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Classificação das causas prováveis - factores de degradação

2. CARACTERIZAÇÃO DOS REVESTIMENTOS ETICS, PRINCIPAIS ANOMALIAS E CAUSAS PROVÁVEIS

2.8. Classificação das causas prováveis - factores de degradação

Figura 2.20. Deficiência de planeza com distinção de desníveis horizontais na superfície (imagem à esquerda) e irregulari-dades superficiais (imagem ao centro e à direita)

2.8. Classificação das causas prováveis - factores de degradação

O diagnóstico das causas das manifestações anómalas é uma dificuldade expressiva e constante, que requer um estudo cuidado das características intrínsecas dos constituintes do sistema ETICS e de todos os outros fac-tores que possam comprometer a sua aparência estética, o seu desempenho e a sua durabilidade.

A complexidade na identificação dessas causas advém, essencialmente, da dificuldade em reconhecer a origem da anomalia e do facto de esta poder derivar da conjugação das acções de vários factores que podem reforçar-se mutuamente.

Neste contexto, serão descritos, sucintamente, os factores de degradação associados a sistemas ETICS, eviden-ciando-se os erros de projecto, os erros de execução, as acções ambientais e a ausência de manutenção como os mais condicionantes para a durabilidade dos sistemas ETICS. Enumera-se ainda, nesta classificação, as carac-terísticas dos edifícios e dos materiais utilizados, os erros de utilização e também outras acções exteriores, normalmente associadas à acção humana.

2.8.1. Factores associados a acções ambientais

As acções ambientais são relevantes para a percepção da degradação de sistemas ETICS e podem condicionar o tipo de materiais seleccionados e o próprio método de aplicação dos constituintes.

Os principais factores ambientais considerados são a acção da temperatura, da poluição, do vento intenso, da água, da radiação solar e, finalmente, dos agentes biológicos. Como Chai (2011) refere, todos estes agentes activos traduzem-se em anomalias mais ou menos significativas dependendo da sua intensidade, do período de actuação e da recorrência com que afectam os sistemas.

2.8.1.1. Acção da água

A acção da água contribui para o aparecimento de grande parte das anomalias no sistema ETICS. Para além de surgir à superfície e no interior do sistema ETICS com relativa facilidade, ainda é um elemento favorável à fixa-ção de sujidade e ao desenvolvimento de microorganismos de diversa natureza.

A água pode incidir directamente na superfície através de escorrências, fissuras ou por salpicos; pode ascender do solo por capilaridade atingindo a base das paredes; pode surgir por condensações ou infiltrações de diversa origem ou advir da própria construção, através do excesso de água utilizada na produção de argamassas ou devido a reduzidos tempos de secagem, entre outros.

A presença de humidade é ainda responsável pela diminuição de aderência e de planeza, contribuindo para a presença de fissuração, empolamentos, descolamentos e destacamentos, promove a oxidação de elementos metálicos que mancham a superfície da fachada e favorece o surgimento de manchas de eflorescências através do transporte de substâncias activas.

Emídio (2012) considera ainda como condicionantes os ciclos de secagem e molhagem que, no caso de ETICS, podem gerar tensões e variações dimensionais significativas das placas isolantes.

2.8.1.2. Acção da temperatura

A temperatura é um factor relevante na degradação dos sistemas ETICS, contribuindo para diversas ocorrências anómalas, nomeadamente perdas de continuidade e aderência, deficiências de planeza ou irregularidades na superfície. Esta acção torna-se ainda mais condicionante quando o seu efeito se manifesta em meios húmidos. O aumento de temperatura, associado muitas vezes a radiação solar intensa, provoca o aquecimento das superfícies das fachadas, particularmente quando estas apresentam revestimentos de cores muito escuras ou grande heterogeneidade de cores. Como estes acabamentos são menos reflectores do que os de cor clara, absorvem maior radiação, tendendo a surgir tensões na superfície externa dos edifícios que geram fissuração e favorecem os fenómenos de ruptura dos revestimentos.

A diminuição brusca de temperatura também pode ser responsável pela fissuração, sobretudo quando existe humidade no sistema ETICS, conduzindo à eventual formação de gelo, com consequente aumento significativo de volume e abertura de fissuras. De forma semelhante, e como refere Ximenes (2012), esta redução térmica pode contribuir também para a migração de sais para a superfície com formação de eflorescências e pode proporcionar condições para o estabelecimento de microorganismos devido à formação de condensações superficiais. A autora identifica ainda como condicionantes o desrespeito pelas recomendações dos fabricantes para a aplicação do sistema em condições adequadas de temperatura e humidade (não devem ser muito ele-vadas nem muito reduzidas) que podem gerar deformações e problemas de aderência.

As alterações significativas de temperatura propiciam ainda o desgaste dos acabamentos e conduzem a varia-ções dimensionais das placas de isolamento, contribuindo para a ocorrência de anomalias de perda de integri-dade e planeza, referidas anteriormente.

