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Classificação e seleção dos sujeitos

4 PESQUISA DE CAMPO

4.2 Classificação e seleção dos sujeitos

Para realizarmos a coleta dos dados necessários a nossa pesquisa, procuramos determinar nossos sujeitos da pesquisa de acordo com as orientações contidas no Atlas Linguístico do Brasil (ALIB, 2001), apegando-nos aos aspectos que atendessem às nossas necessidades.

Com o primeiro grupo, que compõe nossa rede, os habitantes de Piracicaba envolvidos diretamente com o Cururu, estabelecemos os seguintes critérios de escolha:

a) Número de dez sujeitos da pesquisa;

b) Apenas homens, já que os cantores dessa modalidade são apenas homens; c) Com idade superior a 55 anos; pois não há cururueiros mais jovens;

d) Nascidos no local, e preferencialmente, filhos de pais nascidos também na localidade;

Conhecendo nossos pré-requisitos, sabíamos das dificuldades que nós teríamos para conseguir encontrar esses moradores, uma vez que o número de cururueiros está cada vez menor, posto que não há interesse da juventude piracicabana em dar continuidade a essa arte, não se renovando o ciclo de artistas. Além disso, os poucos repentistas que ainda residem na cidade viajam muito, principalmente aos finais de semana, apresentando-se em festas de outras localidades, ou participando de campeonatos, umas de suas fontes de renda desses artistas.

Antes de irmos a Piracicaba, entramos em contato com o então secretário de cultura da cidade, falamos a respeito da pesquisa que tínhamos interesse em realizar e pedindo informações a respeito de como o Cururu era visto pela população local; os incentivos recebidos pelas políticas públicas e se fosse possíveis alguns nomes de cururueiros pelos quais nós pudéssemos procurar. Foi o secretário quem que nos deu apoio ao longo do projeto, fornecendo-nos informações e possibilitando nosso primeiro contato com os cururueiros.

Em nossa primeira visita à cidade conhecemos e assistimos à apresentação de dois cururueiros, J.N. e M.S., com quem tivemos nosso primeiro contato e as primeiras impressões de qual caminho poderia seguir nossa pesquisa.

A partir de então, voltamos a Piracicaba uma segunda vez e colhemos material por meio de entrevistas livres com os cantores de Cururu. Uma vez feito esse trabalho, somando-o às pesquisas realizadas com a bibliografia de Cururu encontrada, selecionamos nosso léxico,

montamos um questionário e voltamos a Piracicaba para aplicá-lo não somente aos cururueiros, mas também, à população local não envolvida com esse fazer. Pois, como afirma

Tarallo (1994, p. 31) a respeito da validade dos questionários: “além do dado não natural que

forçosamente estará gravado em sua fita cassete, você poderá elaborar testes de língua sobre

as variantes estudadas a fim de ampliar o escopo estilístico”.

Assim, voltamos à cidade em busca de um novo grupo de sujeitos da pesquisa que, por viverem na cidade que outrora foi uma das grandes referências de Cururu daquela região pudessem nos mostrar um reflexo do quanto que essa manifestação cultural ainda está presente ou não no cotidiano e na lembrança das pessoas, para então observar, por meio de suas respostas ao questionário aplicado, o quanto que as lexias que representam e traduzem o fazer do Cururu, poderiam ter sido mantidas, ter sofrido variação ou estarem esquecidas.

Procuramos, assim, dois grupos de habitantes compostos por dez pessoas cada. Um primeiro grupo constituído por pessoas com idade entre 20 e 35 anos e outro grupo, com idade acima de 35, e que obedecessem aos seguintes critérios:

a) Ambos os sexos;

b) Alfabetizados e com grau de escolaridade igual ou superior ao Ensino Fundamental; c) Nascidos no local, e preferencialmente, filhos de pais nascidos também na localidade; d) Com profissão definida.

Não conhecíamos os sujeitos que responderam ao questionário gentilmente e que colaboraram com a nossa pesquisa, pois, concordando com a fala de Tarallo (1994, p. 27), acreditávos que essa escolha deveria ser feita ao acaso, para que assim pudéssemos ter um reflexo mais fiel do fato estudado.

O critério básico para a seleção de informantes será o da amostragem aleatória. Tal critério deverá ser usado especialmente no caso de a comunidade estudada ser um grande centro urbano. A amostragem aleatória lhe dará a certeza de que você ao menos tenha dado a chance a todos os membros da comunidade de serem entrevistados.

Ao passo que fomos encontrando nossos sujeitos, que foram localizados em alguns pontos importantes da cidade, como a igreja matriz, onde tivemos a oportunidade de conversar com o padre da cidade, fomos aplicando nosso questionário. Também fomos ao mercado municipal, onde falamos com comerciantes locais, que conversam diariamente com diferentes tipos da cidade, e têm a oportunidade de perceber com maior nitidez as mudanças

ocorridas na região. Por último fomos à praça central, onde todas as noites ocorre algo curioso - um grupo grande de amigos reúne-se informalmente, ao que eles apelidaram de clube do

sereno, a fim de discutir questões políticas da cidade, especular sobre a economia local, ou

apenas passar algum tempo entre si, em conversar descompromissadas.

Em tal clube, encontramos cidadãos piracicabanos de diversas áreas, professores, médicos, dentistas, corretores de imóveis e tantos outros, já que a configuração do grupo altera-se a cada noite. Algumas dessas pessoas contribuíram para o nosso trabalho.

Fizemos então a aplicação do questionário com esses quatro diferentes grupos – o grupo de cururueiros, composto por cururueiros mais e menos tradicionais, a população mais jovem e mais idosa de Piracicaba – utilizando-nos desse instrumento tão necessário à nossa pesquisa, pois nos ajudou na identificação dos vocábulos ainda reconhecidos entre os falantes daquela comunidade e outros que nem tanto.

A seguir, podem-se observar os resultados obtidos pela aplicação do questionário com esses três diferentes grupos de sujeitos. Por meio de quadros comparativos, procuramos mostrar os dados obtidos, averiguando o quanto a população que outrora grande consumidora da arte do Cururu, foi afetada pelas marcas de sua histórica sociocultural, no reconhecimento em maior ou menor grau do léxico do Cururu.

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