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Coleta de dados: procedimentos

4 PESQUISA DE CAMPO

4.1 Coleta de dados: procedimentos

Piracicaba, que hoje, conta 356.716 habitantes, é uma cidade que oferece vasta gama de universidades, públicas e particulares. Por isso, tem sua população acrescida por estudantes que nem sempre são nascidos naquela região e que aos finais de semana e férias voltam para suas regiões de origem. Essa característica, advinda dos novos tempos da cidade, faz com que seja dificultado o trabalho do pesquisador em selecionar seus sujeitos da pesquisa. Todavia, sabendo-se da importância que o sujeito tem para o trabalho linguístico, torna-se imprescindível que o pesquisador procure obter uma rede que atenda às expectativas de sua investigação linguística.

Com interesse específico no léxico cururueiro, em Piracicaba, coletamos material por meio de entrevistas livres com os habitantes da região envolvidos diretamente com o Cururu, ou seja, os repentistas paulistas. Além disso, também valemo-nos da consulta de alguns autores que abordaram o assunto, tais como Garuti (2003) e de gravações de Cururu a que tivemos acesso.

Uma vez feita a seleção dos vocábulos, nossa intenção era a de testar o reconhecimento deles, ou seja, um indicativo da manutenção, da mudança, da variação ou da perda dessas lexias, por meio de entrevistas, entre quatro populações distintas de Piracicaba: um público mais jovem e um público mais idoso, não envolvidos diretamente com o Cururu, bem como entre os cururueiros mais jovens e os mais velhos. Porém, entrando em contato com esses artistas, pudemos perceber que tal tradição musical de Piracicaba está

desaparecendo, não sendo encontrados jovens interessados na manutenção desse fazer artístico. Consequentemente, nosso questionário não pôde ser extentido a cururueiros mais jovens, já que não os encontramos.

Quando aplicamos pela primeira vez nosso questionário, entre os grupos pesquisados, havíamos selecionado cinco sujeitos para cada grupo, pautando-nos nos modelos

de seleção de sujeitos da sociolinguístca, como orienta Tarallo (1994, p. 29): “para cada uma

das células (...) você necessitará de um número mínimo de 5 sujeitos de modo a garantir a

representatividade da amostra”. Contudo, na intenção de contribuir para a veracidade dos

dados oferecidos, decidimos ampliar esse número de cinco para dez, em cada um dos grupos. Considerando o grupo constituído por cururueiros, faz-se necessária uma ressalva, pois se trata de um grupo heterogêneo. Na tentativa de conseguir buscar, conversar e entrevistar o maior número de cururueiros possível, descobrimos que há uma distinção que se faz entre os cururueiros tradicionais, àqueles que tem no Cururu uma profissão, e seguem uma linha mais próxima à da origem cururueira, ou seja, tendo seus repentes ligados a religiosidade católica. E os cururueiros não tradicionais, chamados de bocudos, moradores da cidade que cantam Cururu por diversão, geralmente encontrados em bares da cidade, e seus temas são cotidianos, com frequente utilização de palavras de baixo calão ou depreciativas.

Nossa relação de sujeitos fica, então, sendo composta por um grupo de piracicabanos jovens, um grupo de piracicabano idosos, sendo que nesses dois grupos há homens e mulheres na mesma proporção, cinco sujeitos de cada sexo e faixa etária, todos não cururueiros. Além do grupo compostos por cantores de Cururu, formado por artistas tradicionais (cinco) e não tradicionais (cinco).

Nossa intenção era de, então, averiguar se entre a população piracicabana, ainda havia o reconhecimento dessas lexias, ou se a influência dos meios de comunicação, além da chegada de uma população diferente tivesse contribuido para o esquecimento do que antes foi uma modalidade artística de tanto prestígio entre os seus.

Em um primeiro momento, a fim de reunirmos um grupo de palavras relevantes a serem pesquisadas a respeito do Cururu, entramos em contato com senhores, cantadores da modalidade, pretendendo estabelecer nossa rede de sujeitos da pesquisa e conhecer um pouco mais desse universo que eles vivem e o quanto foi percebido ou não de mudanças ao longo dos anos.

Fizemos, então, algumas entrevistas livres, discutindo sobre suas vidas artísticas, sobre como se dá o fazer do improviso, de que forma e com quem aprenderam a técnica, além de falarmos a respeito das mudanças que se deram dentro do Cururu; de como esse repente

improvisado era realizado, qual o prestígio que recebia e quais as alterações sofridas com o passar dos anos.

Feita essa primeira interação, elaboramos e aplicamos, assim, um primeiro questionário composto por um número menor de perguntas, do que é apresentado neste trabalho, pois durantes nossas entrevistas livres com os cururueiros, percebemos que algumas das lexias que havíamos encontrado na bibliografia consultada, eram pouco ou não reconhecidas por esses artistas, assim acreditávamos que essas lexias não deveriam estar presentes no questionário, já que possivelmente elas não seriam reconhecidas também pelos outros grupos de não cururueiros.