2.8.1.3. Acção da radiação solar

A radiação solar é relevante sobretudo pelo desgaste que provoca nos acabamentos e pelas condições favorá-veis que permite à fixação de determinados agentes biológicos. O desgaste ou envelhecimento dos acabamen-tos provocado pela incidência de radiação é facilmente identificável pelas mutações que se verificam na colora-ção e brilho originais das fachadas e, de forma mais gravosa, pela sua fissuracolora-ção e aparência quebradiça. Existem certos agentes biológicos que proliferam mais facilmente em ambientes com elevada luminosidade, como é o caso das algas, líquenes, fungos, musgos e vegetação parasitária.

É relevante referir que, por vezes, o incorrecto armazenamento ou aplicação das placas de isolamento térmico em condições de exposição elevada a radiação solar, pode causar a sua degradação superficial com possível retracção do isolante e consequente dificuldade de aderência da camada de base às placas de isolamento.

2.8.1.4. Acção do vento

O vento funciona como um meio de transporte de partículas em suspensão, nomeadamente poeiras, sais e resíduos provenientes da poluição atmosférica que acabam por se fixar nas fachadas. Estas substâncias activas promovem o aparecimento de manchas de sujidade e de crescimento biológico.

O vento, pela sua capacidade de mobilizar sais em zonas costeiras, pode ter também um forte contributo no apa-recimento de eflorescências nas fachadas revestidas a ETICS. Ximenes (2012) considera que esta acção ainda é relevante na secagem diferencial dos revestimentos. Como não actua de forma uniforme em toda a fachada, sendo mais intenso em determinadas zonas, pode gerar irregularidades e tensões que provocam fissuração.

2.8.1.5. Acção biológica

A acção biológica, além de afectar a aparência estética das fachadas, pode também provocar degradação devi-do à retenção de humidade nas zonas onde se geram e à pressão e penetração das raízes da vegetação parasi-tária no interior do sistema. Também as aves, através dos seus dejectos, causam sujidade superficial e podem gerar ataques químicos, ainda que estas situações anómalas sejam pouco comuns em ETICS.

2.8.2. Factores relacionados com as características dos edifícios

As características dos edifícios mais relevantes para o desempenho do sistema ETICS são o tipo de envolvente, a idade e a orientação da fachada.

2.8.2.1. Tipo de envolvente do edifício

O tipo de envolvente pode condicionar o desempenho e a funcionalidade das fachadas revestidas por sistemas ETICS, dependendo se estas se encontram em zonas urbanas, rurais, marítimas ou industriais. Dependendo do local onde os edifícios estão inseridos, a altura dos edifícios pode ter relevância significativa. De acordo com

Chai (2011), quanto mais alto for um edifício, mais exposto está às intempéries (acção do vento, do gelo e da chuva) e à poluição atmosférica, principalmente em ambientes industriais e, em menor escala, em ambientes urbanos. Nas zonas urbanas, o ambiente mais poluído minimiza a acção da radiação solar, não provocando um envelhe-cimento tão acelerado dos revestimentos. Por outro lado, e como refere Ximenes (2012), nestas zonas há maior propensão para o desenvolvimento de agentes biológicos. A existência de edifícios nas proximidades atenua a incidência de radiação solar, o que aumenta o período de secagem dos revestimentos e contribui, portanto, para a retenção de humidade, criando um ambiente propício à presença de alguns microorganismos. Como referido, em zonas marítimas, a acção do vento permite o transporte de cloretos provenientes da água do mar que, estabelecendo-se na superfície das fachadas, geram diversas ocorrências anómalas, destacando-se as manchas de oxidação de elementos metálicos e as eflorescências.

As zonas industriais são reconhecidas pela acção agressiva que têm nas fachadas, particularmente pela elevada poluição atmosférica que se verifica nessas envolventes. As partículas em suspensão no ar fixam-se nas facha-das com consequente surgimento de diversas anomalias.

Finalmente, as zonas rurais são consideradas como as menos agressivas, apesar de por vezes se verificarem elevados níveis de humidade nestes locais.

2.8.2.2. Orientação da fachada

A orientação da fachada é um factor relevante porque revela a maior susceptibilidade que a fachada tem rela-tivamente à radiação solar, temperatura e acção do vento. As fachadas orientadas para Sul sofrem maior degradação devido à radiação solar, estando mais vulneráveis ao desgaste, a fissurações e a mutações de cor. Já as fachadas viradas a Norte (menos expostas à radiação e, por isso, mais frias e húmidas) e a Este têm maior tendência para o desenvolvimento biológico.

2.8.2.3. Idade

A idade é outro factor a considerar em fachadas com sistemas de isolamento térmico pelo exterior. Com o passar do tempo, existe uma tendência natural para a degradação dos constituintes do sistema, podendo per-der algumas das suas características originais. Este desgaste natural pode ser controlado e amenizado através de intervenções de manutenção dos edifícios, com periodicidade definida, evitando assim um estado de dete-rioração demasiado avançado.

