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Contextualização da influência da psicomotricidade nos diferentes ciclos de vida.

CAPÍTULO I – Psicomotricidade

1.1. Contextualização da influência da psicomotricidade nos diferentes ciclos de vida.

Se considerarmos a psicomotricidade do ponto de vista do homem em ação, numa visão histórico – antropológica, Lussac (2008) analisa o comportamento do homem pré-histórico, primitivo, cuja sobrevivência estava ligada ao seu desenvolvimento psicomotor, cujas atividades essenciais eram a caça, a pesca, a colheita de alimentos para a sobrevivência do grupo e para que isso ocorresse era necessário ter força, velocidade e coordenação, entre outras coisas. Além disso, havia a interação com os objetos, com o outro nos momentos de recreação, nos ritos cerimoniais desenvolvidos por eles.

Certamente tiveram de estruturar todos os seus atos para uma melhor capacidade de sobrevivência, de maneira mais precisa.

Será diferente o comportamento e as habilidades do homem do século XXI?

Hoje os tempos são outros, há mais recursos, o homem está rodeado de modernas tecnologias, mas também necessita dessas habilidades para a sua sobrevivência, embora se tenha aperfeiçoado mais, para uma melhor adaptação ao meio que o rodeia.

É necessário ter um bom domínio corporal, uma boa perceção óculo- manual, auditiva, uma lateralização bem definida, uma boa faculdade de perceber os símbolos que o rodeiam, a orientação espacio- temporal e rítmica, uma boa capacidade de concentração, além das perceções de forma, tamanho e número, bem como de uma boa coordenação estática e dinâmica, anteriormente conhecidas como coordenação motora grossa e fina e um bom equilíbrio.

Para uma vivência em sociedade são considerados sete os elementos básicos inerentes ao homem: correr, saltar, escalar, levantar peso, carregar (sentido de transportar), pendurar e arremessar.

Serão esses movimentos diferentes dos que seriam normalmente exigidos ao homem pré- histórico?

Atualmente existem diferentes olhares e correntes distintas na área da psicomotricidade. Enquanto uma aponta para a educação psicomotora, outra, para a terapia e reeducação psicomotora (Lussac, 2008; Le Boulch,1982). Estas correntes já

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evidenciam não só diferentes intervenções, de um modo superficial, sob a perspetiva de mercado e atuação profissional, além da atuação em diferentes faixas etárias.

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP), em 2003 estabelece os diversos contextos de possibilidades de ação, bem como as faixas etárias para o desenvolvimento da psicomotricidade: crianças em fase de desenvolvimento; bebés de alto risco; crianças com dificuldades/atrasos no desenvolvimento global; pessoas portadoras de necessidades especiais: deficiências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios sensoriais, percetivos, motores e relacionais em consequência de lesões neurológicas; família e a 3ª idade, que poderão ser atendidas em creches; escolas; escolas especiais; clínicas multidisciplinares; consultórios; clínicas geriátricas; postos de saúde; hospitais; empresas e define a psicomotricidade como um termo empregado para uma conceção de movimento integrado e organizado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante da sua individualidade, linguagem e socialização (Lussac, 2008).

Portanto, a psicomotricidade é uma ciência aplicável em qualquer época da nossa vida. Seja na infância, adolescência, adulta ou velhice.

Na infância, é de vital importância na área do desenvolvimento e aprendizagem. O corpo é um universo em particular e através dele, a criança sente, age, interage, percebe o mundo ao seu redor e descobre novos horizontes, partilha o seu mundo com o outro. Como não há dois seres iguais, e não há dois desenvolvimentos iguais, aprende a respeitar as suas e as limitações dos outros.

Na perspetiva de Silva (2005), a psicomotricidade nesta faixa etária, auxilia esse universo em formação a descobrir- se por inteiro, através de estimulação e exploração concreta do mundo.

A adolescência representa uma nova fase no ciclo de vida, onde surgem novos conflitos, novas informações em que o corpo se transforma mental e fisicamente e se cria uma nova imagem corporal, que tem de ser reestruturada e ressignificada. A psicomotricidade é, assim, um apoio importante para a assimilação dessa nova fase (Silva, 2005).

A fase adulta traz novos desafios, novos padrões de comportamento, novos hábitos, em que o sujeito traz as experiências vividas na infância e tem de se adaptar ao stress e às tensões do quotidiano, com consequências na saúde e bem-estar. Nesse

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momento a função da psicomotricidade é resgatar a verdadeira essência reequilibrando e reorganizando o corpo através de terapias que vão gerar auto conhecimento e fortalecimento da autoimagem (Silva, 2005).

A terceira idade ainda gera muitos mitos e crenças. Ocorrem muitas alterações anatómicas, funcionais e emocionais. A gerontopsicomotricidade proporciona uma diminuição nas perdas psicomotoras, que acontecem durante o processo de envelhecimento. Os indivíduos recuperam sua autonomia, o seu desejo, a sua motivação, o seu prazer e a sua alegria.

Como pudemos refletir, com o passar dos anos surgem novas imagens corporais para um mesmo indivíduo, em constante processo de atualização, que tem de agir e interagir num mundo rodeado de outras pessoas, com outras ideias, outras perceções, que tem de se adaptar a realidades diferentes, situações adversas e conflitos geradores de stress não muito diferentes das vividas pelos homens primitivos.

O nosso trabalho tem por objetivo estudar como é que um programa de intervenção que une a psicomotricidade e a resiliência poderia ajudar crianças portuguesas brasileiras e a ultrapassar essa primeira fase do ciclo de vida humano.

Num primeiro momento, discutiremos diferentes aspetos relacionados com a psicomotricidade, tais como conceitos gerais, o que é o desenvolvimento psicomotor e como poderá ser ativado, os eixos da psicomotricidade, como estabelecer grelhas de observação e um estudo realizado anteriormente com crianças sócio, cultural e economicamente desfavorecidas no Brasil.

Numa outra fase abordaremos a problemática da Resiliência, onde apresentaremos algumas definições e programas de intervenção aplicados atualmente nas primeiras fases do ciclo de vida: infância e juventude.

Passaremos então à metodologia e à perspetiva empírica, propriamente dita, com diversos estudos exploratórios efetuados, quer no Brasil, quer em Portugal, bem como a análise dos resultados obtidos e a conclusão desses estudos realizados.

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