• Nenhum resultado encontrado

A citação de Auguste Comte que foi retirada da obra Curso de Filosofia Positiva não encontra-se disponível no vernáculo Os leitores brasileiros, no entanto, podem ter acesso a uma seleção de textos organizada por Jo­

biblioteca Universitária

1 A citação de Auguste Comte que foi retirada da obra Curso de Filosofia Positiva não encontra-se disponível no vernáculo Os leitores brasileiros, no entanto, podem ter acesso a uma seleção de textos organizada por Jo­

sé Arthur Giannotti da coleção O s Pensadores..

colonização da África e Ásia (e serviu de apoio à independência dos países iatino- americanos). Esta diáspora econôm ica afetou diretamente a organização social das regi­ ões que foram arrebatadas pela penetração das relações de mercado em seus sistemas domésticos. Destarte, não se pode dizer que o movimento histórico teve o objetivo de dissem inar o novo processo civilizatório entre as mais diferentes sociedades econômicas do píaneta consideradas atrasadas, e em muitos casos ainda organizadas com valores

;

totalm ente diversos da acum ulação de riquezas. Ao contrário, tal imposição permitiu que o modelo de trocas, baseado na mais-valia, extrapolasse o âmbito do contrato social que opunha os indivíduos para se estabelecer na esfera dos Estados-N ação, conforme exami­ na E VERS (1989, p. 13):

A p e r ife r ia c a p ita lis ta a b ran ge a q u ela s fo r m a ç õ e s s o c ia is c a p ita lista s n a s q u a is o d e s e n v o lv im e n t o d o c a p ita lism o n ã o t e v e c o m o b a se um su r g im e n to h is to r ic a m e n te p r im á r io , m as s e im p õ e d e um a fo rm a h isto r ic a m e n te se c u n d á ­ ria a partir da e x is t ê n c ia d o c a p ita lism o c o m o m o d o d e p r o d u ç ã o d o m in a n te n o s c e n tr o s h e g e m ô n ic o s m u n d ia is .ÍS

Uma teoria do subdesenvolvim ento, portanto, parte do pressuposto-da prevalência da força do capital e da supremacia do mercado mundial no conflito com as atividades econômicas periféricas. A tipicidade funcional, de afiançar e acelerar a concentração de riquezas nos países centrais’, exerce um papel contraditório quanto à concepção de E sta­ do liberal: enquanto há prosperidade nas metrópoles do sistema mundial, a periferia p a-- dece no desenvolvim ento de suas estruturas econômica e social, reproduzindo uma rela­ ção destrutiva gestada pela heterogeneidade estrutural. Mas a violência da expansão ca­ pitalista é também justificada pela obrigatória subordinação ao sistema de mercado, fortalecida na óbvia competição desigual entre os países, que perm ite-a formação de ci- clos econômicos dependentes e frágeis, se considerado o ponto de vista da soberania

18 [La periferia capitalista abarca aquellas formaciones sociales capitalistas en las que el capitalismo no se desarrolló a raiz de su surgimienlo historicamente primário en Europa occidental, sino que se impone en

47

* «

nacional. Esta m undialização, com a extensão de estruturas políticas e econôm icas, com que os Estados-N ação europeus e estadunidense alargaram o seu poder para outros territórios, caracteriza um estilo de dominação tipicam ente im perialista, gerando inclu­

sive acirradas disputas por áreas de influência nos mercado*s periféricos, notabilizadas nos desentendim entos que levaram, à Grande Guerra (1914-1918).