Contudo, decidimos reformular e reaplicar um novo questionário, apresentando em sua composição essas lexias citadas anteriormente, por entendermos que era necessário testar de fato essa nossa hipótese e ampliar nossa pesquisa sobre o Cururu piracicabano, dessa vez com um número ampliado de questões e de sujeitos consultados.

Reunimos, assim, uma seleção de palavras apresentadas pelos cururueiros, durante o nosso primeiro contato, e as selecionadas na bibliografia consultada e nas letras de música, para, então, elaborarmos um questionário que pudéssemos aplicar à população selecionada e testar nossa hipótese, a de que a população piracicabana já não mais frequentemente reconhece e usa o léxico relacionado ao Cururu.

Essas lexias podem ser observadas juntamente com o questionário que foi aplicado à população selecionada, conforme a seguir demonstrado:

Questionário: CURURU

1. Baixão:

... é o canto inicial do Cururu em que, geralmente são pronunciados “alai- lailailailailai...” ou onai-nainainainainai...” e é acompanhando pela cadência da viola.

2. Bocudo:

Qual o nome do cururueiro que usa palavras de baixo calão em seus versos?

3. Caçoísta

Qual o nome que você dá ao cantador de Cururu que gosta de fazer gozação com seu adversário?

4. Canotilho

A quarta corda da viola recebe um nome especial? Qual é ele?

5. Cantador

....é o repentista do cururu, aquele que canta o desafio em versos.

6. Cantar no livro

Quando o cururueiro canta os temas relacionados às histórias da Bíblia, diz- se que ele está a...?

7. Caracaxá/ Caracachá

Qual o nome que se dá a um cantador de Cururu considerado ruim, mau repentista?

8. Carreira

Qual outra palavra que usamos para denominar rima, no Cururu?

9. Carreira dura

Uma rima, uma carreira difícil de fazer, recebe algum nome especial? Qual é ele?

10. Cebolão

Qual o nome que se dá a afinação de cordas, no Cururu

11. Contrário

...é o oponente, o adversário de um desafio de Cururu.

12. Cururu

Qual o nome que se dá ao repente paulista, ao desafio cantado em versos, encontrado.

13. Dobra

Quando há duas ou três rimas na mesma estrofe, qual o nome damos?

Qual o nome que você dá para o cantador que conhece bem as histórias da Bíblia e compõe seus versos baseados nelas?

15. Festeiro

Quem é a pessoa responsável por organizar ou oferecer a festa, geralmente em homenagem a um santo católico, na qual pode ocorrer um Cururu?

16. Folha

Qual outro nome pode ser usado para se referir à Bíblia pelos cururueiros?

17. Função

Qual o nome você dá a uma reunião de pessoas em um determinado local por motivo de festa, em que pode ocorrer um desafio de Cururu.

18. Principiante

Como é chamado o cantador de cururu de pouca idade?

19. Improvisador

O cururueiro que não prepara seus versos com antecedência, cria na hora do cururu suas rimas, recebe algum nome?

20. Intimidador

O cururueiro que se considera muito bom cantador, com habilidade muito superior a dos seus adversários, recebe algum nome? Qual é ele?

21. Louvação

Como você nomeia a introdução do Cururu, momento no qual os cururueiros cumprimentam os donos da casa e louvam os santos, em agradecimento?

22. Malhão

Qual o nome que se dá ao ritmo que o tocador impõe à viola?

Como você chama o primeiro cantador que se apresenta e que determina quais serão as rimas seguidas no desafio de Cururu?

24. Porfia

O momento do desafio de Cururu em que os cantadores são mais cobrados de seus conhecimentos e habilidades de compor recebe um nome: qual é ele?

25. Povoado

Que nome você dá ao público que assiste ao Cururu?

26. Regra das dez rimas

No Cururu, podem-se estabelecer algumas combinações de como será o desafio: em uma delas, elegem-se dez rimas que deverão ser usadas e os cururueiros não poderão usar outras. Qual o nome dessa combinação?

27. Repente

A música feita de improviso, composta no momento em que é cantada recebe um nome, qual é?

28. Tablado

... é o palco onde se dá apresentação de Cururu.

29. Tico-tico

O que se diz de cantador de Cururu que usa versos de outras pessoas dizendo que são seus?

30. Verso batido

Como se chama o verso de desafio do Cururu, em os cururueiros fazem perguntas para o oponente, e este, se não quiser ser desmoralizado, deve responder prontamente.

31. Verso encontrado

Qual o nome da resposta que o cantador de cururu dá ao seu oponente apenas ao final de sua apresentação?

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