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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4 CLÍNICAS MÉDICAS VS PIM

As CM eram antigamente alojamentos segregados por sexo, já hoje são alojamentos mistos. Englobam 30% do total de leitos do hospital, que são teoricamente divididos por especialidades médicas (pois quando estão livres são remanejados conforme necessidade) como mostra a tabela 5.

Tabela 5. Especialidades médicas das três Clínicas Médicas do HU, incluídas no estudo. Especialidades CM1 CM2 CM3 Clínica Geral   Gastroenterologia   Pneumologia   Isolamento  Endocrinologia  Cardiologia  Nefrologia  Reumatologia  Neurologia   Hematologia

A severidade das interações também foi avaliada por Clínica Médica, e as variações entre a severidade das PIM ao longo dos trimestres pode ser visualizada na figura 7. Estes períodos (trimestres) representam aproximadamente as estações do ano. Independentemente das especialidades médicas, a mesma tendência se apresenta para os três setores: menor percentual de PIM contraindicadas e “importantes”, e a maioria das interações sendo de gravidade moderada e secundária. Entretanto, a CM2 teve o maior percentual de interações moderadas e secundárias: todos os trimestres acima de 60% (ou seja, menos PIM importantes e contraindicadas). É possível que esta tendência esteja relacionada à diferença nas especialidades da CM2, que são peculiares – neurologia e hematologia.

Figura 7. Compilação de gráficos das três CM. Severidade das PIM distribuídos por trimestre analisado.

Na figura 7, na primavera (set/out/nov) tanto a CM1 quanto a CM2 apresentaram menor percentual de PIM importantes e contraindicadas comparativamente aos outros trimestres no mesmo setor; já a CM3, foi diametralmente oposta, apresentando a maior percentagem de PIM contraindicadas e importantes no mesmo trimestre.

Nos meses mais quentes (dez/jan/fev), a CM1 registrou o menor percentual de PIM moderadas, ou seja, quase 50% de PIM contraindicadas e importantes foram identificadas neste trimestre. Para a CM3, foi o contrário: período com menor percentual de PIM contraindicadas e importantes.

Nota-se também, na CM1 nos meses “quentes” maior prescrição de medicamentos de interação contraindicada, chegando a quase o dobro da porcentagem de PIM desta severidade nos outros

trimestres da mesma CM, e até cerca de três vezes mais do que alguns trimestres de outras CM [ex: junho/julho/agosto da CM3 (5,24%) março/abril/maio (15,79%)].

Comparando-se as três Clínicas, em princípio não se pode estabelecer um padrão entre os setores conforme a sazonalidade, já que há flutuações aleatórias nas porcentagens e para isto seria necessário dois anos de estudo, para checar se as tendências ser. É sabido que nos meses mais frios crescem os casos de doenças respiratórias e os tratamentos frequentemente requerem antimicrobianos. Do total de PIM relacionadas com antibióticos 60% eram de gravidade moderada ou secundária, e o restante, importantes e contraindicadas (discussão sobre PIM e antibióticos no item 5.8), porém, apenas com estes dados não se pode estabelecer uma relação de causalidade.

A CM1 tem um perfil diferenciado devido ao menor número de leitos, enquanto a CM3 envolve o maior número de especialidades médicas

.

Os dados de PIM nas três clínicas, distribuídos por trimestre, são mostrados no gráfico 6 enquanto os números de medicamentos por prescrição, nos três setores estão no gráfico 7.

Analisando-se o gráfico 6, parece haver algumas tendências em relação ao número de PIM das três Clínicas Médicas nos diferentes períodos do ano. Há uma tendência de queda de PIM nos meses mais quentes (de setembro a maio) para CM1 e CM2 e, para CM3, queda de PIM no período da primavera (Set/Out/Nov), com retorno aos valores habituais no início do verão.

Em números absolutos, a CM3 foi o setor com mais PIM (1131), seguida pela CM2 (1048) e ambas com diferença significativa para CM1, que apresentou 750 interações potenciais. Essa diferença pode ser devida, pelo menos em parte, ao menor número de leitos da CM1 (19) em relação às outras duas: a CM2 conta com 30 leitos e CM3, 29. Outra possível razão seria que a CM1 também apresenta menor número de medicamentos/prescrição.

Gráfico 6. Comparação dos números de potenciais interações medicamentosas encontradas na amostra avaliada (período entre junho/2010 e maio/2011), por trimestre, nos diferentes setores. CM1=Clínica Médica 1; CM2=Clínica Médica 2; CM3=Clínica Médica 3. PIM=potenciais interações medicamentosas.

Gráfico 7. Número de medicamentos por prescrição na amostra avaliada (período entre junho/2010 e maio/2011), classificado por trimestre e por setor.

Observando-se desta vez lado a lado os gráficos 6 e 7 nota-se a semelhança entre os dois e suas tendências, indicando a possível correlação entre o número de medicamentos prescritos e o número de potenciais interações. Cruciol-Souza e Thomson (2006) em seu trabalho sobre PIM no HU de Londrina mostra estatísticas relacionadas: Coeficiente de correlação de Pearson (que varia de -1.0 a 1.0 e reflete a extensão de uma relação linear ) foi positivo, de 0,628 entre o número total de PIM, idade do paciente e número de áreas terapêuticas envolvidas, sugerindo que estes seriam claros preditores de potenciais interações. Os coeficientes de Pearson entre número de medicamentos/prescrição e número de interações potenciais das Clínicas foram para CM1 e CM3, 0,717 e 0,67, respectivamente, e o mais discrepante apareceu na CM2, 0,463, o qual seguiria o padrão se não se obtivesse um valor de Pearson negativo em um dos trimestres tabela 5). Também, Johnell e Klarin (2007) sugerem uma forte relação entre número de medicamentos dispensados e a probabilidade de PIM, e uma associação ainda maior com o tipo de DI potencialmente grave, as quais devem ser evitadas.

Tabela 6. Coeficientes (de correlação) de Pearson (CP) entre número de medicamentos/prescrição e potenciais interações nos diferentes trimestres do período avaliado (2010-2011) para as três Clínicas Médicas. (CP varia de -1,0 a 1,0).

Entretanto, como a avaliação foi pelo período de apenas um ano, as variações não necessariamente refletem a sazonalidade, pois mudanças institucionais, políticas e no quadro de pessoal, falta de medicamentos, entre outros, podem ter acontecido neste período, (fatos não investigados através deste trabalho) sendo este um possível viés de análise.