana foi dado no dia 15 de junho de 1832. Mas, atenção, essa data não configura o surgimento do nosso jornal. É que, pelas grandes distâncias e pelos diversos problemas enfrentados na rede portuária brasileira, as correspondências chegavam bem atrasadas. Por conta disso, as trocas de informações entre os jornais das duas províncias (Sergipe e Rio de Janeiro) e até as mais urgentes, costumavam demorar bem mais de um mês. (OLIVEIRA, 2018, p.6)

Tomando por base a primeira edição que se encontra disponível digitalizada (número 114 de 1/06/1833), o autor faz uma regressão considerando publicações ininterruptas circulando às quartas e sábados e conclui que o primeiro número do Recopilador Sergipano é de 2 de maio de 1832.

Possuía uma periodicidade bissemanal, e como visto, algumas edições foram lançadas em dias variados. Essa variabilidade pode ser explicada por um aspecto próprio do jornal: o caráter de atualidade. Este precisa ser atual, constar notícias e informações recentes, pois o Recopilador Sergipano levantava informações da Província, o que para o período demandava certo esforço, além de reunir textos de outros periódicos, o que o tornava dependente da pontualidade destes e refletia em atrasos da publicação.

O jornal circulava na Vila de Estância onde ficava localizada a tipografia responsável por sua impressão, mas estava presente em outras localidades da província, como é citada no próprio impresso a disponibilidade de exemplares em Maruim e na Vila de Laranjeiras. Certamente as notícias vinculadas chegavam até o leitor de outros locais e conseguiam atingir o propósito de informar, talvez devido ao perfil abrangente das informações noticiadas que acabam envolvendo quem o lia numa espécie de rede de comunicação como revelam Santo e Dumont (2014, p. 6):

O jornal se configura, ainda, como um elemento com poder de vincular seus leitores e leitoras a outros lugares e, também, de funcionar como uma forma de comunicação entre eles. É pública a opinião que ele estampa, conforme assinala Chartier (2001), e essa opinião é que define um espaço abstrato da circulação do escrito entre pessoas que se unem, que não participam da mesma sociedade, mas que, em particular, ao ler ou escrever em sua esfera privada, se comunicam entre si, por meio da circulação do impresso. É um meio dialógico, mesmo que registre certo desequilíbrio entre as vozes que o constroem.

O periódico circulou entre 1832 e 1834, tendo o ano de 1833 como grande impulsionador em números disponíveis para pesquisa. Apesar do curto período em que esteve em atividade, é preciso reconhecer sua importância como precursor da imprensa Sergipana, diante do encerramento de suas atividades houve o rápido surgimento de um novo jornal impresso no ano de 1835, comprovando o papel essencial que esse tipo de veículo já exercia na província.

É difícil esclarecer a quantidade de edições e exemplares que circularam durante esse período, considerando que a maior parte deles se perdeu ao longo do tempo, impossibilitando a pesquisa.

5.6 Tipografia

Transmitir sentido ao que está impresso orientando o caminho que o leitor deve percorrer, preocupando-se em gerar padrões que vão perpassar desde ao corpo todo texto, títulos e subtítulos, etc. Esse é de uma maneira simples, o objetivo da tipografia que Lucy Niemeyer definiu como sendo um:

Ofício que trata dos atributos visuais da linguagem escrita; envolve a seleção e a aplicação de tipos, a escolha do formato da página, assim como a composição das letras de um texto, com o objetivo de transmitir uma mensagem do modo mais eficaz possível, gerando no leitor destinatário significações pretendidas pelo destinador. (NIEMEYER, 2003, p.12)

Porém, o conceito de tipografia tratado nesse trabalho diz respeito a como eram denominadas as gráficas que se utilizavam de prensas móveis para produzir impressos.

Segundo Sebrão Sobrinho (1947), a Tipografia Silveira foi iniciada com o nome de Tipografia Patriota, depois, influenciado pelo novo nome da recente emancipada Vila Constitucional de Estância, intitulou-se o local como Tipografia Constitucional. Teve como membros de sua equipe o Padre José Alves Pitangueira que foi redator entre os anos de 1832 e 1833, e que foi posteriormente substituído pelo comerciante João Inácio de Azevedo e, devido a essa parceria, a tipografia passa a ser nomeada Silveira e Cia, tendo a sociedade se desfeito em 1834, fato comprovado quando o termo “Cia” é retirado do título do imóvel.

Existe uma discordância quanto à procedência da prensa móvel instalada na dita tipografia, alguns trabalhos afirmam que pode ter vindo da Bahia, outros

supõem que deve ter vindo do Rio de Janeiro, do mesmo local onde fora adquirido o equipamento levado ao Piauí.

