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Classificação do associativismo brasileiro: números gerais e campos associativos específicos

Associações no Brasil hoje: números e significados

2.1 Perfil e características

2.1.1 Classificação do associativismo brasileiro: números gerais e campos associativos específicos

Os dados da pesquisa revelam que em 2002 havia aproximadamente 276 mil associações civis no país, empregando 1,5 milhão de pessoas, sendo 62 por cento dessas associações organizações relativamente novas, constituídas a partir de 1991. Contudo, os dados apontam para uma imensa pluralidade e heterogeneidade desse universo associativo: igrejas, hospitais, escolas, universidades, entidades de assistência social, associações patronais e profissionais, associações de produtores rurais, entidades de cultura e recreação, meio ambiente, associações de moradores e organizações de defesa de direitos, entre outras. Pretendemos analisar e detalhar cada um desses campos associativos, buscando características comuns e especificidades.

Todo levantamento estatístico é como uma fotografia borrada da realidade. Conseguimos ver a paisagem, alguns contornos de elementos específicos dentro da paisagem,

algumas cores. Contudo, podemos não conseguir apreendê-la como um todo. Fazemos sempre uma tentativa de aproximação dessa realidade, observando-a em todos os seus elementos e formas e interpretando-a dentro de uma perspectiva social e política mais ampla.

Inicialmente, temos alguns limites metodológicos. Toda proposta de classificação de um conjunto de dados esbarra em uma necessidade de nivelamento e homogeneização. Quando tentamos classificar um universo tão heterogêneo como as associações civis brasileiras, criamos certas categorias a partir da observação da realidade e tentamos encaixar essa mesma realidade nessas “caixinhas”. Quase sempre essa tarefa não nos dá um resultado preciso, contudo, permite-nos revelar essa fotografia borrada da paisagem como um todo, e a partir daí, em um trabalho mais minucioso, podemos interpretá-la a partir de outras informações e referências.

O Cempre é um importantíssimo acervo de dados sobre as pessoas jurídicas no país, reunindo informações cadastrais e econômicas provenientes de várias pesquisas anuais realizadas pelo IBGE e da Relação Anual de Informações Sociais – Rais. Entretanto, as pessoas jurídicas contidas no Cempre, além de serem classificadas pela natureza jurídica (ver Anexo 1), realizam uma autoclassificação com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE. Ou seja, as associações civis brasileiras, quando prestam informações obrigatórias ao Estado (Receita Federal e Ministério do Trabalho – Rais) são autoclassificadas pela natureza de sua atividade econômica, o que a princípio é um contra-senso, a partir da tabela de grupos e classes da CNAE. Isso gera imprecisões nessa classificação, além de uma grande freqüência de associações autoclassificadas na classe 9199-5 – “outras atividades associativas não especificadas anteriormente”. Para as associações cujo objetivo principal é a realização de uma atividade econômica como hospitais (CNAE 8511-1), universidades (CNAE 8031-4) e escolas de ensino fundamental (CNAE 8015-2), essa classificação é mais precisa.

A pesquisa realizada pelo IBGE/Ipea em parceria com duas redes de organizações da sociedade civil (IBGE, 2004), tendo em vista essa dificuldade de classificar tal conjunto de dados, buscou, além de alocar as CNAEs específicas em categorias inspiradas em uma classificação internacional,9 adaptada com liberdade para a realidade brasileira, trabalhar com filtros e palavras-chave a partir da razão social de cada associação e do seu nome fantasia.

9 COPNI – Classification of the Purpose of Non-Profit Institutions Serving Households (Classificação dos

Objetivos das Instituições sem fins lucrativos a Serviço das Famílias). Para mais informações, consultar a página eletrônica das Nações Unidas, www.unstats.un.org/unsd/cr/registry.

Isso resultou, por exemplo, na criação de filtros como “associação de moradores”, que não correspondia a nenhuma das classes da CNAE, levando à criação de subgrupos classificatórios específicos. O sistema de filtros e palavras-chave, uma vez aplicado aos dados estatísticos contidos no Cadastro, passou por uma verificação minuciosa de consistência estatística. Mesmo assim, um universo considerável de associações (8,23 por cento ou 22.715 organizações), autoclassificadas na CNAE na classe 9199-5 – “outras atividades associativas não especificadas anteriormente” –, não conseguiram classificar-se dentro das categorias criadas.

