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2 A ECONOMIA BRASILEIRA E O DESEMPENHO DA INDÚSTRIA DE FUNDOS

4.2 RESULTADOS ENCONTRADOS PELA MODELAGEM ECONOMÉTRICA

4.2.4 Classe de Fundos de Investimento Referenciado DI

A composição do modelo para estudar a variação patrimonial da classe de fundos de investimento referenciado DI teve como componentes as variáveis variação patrimonial da classe de renda fixa, PIB nominal, variação do saldo da poupança e a presença da constante. No subcapítulo 3.3, foi identificado choque estrutural para os 12 meses de 2004, porém não se mostrou significativo no modelo. O teste para identificação de heteroscedasticidade não apresentou evidências do efeito ARCH na equação.

Em virtude da separação realizada entre as subclasses, na qual se consolidaram nesta classe os tipos de fundos curto prazo, curto prazo aplicação automática e referenciado DI, o foco da modelagem econométrica utilizada para a rentabilidade da classe foi evidenciar a gestão passiva de monoalocação destes fundos em títulos atrelados à Selic. A sequência do procedimento metodológico confirmou choque estrutural entre abril de 2003 e junho de 2005, porém sem atingir o nível de significância de 5% na equação. Também foram evidenciados efeitos ARCH, para os quais se propôs o ajuste no modelo via GARCH (1,1).

Na visão do autor deste estudo, estes ajustes, aliados à presença da constante e de um coeficiente menor que 1 (um) na variável Selic, estão associados aos custos e aos diferentes níveis de taxa de administração cobrados pelas instituições financeiras. É característico destes tipos de fundos encontrar distorções significativas nas taxas administrativas. As instituições financeiras utilizam-se desta estratégia para diferenciar, por exemplo, a oferta destes produtos entre os investidores de alta renda e os atendidos nas agências consideradas varejistas. A Tabela 14 apresenta os modelos econométricos patrimonial e de rentabilidade desta classe.

Tabela 16 - Modelos econométricos patrimonial e de rentabilidade da classe de fundos de investimento

referenciado DI entre julho de 2002 e junho de 2015.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.

Legenda: *Significante a 10,00% (1,6450); ** Significante a 5,00% (1,9600); ***Significante a 1,00% (2,5760).

Esta é a classe que concentra o maior volume de recursos da indústria brasileira de fundos de investimento. A proposta de trabalho desta dissertação, utilizando-se de um selecionado grupo de variáveis macroeconômicas, não conseguiu tecer grandes contribuições para explicar o movimento patrimonial desta classe. Contudo, as variáveis independentes utilizadas permitiram trazer alguns pontos para discussão.

Um fato relevante é que o desempenho dos fundos enquadrados nesta classe não se mostrou como um fator de ponderação no movimento patrimonial. Tal situação foi específica desta classe; nas demais, de alguma forma os retornos dos fundos sobre seus guarda-chuvas explicaram parte das movimentações.

Modelo Patrimonial

Variáveis Coeficiente Erro Padrão Estatística T

Constante 1,9199*** 0,2289 8,3887

Variação do Saldo da Poupança -0,8496** 0,1383 -6,1437

PIB Nominal -0,0722*** 0,0344 -2,1025

Variação Patrimonial Classe Renda Fixa 0,1552*** 0,0519 2,9913

R² Ajustado 0,34184 Durbin-Watson 1,908906 Critério de Akaike 3,76788 Critério de Schwarz 3,799642 Estatísticas Relevantes Equação Modelo de Rentabilidade

Variáveis Coeficiente Erro Padrão Estatística T

Constante 0,0137*** 0,0053 2,5791 Selic 0,9889*** 0,0053 185,7699 Constante 0,0000*** 0,0000 3,0679 Resíduo (-1)^2 0,2879*** 0,1010 2,8497 GARCH (-1) 0,6355*** 0,0989 6,4238 R² Ajustado 0,981754 Durbin-Watson 0,992699 Critério de Akaike -4,969253 Critério de Schwarz -4,871501 Estatísticas Relevantes Equação Equação da Variancia

Conforme explicado no subcapítulo 3.1, houve a divisão da classe renda fixa em dois grupos: referenciado DI e renda fixa. Embora, na classificação Anbima, façam parte da mesma classe, o objetivo desta divisão foi evidenciar as peculiaridades e os caminhos distintos que os tipos de fundos enquadrados em cada grupo tomam diante das variações macroeconômicas estudadas. No entanto, a utilização da variação patrimonial da classe renda fixa como uma das variáveis explicativas no modelo patrimonial procurou demonstrar que, mesmo havendo estas distinções, há convergência em parte nos movimentos patrimoniais destas duas classes estudadas.

Outro ponto a ser abordado é que, na opinião do autor deste estudo, esta classe desempenha a função de caixa para os investidores, sobretudo pela alta liquidez que permite agilidade para movimentações dos recursos. Isto se aplica para investidores pessoas físicas, mas principalmente para os investidores pessoas jurídicas. Este entendimento permite justificar o baixo R² ajustado encontrado neste modelo e a falta de relação entre o retorno e as alterações patrimoniais. As movimentações estariam mais atreladas às situações específicas de cada investidor, como, por exemplo, decisões de investimentos e níveis de liquidez das empresas, ou necessidade de utilização dos recursos por parte das famílias nos seus custeios.

Esta percepção ganhou força com a adesão da variável PIB nominal no modelo com sinal negativo. O crescimento econômico incentiva nas empresas a utilização dos seus recursos em caixa em projeto de ampliação e aprimoramento da produção, bem como, nos investidores pessoas físicas, amplia o interesse em ativos mais voláteis. Desta forma, esta classe é impactada negativamente dado seu papel de caixa para os investidores.

Ainda nesta linha, com peso maior para os investidores pessoas físicas, este papel sofre concorrência com as aplicações em caderneta de poupança. Embora os rendimentos tenham sido constantemente inferiores aos títulos atrelados à Selic, a caderneta de poupança possui grande importância para boa parte dos investidores. Trata-se de uma cultura muito forte construída ao longo do século passado, principalmente nos momentos de hiperinflação, em torno da segurança atrelada a esta aplicação, e para as pessoas físicas é reforçada pelo diferencial de isenção de imposto de renda. O modelo pôde captar esta concorrência ao dar significância à variável variação do saldo da poupança com coeficiente negativo, a qual é exposta no Gráfico 27 a seguir.

Gráfico 27 - Comparativo dos movimentos das variáveis patrimônio classe referenciado DI e variação do saldo

da poupança entre julho de 2002 e junho de 2015.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.