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Capítulo 1 – REVISÃO DA LITERATURA

1.7. Classificação

Segundo Leite e Fernandes (2002, p.25), “classificar não é, nem pode ser, sinónimo de avaliar, mas apenas uma das suas dimensões.” É primordial distinguir os conceitos, avaliação e classificação, pois são tomados, não raras vezes, como unívocos. No entanto, têm objectivos e formas de aplicação perfeitamente divergentes.

Como afirma Ribeiro (1989, p.75), “a avaliação é uma operação descritiva e informativa nos meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside e independente face à classificação.” Enquanto que a classificação é dispensada em alguns contextos educativos e em alguns países, a avaliação tem carácter obrigatório. O principal objectivo da avaliação é acompanhar a evolução das aprendizagens do aluno, de modo a detectar os conhecimentos, as atitudes e aptidões já adquiridas e possíveis dificuldades, sendo que existem metas pré-estabelecidas.

A avaliação retrata os objectivos de ensino que os alunos atingiram num determinado momento e as dificuldades que ainda revelam. Segundo Ribeiro (1989, p.76), esta informação é essencial “ao professor para procurar meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver essas dificuldades e é necessária aos alunos para se aperceberem delas e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do professor e com o seu próprio esforço.”

Uma das confusões que se sustentam em relação aos conceitos avaliação e classificação baseia-se no facto de, a primeira se julgar qualitativa, e a segunda quantitativa. Mas tal confusão não é fundamentada, uma vez que no processo de avaliação podem existir indicadores quantitativos. Ribeiro (1989, p.76) explica que a diferença substancial entre avaliação e classificação reside antes no facto de a avaliação ter um propósito muito específico de transmitir ao aluno informações que facilitem a sua aprendizagem.

De acordo com Ribeiro (1989, p.75), “a classificação, em contrapartida, tem uma intenção selectiva e procede à seriação de alunos ao atribuir-lhes uma posição numa escala de valores.” Podem fazer-se dois tipos de comparação, quando se efectua a classificação: comparar os resultados do aluno com os dos restantes alunos ou comparar os resultados de um aluno com o padrão de aprendizagem estabelecido.

Quando se comparam os resultados de aluno com os dos outros, a classificação vai depender dos resultados dos elementos da turma. Ou seja, se um aluno apresenta dificuldades em relação à turma na qual está inserido, a sua classificação vai ser mais baixa, pelo contrário, se o aluno está inserido numa turma cujos elementos têm mais dificuldades que ele próprio a sua classificação será mais elevada. Segundo Ribeiro (1989, p.76), “este tipo de classificação não depende, assim, do grau de proficiência atingido pelo aluno e afasta-se, totalmente, da intenção da avaliação.”

Ao comparar os resultados de um aluno com o padrão de aprendizagem estabelecido a classificação representa a distância a que o aluno se encontra do modelo de aproveitamento pré-determinado. Para Ribeiro (1989, p.76), “as classificações ou «notas» que são que são atribuídas ao aluno expressam o seu aproveitamento face a um programa proposto, sem que os resultados obtidos pelos colegas interfiram (em princípio) na classificação atribuída.”

De acordo com este tipo de classificação, os alunos são seriados e inseridos numa escala e esta forma de apurar resultados presta-se a uma possível selecção. A selecção dos alunos conduz à sua promoção, ou não, nos anos escolares seguintes; mas também à possibilidade de entrar para o «quadro de honra», ser considerado o «melhor aluno do ano» ou ainda ter direito a bolsas e prémios.

Enquanto que no processo de avaliação se explica como se obtêm informações sobre os resultados dos alunos e se explica as razões que levam o aluno a ocupar determinada posição na escala de resultados, a classificação resume todas as informações a um símbolo qualificativo. Por exemplo, se aluno receber uma

classificação não satisfaz, não entende porque é não atingiu os objectivos, no que é que falhou e como pode melhorar a sua prestação como aluno.

A relação que existe entre avaliação e classificação é estreita. A classificação não prescinde da avaliação que a «precede e fundamenta». Como assegura Ribeiro (1989, p.77) “(…) não há classificação sem avaliação”. Contudo, o contrário já não é verdade, a avaliação muitas vezes, e assim deve e pode acontecer, não é sucedida por uma classificação.