Fizemos todas essas ressalvas e explicitações metodológicas no intuito de apresentarmos a Tabela 1, que classifica o universo total de aproximadamente 275.895 associações civis brasileiras em dez grupos principais e 25 subgrupos associativos (ver, no Anexo 2, as notas explicativas sobre as organizações contidas em cada um dos 25 subgrupos associativos).

Tabela 1 – Classificação e número das associações e das fundações privadas (Fasfil) no Brasil, em 2002

Fasfil

Classificação No Absoluto % do Grupo % do Brasil

Habitação 322 100,00 0,12

Habitação 322 100,00 0,12

Saúde 3.798 100,00 1,38

Hospitais 2.009 52,90 0,73

Outros serviços de saúde 1.789 47,10 0,65

Cultura e recreação 37.539 100,00 13,61 Cultura e arte 10.645 28,36 3,86 Esportes e recreação 26.894 71,64 9,75 Educação e pesquisa 17.493 100,00 6,34 Educação infantil 2.801 16,01 1,02 Ensino fundamental 7.968 45,55 2,89 Ensino médio 1.322 7,56 0,48 Educação superior 1.656 9,47 0,60 Estudos e pesquisas 1.817 10,39 0,66 Educação profissional 244 1,39 0,09

Outras formas de educação / ensino 1.685 9,63 0,61

Assistência social 32.249 100,00 11,69

Assistência social 32.249 100,00 11,69

Religião 70.446 100,00 25,53

Religião 70.446 100,00 25,53

Associações patronais e profissionais 44.581 100,00 16,16

Associações empresariais e patronais 3.533 7,92 1,28

Associações profissionais 16.151 36,23 5,85

Associações de produtores rurais 24.897 55,85 9,02

Meio ambiente e proteção animal 1.591 100,00 0,58

Meio ambiente e proteção animal 1.591 100,00 0,58

Desenvolvimento e defesa de direitos 45.161 100,00 16,37

Associação de moradores 14.568 32,26 5,28

Centros e associações comunitárias 23.149 51,26 8,39

Desenvolvimento rural 1.031 2,28 0,37

Emprego e treinamento 388 0,86 0,14

Defesa de direitos de grupos e minorias 4.662 10,32 1,69 Outras formas de desenvolvimento e defesa de direitos 1.363 3,02 0,49 Outras fundações privadas e associações sem fins

lucrativos não especificadas anteriormente 22.715 100,00 8,23 Outras fundações privadas e associações sem fins

lucrativos não especificadas anteriormente

22.715 100,00 8,23

Total – Brasil 275.895 100,00

Podemos verificar, por meio de uma singela observação da Tabela 1, a extrema heterogeneidade do associativismo civil no país, com relação às trajetórias históricas de cada grupo e subgrupos, e mesmo das próprias associações dentro de cada subgrupo. Há também uma grande diversidade em relação à natureza, às perspectivas de atuação e aos objetivos de cada segmento.

Com base em uma observação geral sobre esses dados, faremos um exercício exploratório de identificação de alguns campos associativos a partir de certas configurações políticas refletidas em suas trajetórias históricas e em suas perspectivas de atuação. Para tanto, utilizaremos alguns microdados estatísticos do estudo do IBGE (a razão social e o nome fantasia das associações civis), além de outras informações e estudos sobre o universo associativo brasileiro.

Gostaríamos de deixar registrado que o nosso foco dirige-se à identificação de campos políticos associativos, a partir de certas características comuns que serão exploradas a seguir. Cabe dizer que há uma infinidade de objetivos, perfis e perspectivas de atuação dentro do associativismo brasileiro, expressando a extrema pluralidade e as possibilidades criativas próprias da diversidade cultural da nossa sociedade civil. Não iremos descrever todos os conjuntos associativos existentes atualmente na sociedade brasileira, mas dirigir o nosso olhar para alguns fenômenos políticos. Isso não significa nenhum tipo de homogeneização, mas apenas uma opção. Quando analisamos os microdados disponíveis, mostra-se impressionante a diversidade do nosso universo associativo. Contudo, por razões metodológicas e em razão do foco do presente trabalho, não iremos explorar esse nível mais fragmentado e diverso do associativismo brasileiro.

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