P or certo, no âmbito dos países periféricos, a generalidade da form ação de Esta- dos capitalistas deu-se de maneira bastante diversa do que apregoava o pensamento libe­ ral, dem onstrando o gradativo exaurimento de seus valores ante a supremacia do direito de propriedade, agora observado na relação entre países centrais e de periferia. A essen- cialidade do desenvolvimento econômico apresenta os elementos para a definição dos conceitos. As observações de EVERS (1989) procuram inform ar alguns tópicos necessá­ rios à diferenciação das duas formas distintas de Estado capitalista. Eis a razão pela qual a existência de uma burguesia revolucionária, capaz de produzir a transform ação política necessária para romper o elo de continuidade das formações econômicas feudalistas e propiciar o desenvolvim ento de um novo processo civilizatório, teve relevância para os países centrais. A expressão da hegemonia da classe é que perm itiu o desencadeam ento das forças produtivas e a acumulação de riquezas nos marcos do Estado nacional. Nos países da periferia do sistema, o modelo produtor-exportador, quase sempre ancorado em um ou dois produtos, engendrou um desenvolvimento capitalista bastante condicio­ nado à participação da manufatura e tecnologia estrangeira, constituindo um entrave à prom oção da indústria local. Esta insuficiência conjunturàl demonstrada na ausência de

uma diversidade produtiva, ainda no âmbito da relação de dependência econômica, favo­ receu a divisão do trabalho entre as nações subdesenvolvidas, que constitui o fator pre­ ponderante para a reprodução do lucro das metrópoles. De certa maneira, a inserção

48

forma historicamente secundaria a partir de la existencia dei capitalismo como modo de producción dominante en los centros hegemónicos mundiales.]

deste sistem a obtém a maximização funcionai dos recursos internos em proveito de estratégias internacionais, principalm ente na redução dos custos da produção. Desta ga­ rantia am plam ente'vantajosa, com -resultados de curto prazo,-decorre um conflito entre os projetos de desenvolvimento econômico interno e os interesses mercantis de longo prazo, ocasionando o represamento do potencial produtivo periférico pela força do m er­ cado mundial.

i *

O encadeam ento dos fatores que. envolvem a teoria do subdesenvolvimento, apli­ cada ao Estado, comporta a constatação de uma acentuada perda da soberania interna quando cotejada com a hegemonia dos países centrais. O esforço do governo brasileiro em propalar que a integração ao mercado mundial constitui fator dirigente da prosperi­ dade econômica, preponderante na literatura reformista, produziu uma avassaladora aceitação dos planos de reestruturação produtiva sugeridos pelo FM I (Fundo Monetário Internacional). Este movimento convergente às idéias das agências multilaterais, das quais ressalta o poder de formulação de política, pode ser justificado tanto pela crise da dívida externa, que impeliu os países credores a adotar medidas destinadas a melhorar a capacidade de pagamento dos devedores, como a profunda recessão de 1980/1983, con­ siderada a mais grave desde o pós-guerra. Tais elementos conjunturais traduziram -se no im perativo de mudar a poiítica econôm ica, mas sem ficar distante do processo contínuo de globalização. Por isso VELASCO E CRUZ (1998), exam inando os argumentos sobre a mudança global que impeliu os países periféricos à aderirem ao programa de reformas para o mercado, informa que, segundo uma dás teses os países foram instados a realizar reform as de grande envergadura em suas economias sob as condicionalidades cruzadas do par FM I/Banco Mundial e violenta pressão exercida pelos Estados Unidos, seja atra­ vés da ameaça de sanções unilaterais, seja pela ação de sua diplomacia econômica na

arena das negociações sobre o comércio global - a Rodada Uruguai do GATT.

Esta premissa revela que a reestruturação produtiva de grande parte das na­ ções subdesenvolvidas com porta a análise da impotência destes países em propor alter­ nativas próprias para equacionar problemas internos. De outro lado, aponta o declínio da

soberania destes países no cenário'internacional, porquanto foram im pelidos a admitir planos de reform as econômicas gerados por corpos técnicos estranhos as suas adm inis­ trações.

