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CAPÍTULO I  DIREITOS HUMANOS – TEORIA, SISTEMAS DE PROTEÇÃO

1.2 O Direito Internacional dos Direitos Humanos e a Justiça Internacional

1.2.2 O Sistema Global de Proteção Internacional dos Direitos Humanos

O Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos se dá no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Criada em outubro de 1945, após a Segunda Guerra Mundial, em substituição à Liga das Nações, a ONU tem como propósitos manter a paz e a segurança internacionais, desenvolver relações amistosas entre as nações e conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural e humanitário96.

Nos termos do artigo 7º da Carta das Nações Unidas, os órgãos principais da ONU são a Assembléia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado.

A Assembléia Geral é formada por todos os membros da ONU, sendo que cada membro não poderá ter mais de cinco representantes97. Suas atribuições são extremamente variadas, cabendo-lhe discutir, dentre outras matérias, quaisquer questões ou assuntos relativos à Carta da ONU ou dos órgãos nela previstos, quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais, ou ainda, fazer recomendações relativas à promoção da cooperação internacional98.

Cabe ainda à Assembléia Geral aprovar o orçamento da ONU que é mantida pela contribuição de seus membros, segundo cotas fixadas pela própria Assembléia Geral99.

Cada membro da Assembléia Geral terá um voto, sendo que, as decisões, em questões importantes, serão tomadas por maioria de dois terços dos membros presentes e votantes.

Consideram-se questões importantes: as recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais, a eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança, a eleição dos membros do Conselho Econômico e Social, a eleição dos membros

94Idem, p.40. 95

PIOVESAN,Flávia. Op.cit., 2006, p. 32.

96ONU. Carta das Nações Unidas. artigo 1º, 1, 2 e 3. In: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/

doc/cartonu.htm>. Acesso em 20 jun. 2007.

97ONU. Carta das Nações Unidas. artigo 9º. In: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/ doc/cartonu.htm>.

Acesso em 20 jun. 2007.

98

ONU. Carta das Nações Unidas. artigos 10 e ss. In: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/ doc/cartonu.htm>. Acesso em 20 jun. 2007.

do Conselho de Tutela, a admissão de novos membros na ONU, a suspensão dos direitos e privilégios de membros, a expulsão de membros, questões referentes ao funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias100.

Embora seja um dos mais poderosos órgãos das Nações Unidas, o Conselho de Segurança é também um dos mais polêmicos, alvo freqüente de críticas internacionais, pois como afirma Liliana Locatelli,

A atuação dos membros permanentes, contradiz, de certa forma, o princípio da Carta das Nações Unidas que propugna pela igualdade entre as partes da ONU. Sua ingerência em questões jurídicas e a falta de controle da legalidade de suas ações também já foram objeto de críticas, e, atualmente, a efetividade de suas decisões é também questionada, sobretudo após os ataques de norte-americanos ao Iraque que abalaram a credibilidade deste importante órgão das Nações Unidas101.

O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas é composto por cinqüenta e quatro membros eleitos pela Assembléia Geral, tendo como atribuições a realização de estudos e relatórios a respeito de assuntos internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, podendo inclusive fazer recomendações sobre tais assuntos à Assembléia Geral, aos membros da ONU e a entidades especializadas interessadas102.

O Secretariado das Nações Unidas é o órgão responsável pelas questões administrativas da organização, sendo exercido por um Secretário-Geral, principal funcionário administrativo da instituição, indicado pela Assembléia Geral mediante a recomendação do Conselho de Segurança103.

O Conselho de Tutela, por sua vez, constitui-se em dos órgãos menos significativos das Nações Unidas, tendo formalmente suspendido suas atividades em 1994. Este Conselho foi previsto “para efetivar o Sistema de Tutela Internacional da ONU, atuando na administração e fiscalização de territórios tutelados” 104.

A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão jurisdicional da ONU, constituindo-se em um tribunal permanente sediado na Cidade de Haia, nos Países Baixos.

100Idem, artigo 18.2.

101LOCATELLI, Liliana. Corte internacional de justiça. In: BARRAL, Welber (Org.). Tribunais

internacionais: mecanismos contemporâneos de solução de controvérsias. Florianópolis: Fundação Boiteux,

2004, p.15.

102

Cf. ONU, Carta das Nações Unidas. arts. 61-62.

103Cf. ONU, Carta das Nações Unidas, art. 97. 104 LOCATELLI, 2004, p. 15.

