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CAPÍTULO I – Psicomotricidade

1.2. Clarificação e Operacionalização de Conceitos acerca da Psicomotricidade

A origem do conceito da Psicomotricidade remonta à Antiguidade, com as conceções de Aristóteles (384-322 a.C.), quando este se refere ao dualismo corpo-alma.

É a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenómenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, a palavra psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas têm um enfoque neurológico.

Em 1900, Werneck utiliza o termo pela primeira vez, mas cabe a Dupré (1907), neuropsiquiatra, introduzir o conceito de debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor), num relato neurológico, do ponto de vista patológico.

Em 1925, Henry Wallon, psicólogo, grande pioneiro da definição do conceito de psicomotricidade, ocupa-se do movimento humano, como instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento com o afeto, a emoção, o meio ambiente e os hábitos do indivíduo. Para ele, o movimento é a única expressão, e o primeiro instrumento do psiquismo, sendo o desenvolvimento psicológico da criança o resultado da oposição e substituição de atividades que se precedem umas as outras. Wallon, ao introduzir a noção de esquema corporal, refere - se a este conceito não somente como uma unidade biológica ou psíquica, mas como a construção e elemento de base para o desenvolvimento da personalidade da criança.

Em 1935, Eduard Guilmain, neurologista, impulsiona as primeiras tentativas de estudo da reeducação psicomotora, desenvolvendo, um exame psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico.

Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Com estas novas contribuições,a psicomotricidade adquire uma nova autonomia.

A psicomotricidade, para Wallon e Ajuriaguerra, concebe os determinantes biológicos e culturais do desenvolvimento da criança como dialéticos (em sentido bastante genérico, oposição, conflito originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenómenos empíricos) e não redutíveis uns aos outros.

Inúmeros pesquisadores contribuíram para que o conceito da psicomotricidade fosse mais divulgado: Claparède, Montessori, Schilder, Gesell, Piaget, Rossell, Costallat,

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Ramain, Lapierre, Aucutier, Luria, Vayer, Bérges, Lagrange, Lebovici,Désobeau, Guillarme, Defontaine, Fonseca, entre outros.

A partir dos anos 70, o conceito de psicomotricidade ganhou uma expressão significativa, uma vez que traduz a solidariedade profunda e original entre a atividade psíquica e a atividade motora, sendo o movimento parte integrante do comportamento. A psicomotricidade é o produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, e instrumento privilegiado, através do qual a consciência se forma e materializa-se.

Segundo Lussac (2008) e Rosa Neto (2002), Psicomotricidade é a interação de diversas funções neurológicas, motrizes e psíquicas, perspetivando a educação através do movimento e modifica-se ao longo do tempo, com as influências do quotidiano e as alterações que o ambiente exerce sobre o corpo, pelo que a estimulação precoce é fundamental.

A psicomotricidade, na perspetiva de Barros (2008) é uma ação educativa integrada e fundamentada na educação, na linguagem e nos movimentos naturais e espontâneos da criança, de maneira consciente e intencional. Ajuda a reencontrar o caminho da comunicação consigo mesma e com os outros, além de transformar o mundo ao seu redor.

É por meio do movimento que ocorrem as reações de origem interoceptivas, propriocetivas e exterocetivas e é através da educação pelo movimento (educação psicomotora) em seus aspetos orgânicos, motores e psicológicos que ocorrem a formação do carácter e o desenvolvimento da capacidade de resolução de tarefas da vida quotidiana, que permitem à criança viver em harmonia com o seu corpo, com os outros e com o ambiente ao seu redor; favorece o desenvolvimento dos gestos, dos movimentos e a capacidade de perceção; desenvolve o equilíbrio; estimula a confiança em si; atenua os bloqueios que interferem na aprendizagem escolar; favorece o aperfeiçoamento da força de vontade, da tomada de decisão e da perseverança; estimula a criatividade, a tolerância e a aceitação dos desafios com responsabilidade.