Outros jornais passariam a ser impressos pela tipografia, entre eles o Diário do Conselho Geral da Província nos anos de 1833 e 1834, responsável por publicar atos do Conselho, e posteriormente, já instalada na capital, passa a imprimir o Noticiador Sergipense (1835 a 1838). Muitos serviços eram prestados aos munícipes, a exemplo de impressão de livros e panfletos, como consta em anúncio feito na edição de 134, onde divulga a venda de panfletos de orações religiosas:

A oração recitada na Igreja Matriz da Cidade de S. Christóvão de Sergipe no dia 11 de março de 1833, por occasião da Eleições do Deputados, e Conselheiros de Governo, e Província, estando presente o Colégio Eleitoral, por Fr. José de Santa Cecília, vende-se nessa Typographia, e na loja do Sr. Heleodoro no Caminho do Rio a 160 réis por cada hum exemplar. (Agosto de 1833)

5.7 Gravuras

As informações imagéticas foram sendo incorporadas aos periódicos desde o início da imprensa oficial no país, mesmo que de uma maneira tímida, apresentavam-se até nos jornais com grandes roteiros textuais. Entretanto a exploração de imagens dependia de certas modernidades que apenas viriam a contemplar outros modelos de periódicos ilustrados posteriormente.

Periódicos antigos não contavam com recursos e técnicas suficientes para inserir em meio a seus conteúdos grandes imagens. A exemplo do Recopilador Sergipano onde em nenhuma das edições pesquisadas foram encontradas fotos, isso se explica pelo fato de o Brasil ter conhecido a fotografia tardiamente por volta de 1840.

Existia uma dificuldade em ampliar o uso das gravuras em larga escala devido a problemas causados pela ineficiência das máquinas tipográficas inviabilizando a qualidade ao final do processo de impressão. Com aperfeiçoamento, o uso das gravuras em periódicos se tornou uma realidade mais próxima e no século XIX tornou-se comum seu aparecimento em jornais e revistas de circulação em massa.

As imagens atuam como colaboradoras no processo de compreensão daquilo que está sendo lido, além de ilustrar e colaborar em dar sentido ao contexto linguístico. De uma forma individual podem não agregar significado, mas associadas

a um texto tendem a complementá-lo ou até mesmo sobrepô-lo. Essa combinação possibilita ao indivíduo que se identifica com as sensações as quais, causadas pelas imagens ao atrair, sensibilizar e instigar, expressam em relação a si próprio e a comunidade em que vive. (TORRES, 2014)

A divulgação de imagens constitui mais uma ferramenta de difusão de informações por parte das mídias que exploram o caráter visual objetivando despertar no leitor o interesse por determinada matéria. Elas podem ser de diferentes formas e tamanhos, coloridas ou não, mas independente dos aspectos através do processo de produção, tornam-se itens de grande relevância para alcançar o objetivo final de veiculação.

Exercendo um papel crucial no ato de comunicar, os desenhos contribuem na construção de sentidos e significados. Tendo em vista seu efeito significativo não se pode limitar o perfil a uma simples representação de objetos, lugares e pessoas, pois é um espaço simbólico que desloca experiências na mente de quem vê. Utilizada de forma competente a imagem pode ser um instrumento de comunicação muito poderoso.

Pode-se observar que a apresentação de tais imagens no Recopilador Sergipano era bastante discreta. Gravuras com poucos centímetros se localizavam em contextos e temáticas específicas, contudo tinham harmonia entre o texto e a ilustração, estabelecendo, assim, uma relação de proximidade entre eles. Nas únicas três situações em que aparecem, as gravuras combinam diretamente com o contexto que ilustram.

Nas edições 128 e 136 nos anúncios relacionados a fuga de escravos é possível ver uma gravura dando a entender que aparentemente se trata de um escravo em fuga carregando seus pertences (FIGURA 3):

Figura 3: Escravo em fuga

Fonte: Recopilador Sergipano, n. 128, p.4

A interpretação acerca dessa ilustração surge a partir da constatação da ausência desta nos anúncios que se referiam à compra e venda de escravos.

Já no número 158, ilustrando um anúncio sobre a partida de um navio cargueiro, foi observada a figura 4 semelhante ao que poderia ser uma embarcação:

Figura 4: Navio cargueiro

Fonte: Recopilador Sergipano, n.158, p.4

Em todas as edições do impresso existia uma pequena figura (FIGURA 5) no cabeçalho da primeira página, algo parecido com uma mão cujo dedo indicador estaria apontando na direção direita ao lado da epígrafe:

Figura 5: Mão com dedo indicando

Fonte: Recopilador Sergipano, n. 114, p.1

Essa mesma imagem pode ser vista no corpo do texto em algumas edições. Considerando a maneira como se encontravam nessas ocasiões, podemos deduzir que se tratava de um erro no momento da digitação. Podem ser encontrados da mesma maneira nos números 117, 120 e 134 (FIGURA 6).

Figura 6: indicações dentro do corpo do texto

Fonte: Recopilador sergipano, n. 117, p.4.

Nessas poucas oportunidades que aparecem mesmo com aspectos muito básicos, as imagens garantem ao periódico uma condição de precursor nesse gênero também, sendo, além do primeiro veículo de comunicação impressa, o que

iniciou o uso de ilustrações. Nesse ponto é importante colocar que, segundo Silva e Linhares (2008), apesar de a fotografia chegar em Sergipe por volta de 1873, apenas nos anos 1900 ela é incorporada aos impressos.

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