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CAPÍTULO I  DIREITOS HUMANOS – TEORIA, SISTEMAS DE PROTEÇÃO

1.1 A Evolução Histórica e a Teoria Geral dos Direitos Humanos

1.1.6 Classificação dos Direitos Humanos

Tentar classificar os direitos humanos encontra a mesma dificuldade de tentar conceituá-los. Diferentes autores classificam-nos das formas mais variadas, a ponto de se poder encontrar mais de quarenta classificações diferentes, além das classificações elaboradas pela Organização das Nações Unidas e pela Organização dos Estados Americanos.

Assim, Wilson Rodrigues Ataíde Júnior afirma existirem pelo menos dois tipos de classificação: a doutrinária que varia de acordo com cada autor, e a oficial, estabelecida pelas organizações internacionais53.

No Brasil, Alexandre de Moraes adota uma classificação de acordo com o legislador constituinte de 1988, dividida em cinco espécies do gênero: direitos e garantias fundamentais referentes ao Título II da Constituição Federal: a) Direitos individuais e coletivos, diretamente ligados ao conceito e à própria personalidade da pessoa humana, como os direitos à vida e à liberdade; b) direitos sociais, verdadeiras liberdades positivas, ou direito-garantia, obrigatoriamente assegurados nos Estados Sociais de Direito, cuja finalidade é construção da igualdade social, fundamento do próprio Estado Democrático de Direito; c) direitos de nacionalidade, como sendo o vínculo jurídico e político que liga o indivíduo a determinado Estado, capaz de incluí-lo no próprio conceito de povo, que é um dos elementos constitutivos do Estado, e tornando-o apto a receber a proteção desse mesmo Estado e a submeter-se aos deveres por ele imposto; d) direitos políticos, direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no status activae civitatis, lhe permite a participação nos negócios políticos do Estado e lhe conferem os atributos da cidadania. Constituem-se também no conjunto de regras que disciplinam as formas de atuação da soberania popular e do princípio democrático segundo o qual “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”, previsto na Constituição; e) direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos, direitos que asseguram a existência e a organização dos partidos políticos, instrumentos importantes na preservação do Estado Democrático de

52ATAÍDE JÚNIOR, Wilson Rodrigues. Op.cit., p. 67-68. 53Idem, p. 70.

Direito, conferindo-lhes autonomia e liberdade de atuação, bem como, a livre participação do indivíduo nos mesmos54.

José Afonso da Silva também adota uma classificação positiva de acordo com a Constituição Federal: a) direitos individuais, as chamadas liberdades civis da doutrina francesa, são direitos fundamentais ao “homem-indivíduo”, que asseguram sua autonomia e individualidade perante a sociedade e o Estado; b) direitos coletivos, direitos fundamentais do indivíduo enquanto membro de uma coletividade; c) direitos sociais, direitos fundamentais assegurados aos homens em suas relações sociais e culturais; d) direitos à nacionalidade que definem o conceito, as faculdades, o conteúdo e o objeto do direito fundamental à nacionalidade; e) direitos políticos, que asseguram ao indivíduo a participação nas decisões políticas tomadas em caráter nacional. Aponta ainda a falha do legislador constituinte ao incluir o direito econômico dentre os direitos sociais55.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho classifica os direitos fundamentais quanto ao seu objeto e quanto ao seu titular, embora esclareça que se trate de mais uma tipologia do que mesmo de uma classificação. Quanto ao objeto, eleva quatro espécies de direitos fundamentais: a) liberdades, faculdade de fazer (ação) ou deixar de fazer (omissão) alguma coisa, como, por exemplo, o direito de ir e vir e o direito de greve; b) direitos de crédito, consistente no poder de exigir uma contraprestação positiva por parte do Estado, como o acesso ao atendimento à saúde, educação, moradia e ao trabalho, por exemplo; c) direitos de situação, faculdade de exigir a manutenção ou a restauração de uma determinada situação, de um status, tal como um meio ambiente equilibrado ou a paz e d) direito-garantia, que consiste no poder de exigir determinadas abstenções principalmente do Estado e se subdivide em direitos a garantia-limite, que é o poder de exigir que o Estado se abstenha de determinadas ações como a expropriação da propriedade privada sem a devida indenização ou alguma espécie de censura e direitos a garantias instrumentais, que são os instrumentos processuais existentes para a obtenção de uma medida judicial garantidora ou reparadora de direitos como o mandado de segurança e o habeas corpus.