2.8.3. Factores relacionados com as características dos materiais utilizados

Amaro (2011) evidencia a necessidade de utilizar materiais seleccionados e homologados, devendo ser segui-das as especificações fornecisegui-das pelo fabricante. Erros muito comuns na fase de aplicação são a utilização de materiais pouco adequados ou contaminados ou mesmo a ausência de produtos específicos. Podem enumerar-se diversos erros, referidos por Amaro (2011), nomeadamente:

 a utilização de tintas muito escuras, mal formuladas ou utilização de cores contrastantes no mesmo acaba-mento que podem gerar fissuração;

 a aplicação de placas isolantes susceptíveis a variações dimensionais devido a solicitações higrométricas;  ausência ou aplicação de um biocida pouco eficaz como obstáculo ao crescimento biológico.

2.8.4. Erros de projecto, execução e utilização

Os erros decorrentes das diversas fases que constituem a vida de um edifício têm relevância fundamental no aparecimento de anomalias e na redução do seu desempenho e tempo de serviço.

Os erros na fase de projecto surgem da incorrecta concepção e dimensionamento dos elementos, remates e pormenores construtivos. Estes erros resultam da falta de informação e de omissões, da inobservância das características específicas dos locais, da sua envolvente e dos próprios materiais seleccionados. Reflectem-se, posteriormente, em dificuldades na aplicação do sistema, na compreensão e interpretação do projecto e em anomalias diversas, na fase de utilização. Segundo Amaro (2011), quando as anomalias se manifestam na gene-ralidade da fachada, é frequente deduzir-se que estas possam derivar de erros na fase de projecto.

Os erros na fase de execução traduzem-se pelos procedimentos adoptados durante a preparação e aplicação dos sistemas. Pode-se enumerar diversos erros, destacando-se problemas de planeamento, a contratação de mão-de-obra pouco qualificada para as funções a exercer, a incorrecta preparação e limpeza do suporte, a inadequada formulação e aplicação dos constituintes, a colocação deficiente das placas isolantes, o tratamento deficiente de remates e pontos singulares e a utilização de materiais pouco adequados ou não certificados. Os erros de utilização são devidos, principalmente, aos choques acidentais e a falhas ou ausência de manuten-ção corrente nos edifícios, que contribuem para a potencial degradamanuten-ção dos sistemas ETICS.

2.8.5. Factores associados a outras causas

Estes factores não se incluem em nenhum dos grupos anteriores muito devido ao facto de os edifícios estarem sujeitos a acções exteriores difíceis de evitar e de prever. É necessário, por isso, avaliar a vulnerabilidade das facha-das a diversos factores, tentando adoptar medifacha-das que evitem ou atenuem os seus efeitos e consequências. Estas medidas devem ser tomadas em fase de projecto, através da adequada concepção dos elementos e, fundamental-mente, em fase de utilização, com a realização de intervenções de manutenção periódicas. Neste grupo, distin-guem-se os factores associados a vandalismo, causas fortuitas ou acidentais ou falta de manutenção/negligência.

2.8.5.1. Vandalismo

O vandalismo é uma acção de carácter intencional, englobando a prática de graffiti e os choques ou perfurações realizados de forma propositada. Como o sistema é rapidamente percepcionado como pouco resistente, torna-se um alvo fácil para perfurações, arranques do sistema ou impactes com objectos rígidos. Os graffiti são anomalias bastante comuns em ambientes urbanos e são geralmente realizados nas zonas acessíveis das fachadas.

2.8.5.2. Causas fortuitas e acidentais

As causas fortuitas englobam, entre outros, o choque de objectos ou equipamentos de forma acidental, princi-palmente em zonas acessíveis que têm maior contacto com a passagem de pessoas e veículos. Na fase de exe-cução do sistema, existem ainda várias circunstâncias que podem contribuir para a degradação das fachadas como, por exemplo, a fixação de andaimes e movimentos no suporte [AMARO, 2011].

Existem fenómenos que são bastante condicionantes para a deterioração dos edifícios em geral e, particular-mente, das fachadas revestidas por sistemas ETICS, podendo ter origem humana como explosões, incêndios, inundações ou origem natural como a ocorrência de sismos, cheias, entre outros.

2.8.5.3. Falta de manutenção / negligência

A falta de manutenção regular é responsável pela diminuição da durabilidade dos sistemas ETICS, pois permite que certas anomalias existentes nas fachadas atinjam um nível de desenvolvimento muito avançado.

Através do estudo da durabilidade de vários elementos da construção, é possível definir estratégias correntes de manutenção desses mesmos componentes. Desta forma, é possível promover o prolongamento dos tempos de serviço, a redução dos custos de reparação associados à degradação e, igualmente, assegurar um melhor desempenho destes sistemas nas suas condições de aplicação. As intervenções desta natureza em edifícios incluem as acções de manutenção correctiva ou preventiva e as reparações ocasionais, com o propósito de obter adequados níveis de desempenho. Quando estas não são efectuadas, está-se perante um caso de degra-dação por negligência. De forma idêntica, as reparações incorrectas ou mal concebidas podem gerar degrada-ções prematuras dos constituintes do sistema.