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31 O devido processo legal precedente à expropriação do bem privado é direito fundamental, consoante a Cons­ tituição da República (art 5o XXIV) assegurada a ulterior indenização, ressalvadas as hipóteses do art 243.

2.1.2 A Segurança Jurídica

A segurança representa um valor fundamental para o funcionamento do modo de produção capitalista, face à necessidade de certeza e calculabilidade próximas das rela­ ções econômicas e objetividade dos códigos jurídicos. Se há unanimidade entre os dou- trinadores apontando-a como corolário da garantia dos direitos fundamentais do indiví­ duo, com mais força se presta a compor elemento indispensável à exploração privada das probabilidades de lucro ilimitado. Por esta razão a estabilidade das garantias jurídi­ cas, na esfera da justiça, integra o rol de condições favoráveis ao desenvolvimento de uma economia capitalista, conforme se depreende das conclusões apresentadas por W EBER (1998, p. 834), quando tece comentários sobre as diferenças entre as ordens jurídicas dos Estados capitalista e patrimonial:

Aonde encontra-se a tendência em converter-se em uma forma típica da ex­ plosão industrial, significa uma organização do trabalho com o objetivo de um

referência à capacidade contributiva. Pressupõe uma estrutura adequada da fazenda pública, o conheci­ m ento das possibilidades de intervenção de que se p o d e cogitar e o desejo de fa z e r uso dessas possibilidades, inclusive forçando o seu alargamento, pois imobilismo e extrafiscalidade são coisas que se excluem " (FALCÃO. Í981. p. 41-42).

34 A EC n° 29 alterou o art. 156. § Io. que passou a vigorar com a seguinte redação: § Io Sem prejuízo da pro­ gressividade no tempo a que se refere o art. 182. § 4o. inciso II. o imposto previsto no inciso I poderá: I - ser progressivo em razão do valor do imóvel: e II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do im óvel.”. Observe-se que a função extrafiscal do tributo está evidente na hipótese do inciso II. ao passo que, a aplicação de alíquotas progressivas em razão do valor da propriedade visa exteriorizar o princípio da capacidade contributiva no âmbito do IPTU.

consumo em massa, dependendo da possibilidade que previsões seguras tanto quanto mais considerável e importante seja o capital de que melhor se dispõe. Neste caso, conta-se com a estabilidade, segurança e objetividade no funcionamento da ordem juridica, caráter racional e, em princípio previsível das leis da administração Do contrário, faitam aquelas garantias de previsão indispensável para a exploração industrial a base de grandes capitais.

Assim, no plano das relações do Estado com a sociedade civil, este preceito libe­ ral dá suporte à racionalização do direito, convertendo-se em cláusula jurídica assegu- ratória do status negativos, com preponderância da esfera privada e dos meios de per­ petuação das vias de funcionamento do mercado. Tal sistem ática atua sobre as relações jurídicas a partir de uma espécie de avaliação estimativa das possibilidades de resultado do direito e seu procedimento enquanto instrumentos que se coadunam com a economia racional devido às regras previamente conhecidas. No entanto, este apelo em favor da previsibilidade conduz novamente a doutrina liberal ao tema da neutralidade do Estado, pois a qualidade da segurança aponta comandos jurídicos voltados à restringir a sua atu­ ação substancial, na ordem espontânea da sociedade. Cumpre, pois, destacar novamente a teoria evolucionista de HAYEK (1985b), que atribui o nome de kosmos à ordem re­ sultante do avanço natural, sem a intenção humana, ou seja, destituída de propósito e desvinculada do resultado. Esta ordem espontânea corresponde àquela vigente na socie­ dade civil que necessita de pouca regulação pelo direito, ao passo que na esfera pública estabelecem -se determinações objetivando reprimir a atuação do Estado no âmbito das relações econômicas.