Quanto ao seu titular, os direitos fundamentais são classificados em outras quatro categorias: a) direitos individuais, quando o titular do direito é uma pessoa física, o próprio ser humano; b) direitos de grupos, direitos homogêneos, uma agregação de direitos individuais; c) direitos coletivos, direitos trans-individuais de natureza indivisível, cuja titularidade pertence a uma coletividade, um grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas

54MORAES, Alexandre de. Op.cit., p. 25-26. 55SILVA, José Afonso da. Op.cit., p.186-187.

pela mesma relação jurídica básica e d) direitos difusos, direitos trans-individuais indivisíveis cuja titularidade pertence a grupos menos determinados de pessoas entre as quais inexistem vínculos jurídicos ou fáticos muito precisos56.

Gregório Peces-Barba classifica os direitos fundamentais em quatro categorias: a) pelo conteúdo, compreendendo quatro subdivisões, I) os direitos personalíssimos, II) os direitos econômicos, sociais e culturais, III) os direitos de sociedade, comunicação e participação e IV) direitos civis e políticos; b) pelo âmbito de aplicação, que se subdivide em I) direitos fundamentais estatais, quando o seu exercício restringe-se ao âmbito de um determinado Estado; e II) direitos fundamentais internacionais, quando seu exercício extrapola as fronteiras de um determinado Estado nacional, ficando sob a tutela de algum organismo internacional como a Organização das Nações Unidas ou a Organização dos Estados Americanos; c) em razão do sujeito ou do destinatário, que leva em conta o destinatário dos direitos enquanto pessoa humana, quer nas comunidades menores como a família, quer nas comunidades maiores como a internacional e d) em razão da forma do exercício, o qual se subdivide em I) direitos de autonomia; II) direitos de participação; e III) direitos de crédito ou de exigência de comportamento por parte do Estado57.

A classificação oficial, por sua vez, é realizada pelas diversas organizações internacionais e por alguns documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos Pactos de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

A Organização dos Estados Americanos – OEA, através da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, classifica os direitos humanos em cinco categorias: direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais58, que são especificados no direito à vida (art. 4º), à integridade pessoal (art. 5º), na proibição da escravidão e da servidão (art. 6º), direito à liberdade pessoal (art. 7º), nas garantias judiciais apresentadas no artigo 8º, dentre as quais a presunção de inocência, a ampla defesa, o contraditório e a duração razoável do processo; no princípio da legalidade e da retroatividade da norma mais favorável ao réu (art. 9º), direito à indenização (art. 10), proteção da honra e da dignidade (art. 11), liberdade de consciência e de religião (art. 12), liberdade de pensamento e de expressão (art. 13), direito de retificação ou de resposta por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de comunicação (art. 14), direito de reunião (art. 15), liberdade de associação (art. 16), proteção

56FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 1996, p.102. 57ATAÍDE JÚNIOR, Wilson Rodrigues. Op.cit.,p. 73.

58

OEA. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, artigos 1º a 26. In: Organização dos Estados Americanos. Documentos básicos em matéria de direitos humanos no Sistema

da família (art. 17), direito ao nome (art. 18), direitos da criança (art. 19), direito à nacionalidade (art. 20), direito à propriedade privada (art. 21), direito de circulação e de residência (art. 22), direitos políticos, como o de participação na direção dos assuntos públicos do Estado diretamente ou através de representantes livremente eleitos, o direito de votar e ser votado em eleições periódicas em que vigorem a igualdade de condições, através do sufrágio universal, do voto direto, secreto e paritário (art. 23); a igualdade perante a lei (art. 24), a proteção judicial através dos meios elencados no art. 25 e os direitos econômicos, sociais e culturais assegurados na forma do artigo 26.

Classificação semelhante é adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), através do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos aprovados pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1966 e em vigor desde 1976, data em que alcançaram o número necessário de ratificações.

Sobre tal questão, Ataíde Júnior afirma se poder concluir que a melhor classificação a ser adotada em relação aos direitos humanos é a oriunda dos organismos internacionais, por ser mais simples e representar uma visão dos referidos direitos mais próxima do conceito de dignidade da pessoa humana, por tomar como parâmetro o próprio ser humano59.