Segundo a Carta das Nações Unidas seu estatuto é baseado no Estatuto da Corte Permanente de Justiça Internacional105.

Apenas os Estados poderão ser parte perante a Corte Internacional de Justiça, tanto os membros da ONU quanto aqueles que não sendo membros se submetam à sua jurisdição nas condições estabelecidas pelo Conselho de Segurança, que no entanto não poderão criar situações de desigualdade entre as partes106.

No entanto, existe a possibilidade do Estado do qual o indivíduo é nacional ou exerce sua cidadania pleitear o cumprimento do tratado ou a cessação de sua violação. Nestes casos, contudo, a parte legitimada será o Estado e não o particular.

Há, portanto, a possibilidade do Estado comparecer perante a Corte ou como parte na relação material, ou como substituto processual de seu nacional.

Liliana Locatelli citando Fonseca, explica que

Existem dois requisitos para a substituição processual pelo Estado: o primeiro diz respeito à certeza quanto ao vínculo de nacionalidade ou cidadania, conforme jurisprudência da própria Corte; o segundo, refere-se ao esgotamento prévio das vias judiais internas pelo particular107.

O Estatuto da Corte Internacional de Justiça não prevê também a possibilidade de atuação das organizações internacionais como parte. No entanto, no Caso Bernadotte, de 1949, após consulta da Assembléia Geral, no seu parecer consultivo,

A CIJ reconheceu as organizações internacionais, no caso específico a ONU, como verdadeiros sujeitos de direito internacional público, titulares de direitos e deveres internacionais, com capacidade para pleitear seus direitos através de uma reclamação internacional108.

Da mesma forma, não está prevista, nem em seu estatuto nem na sua jurisprudência, a possibilidade de participação das organizações não-governamentais (ONG’s) perante a Corte.

A competência da Corte estende-se a todos os litígios a ela submetidos e a todos os assuntos, em especial os previstos na Carta das Nações Unidas ou nos tratados e convenções vigentes.

Nos termos de seu Estatuto, a função da Corte consiste em decidir conforme o direito internacional as controvérsias que lhe sejam submetidas, devendo aplicar as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente

105 ONU. Carta das Nações Unidas, art. 92. 106

Idem, arts. 34 e 35.

107 LOCATELLI, 2004, p.19. 108LOCATELLI, 2004, p.19.

reconhecidas pelos Estados litigantes; o costume internacional como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito e os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas. Esta disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes assim concordarem109.

1.2.3 Os Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos

Além do Sistema Global de Proteção Internacional dos Direitos Humanos desenvolvidos no âmbito da Organização das Nações Unidas, existem os Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos que visam a proteção de tal categorias de direitos no plano regional.

Atualmente podem ser identificados o Sistema Regional Europeu de Proteção aos Direitos Humanos, o Sistema Regional Interamericano, objeto de análise da presente pesquisa e o Sistema Regional Africano de Proteção aos Direitos Humanos.

Dos sistemas regionais existentes, Flávia Piovesan aponta o europeu como o mais consolidado e amadurecido, a ponto de influenciar os demais. Sendo também o que apresenta a mais consolidada experiência de justicialização dos direitos humanos, através da atuação da Corte Européia de Direitos Humanos. Devendo ser ressaltado que, ao contrário dos demais sistemas regionais, este abarca uma região relativamente homogênea, com regimes democráticos e Estados de Direito historicamente consolidados110.

O Sistema Regional Europeu de Proteção aos Direitos Humanos surge no contexto de reconstrução do conceito de direitos humanos surgido após os horrores da Segunda Guerra Mundial na Europa e na busca da integração e fortalecimento daquele continente necessária à sua reconstrução física, econômica, política e de valores protetivos mínimos da dignidade humana após o conflito.

O sistema fundamenta-se no princípio de que a comunidade de países detêm a prerrogativa de acompanhar e fiscalizar a instituição e o exercício dos mecanismos de proteção aos direitos humanos em cada Estado Membro, a despeito de sua soberania nacional e jurisdição interna. Reconhecendo-se, portanto, que tal assunto, por sua natureza constitui-se em matéria de interesse não apenas de um país, mas de toda a comunidade de países.

109ONU. Estatuto da Corte Internacional de Justiça, artigo 38. Disponível em:

<http://www.trf4.gov.br/trf4/upload/arquivos/ji_cortes_internacionais/cij-estat._corte_intern._just.pdf>. Acesso em 20 jun. 2007.