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A partir dos dados coletados na classificação dos programas estudados, podemos verificar que a Liberdade de Expressão é o item mais recorrente entre os Direitos Civis e Políticos e como unidade de registro é o que mais aparece em todos os programas analisados. Vale ressaltar que foi utilizado como conceito de Liberdade de Expressão o que está dito na Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada em 1948, no artigo XIX.

Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948, informação eletrônica)35.

No TV Solidária, a Liberdade de Expressão, neste sentido, é verificada em situações diversas. Um exemplo disso é no formato de matérias sem texto de repórter, o off, onde há a colagem de falas dos sujeitos envolvidos com a temática, como na matéria sobre a comunidade da Ilha de Deus, no Recife, veiculada no dia 29 de abril 2006. Na reportagem de Aline Lucena e Fabiana Maranhão, com

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Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.onu- brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php>. Acesso em: 05 nov. 2009

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produção de Andréa de Paula, podem ser observadas nove entrevistas diferentes onde os próprios moradores contam a história da localidade. São eles: a líder comunitária Renaide Sacramento; a educadora Josenilda Pedro da Silva; a pescadora Josefa Paula dos Santos; o líder comunitário Edson Fly; o estudante Michel Emerson; o pescador José Antônio da Silva; a artesã Valéria Alves; o pescador José Luís dos Santos e a aposentada Arlinda Alves.

A Liberdade de Expressão também aparece em quadros como o Educar Para

os Direitos Humanos e Um Mundo, Muitas Vozes onde o microfone, símbolo do

poder da mídia, é entregue ao público para que façam perguntas ou deem opiniões sobre assuntos ligados aos Direitos Humanos.

Esta constatação está em consonância com a missão do programa presente no documento intitulado Projeto TV Solidária, produzido em 2006, internamente, pela Sinos – Organização para o Desenvolvimento da Comunicação Social, que realiza o mesmo, onde se delega à democratização da comunicação o papel de fio condutor no processo de educação para os direitos humanos através dos meios de comunicação. Por isso, a Liberdade de Expressão é o assunto mais citado, mais registrado e pulverizado por toda extensão dos 30 minutos do TV Solidária, presente em entrevistas, perguntas do telespectador, quadros fixos e reportagens como matéria prima para a formatação do mesmo.

Entre os Direitos Econômicos Sociais e Culturais, Educação, Saúde e Segurança têm pequena diferença na quantidade de vezes em que são abordados. Educação (36), Saúde (24) e Segurança (23) aparecem em entrevistas e reportagens de forma imbricada, entrelaçados, reforçando a posição do programa de pensar os Direitos Humanos enquanto direitos interdependentes e indivisíveis. Não se pode pensar que o cidadão terá direito à educação sem saúde para estudar ou segurança para frequentar os espaços onde são ofertados os serviços de educação e saúde.

Essa pequena diferença no número de aparições dos principais direitos, e a forma de tratá-los de forma interligada, é um indicativo de que há uma preocupação em distribuir de forma mais equânime as temáticas relacionadas ao propósito do TV

Solidária, qual seja, Educar para os Direitos Humanos. Um exemplo disso é o

quadro Um Mundo, Muitas Vozes exibido no dia 18 de março de 2006 onde aparecem dois destes direitos: à Educação e à Saúde. Ao ser perguntado sobre sua opinião a respeito dos dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Recife, que

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constatou que 30,21% das adolescentes do bairro de Joana Bezerra/Coque, com idades entre 15 e 17 anos, já têm um filho, o professor Eduardo Cavalcanti sugeriu como alternativa para reverter os números: “Políticas públicas na área da saúde e da educação. O principal termômetro disso é a intervenção do Estado com políticas públicas” (Programa TV Solidária, exibido em 2006).

A categoria Visibilidade e Fortalecimento das instituições da Sociedade Civil Organizada que militam na área dos Direitos Humanos revela os serviços ofertados pelas mesmas: foram 66 ao todo que vão desde cursos, concursos e estágios a inscrições para prêmios e financiamentos para iniciativas de promoção dos Direitos Humanos. Eles estão presentes em todos os programas, o que evidencia o que consta do documento TV Solidária: Promoção dos Direitos Humanos, Visibilidade e

Fortalecimento da Sociedade Civil Organizada (2008). Nele, o TV Solidária é

definido como um programa que veicula as ações da sociedade civil na perspectiva da valorização e promoção dos direitos humanos.

No mesmo sentido, nos programas analisados, 39 vezes foi verificada a presença de representantes de instituições e organizações da sociedade civil detalhando seus trabalhos e áreas de atuação para os telespectadores. Um exemplo disso é quando Eleonora Pereira, da coordenação da Casa de Passagem, que trabalha com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, foi entrevistada no programa do dia 6 de maio de 2006. A ONG Ventilador Cultural exibiu seu vídeo sobre a TV Digital, no programa 18 de março de 2006. O Centro de Cultura Luís Freire (CCLF) teve seu trabalho detalhado na entrevista de André Luís, exibida no dia 27 de maio de 2006. Já a instituição feminista SOS Corpo foi representada por Solange Rocha, no programa de 03 de junho de 2006.

Estes dados revelam, ainda, o grande espaço dado pelo programa às instituições da sociedade civil que também militam na área dos Direitos Humanos o que acarreta na publicização das mesmas, reforçado a importância do papel que elas desempenham na promoção de direitos.

Já no item Reconhecimento e Efetivação do Direito Humano à Comunicação, que teve 114 registros, pudemos perceber, nos programas estudados, uma prioridade e estímulo ao Controle Social da Mídia e a Participação do Público na comunicação social. Em todos os programas foram veiculados e-mail ou telefone de contato como no TV Solidária, como no programa veiculado no dia 29 de abril de 2006: “Para fazer com a gente o TV Solidária, mande uma sugestão de matéria ou

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entrevista para o seguinte endereço eletrônico: pauta@sinos.org.br – TV Solidária, pelo Direito Humano à Comunicação” (TV Solidária, 2006).

Há também divulgação de órgãos que trabalham com violações dos Direitos Humanos na Mídia. No programa, exibido no dia 6 de maio de 2006, o locutor Mário Oliveira que em off (quando o repórter apenas narra mas não aparece) informa: “Para denunciar violações de direitos humanos cometidas pelos veículos de comunicação ligue 0800 619619 ou 0800 2819455. Você também pode denunciar pelo site: www.eticanatv.org.br” (TV Solidária, 2006). Mais uma vez, a democratização dos meios de comunicação através da participação do telespectador é reforçada no conteúdo do programa como estratégia para garantir diálogo com quem está assistindo a TV.

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