Barros (2008) evidencia a Psicomotricidade como ação educativa integrada e fundamentada na linguagem e nos movimentos naturais e espontâneos das crianças, tendo como finalidade normalizar e aperfeiçoar a conduta global do ser humano, que utiliza as ações psicomotoras, como meio de comunicação na exploração do movimento consciente, intencional e sensível e é o ponto total de apoio das experiências sensório –

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motoras, emocionais, afetivas, cognitivas, espirituais e sociais, como um todo. Refere ainda que a Psicomotricidade ajuda a pessoa a ter uma melhor tomada de consciência do seu corpo integradas emoções, para reencontrar o caminho das comunicações consigo mesma e com os outros.

A Psicomotricidade ainda está dividida em três áreas: Educação, Reeducação e Terapia Psicomotora, que atuam de forma integrada na vida emocional e efetiva do ser humano. Tem por objetivo harmonizar o comportamento humano, tendo por base o movimento e da linguagem, onde as pessoas comunicam entre si e transformam o mundo que as rodeia.

Lussac (2008), Oliveira (1997) e Defontaine (1980) declaram que só podemos entender a psicomotricidade através da triangulação corpo, espaço e tempo e define os dois componentes da palavra: psico, os elementos do espírito sensitivo e motricidade como movimento, mudança no espaço, em função do tempo e em relação a um ponto de referência.

Fávero (2007), Oliveira (1997) e Ajuriaguerra (1980), afirmam ser um erro estudar apenas psicomotricidade apenas do ponto de vista motor.

Pinto (2008) relata que ao interagir, a criança dá sentido às experiências vividas, desde as fases sensoriomotor e pré-operatória.

Para Heinsius (2010, 2008), a psicomotricidade estimula os vínculos que a criança estabelece com as outras pessoas e objetos, por meio de suas ações e é uma disciplina que tem como objeto de estudo o corpo e suas manifestações. O que interessa à Psicomotricidade é a construção do corpo na integração das dimensões motora- instrumental (esquema corporal), emocional-afetiva (necessidades, conflitos vinculares, proibições, símbolos e marcas inconscientes) e práxico-cognitiva (conhecimento do próprio corpo e seu alcance no espaço e no tempo), onde corpo e psiquismo formam uma unidade, tendo a construção do indivíduo por base os vínculos e relacionamentos com os outros sujeitos, dentro de um contexto social em um determinado contexto histórico.

O direito de brincar na infância foi instituído pelo artigo nº 31 da Convenção dos Direitos da Criança na ONU, em 1989, que garante à criança o direito ao descanso, ao tempo livre, a participar em atividades de jogos e recreação, adequados e apropriados à sua idade e a usufruir livremente da vida cultural e artística do seu meio (Cohen, Faria & Magnan, 2010).

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Através de brincadeiras, a criança desenvolve a sua psicomotricidade e relaciona- se com o meio ao seu redor, através da ação do seu próprio corpo, localizando-se no tempo e no espaço, melhora a sua qualidade de vida e bem-estar, além de elaborar e resolver situações conflituantes, que fazem parte do seu dia-a-dia. Ao interagir com um adulto, em atividades previamente planeadas e devidamente registadas, a criança aprende a falar e a interiorizar valores, conceitos e papéis sociais, apropria-se do repertório cultural corporal do qual faz parte, fortifica-se enquanto indivíduo e afirma a sua existência enquanto ser social.

Elevada ao nível de ciência, a psicomotricidade está a adquirir crescente importância nos trabalhos de desenvolvimento da infância, a partir da fase pré – escolar e mesmo antes.

Como trata da relação entre o homem, seu corpo, o meio físico e sócio – cultural no qual convive, a Psicomotricidade é estudada e investigada em diversos campos científicos, tais como a Neurofisiologia, a Psiquiatria, a Psicologia e a Educação, por exemplo, dando a cada uma dessas áreas um enfoque específico.

1.3. O desenvolvimento psicomotor e o Modelo de Ativação do Desenvolvimento