N o plano do direito tributário, especificamente, este valor apresenta o fio inicial de sua nitidez no princípio jurídico da legalidade que integra o núcleo das constituições

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3" [Allí donde tinde a convertirse en una forma típica de la exploración industrial, significa una organización dei trabajo com vistas a un consumo en masa. dependiendo de la posibilidad de previsiones seguras, y ello tanto más cuanto más considerable e importante sea el capital de que se dispone. En este caso debe poder contar com la estabilidad. seguridad y objtividad en el funcionamiento dei orden jurídico, en el caráter racional y en principio prévisible de las leves de la administración. De lo contrario faltan aquellas garantias de previsibilidad indispensable para la expiotacion industrial a base de grandes capitales.]

modernas . A máxima da interdição de çriar ou exigir tributo, sem lei que o estabe­ leça, retroage às lutas da burguesia emergente contra o poder arbitrário do soberano de

prescrever taxações sobre a propriedade. A norma traduz segurança ao qualificar deter­ minados fatos como suscetíveis de imposição tributária, adicionada à previsão de ações concretas do fisco destinadas à arrecadação. Esta antevisão do comportamento estatal, permitida ao indivíduo, ressai no preceito da especificação conceituai da incidência, obrigando a lei a descrever exaustivamente os elem entos integrantes do tributo, quais sejam, o fato gerador, os sujeitos ativo e passivo, a alíquota e a base de cálculo37. A ri­ gorosa descrição, que é essencial para que a Fazenda Pública possa realizar o ato de lan­ çamento da exação, também é conhecida como a m aterialização do princípio da tipicida- de. No entanto Mizabel Abreu M achado Derzi prefere adotar a primeira denominação, ampliando os requisitos para a instituição válida de um tributo, acrescendo a necessidade de a lei descrever também as hipóteses de:

a) desonerações tributárias; b) sanções pecuniárias e anistias; c) obrigações assessórias; d) hipóteses de suspensão, exclusão e extinção do crédito tributá­ rio; e) instituição e extinção da correção monetária do crédito tributário, tudo em consonância com o art. 97 do Código Tributário Nacional (DERZI irt BALEEIRO, 1999, p. 622).

A certeza que orienta o contribuinte repudia leis tributárias de tipo abertas (“em branco”), apenas com indicações ao intérprete ou ao aplicador de valorizarem a possibi­ lidade de presunções e ampliarem a discricionariedade da atuação administrativa. Tal legalidade estrita auxilia a relação de previsibilidade da atuação estatal, porque permite aos indivíduos anteciparem objetivam ente os direitos e deveres tributários a fim de afe­ tar minimamente seus interesses. O imperativo ideológico da segurança evidencia a pre-

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,6 Sobre a recepção do princípio da legalidade nos ordenamentos jurídicos nacionais consultar UCKMAR (1976). A Constituição da República dispõe sobre o princípio da legalidade no art. 5o. II integrando o catálo­ go de direitos fundamentais (BRASIL. 2Õ00).

ocupação com a confiança na lei fiscal firmada na faculdade dada ao contribuinte de evitar determinadas operações ou promover outras, buscando elidir a tributação e permi­ tindo que o planejamento integre o ambiente de m axim ização dos ingressos privados.

Para seguir esta lógica, que afiança os valores liberais, integram a CRFB, dentre as limitações do poder de tributar no art. 150, III, as proibições de se cobrar tributos relacio­ nados a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituí­ do ou aumentado (alínea a), bem como exigi-los no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou (alínea b). Destarte, tais normas constitucionais radicam os pressupostos da irretroatividade da lei e anterioridade tributá­ ria, que juntamente com a legalidade, formam os pilares do sistema de direitos do contri­ buinte. Vale destacar que os três princípios jurídicos moldam-se tipicamente ao status tie-

gativus dos direitos, demonstrando que a segurança também apresenta a pretensão de dis­

tanciar o indivíduo do Estado.

No entanto, diante da inegável necessidade de ingressos estatais, por meio da contribuição da sociedade, a legalidade permitiu afastar do conceito de tributo a idéia de opressão da liberdade. É que a precedência de lei para tornar possível a atuação do Esta­ do sobre o patrimônio privado insere a retórica do consentimento popular, pelo voto, ou m ediante a representação. Assim, para o exercício da competência tributária o Estado precisa estar autorizado pelo parlamento, comprovando a noção de restrição de pressões sobre o patrimônio privado. A com petência exclusiva do Legislativo, de criar e aum entar tributos, segundo CARRAZZA (1993), exterioriza a imagem da autotributação, pois a aprovação tácita dos cidadãos e a estrita vinculação à lei salvaguardam o direito de pro- nriedade contra o qual a tributação não pode investir , Este recurso doutrinário coloca

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8 A importância da representação legislativa para o pensamento liberal sobressai no debate em tomo da possi­

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