De acordo com Ribeiro (1989, p.78), a classificação pode servir diferentes finalidades:

• “proporciona um sistema rápido e prático (embora incompleto) de registo do aproveitamento dos alunos e de informação aos pais e encarregados;

• constitui um meio de informação fácil de entender e interpretar, no contexto da relação «classificação – passagem de ano»;

• facilita decisões relativas à promoção ou não de cada aluno, ao longo dos anos de escolaridade, quando essa promoção se baseia em mínimos quantitativos a satisfazer;

• permite a comparação de resultados (dentro da escola, entre escolas ou a nível nacional, desde que se disponha de instrumentos para esse fim) proporcionando feedback aos professores e fundamentando decisões de política educativa.”

No entanto, a classificação também apresenta limitações e desvantagens, tais como: não informar os alunos acerca do seu processo evolutivo de aprendizagem, atribuir a um «símbolo» a carga de uma informação sobre o aluno que é muito variada.

Acrescidos a estas limitações surgem alguns inconvenientes como o perigo de a classificação se tornar um fim e não um instrumento ao serviço da aprendizagem, e o facto de despoletar competição entre os alunos.

Os efeitos destes aspectos contraproducentes espelham-se nos alunos, que se sentem ansiosos e nervosos com menor capacidade de resposta, que perdem auto- confiança ao compararem as suas «notas» com as dos colegas e que usam técnicas pouco profícuas para a aprendizagem tais como decorar e copiar.

No fim do período, os professores têm que transformar todos os resultados obtidos pelo aluno num único, que no 2.º ciclo se expressa numa escala numérica de 1 a 5 valores. De acordo com Lemos (1986, p.64), “é o trabalho de tentar resumir toda a

avaliação de aprendizagem num número”. É necessário analisar e pesar todos os resultados obtidos para os poder traduzir num só resultado.

A escala de 1 a 5 indica-nos o 1 e o 2 como níveis de insucesso e os restantes, 3, 4 e 5 como níveis de sucesso. Porém, Lemos (1986, p.65) afirma que a utilização do nível 1 sendo possível não é aconselhável, porque discriminar os resultados da aprendizagem em números negativos é associada ao «castigo» ao «reforço negativo» da teoria de comportamento condicionado de Skimer (s.d.). As recentes investigações demonstram que a utilização dos níveis negativos podem não satisfazer as exigências pedagógicas, sendo mais provável que o aluno tome atitudes negativas face ao seu processo de aprendizagem. Deste modo restam os níveis: 2, 3, 4 e 5.

A definição dos níveis de aprendizagem potenciada pela elaboração de critérios e feedback fornecido aos alunos, é uma medida que facilita a atribuição dos níveis numéricos consoante os alunos. Como explica Lemos (1986, p.65), aos alunos que não obtêm os objectivos considerados mínimos deve ser atribuído o nível 2; àqueles que obtiveram níveis mínimos, mas ainda assim menos de 25% a 30% dos objectivos de desenvolvimento deve ser atribuído nível 3; aos que atingiram 30% a 60-65% dos objectivos será atribuído nível 4 e aos restantes nível 5.”Simples, fácil e rigoroso”.

Lemos (1986, p.64) enumera algumas regras a ter em conta na etapa da classificação:

(i) só as informações objectivas devem ser utilizadas para o cálculo da classificação;

(ii) todos os instrumentos que serviram para o professor obter informações acerca do aluno, portanto tudo o que foi alvo de avaliação deve ser do conhecimento prévio do aluno. O professor não pode usar dados que não sejam do conhecimento do aluno. O aluno tem que saber o que o professor espera da sua aprendizagem e do seu trabalho.

(iii) Só o que foi objecto de ensino pode ser avaliado. Ou seja o professor só usar e avaliar resultados de aspectos que fizeram parte do ensino posto em prática.

Como explica o autor (1986, p.65), esta última regra está, muitas vezes, ligada a questões socio-afectivas, como por exemplo o comportamento do aluno. O professor tem de ser claro no que diz respeito ao tipo de comportamento que espera que o aluno cumpra, para além de ser informar o aluno o professor tem de fazer do comportamento um objectivo de ensino. Portanto o professor para além de recolher as informações

acerca do comportamento do aluno para além de forma objectiva e sistemática, deve trabalhar e ensinar a forma como classifica esse aspecto.

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