;

O abalo da soberania política, creditada ao constrangim ento dos países da perife­ ria do sistema capitalista em romper com o histórico alinhamento econômico, reproduz o declínio da autonomia do ordenamento jurídico e da vontade popular manifesta na Constituição. O pressuposto da universalidade abstrata, sobre o qual está erigido o Esta­ do Liberal, requer a essencial adequação do direito ao modo de produção, conforme res­ salta (GRAU, 2000b, p. 85) “o desenvolvim ento capitalista reclama previsão e calcula-

bilidade e à racionalidade do mercado corresponde esse direito, como fo rm a de domí­ nio racional viahilizador da circulação m ercantil”. Destarte, nos países de periferia o

ordenam ento jurídico interno desempenha tal função para articular-se com o mercado mundial, p ois-desta relação de dependência decorre uma produção legislativa, muito específica, formulada justam ente para favorecer o livre curso dos capitais, Este diagnós­ tico é apropriado para identificar a perda- de crédito da ordem jurídica formulada pelo

último congresso constituinte e que resultou na Constituição de 1988, destinada a edifi­ car o capitalism o sob a forma de um Estado Social com o privilégio da formação de um m ercado nacional.

O esforço para dotar o direito da universalidade abstrata, de toda sorte, insubsis­ tente enquanto premissa histórica, aparece na periferia pela heterogeneidade da forma­ ção social, o que constitui outra peculiaridade do desenvolvimento dependente. A im­ possibilidade de atingir a coesão dos indivíduos em torno de um sistema econômico de­ monstra que as relações mercantis típicas do capitalismo não se generalizaram na socie­

dade, havendo ainda m anifestaçõés de formas de intercâm bio excluídas do mercado legal e não reguladas pelo ordenamento jurídico.

Na essência da constituição das sociedades periféricas, segundo EVERS (1989), coexistem realidades pré-m odernas (não capitalistas) com estruturas sócio-econômicas capitalistas, que necessariam ente representam expressões inacabadas do princípio civili- zatório do liberalismo. A fragmentação da sociedade é de tal ordem que a estrutura de

1

classe demonstra-se inacabada e difusa. A variedade de expressões dos setores hegem ô­ nicos se sobrepõe, no plano político, à defesa de interesses muitas* vezes completamente conflitantes entre si e, no caso das oligarquias agrárias,' mantém-se afinada com bandei­ ras antagônicas a princípios da economia de mercado.

E irrazoável adm itir, entretanto, um m ovimento histórico linear compatível com o enquadramento dos fatos às teorias, negando-se as particularidades conjunturais e a dia- leticidade do processo de reprodução capitalista dependente. Um diagnóstico da dificul­ dade de afetação da periferia sobre o mercado m undial, dimensionada na soberania do capitalismo desenvolvido sobre o subdesenvolvido não pode ser maximizado: a crise do petróleo de 1973 com a alta do preço do barril, im posta pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de-Petróleo), abalou as relações econômicas no interior das grandes potências, todas com programas energéticos am plam ente ancorados neste mineral. Em se tratando de fontes de energia, principalm ente hídricos e derivados de petróleo, maciça­ mente concentrados na periferia do sistema, há um a inversão na brdem de dependência, exigindo uma postura mais vigilante dos países capitalistas centrais, como aliás, ocorreu durante a Guerra do Golfo. Mas esta peduliaridade dos conflitos, entre os países da peri­ feria e os centrais, tem sido mitigada pela crescente perda de soberania dos primeiros face à imposição de processos de integração econômica. A expansão e especialização

*

dos sistemas de trocas, na sociedade industrial, resultou na criação de uma grande cadeia de interdependência entre os Estados. O desenvolvim ento econômico e a posição bélica

5 2

é que acabam por diferenciar a atuação dos países, a fim de estabelecer os limites da concepção de dependência.

QUADRO 1: A s p e c to s d a d e s c o n ts n u id a d e d o d e s e n v o lv im e n to c a p ít a u s t a

Países Centrais! Paises Periféricos

1) Histórico

Não houve rompimento da conti­ nuidade histórica na passagem do feudalismo para o Capitalismo 0 desenvolvimento capitalista imposto e condicionado a dominação externa 2) Económico

Acumulação capitalista iniciada nos marcos do estado nacional

Preponderância do modelo Exportador baseado em um ou dois produtos 3) Sociológico . Componentes não-capita!isías não condicionam o Desenvolvimento econômico Componentes não-capitalistas revelam a heterogeneidade estrutural da formação social 4) Político Modeio de desenvolvimento co­

ordenado peio Estado

Modelo de desenvolvimento mantido peio estado

5 3

Outline

Documentos relacionados